factos políticos são isto

















zazie & musaranho coxo

Douglas Gordon, Masked Portrait of an Ettrick Shepherd

Where the pools are bright and deep,
Where the grey trout lies asleep,
Up the river and over the lea,
That’s the way for Billy and me.

Where the blackbird sings the latest,
Where the hawthorn blooms the sweetest,
Where the nestlings chirp and flee,
That’s the way for Billy and me.

Where the hazel bank us steepest,
Where the shadow falls the deepest,
Where the clustering nuts fall free,
That’s the way for Billy and me.

Why the boys should drive away
Little sweet maidens from the play,
Or love to banter and fight so well,
That’s the thing I never could tell.

But this I know, I love to play
Through the meadow, among the hay;
Up the water and over the lea,
That’s the way for Billy and me.

James Hogg

Na Idade Média, as grylles eram figuras monstruosas cujo corpo se reduzia a partes anatómicas andantes. Costumavam arrastar, na parte traseira, a cara do homem velho ou Adão pecador, simbolizando a eterna prisão do ser humano aos pecados carnais.


Com Bosch a monstruosidade ultrapassa os limites catalogados em espécies, dando origem a novas grylles híbridas de gula e luxúria feita homem.
Transformam-se em figuras que agigantam detalhes sexuais, enquanto fazem desaparecer as restantes partes do corpo. Tendem a tornar-se protagonistas, saindo das margens e tornando-se actores principais entre tentações de santos e pecados humanos.






Estes híbridos tende a contaminar os gostos artísticos em bizarrias cada vez mais pagãs e fantásticas.
No século XVIII são condenados como barbarismos comparados à caricatura. Francis Grose (1731-91), nas regras para desenhar caricaturas que publicou em 1789, considera-os abusos inaceitáveis que desviam os próprios ideais europeus de beleza, gerando apenas uma vulgaridade horrível.







Enquanto figuras grotescas, a brutalidade visual destas formas só tinha comparação com os amorfos- pedaços inviáveis da natureza, expostos como órgãos autónomos em gabinetes de curiosidades.
Tal como os monstros, atraem pelo excesso de olhar que convocam mas não têm identidade nomeável. São apenas fragmentos de carne que insistem em imitar a vida; corpos sem órgãos, esvaziados de sentido.


As Euménides de Francis Bacon também acabam por tomar posse dos seres que habitavam. À semelhança da cena histérica do olho do cu que toma posse do corpo, no Naked Lunch de Burroughs, os corpos-sexo, que tentam locomover-se sem irem a lado nenhum, são a carne do talho a que todos os seres se resumem - o humano virado do avesso.




"I would like my pictures to look as if a human being had passed between them, like a snail, leaving a trail of human presence and memory trace of past events, as the snail leaves its slime."

Francis Bacon

Imagens:
1, 2- Hieronimus Bosh, As Tentações de Santo Antão (detalhes)
3, 4- Fortunius Licetus, Amorphous Monster, in De Monstris, 1665
5-Francis Bacon, Segunda versão do Triptico de 1944, 1988 (painel da esquerda)
6- Trípico inspirado na Oresteia de Ésquilo, 1981 (fig. central)
7- Estudo do Corpo Humano, Figuras em movimento, 1982; 8- Díptico, 1982 (painel esquerda)

"A sense of narrative inspires me. It gives me a sense of richness"

pirata das Docklands























índio de Spitalfields Market; napoleão de Berwick Street

malinha para percurso nocturno no 59










Ted Noten,
Agathas Aussteuer, resina de poliester, ouro, pele,joias e brilhantes, 1998

"Pedros, burros velhos, terras por cima de regos, burra que faz “him!” e mulher que sabe latim, nem comprá-los, nem vendê-los, mas sempre é bom em casa havê-los."

VPV no Público de hoje, a propósito do Manifesto de Cavaco Silva

"O dicionário fornece a qualquer ambicioso para Portugal 20 mil entradas, garantindo que não significam absolutamente nada e servem para qualquer ocasião. O dicionário inclui ainda um pequeno suplemento de adjectivos de comprovado êxito - como exigente, competente, eficiente, rigoroso, livre, responsável, plural, prioritário e por aí fora - para polvilhar apropriadamente a prosa. E, finalmente, expressões de uma rara elevação teórica e literária como "a vizinha Espanha", "neste início do século XXI" e "não me pouparei a esforços".

estava a pensar mais precisamente aqui




















Tarquínio, o Soberbo, decapita as papoulas (símbolo da própria actividade) Jesus aniquila uma árvore inocente, Lenine semeia a terra com tijolos, Saint-Just decapitado, amável decapitador e essas raparigas russas de revolta das equipagens cujos peitos eram bombas; e o ópio interdito, fabuloso.


