Pelo menos assim foi inicialmente, inclusive nos planos náuticos do Infante D. Henrique que também estava convencido da existência do tricentenário monarca, cuja fonte em terras do Nilo devia manter a eterna juventude, se não no corpo, pelo menos na lenda.
Em 1427 seguem navegadores com essa missão, procurando ao longo da costa africana todas as informações possíveis e impossíveis para darem conta desse magnífico reino cristão.
Quando Antão Gonçalves chegou à terra dos azegnegues, um escudeiro ofereceu-se para lá ficar durante seis meses a fim de se inteirar dos segredos, mas o sacrifício “etnográfico” de nada serviu.
Em 1445 é a vez de Diniz Dias aportar no Senegal, ficando de tal modo pasmado com o tamanho do rio que regressou ao reino com a boa-nova- era o Nilo- tinham chegado ao rio Nilo e, logo a seguir, a começar no mar Vermelho, virando mais à frente, havia de estar a Etiópia.
De tal modo foi este entusiasmo com as terras do prestes João em África, que em quarenta e oito um fidalgo dinamarquês, de nome Valarte, parte para o local com uma carta e boas recomendações do Infante navegador, a fim de o cativar para o serviço conjunto em prol da fé cristã.
O que se passou a seguir ao desembarque deve ter sido cena digna dos Monty Python da época. Valarte e o séquito português encontram-se em plena praia com os negros locais e o seu chefe, sacam da carta e põe-se ali a lê-la a plenos pulmões, enquanto a população se acotovelava para assistir ao feitiço.
Apesar de ninguém ter percebido nada do que se passava, ambas as partes esmeraram-se na etiqueta. Os negros, carregando cabras, cabritos, leite, mel, farinha, dentes de elefante e outros mimos e os nossos bravos, retribuindo-lhes com panos de cor e outras bugigangas idênticas, já que pelos dialectos, nem com mímica se entenderam.
Entretanto Boor, o chefe tribal, tomado pelo Prestes das Índias, desapareceu no nevoeiro. O bravo viking não se ficou e decidiu aventurar-se sozinho em sua busca. Mas, desta vez, os negros que o rodearam não pareciam estar novamente interessado em leituras mágicas e o valente do Valarte lá foi tomado, possivelmente para compensar a falta de vitelos ao jantar.
As buscas do soberano etíope continuaram e à custa delas veio o monopólio do sabão enriquino seguido das especiarias indianas que faltava, mais as negaças do prestes.
D. João II continuou a cismar nesta busca e pelo meio da missão de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva que redundou na morte Afonso de Paiva e na riqueza e boa vida de Pero da Covilhã na Etiópia, de onde nunca mais saiu, apesar da desfeita na lenda, ainda ocorreu outro episódio digno de nota.
João de Barros refere-o nas Décadas- quando João Afonso de Aveiro explorava o reino do Benim, persuadiu-se que os negros lhe tinham indicado o reino do Prestes João, de ali a vinte luas a andar a pé e lá partiram todos para o interior. Mais convencidos ficaram que tinham chegado ao mítico reino, quando um príncipe local lhes oferece um casco de latão e uma cruz reluzente.
O nosso embaixador em terras africanas encasquetou de tal modo que este príncipe Ogané era o mítico católico João, que não arredou pé. O mesmo não se pode dizer do africano autóctone, pois, ainda que nunca se deixasse ver, enquanto ia despachando serviço de Estado, atrás das cortinas, de vez em quando lá mostrava um pé, em sinal de que estava ali dentro e aceitava todas as ofertas que lhe depositavam à porta da cubata.
E ainda bem que o negro pezinho de escol se deu a ver. Porque o nosso Príncipe Perfeito, quando soube do caso, não hesitou – este e outros sinais, indicavam que o caminho para a índia se faria por via marítima pelo Sul da costa africana.
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Para o Prestes João, consultar Manuel João Ramos, Ensaios de Mitologia Cristã, Lisboa, Assírio e Alvim, 1997