Festejem, comam, bebam e, principalmente, não se esqueçam de dançar muito, que a dança também é uma das melhores coisas que de cá se leva.
















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Em vésperas de vésperasantevéspera de Novo Ano, aqui no Cocanha, já entrámos em fase de purificação vaporosa, como a demonstrada no cartaz*.

Assim sendo, começamos por desejar as maiores felicidades aos nossos amigos da blogosfera- e eles sabem quem são; não vale a pena arranjarmos problemas hierárquicos com nomeações (a ordem alfabética dava muito trabalho).

Seguindo o espírito da abundância fácil e magnânima que norteia o blogue, não nos ficamos apenas pelos amigos, conhecidos, transeuntes desconhecidos e estrangeiros** lá longe (esta foi para esnobar)- Desejamos, de igual modo, um 2007 muito vivo a todos os que nos deslinkam e interditam (adoramos todos os interditos- dos ocasionais, aos definitivos) aos vidrinhos que amuam; à galinhagem que chateia e até aos mongos virtuais que, pelo menos, enquanto blogam não matam na estrada.

Agora em coro: a todos um bom Ano, a todos um feliz Ano Novo!

zazie e musaranho coxo

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* O cartaz foi oferta antiga da nossa querida Cristina-Dias Felizes

** Aos estrangeiros lá longe, aproveitamos a ocasião para fazer publicidade ao vinho do Oporto, ao bacalhau, pasteis-de-nata e ao belo Sol da nossa terra. C’mon, c’min. It’s a beautiful country- with fado, much√‾ lots of Sun, great beatches and nice people!

A Triciclinho está de volta. E quando ela chega, arruma logo as audiências



A título de breve informação pós-Natal:


Tive pena, mas perdi uma das “cerimónias” mais típicas da quadra, na Nova Albion: as tendas montadas na City para assistência às bebedeiras dos yuppies, em dia de receberem o bonus do ano. Mas, tanto quanto sei, correu bem e nenhum entrou em coma.





Em contrapartida, no dia de Natal, como não encontrava, nas redondezas, nenhuma igreja católica, entrei, toda lampeira, numa ortodoxa de Kentish Town e ninguém notou nada.

É a vantagem dos tugas se parecerem com todas as raças e povos, incluindo, neste caso, as gregas morenas (ainda que faltassem uns centímetros de penca para ficar mais semelhante).
Mas foi assim- um espanto de pinturas e ícones por todo o lado: uma cerimónia dentro da iconostase, praticada por uma série de padres barbados, de paramentos dourados e cada um toucado diferente. O velho celebrante, quando vinha às portas santas, coroado, de báculo numa das mãos e a agitar o crucifixo com a outra, fazia lembrar o do Potemkin. De tal modo, que me ia tentando a meter-me na fila para as oblatas da prósfora, só para ver melhor...




À falta de registos visuais destes dois acontecimentos natalícios, deixo-lhes aqui um outro, que faz sempre parte do roteiro: directamente da Berwick Street e das suas lojas de velhas preciosidades:

É só clicar para pôr o Fats Domino a tocar!



Vão à Má Fama e oiçam-me esta menina Rita/Blue Bobby que é um docinho de talento renascentista











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O prometido é devido— aqui ficam umas prendinhas natalícias que, pelo menos, devem ser do agrado do nosso leitor Antónimo e do Trevor Jones/Kalebeul
Basta fazer download


Para todos os que por aqui passam, mesmos os que não deixam a sua graça:

Feliz Natal; Joyeux Noël; Marry Christmas, Um Ano muito Novo; Mele Kalikimaka; Zorionak eta Urte Berri On; Nedeleg laouen na bloavezh mat; Il-Milied u is-sena t-tajba lil kullhadd ;Prejeme Vam Vesele Vanoce a stastny Novy Rok! Estamos quase de partida, para partilhar um bocadinho do peru com o Carlos e a Camilla- Putana da Seatbeltz!