Voyage ou il vous Plaira, conto publicado em 1843, faz parte das fantasiosas evasões românticas em que os heróis vivam os pesadelos mais atormentados em terra de ninguém. Neste caso a aventura dá-se por efeito do frensim da partida -ou da droga-, transportando o herói para um mundo de pesadelos na terra do haxixe.
A história deve-se à parceria de Musset com o editor Stahl e tem como principal atractivo o talento de gravador de Antoine Johannot ,cujas imagens podem ser vistas aqui .

Interessa, neste caso a primeira ilustração. Nela Johannot representou um gigantesco demónio rochoso em vias de engolir os caminhantes que se deixavam atrair por sonhos luxuriosos, como o indica a figura feminina reclinada sobre a cabeça do colosso.
A ideia não é nova; desde as mais antigas moralizações visionárias que o escape utópico tendia a ser interrompido pela emergência dos abismos infernais.
Um desses relatos encontra-se nas Viagens de Mandeville, acompanhado de gravura com semelhanças à da ilustração romântica.
O texto de Mandeville consiste numa adulteração de uma travessia descrita por Odorico. No relato incial o vale era uma espécie de "El Dorado", pleno de dinheiro- tentação paradoxalmente demasiado realista para este tipo de viagens de cariz iniciático. Apesar das afinidades com a visão de Túndalo, Odorico poucos detalhes dava do local, preferindo centrar-se no poder do verbo: "Si y trouvay tant de corps mors gisans que nule pourroit croire. Quand plus vins prés je vis un visage humain trés horrible et très hydeux à un lez de la montaigne en une pierre. Il estoit si horrible que je cuiday bien morir de paour et disoie ces moz: Verbum caro factum est"
Para o espírito exagerado de Mandeville a descrição era parca de fantasia pelo que tratou de a alterar. Acrescentou-lhe uma série de diabos e transformou o local numa entrada do Inferno- aspecto que nunca tinha sido mencionado por Odorico.
Et en my lieu de celle valée il y a une roche, et sur celle roche il y a une teste dun dyable moul orrible a veoir, et si nem pert toutes persnonnes, quil semble quil doie tantost devourer. Et a les yeux si mouvables et si estincellants […] Et si a une telle contenance que nuls ne lose regarder parfaitement. Elle semble telle fois est pres de lautre loing, et de li ist feu et lumiere et tant de punaise que a painnes ne puet nulz endurer"
A gravura que acompanha a discrição redundou numa caricatura patusca que acompanhou as primeiras edições. Nada tendo de assustador, mantém no entanto os traços de uma figuração demoníaca próxima da que ilustra a Voyage ou il vous Plaira.
Pode ser uma mera coincidência e esse factor é acessório, pois tudo indica que o próprio tema também tenha viajado de outras paragens mais orientais.
A dada altura da descrição do vale do Inferno, Mandeville fala de uma atmosfera espessa, pesada aterradora: “En cês tenebres fusmes nous abatus a terre plus fois et en seurs manieres, que a painnes estiemes redreccies que tantost rabatus” Passagem muito semelhante encontra-se num texto oriental, relacionado com a lenda de Alexandre, onde se descrevem umas montanhas perto de Samarcanda que emanavam os vapores do sal amoniacal.
Os cruzamentos entre estes relatos reais e míticos tendem a repetir-se sempre que o tema da Viagem está em jogo. A obscuridade, os inimigos invisíveis, os vales encantadores que de repente se transformam em pesadelos e, principalmente o próprio efeito ilusório da demanda.
Mandeville dá conta desse factor quando não encontra explicação para determinados acontecimentos que ocorriam no vale: o dinheiro que viam não lhe podiam tocar, os mortos que jaziam no solo da entrada infernal não se corrompiam. Deduziu então que todas estas visões não passavam de truques lançados pelo inimigo para os confundir, fazendo-os cair eles próprios em espasmos deliciosos como se estivessem mortos-“Eet en ces pasmoissons nous veismes especialment moult de merveilles, dont le nose parler

