Corria o ano de 1491; por todas as terras onde assentava o cortejo da corteja da princesa D. Leonor, prometida em casamento ao malogrado filho de D. João II, havia festa de monta, com justas, danças mouriscas, e prandio a condizer.

Estes mouros caseiros há muito que conviviam com as outras minorias, sem motivo para alarmes entre portas. O monarca até os tinha convocado para o festejo da cidade de Évora, todos os tocadores e bailadeiras mouriscas para animar a recepção, ordenando que fossem alimentados pela cidade.
No entanto, a peleja no Norte de África recordava combates bem mais difíceis de vencer que as aventuras marítimas à descoberta.
Terá sido com esta imagem bem presente na fantasia, que o monarca se lembrou de combinar com uns fidalgos uma partida a pregar à rainha e restantes pares que o acompanhavam.
Aproveitando a saída do rei a banhos, nas mesmas águas que, em breve, lhe levariam o filho, decidiram simular uma espera, disfarçados de infiéis.
Apesar da improbabilidade de se tratar de qualquer ataque verídico, Garcia de Resende conta o susto que a chalaça da arremetida escaramuça provocou aos batedores do monarca:
«(...)el Rey com todos se foy ao campo, e indo por elle lhe sahio o Duque dom Manoel, irmão da Raynha, de hua cillada com doze fidalgos de sua casa, todos vestidos de hua maneyra de brocados, e ricas sedas, muy galantes a mourisca, com fuas lanças nas mãos, com bandeyras, e as adargas embraçadas com grande grita como mouros. E, os corredores del Rey que diante eram como hiam descubrir terra, vieram todos fugindo, e bradando alto, Mouros, Mouros».
Isto aconteceu nos tempos em que os bravos se confrontavam corpo a corpo, quando eram os próprios chefes quem avançava à frente das tropas.
Serve o exemplo apenas para se imaginar o que aconteceria no presente se, em vez de batedores de monarca, tivéssemos apoiantes de cartoonistas bêbados, cuja máxima bravura que conseguem desencantar são uns insultos aos imigrantes.
Tenho a certeza que, por cá, com tão ladino “avençado” na luta contra o infiel, eram ludibriados na mesma.
Com a diferença que bastaria que lhes aparecesse ao caminho um anão de toalha amarrada à cabeça e barbas postiças, para desarmagedarem aos gritinhos para dentro do Tejo.
..........
Garcia de Resende, Crónica de D. João II, Cap. CXXXI(ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1973, p. 192)
Estes mouros caseiros há muito que conviviam com as outras minorias, sem motivo para alarmes entre portas. O monarca até os tinha convocado para o festejo da cidade de Évora, todos os tocadores e bailadeiras mouriscas para animar a recepção, ordenando que fossem alimentados pela cidade.
No entanto, a peleja no Norte de África recordava combates bem mais difíceis de vencer que as aventuras marítimas à descoberta.
Terá sido com esta imagem bem presente na fantasia, que o monarca se lembrou de combinar com uns fidalgos uma partida a pregar à rainha e restantes pares que o acompanhavam.
Aproveitando a saída do rei a banhos, nas mesmas águas que, em breve, lhe levariam o filho, decidiram simular uma espera, disfarçados de infiéis.
Apesar da improbabilidade de se tratar de qualquer ataque verídico, Garcia de Resende conta o susto que a chalaça da arremetida escaramuça provocou aos batedores do monarca:
«(...)el Rey com todos se foy ao campo, e indo por elle lhe sahio o Duque dom Manoel, irmão da Raynha, de hua cillada com doze fidalgos de sua casa, todos vestidos de hua maneyra de brocados, e ricas sedas, muy galantes a mourisca, com fuas lanças nas mãos, com bandeyras, e as adargas embraçadas com grande grita como mouros. E, os corredores del Rey que diante eram como hiam descubrir terra, vieram todos fugindo, e bradando alto, Mouros, Mouros».
Isto aconteceu nos tempos em que os bravos se confrontavam corpo a corpo, quando eram os próprios chefes quem avançava à frente das tropas.
Serve o exemplo apenas para se imaginar o que aconteceria no presente se, em vez de batedores de monarca, tivéssemos apoiantes de cartoonistas bêbados, cuja máxima bravura que conseguem desencantar são uns insultos aos imigrantes.
Tenho a certeza que, por cá, com tão ladino “avençado” na luta contra o infiel, eram ludibriados na mesma.
Com a diferença que bastaria que lhes aparecesse ao caminho um anão de toalha amarrada à cabeça e barbas postiças, para desarmagedarem aos gritinhos para dentro do Tejo.
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Garcia de Resende, Crónica de D. João II, Cap. CXXXI(ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1973, p. 192)