códice da Biblioteca Pública e Municpal de Évora:fol9v ;10;10v;13v;14;14v;15;15v;16 ;16v;41 ;ed sec xviii;p18;24-25;26-27;28

zazie e musaranho coxo

“os efeitos (que são vários, e não, na minha opinião, lisonjeiros para as lógicas de estruturação da blogosfera) sociais (não é o bem resolvido da tua disposição psicológica no meio disto, mas a tua expressão discursiva da mesma, que "alvejo"), o lisonjeio da votação, que grato acusas, inscreve-te simbolicamente numa lógica de referenciação amorfa sem mais substância que a visibilidade social (que, como sabemos, pode ser substanciada numa pluralidade de "qualidades" públicas de que aqui se faz tábua rasa)”.

Nos comentários do Avatares, a propósito dos Óscares da Geração Rasca

A nuvem que é veste do dragão






Pintura persa, Muhammad Investing `Ali, 1307, Edinburgh University Library.




Como hieróglifos do céu, são também as nuvens-rodas cosmográficas-, que transitam do Oriente para as criações ocidentais.

Criação do mundo, Regra de S.to Agostinho, Londres, 1525


Transformam os mantos da Virgem e das divindades em alegóricas nuvens celestes.



Christine de Pisan, L'Épître d'Othéa, Maître de l'épître d'Othéa, Paris, c. 1406-Paris, BnF, département des Manuscrits, Français 606, fol. 13v.

Isis, a divindade das enxertias, ata um rebento, introduzido no tronco principal da árvore.




A enxertia evoca a concepção milagrosa de Cristo








Decoração "mariana" da janela da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo das Caldas da Rainha, finais séc. XV

A mandorla; o invólucro celeste que enleia o corpo humano ao universo, por vezes ainda carrega a memória do dragão uroboros.






«...une femme enveloppée du soleil, la lune sous ses pieds, et une couronne de douze étoiles sur sa tête.» [Tapeçaria d’Angers, séc. XIV]










fons mercurialis. Rosarium philosophorum (1550)






A pequena nuvem que Deus apresenta ao profeta, como sombra amiga e protectora, metamorfoseia-se nas asas dos anjos












Uma alma a ser salva da boca do Inferno, vitral da cathedral de Bourges, placa esmaltada, séc. XIV















A nuvem tchi, depois de transitar pelos exotismos ocidentais, também passa dos tondos e guirlandas festivos para os festões da Árvore de Natal


















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Livro de Jacob Christian Schäffer (1718-1790), 1ª edição com pedacinhos de papel a 3 dimensões, 6 volumes editados entre 1765 e 1771.

Christian Schäffer, combinou a vida eclesiástica com os estudos científicos, dedicando-se a uma infinidade de assuntos que iam da botânica à óptica, passando pela entomologia, descobertas várias como a da máquina de lavar e ao estudo da fabricação de papel vegetal.



Coisas que me ultrapassam: as frentes virtuais pelos referendos de consciência, com autocolantes e tudo...


Se assim é, dá-me ideia que a posição do Cocanha só poderia ser esta










Os míticos corvos que acompanharam a transladação das relíquias de S. Vicente até à cidade de Lisboa, acabada de tomar aos mouros, tiveram uma rica vida.
Tal foi o carinho com que foram apaparicados por todos os alfacinhas (dizem que as velhas até lhes levavam comida para dentro da igreja) que, perto de quatrocentos anos depois, ainda por lá andavam.
Andavam e não só, esvoaçavam por todo o lado, faziam cocó na capela mor, debicavam os ornamentos, estragavam as tapeçarias, e nem a arca com as relíquias sagradas lhes impunha respeito.
Até ao dia em que as queixas do tesoureiro conseguiram obrigar o cabido a reunir-se, a fim de deliberar o modo de os fazerem desaparecer.
É claro que perante tamanhas preciosidades voadoras, todas as precauções eram poucas. O cabido decidiu reunir-se em segredo, na capela de S. Bartolomeu, logo à entrada da Sé.
Esqueceram-se que a velhice das alimárias não lhes retirara o instinto: quando o porteiro ia a fechar a porta, um dos corvos infiltra-se por uma fresta, vai direito à mesa do cabido e desata em tamanhos brados que a reunião acabou logo ali. Quando o segundo corvo apareceu, já a mesa estava deserta e a história encerrada, não fosse o diabo tecê-las.
E fizeram bem. Só foi pena que nem tesoureiro nem o moço das limpezas tenham acrescentado uma linha a este maravilhoso relato do ano de 1563.