No caso da Viagem pelo povoado mundo do haxixe, o herói também trespassa pela espada inimigos hediondos mas estes permanecem vivos: “(...) et n'écoutant que ma fureur, je tournai contre lui mon épée, et le traversai de part en part. Mais heureusement il n'en mourait pas... de façon que je le voyais à la fois mort et vivant”. Todas as suas capacidades eram transferidas para os que lhe assaltavam o cérebro e roubavam as ideias, deixando-o exausto: "C'est ainsi que sous le voile de l'amitié, le scélérat vint à bout de s'emparer de ma cervelle, dont il fit son profit, car, à mesure que ma tête diminuait de volume, la sienne grossissait.. . No final o viajante recupera a consciência e constata que tudo não passara de um sonho.
Entre as visões antigas e a romântica existe uma diferença fundamental- Odorico e Mandeville são medievais, para eles não existe um corte radical entre realidade e ficção, porque também não existe real ou imaginário em termos absolutos.
A viagem medieval fala de maravilhas, a romântica pode ser fantástica, mas não passa de um pesadelo.
As maravilhas são ocasiões para se aperceber uma manifestação do sagrado e este é que é o real por excelência; o fantástico apresenta-se apenas como um escape da razão, sob o efeito do atordoamento dos sentidos.
Na viagem medieval o Inferno ainda possuiu efeito de transferência mágica; nos tempos modernos dessacralizados caberá à psicanálise recuperar-lhe o sentido xamânico entretanto perdido.

Bibliografia:

Folklore (vol. 85, 1974), The Folklore Society, London
Kappler, Claude, monstres, démons et merveilles à la fin du Moyen Age, Payot, Paris, 1980
Mandeville, Jean, The buke of J. Mandevill. Ed G F Warner, Roxburg Club, 1890, Westminster, 1889

Como é que um bom cristão pode voltar a desejar a miséria?



















Responde Timóteo!






Já que estou ao fogo, e como desde este lugar falo a V.m., e V.m. me ouve, e me perdoa, irá outra não pior história. Confessava-se uma mulher honrada a um frade velho, e rabugento; e como começasse a dizer em latim a confissão, perguntou-lhe o confessor: Sabeis latim? Disse lhe: Padre, criei-me em mosteiro. Tornou-lhe a perguntar: Que estado tendes? Respondeu-lhe: Casada. A que tornou: Onde está vosso marido? Na Índia, meu Padre (disse ela). Então com agudeza repetiu o velho: Tende mão, filha: sabeis latim, criastes-vos em mosteiro, tendes marido na Índia? Ora ide-vos embora, e vinde cá outro dia, que vos é força que tragais muito que dizer, e eu estou hoje muito de pressa.

D. Francisco Manuel de Melo, Carta de Guia de Casados, cap. XXII

Perante draconiana ameaça de nova série de gajas nuas por cada post em língua de bifas, o Cocanha penitencia-se e apresenta de imediato o boletim meteorológico na clássica língua de Safo




Ello! classicos, deparatnas metereology a Valle Pontos... scorchio!
Mi nia khunia tera interior... scorchio!
Mi nia khunia tera exterior...
scorchio!

At first you think “how can you be a lady and not a woman?”.. you know…
But what Lisa’s saying is you may not be a lady but you can be all woman…you know?
It’s really clever.
You have to really think about it

Como dizia Winckelmann e Boudard ilustrava, os excessos da imaginação contribuíam para a ruína da arte e ridículo do espírito.


Artisticamente só deviam ser aceites as pequenas delicatesses- fantasias graciosas como ligeiros véus que escondiam um pequeno mistério do pensamento.
Os exageros tornavam-se disparates ridículos, devaneios femininos, próprios de cabecinhas quentes, em suma.

Jean Baptiste- Boudard (1703-70) Obscuridade e Imaginação, Iconologia, 1766.

— I've ascertained the time of death as 9.15
— Have you really? What do you want, a biscuit?






"Jesus fê-lo sozinho mas nós precisamos destes sapatos-marítimos se o desejarmos"







Louis Poyet, Ilustração de "La Nature", 1881

vermelha                                                [St Fagans, Cardiff]

vermelha até demais







[na terra de ninguém ]

(foto:Stuart Heath, spamula.net)


Badman


Instalação, fibra de vidro, circuitos eléctricos, moedas (1992)






Glass vehicles






vidro, fibra de vidro, tecidos, lâmpardas, areia, ferro, carrinhos de brinquedo (1995)




Flying Angels


Instalação de autómatos quase-humanos e robots
Fibra de vidro, acrílico, componentes electrónicos, algodão, bamboo, tecido, 1996 (80x60x30 cm cada)


Well, Art is Art, isn't it? Still, on the other hand, water is water. And east is east and west is west and if you take cranberries and stew them like applesauce they taste much more like prunes than rhubarb does. Now you tell me what you know.