Cfr. António Coelho Gasco (1666), Primeira parte das antiguidades da muy nobre cidade de Lisboa, imporio do mundo, e princeza do mar occeano, Imprensa da Universidade,Coimbra,1924.

Definição de Tesauro (1591-1667)

“Os loucos são particularmente capazes de imaginar metáforas e outros engenhosos símbolos. A demência não é mais, a falar verdade, que a faculdade de transformar uma coisa noutra.
É por isso que os espíritos mais engenhosos e subtis, os físicos e os matemáticos, se inclinam muito para a loucura”


Athanasius Kircher...Ars magna lucis et umbrae, 1646

Fazendo jus a tão pertinente classificação atribuída ao Cocanha, aqui ficam três objectos raros, para uso moderado ao fim-de-semana.












1- Francesco Porro- terço de corno de rinoceronte, intercalando a esfera armilar com o zodíaco.
















2- Engenho magnético para adivinhar se as meninas vão para o convento de vontade e para muitas outras galantearias, pois pode-se fechar o lagarto onde se quer.











3- Frasco de vidro, com esperma de baleia para a face das senhoras




Códice do coleccionador Manfredo Settala (1600-1680), Fols.23; 45 e 13 r

Memórias ram...ificadas




Robert Baines’s “Java la Grande”




Pulseira- ouro, ferro e plástico (7,5x5x6.5cm), 2005









Inspirada na mítica descoberta da Austrália pelos navegadores portugueses


1º mapa da Austrália- do atlas de Nicholas Vallard, 1547; (foto pulseira: Garry Sommerfeld)



Uma antecipação do Natal dos Hospitais














[clicar ]

Faltava este detalhe. No meio daquele maravilhoso surto de troca de correspondência para combater o turco, quem se baldou foram os negros.

Que sim e mais que também, mas estavam habituados a contentar-se com pouco e viviam assim muito felizes.

Escrevia-lhes D. Fernando:

"ElRey a los reyes de Guinea"

Guinido de Noé nicto dexo el nobre a uuestra Guinea, y como la solitude de esa patria uos aparto dela comunicacion del muundo, su esterilidad esta mas en su lontana conuersacion que en la dispusicion de la patria, y la continua guerra que quita el hornado biuir, a cuyo remedio dios ha proueydo que de nuestras armadas seays visitados con las cosa al politico biuir mas anexas, donde paresce estrañeza qu de tantos tiêpos dios prouesce en uuestra uista con nuestras gentes pera daros humana conuersacion del biuir con las cosa tan necesarias, y por que mas cumplidamente dellas podays vsar uan nuestras huestes a los quitar de mahometica subjeccion: de uuestras gentes aca uenidas sabreyes de nuestros reynos y estdo y la humana y cierta comunicación que de nos tienen, aquella torneys y tanto mejor quanto Ia cercania diere lugar: dañosa es la liberdad con la uida menguada en soledad

Ora tomem lá a resposta dos guineenses:

Los Guineos al Rey”

Christiano rey, el estado de nuestra uida y patria es como el de cada vno que ha por bueno lo que se vsa, y como para solo biuir lo poco basta, aquello tenemos por mejor que es con menos contienda: los grandes tractos y agudas industrias fatigan el entendimiento y no aseguran la uida, y pues la riqueza esta en el contentamiento, deue estar en lo que basta, si lo que natura proueyo consiente la partria, paterno vso nos sotiene la uida, la nueua conuersacion de uuestros subditos y sus mercerias mas satisfacen la uolontad que lo necesario, la uenida de uuestros por esta patria es cosa muy nueua, especial si los mueue cobdicia de lo que no ay para su vso, pues pensar que nos traygan de que biuamos, no es costumbre de agena hueste: mirad que emprendeys, que aueys de saber que con nos se puede pouco ganar y mucho perder.

De facto, para estorvar já eles tinham de sobra...

Imagem: negro a tocar batuque; negro a apanhar cocos: cadeiral da Sé do Funchal, c. 1514-15

{post dedicado ao caro António Alucinante}

Boa tarde,

Cumprimentos!!

Z@%zie_-©!!!

Aquí fica mais um painel, referente à tomada de Granada aos mouros, esculpido nas cadeiras baixas do cadeiral de Toledo.

Cerco de Málaga


O relevo situa-se do lado de esquerda da escadaria de acesso à cadeira do arcebispo.
Representa um acampamento cristão em torno de uma cidade muralhada que foi identificada como sendo Málaga.
O episódio reporta-se a uma surtida de ataque aos cristãos, que os mouros fizeram a 28 de Maio de 1487.

A Crónica cove da Diego Valera refere-a nestes termos:

“Como los moros se vieron muy apretados por les ser puesta aquella estanca tan cerca de Gibralfaro, salieron por aquela parte grand muchedumbre dellos. E tan de súbito e con tanto furor dieron en aquella estança, que los que en ella estavan, sin ningund tiento, fueron puestos en huyda… E como fuese en siesta e los más estuviesen durmindo, los moros entraron en la estança, e pusieron en ella dos banderas, la una blanca e la otra clorada, e toviéronlas así, e los moros yvan feriendo e matando los cristianos…Peleavan los moros de tal manera que los más de las banderas se venían retrayendo, quedando solamente los capitanes con algunos pocos de los suyos, como cavalleros esforzados queriendo antes morir allí que hazer mengua. E como el marquês [de Cádiz) viese esto desde la estança alta donde estava, salió a pie por la ladera abaxo com solamente coraças e capaçete y espada y adarga… E de tal manera que ovieron de volver las espaldas”


No relevo da Rendição de Vera, pode ver-se D. Fernando, vestido de armadura, coroa e espada, montado a cavalo, ricamente ornamentado. O monarca assinala a um cavaleiro, a seu lado direito que deverá ser o marquês de Cadiz

À esquerda, um mouro rico (ou judeu), agarra as barbas e foge, levando tudo o que pode. O burrico, incomodado com o peso da carga, zurra e denuncia a fuga.

Consultar: Juan de Mata Carriazo, Los relieves de la guerra de Granada en la sillería del coro de la Catedral de Toledo, Granada, Ed. Universidad de Granada, Granada, 1985

(Só mais uma cartinha)

No seguimento da Cruzada no Norte de África e da tomada de Lepanto pelos turcos, aparece a espionagem marroquina, que aqui é apresentada pelo rei de Fez, passando informação ao Grande Turco.


No meio de tanta carta, nota-se o dedinho do projecto do Cardeal Cisneros, como anteriormente, na tomada de Granada, tinha havido mãozinha e façanha do homólogo Mendoza.
Como também se percebe que ao “Tarfan de Los Godos”, o panegírico ao monarca não lhe ensombra o sarcasmo.

Diz a certa altura o rei de Fez:


“Nuestras espias andouieron por la hueste delrey de España, y visto su aparato y grandeza de poder, parece que escede a Dario y Alixandre, y a todos los passados en conformidad. Todas sus gentes cristianas, blancos, subditos suyos, grandes principes y perlados, todos vna nacion, hornado de gentes, caballos y armas con ricos atauios de oro y plata, y joyas preciosas, todos parientes, ningund esclauo ni baxo subjeto; grande artilleria ya armada de tierra y mar innumerable"

O turco não se deixa impressionar por tão espantoso quadro e responde-lhe:

"Lo que nos dezis uieron uuestos especuladores del aparato delrey de España mas esfuerza el animo de nuestra caualeria, que tiene en vso partir tales despojos. El grande hornato y riquezas, de huestes nada ayundan para vencer, antes empachan las huestes y dan cobdicia a sus contendores, que desde el poniente fasta el boreal todo lo que circunda la terra.
E termina, em tom irónico, dizendo ao de Fez que, com tanto atavio, esta nobreza castellana “mas aparejada está para fuyr, que para vencer, ni fazer proheza”.