Before I speak, I have something important to say:
—Ni!

Anda por um debate sobre financiamentos à cultura versus liberalismo.
A posição do Cocanha é muito simples: não desprezamos o valor monetário das coisas, apenas somos selectivos. De tal forma que, se daí resultar algum benefício (por mais pequeno que seja) para a preservação do património histórico, em nada nos opomos à venda, tráfico ou leilão público de liberais bem cotados na bolsa.


zazie & musaranho coxo

Afazeres de outra ordem levam-nos a suspender a postagem.... bem, estas frases ficam sempre um tanto bacocas. O que queria dizer é que a malta vai ficar muito ocupada nos próximos tempos e sem disponibilidade para estas coisas. Quando for possível o musaranho vem cá dar notícias (o malandro também anda a fazer-se difícil...)
Até lá aconselhamos umas boas visitas à tasca do nosso amigo Dragão .
Não referimos outras que toda a gente sabe que são preferência do Cocanha, porque o conselho tem por lema a higiene mental e destina-se apenas a apreciadores de umas violentas labaredas iconoclastas.

— There is only one thing in the world worse than being talked about, and that it not being talked about
— AHAHAHHAHA Very very witty... very very witty
—There's only one thing in the world worse than being witty and that is not being witty
—.... ..... ..... I wish I had said that
— You will, Oscar, you will









um combatente, um resistente, um grande homem acima de todos os prémios.
Um dos escassos exemplos do nosso tempo em que combate e causa traduzem o sentido primordial da honra do guerreiro.

Antes que o rapaz entre em crise de identidade

"Don't you see that the whole aim of Newspeak is to narrow the range of thought?… Has it ever occurred to your, Winston, that by the year 2050, at the very latest, not a single human being will be alive who could understand such a conversation as we are having now?…The whole climate of thought will be different. In fact, there will be no thought, as we understand it now. Orthodoxy means not thinking—not needing to think. Orthodoxy is unconsciousness."

Georges Orwell, 1984

[tentativa de síntese]

Depois de nascimento, baptizado, separação dos pais e divórcio dos mesmos, parte de Moçambique e chega a Portugal (sic) em voo da Sabena.
Inicia-se a longa demanda dos conhecimentos- primeiro da família; depois os restantes.

Conhece A e torna-se amigo;
Conhece B e torna-se amigo;
Conhece e priva de perto com IG- mãe dos filósofos
Conhece D, de quem se torna amigo íntimo.
• Conhece FCM, futuro escritor.
Frequenta a gay-scene sul-africana.
Durante a festa do seu 21º aniversário, duas pessoas aparecem sem ter sido convidadas: uma delas é a actriz Lia Gama.

• Em 1972- No dia 19 de Julho, durante uma breve licença em Lourenço Marques, conhece X seu actual e único companheiro.
• Ainda assim,
Assiste em Lourenço Marques a três conferências de Jorge de Sena, que conhece por intermédio de Y.

• Vai conhecendo cada vez mais
• Em 1973 conhece M, mais conhecida por Pi. Início de uma sólida amizade.
Início da correspondência com E, que o aconselha a fazer, como Pascal, «un bon usage des maladies».
• Conhece JC, com quem sempre manteve relações cordiais.
• Conhece o fotógrafo KN, de quem se torna amigo.

• Avança-se um ano:

• Conhece S num jantar em casa de RK
Descobre por mero acaso que DM é praticamente seu vizinho.
• Tem encontros na Pastelaria

1976- A mãe chega a Lisboa
a Gipsy, siamesa, chega de Moçambique

1977-Viagem à Madeira, em Agosto.