Imagens: Relevos do cadeiral de Toledo (Rodrigo Alemão) c. 1489-1495: bombardeamento a um castelo na conquista do Reino de Granada; entrada dos Reis Católicos em Almeria—D. Fernando, coroado, veste roupa civil luxuosa, leva ceptro e espada a não; D. Isabel, veste amplo vestido decotado, diadema ou coroa na cabeça, e grosso colar com medalha, ao pescoço.




Mais correspondência caída do céu.
Desta vez, uma troca de missivas entre D. Fernando o Católico e os blémios.

El Rey a los acéfalos sin cabeças que tienen toda la cara en los pechos



Es de tanta admiración a nuestro gentio la ymagen que natura uso ministro diforme a natura humana que sino fuesse lo que de razõ sentis aca dirian que soys irracionales, y como los abtos de natura no son diformes si la razon los conforma y Della dios uso fizo tan abastados, ella puede bastar a que defecto de natura no uso amengue; la conuersacion de mis gentes uso sera provechosa, y si la figura uso parecere diforme, la razon los conformara con uuestra virtud, que ninguno a natura es diforme si con lo que le da ventura es conforme.




Los acefalos sin cabeças sirocales al Rey

Uestra grandeza altísimo rey es de tanta admiración que si acepteble uso fuesse diuino acatamiento le ofreciéramos porque com tanta himanidad sin estraña esquiueza nos ha plazido mandarnos comunicar las extrañezas de uuestra nõbradia.
La figura nuestros subjectos que alla paresce diforme como con las de outra forma nõ ha auido comunicación no determinamos si ay defectos mas de como uechemos que donde los sentidos estan mas cercanos a la noticia del entendimiento e vital virtud del coraçon fallamos ayer menos empacho para lo que queremos sentir y con menos peligro de los trabajos que à los miembros remotos suelen uenir: con esta figura tenemos luenga vida y saludable con farta dispusicion y sentido para seruir; no es mêgua de la proporcion en criatura, do ay buena condicion a natura

………………………
A publicação portuguesa oitocentista acrescenta-lhe uma advertência muito engraçada.

Aqui fica um excerto:

“Em quanto à authenticidade das mesmas Cartas , que o collector diz vertera das línguas scitica, arabica, grega, e latina; perdoe-nos o senhor comendador; mas não podemos acreditar a esta sua palavra— Que elrei de Hespanha escrevesse aos príncipes de Europa, ao Turco, aos reis de Tunes, de Bugia, etc. Etc., e delles obtivesse resposta, não seria certamente impossível nem maravilha. Que o mesmo rei dirigisse suas epistolas à rainha das Amazonas, aos Acéfalos, aos Monocuelos, aos Monopodos etc., ainda tambem entra nos possíveis. Mas que recebesse pontualmente resposta de todas estas altas pontencias; e vazadas pelo mesmo molde; é o de que nossa oncredulidade se atreve muito a duvidar.”

imagens:1- Relevo da Capela Real de Granada: entrada de Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela no reino e Nazari de Granda, no ano de 1492 ;2- Jacob van Maerlant, Der Naturen Bloeme, Fladres, 1350

Nas biografias medievas ocidentais, Maomé era descrito como um cristão herético; um cardeal romano ressabiado por não ter sido eleito Papa.


Numa versão castelhana do início do século IX, contava-se que negara a divindade de Cristo, acabando por morrer bêbado, devorado por cães e porcos numa pocilga.