1978-Morte do Pai
e viagem a Maiorca e Ibiza, em Agosto

1979-Para além de continuar a conhecer, já é entrevistado e publica poemas.
- Conhece G em Cascais
- Início de relacionamento cordial mas distanciado

1980-Iniciam-se os convites e participações com manutenção de correspondência.
1981- Morte da gata Gipsy, em Setembro
1982-publica um seu poema inédito
conhece, conhece, conhece, e torna-se membro da Sociedade Portuguesa de Autores.
1983-Com intervalo de poucos dias continua a conhecer.
Conhece, conhece, conhece
e publica!
1984- Entrevista em duas partes com poema numa delas.
Publica, publica, conhece, conhece, conhece- artistas Espanhois e conhece, conhece.
-Conhece PCD, que foi seu editor e com quem manteve [até ao Outono de 1999] relações de amizade.
-Início [simbólico...] dos anos frenéticos.
-Conhece, conhece e mais relações de amizade e correspondência
Continua a conhecer.
Em 86 começa a escrever em computador e inclui inúmeros jantares na casa de Cascais
Continuam os conhecimentos intercalados de reveillon; novo conhecimento com empatia mútua e outro conhecimento de relações cordiais

Em 90 foi vítima de plágio (de amizade?!?) do/a qual nunca foi indemnizado mas escreveu sobre o assunto e A Caminho editou o livro e tudo foi tratado por correspondência.

91- Passa aos almoços intercalados por jantar com reencontro muito cordial
92; 93; 94, mais conhecimentos, viagens e conhecimento pessoalmente, seguido de nova relação cordial
95-conhece MC com quem conversa longamente na esplanada da Brasileira do Chiado
.Nova gatinha, a Rita, uma korat cinza-claro de quem o Tonecas tem ciúmes.

96- era da informática
Adere ao e-mail, que utiliza intensivamente.

Continuam os conhecimentos e amizades; há simpósio internacional e viagens a ilhas mais afastadas
Segue-se a rotina conhecimento-evento
• Até que em 2001 morre gata Rita na madrugada de 16 de Fevereiro.
No dia 17 de Março, nova gatinha: a Joana, uma smoke inglesa de pêlo curto.
• Em Maio tem Ciberkiok

• Entra em polémica de outros artistas e aproveita para publicar “Capelas deram lugar à crítica de tendência".

• Mais relações cordiais e responde a um inquérito na silly season

No dia 11 de Setembro é surpreendido na rua pela notícia do primeiro embate contra as torres gémeas de Nova Iorque.

Cinco dias depois escreve sobre a surpresa.

2002- Avanços cibernéticos permitem entrevista em Website Canal e em Outubro despede-se e torna-se escritor a full-time
Seguem-se novos conhecimentos pessoalmente. Vai à Fnac

Em 2003 entra em colóquio de sexologia clínica do Júlio de Matos e debate sobre LGBTs; há tese em preparação sobre a sua obra.

Novo avanço nas novas tecnologias de comunicação com poema em SMS

2004- tem homepage- no dia 12 de Junho comentário no Público:"Para uma homepage que só tem um mês de vida, está muito bem."
- convites, faculdades, poemas, com convidados notáveis e Nobel de 95.
2005- participação em blogue Da Literatura
-Última notícia do currículo- um post seu é reproduzido no Mil Folhas, suplemento do Público.

INTERCOURSE THE PENGUIN !!!









   faz
                


 o




       homem 





















visionário; excêntrico; solene; mago; palhaço; cortês; desastrado
Lequeu; Magritte; Keaton; Beuys; Tati; Burroughs

Bom, isto aqui não é um blogue sério, como se nota logo pela utopia que o move. Ainda assim, para que não se gerem confusões nas caixinhas de comentários ou lá por onde for neste hiper-privilegiado e sobre-exposto meio de comunicação, e porque o musaranho já anda a ficar com comichões, aqui fica um esclarecimento:

O Cocanha, como qualquer paraíso de loucos, nada tem a obstar a casamentos homo, trans, metro, ou psico-sexuais e demais variantes que possam existir. Desejamos a todos os noivos as maiores felicidades e um próspero Ano Novo mas, por favor, não nos envolvam em agendas políticas para as quais não temos a menor pachorra.
Porque, se o assunto é assim tão premente e, quiçá, causa nacional- aqui o Cocanha e particularmente o musaranho esperam sentados pelos relatórios do fascinante trabalho de campo que deve andar a ser realizado no nosso Portugal profundo (este detalhe não deve ser lido como trocadilho).
Assim sendo, e para a salvaguarda da credibilidade de uma causa, pois não há credibilidades sem causas, aguarda-se pelos comoventes casos de vida de pastores amordaçados e excluídos- entregues à bicharada e às abóboras - que forçosamente devem fazer parte do vastíssimo grupo dos que anseiam pelos direitos ao matrimónio alegre e respectiva procriação.

A terra a quem a trabalha! Os ovos a quem os põe!

zazie e musaranho coxo

—I have another theory
— Not today, thank you
— My theory #2, which is the second theory that I have. cóf… cóóóf..wróóff.. This theory...
— Look! Shut up!
— ...is what I am about to say
— Please shut up!
— which, with what I have said, are the two theories that are mine and which belong to me
— If you don't shut up, I shall have to shoot you!
— ...wrrrwóóf… wwrróóff.. rrróóff… My theory, which I posses the ownership of, which belongs to... (Pummmm!)

Na deliciosa compliação de Mário Cesariny- Horta de Literatura de Cordel, encontra-se uma história, publicada em Lisboa no ano de 1760, do género “o incrível acontece”. Como era costume da época, o longo e ponposo título explica logo de que se trata: ”Relação verdadeira da espantosa fera, que há tempos a esta parte tem aparecido em as vizinhanças de Chaves: Os estragos que tem feito, e as diligências que se fazem para a apanharem: segundo as notícias participadas por cartas de pessoas daquela Província”.
O pequeno texto foi publicado em Lisboa, pela Oficina de Joseph Filippe e inclui duas estampas muito curiosas mostrando a terrível fera que andava a devorar o gado e a atemorizar a população daquela comarca.

O pretenso naturalismo da descrição e esboço detalhado do bicho é suficiente para se atestar a fantasia que o animava - trata-se, nem mais nem menos, de uma velha manticora com ligeiras adaptações genéticas, perfeitamente compreensíveis para um animal fantástico que percorreu a Antiguidade e toda a Idade Média, para chegar ao nosso país em plena época das luzes.
A manticora, esse animal diabólico com corpo de leão, face humana e cauda mortífera com aguilhão de escorpião, era de tal forma ávido de sangue e carne humana que possuía três fileiras de dentes para melhor tragar as presas.
Ctésias de Cnido (sec.V aC- segundo informação de Plínio o Velho) foi um dos primeiros a referi-lo, localizando-o na Índia. Aparece no mapa de Hereford e vai ter longa divulgação ao longo da Idade Média.
As mutações que a manticora vai sofrendo chegam a passar por confusões com macacos como nas descrições de André Thévet, acabando acabar por servir para a classificação de um tipo de escaravelhos, de tal modo predadores, que são conhecidos como os tiranossauros dos insectos.




Neste caso, o que importa é o facto da segunda imagem da fera que atormentou a nossa terra ser muito semelhante a um monstro que Alfred Jarry incluiu no hermético César Anticristo.
Dada a distância temporal e sem mais razões para se imaginar que conhecesse este relato flaviense, o mais provável é provirem ambos de outras estampas populares mais antigas.
Quem estiver interessado, tem aqui um bom pretexto para buscar elos perdidos.


Por agora fica apenas uns excertos do relato:

Prodigiosa é a natureza na criação de seus indivíduos, assim terrestres como aquáticos, sendo a sua variedade que por mais que os naturalistas se empenharam na sua descrição, foi ela matéria muito superior às suas forças: nós porém que habitamos em o jardim da Europa qual é na opinião de muitos a nossa Espanha, admiramos o que muitos têm por natural.
Na África não costumam os naturais sair das Cidade, Vilas ou Lugares sem a escolta suficiente para a defensa de monstruosas Feras, que criadas nos incultos matos são estrago geral de quantos encontram; a Ásia não menos abundante é de animais ferocíssimos, a América bem sabemos que na sua vastidão se criam as maiores Serpentes...
(e continua dando exemplos de todo o tipo de feras e estragos, passando pelo Brasil e terríveis onças, até chegar à calma da península que, tirando os lobos, estava livre de todas estas alimárias predadoras. Mas, chegados a Chaves, a coisa muda de feição. O bicho já por cá tinha andado e agora voltara .”(...)tem causado em toda a Província danos inconsideráveis como são o ter feito vítimas da sua ferocidade a quantos arrasta aos seus encontros e forma (...) arbitra-se o número de mortes a mais de cem, e todas elas lamentáveis por serem as mais do sexo feminino... (este detalhe tem muito que se lhe diga mas não vou ser eu a fazê-lo...)
Depois, egue-se a parte mais realista que inclui identificação de temerários que se atiraram ao bicho - para além das montarias dos habitantes, foram chamados soldados a cavalo mas nada resolveram.
Um mancebo corajoso também não teve melhor sorte- “de agigantadas forças e mais animoso que afortunado, tomando por empresa vencer esta batalha se encontrou com ela, tendo por arma um bem afiado machado, e espetando-a ao passar pretendeu fazê-la despojo do seu valor, errou por falta de fortuna o golpe”.
Seguiu-se um indómito cavaleiro bem armado que deve ter ficado um tanto vexado, pois nem com uma lança lhe perfurou as conchas (sic) e muito menos serviram os tiros de fogo, pos a feral usava estas placas como escudos.
O resultado da caçada fica por saber-se. A fera continuava a monte neste ano da graça de 1760, restando ao autor apelar a Deus e confiar nas armas.
Termina com um sinal de esperança onde sobressai o poder defensivo da altura:
“... De forma que se dispõe contra este bicho uma campanha, aonde vão Soldados de pé e de Cavalo com toda a comodidade para se bloquear o monte, ou terra ou habitação, e ali se demorarem até, ou que se encontre, o que a necessidade sair ao campo o obrigue. O Céu o permita que possa efectuar-se esta diligência, dizem que o General Veiga comete esta empresa a seu filho Francisco António que com sessenta Cavalos e duzentos Infantes se vem ajudar com a mais gente.
Não sabemos o desfecho mas só se lamenta que Alfred Jarry ao cruzar-se com a imagem não tenha também dado com este nosso relato.