Pentecostes, Paris. Bibliothèque Nationale MS Syr. 344. fol. 7, 1497 (manuscrito arménio)






John Block Friedman, the monstrous races in Medieval Art and thought, Cambrdife Mess, Harvard University Press, 1981

A deusa Deméter deve estar para chegar!
Não vi as abelhas, mas sei que por ali andam, tantas são as colmeias que os homens por aqui espalharam.
Mel, azeite e azeitonas, como aprendi na escola. E leite e queijo, porque vi os rebanhos de ovinos e caprinos.

Uma salinha para “pessoas educadas de ambos os sexos”
ou
Um encontro surrealista, entre a ironia de Swift e a catalogação babélica de Borges- kalebeul: anythingarian bubbles and troubles from the land of the fretting nun .

Preciosidades que só se encontram aqui .

{este postal é dedicado ao nuestro hermano Kalebeul, que teve a amabilidade de linkar o Cocanha}

No tempo em que se uniam esforços para combater a ameaça turca, também choviam cartas do céu.
Neste caso, uma série de correspondência imaginária que Fernando o Católico teria travado com todos os povos do mundo, a fim de se unirem em torno da Cristandade.


Para dar um cunho mais maravilhoso a estas epístolas trocadas no ano de 1499, o compilador- um tal Frei Tarfan de Los Godos- da Ordem de S. Jerónimo de Jerusalém (comendador de Frexenal, Tossina, Peñalver Salamanca e Alcolea)-, apresenta-as em plena mundividência – traduzidas da língua scitica, arábica, grega e latina.

Como já tínhamos referido aqui , não houve povo ou soberano do planeta que não tenha recebido carta espanhola e respondido, oferecendo os seus préstimos. Desde as amazonas, aos ciápodes, monóculos, canibais e outros monarcas mais viáveis, como foi o caso dos antárticos, que só não vieram até cá por dificuldades de transporte (ainda que D. Fernando os tenha assediado com os benefícios do excelente clima peninsular), todos responderam ao apelo.

Todos, incluindo o Papa, o Imperador e o próprio turco otomano- Solimão o Magnífico.
Depois do monarca espanhol lhe ter afirmado que o seu poderio já tinha chegado a terras de África, Guiné, Canárias, Índias longínquas, dando lei e vida livre a gentes de todo o mundo, incluindo Monóculos, Acéfalos, Monópodos e Canibais em maior número, assegura-lhe:
"quando lo permitiere la potencia divina yo sere con ygual hueste a uer los que se oponen contra la christandad: si uos fuerdes dellos con mas razon cresceran los ânimos de nuestras huestes, pues van a recobrar lo suyo, e pouer su grand uirtud, y ualer en armas: que la servil multitud en faz de la nobleza, mas aparejada está para fuyr que para vencer, ni fazer proheza."

O turco não se deixa intimidar pela bravata espanhola e responde-lhe:

“No es de grandes reyes, christiani rey, espresar mucho los derechos de las cosas y leys tan diferentes. Mi deseo es que uso y todos los cristianos seays moros, porque os salueis, que procurar esto a toda a costa y peligro por sola caridad: y quere Dios que los que desta creencia se desuiarem con mano rebusta yo los allegue a su saluacion: paresceme que en tan pia obra podia perecer cualquier uso adquirido por uestros antecesores: el trato de las gentes de mis huestes no es dulce en el cantar y balar, ni en las delicaduras de la uida"

E continua a fazer a apresentação do que os pode esperar, terminando com a certeza de saber quem havia de triunfar- “asi que ño ay que corregir en la forma de nuestro sacrificio, pues uemos que aquella es a Dios deleytable, y por ella nos embia tanta prosperidad :que la general Vitoria por Dios se da a los de su gloria".

Sabemos como acabou a história. Nesses tempos, apesar de tantos prodígios, as chuvas de cartas não eram sinónimo de crença no benefício da mera diplomacia.

[Manuscrito com iniciais iluminadas, guardado no Arquivo de Évora, transcrito e publicado no ano 1842, pela Typograhia da Revista, na cidade do Porto].
imagens: 1- demónio, miniatura do Codex Piga, séc. XIII, Boémia, 2- fol. 9vº. do manuscrito original.