..........................................................................

Já gora,



Veja-se esta pacífica e divertida imagem popular russa...



Está datada de 1770 e transporta uma série de simbólica que parece alusiva ao poder e à guerra. Se o Jorge estiver interessado em traduzir, esteja à vontade.



-Horta de Literatura de Cordel. O continente submerso o grande teatro do mundo os sobreviventes do Dilúvio: monstros nacionais, monstros estrangeiros, selecção, prefácio e notas- Mário Cesariny, Assírio & Alvim, Lisboa, 2004.

Imagens:
1- fera de Chaves Relação…)
2-Manticora- Iluminura de bestiário medieval (1220-1250- Bodleian Library, University of Oxford, (Bodley 764)
3- Alfred Jarry, Cesar Anticristo (César-Antechrist
Paris, Éditions du Mercure de France, 1895
p. 49 ; Department of Special Collections
Kenneth Spencer Research Library
University of Kansas (KSRL: A280)
4- gravura popular russa, c.1770 (Gilbert Lascaux, Le monstre dans l’art occidental, un problème esthétique, Klincksieck, Paris, 1973

Um ligeiríssimo (e esvoaçante) contributo para o debate do sexo contra-natura

"Em 1649 o senhor M. Vijon foi queimado na praça pública por ter tido sexo com um pássaro."







aqui fica mais um contributo para as especificidades e virtualidades do grelo

Na mitologia grega, Mnemosina era a deusa da memória, em cujo poço até os mortos podiam recuperar as imagens do passado perdido. Foi também ela quem gerou todas as musas a quem se deve a inspiração do saber e da arte.
Este processo, entre o que se gera a partir do cérebro e a informação que se recebe para nele se arrecadarem memórias, paixonou todas as épocas, tendo servido para as hipóteses mais fabulosas como para as descobertas científicas mais imprevistas.
A principal teoria que se usou durante toda a Idade Média e que transitou para época moderna, baseava-se na explicação dos simulacros de Lucrécio de que já se falou aqui Os duplos dos corpos entravam pelos olhos e inscreviam-se nas bossas do cérebro, deixando nele marcas matrizes que serviam depois para a combinação de diferentes elementos.
A possibilidade de trabalhar este repositório de imagens-memória foi conhecida desde a Antiguidade como a arte da mnemónica, cujo uso começou por servir para a retórica e chegou aos nossos dias aplicado à linguagem electrónica e comunicação multimédia.
Ars Memorandi- Rhetorica ad Herennium escrito no século I, é o tratado mais antigo que se conhece e tinha como função esse auxíliar os oradores por meio de associações de locais e imagens de edifícios a passagens do discurso. Cícero recuperou e alargou os exemplos e durante a Idade Média a mnemónica foi usada pelos monges como forma de memorização de escritos sagrados.

Teoricamente assentava na ideia do ensino da inteligibilidade das coisas através da sensibilidade, supondo-se que o entendimento dos conceitos abstractos necessitava desta muleta de imagens reais para ser absorvido pela mente.
As imagens captadas pelos olhos serviam de tropos de marcação do percurso de lembrança dos conceitos. Deste modo foi-se criando um corpo figurativo que incluía correspondências gramaticais, artigos de fé, virtudes e pecados e outros textos,levando ao prodígio de se decorarem evangelhos inteiros à sua custa.
A ars memorandi foi sofrendo derivações, algumas muito mais importantes, como foi o caso da Ars Combinatoria de Raimundo Lull que está na génese da lógica formalista. A partir do Renascimento teve derivações paralelas em jogos de corte e outras charadas rebuscadas que iam progressivamente perdendo a tradição religiosa para a bizarria erudita.

O tratado de Ars Memorandi, publicado em 1470 no alto Reno, inclui as mais populares destas estranhas gravuras sincréticas de cariz religioso, cuja popularidade levou a edições posterirores com imagens coloridas.
As figuras monstruosas que simbolizam passagens dos Evangelhos incluem a representação zoomórfica dos evangelistas que havia sido condenada pela ortodoxia católica, transformando-os em autênticos monsttros. Pelo paradoxo e grotesco das figurações, aproxima-se das paradoxais figuras de mulheres e homens ideais que também se tornaram moda nas cortes renascentistas.








O carácter insólito desta combinação de elementos mostra um sentido agudo do prodígio e de uma noção muito moderna para a época- o espírito para se concentrar num assunto necessitava de coisas que chocassem a atenção do olhar.
Na prática, mais do que ajudas à memória são autênticas charadas onde a curiosidade se perder no mero gozo da decifração do enigma.
Só por grande ingenuidade de um olhar pouco habituado a usufruir representações figurativas é que não seriam motivo para riso.


[exemplos:- Duas cabeças humanas surgem dos lados da cabeça da águia que simboliza S. João Evangelista, sobre a qual se pendura uma pomba.- a águia tricéfala corresponde à Trindade cap. I do Evangelho segundo S. João.
- No peito do pássaro está suspenso um alaúde e 3 sacos de dinheiro. O alaúde significa as Núpcias de Cana; os sacos de dinheiro- os vendilhões do templo (cap.II)
- Na cauda estão penduradas uma coroa e uma selha. Correspondem ao encontro de Cristo com a Samaritana e a coroa significa o filho de um oficial do rei (cap.III)
- Em cima das asas estão colocados pães e peixes. (símbolo da última ceia)
-Uma águia só com uma cabeça, em cima da qual se encontra uma flauta, um copo e uma bandeira-
Do seu corpo saem de uma espécie de algibeira os torsos de um homem e mulher nus= o par do adultério. A mulher tem uma vela acesa na mão= Jesus luz do Mundo (cap. VIII evangelho segundo S- João)
- No baixo ventre abre-se um grande olho= o olho do cego recém-nascido (cap. IX)]

Em 1885, o iconoclasta Alfred Jarry retoma o tema no teatro de CésarAnticristo, introduzindo um complexo sistema de brasões simbólicos na derivação do nonsense e absurdo do Rei Ubu.
Sob a forma de herálidica subvertida e herética, estas mnemónicas sintetizam a teoria do Signo, como aquilo que não designa nem identifica mas mostra, fazendo recordar por coincidência de contrários (à maneira de Nicolau de Cusa) imagens originais que entretanto entraram no esquecimento


"O patafísico anão cimeiro do gigante, que está para lá das metafísicas é o Anticristo e também Deus, cavalo do espírito, Menos-em-Mais, cinemática do zero permanecendo nos olhos, poliédrico infinito”.

Nove anos depos, Jarry, juntamente com Gourmont, cria a revista L’Ymagier onde se publicaram águas fortes de Gauguin e outros simbolistas da sua geração, misturadas com gravuras antigas, imagens populares da recolha de L’Épinal incluindo mais variações em torno das mnemónicas visuais.
Esta espantosa colectânea que ainda hoje está activa é um bom local para se encontrar o fio à meada de muitas iconografias perdidas.
Curiosamente, uma das figurações que o Alfred Jarry usou parece que já tinha sido editada por cá muito tempo antes...

Imagens:
1- Mnemosina, Altar de Zéus em Pérgamo
2- Lugares de memória na cidade e na abadia.(Johann Host von Romberg Kyrspensis,Congestorium Artificiose Memorie,Veneza, 1520)
3- Image mnemónica do Evangelho segundo S.Marcos. (Ars memorandi notabilis per figuras Evangelistarum, anónimo, 1470)
4-5-
mnemónicas dos Evangelhos de S. João e S. Lucas da edição de 1502
6- Homem perfeito- A. Ulrich von Utten, 1513
7- Alfred Jarry- César Anticristo- figura do rei Ubu inclinado no cavalo, inspirada nos cavaleiros do Apocalipse de Dürer