amanhã não sabemos


Faz um ano que eu e o musaranho (a sub-comandanta é só pose, para bulir que se agitem os outros) carregamos com o estaminé às costas.
Tudo por um engano absurdo de templates, de que nem vale a pena falar.

Seja como for, só temos a agradecer os bons bocados proporcionados pelos que cá vêm gastar o seu tempo. Enquanto fizer sentido e os afazeres não obriguem a colocar ponto final, há cocanha na blogosfera.
Sirvam-se que a utopia não é séria mas quer-se goliardesca.



[festa- Lucy Casson, 2004]

{ali ao lado, oferta da casa- excerto de l'Inhumaine, versão original, pintada}
para versão maior, clicar aqui

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actualização:
Não tenho jeito nenhum para estas coisas. Dá-me sempre ideia de tailleur e ramalhete de flores à volta de um microfone, mas a culpa não está na simpatia de quem se lembrou de nós. Por isso, aqui ficam mais uns agradecimentos à menina Margarida do Eclético , ao André Moura e Cunha do Porque e ao nosso Dragão, agora em versão anacoreta.
... à menina triciclo feliz, à menina Carla Elsinore e ao Henrique
zazie e musaranho coxo




Prefiro o Voynich .



Ente misturas de herbários, cosmologias herméticas e estas meninas em banhos medicinais ou sangrias cátaras exterminadoras, digam-me lá se este não tem muito mais “substrato”


[clicar na imagem]

Fala-se agora muito em Timor e na crise da sua “democracia” e fica a pergunta: mas quando é que houve eleições legislativas em Timor?

(Não vou retomar agora um assunto que não me surpreende. Tudo o que tinha a dizer já o fiz há tempos, aquando da famigerada “intervenção da Igreja”. Basta consultar as caixinhas de comentários de inícios de Maio do ano passado, no Barnabé ou no Blasfémias)

A esta pergunta é que nunca me responderam.

[um deslinque por deslize todos os temos. Aproveita-se a ocasião para repor aqui uma porcalhada com dupla dedicatória-
Aos nossos
porquinhos de estimação e ao gaiteiro (salvo seja) do Luís Rei ,a quem há três anos foi oferecido o bácoro e a sanfona].


Por tradição ancestral a gaita-de-foles sempre foi associada à provocação sexual. O tema populariza-se na Idade Média na literatura e na iconografia jocosa.

O termo "gaiteirice" prende-se com estes costumes e vemo-lo aplicado à luxúria desbocada dos loucos, dos velhos e das velhas afoitos a críticas e penitenciais da Igreja, por força da insistência no gozo.

De um modo mais descomprometido, os tocadores de gaita-de-foles fazem parte das festas do riso saudável e desbragado das patuscadas populares, acompanhadas de bebida e muita outra diversão.

Gil Vicente e Camões referem-no a propósito dos tempos soturnos trazidos pela Inquisição. A "apagada e vil tristeza" que já aparecera no Triunfo do Inverno vicentino:

Em Portugal vi eu já
Em cada casa pandeiro
E gaita em cada palheiro;
E de vinte anos a cá
Não há hi gaita nem gaiteiro,
A cada porta hum terreiro,
Cada aldeia dez folias,
Cada casa atabaqueiro;
E agora Jeremias
hé nosso tamborileiro.
Só em Barcarena havia
tambor em cada moinho,
E no mais triste ratinho
S'enxergava uma alegria
(Gil Vicente, Triunfo do Inverno).

Amores e calores fora de época parece que sempre atacaram em todas as épocas. Gil Vicente não os poupou nas suas sátiras:

Moça "Já perto sois de morrer. Donde nasce esta sandice que, quanto mais na velhice, amais os velhos viver? E mais querida, quando estais mais de partida, é a vida que deixais?
Velho "Tanto sois mais homicida, que, quando amo mais a vida, ma tirais. Porque meu tempo d'agora vai vinte anos dos passados; pois os moços namorados a mocidade os escora. Mas um velho, em idade de conselho, de menina namorado... Oh minha alma e meu espelho!
Moça "Oh miolo de coelho mal assado! (...)

A badalhoquice da velha era ainda mais caricata, estando na base da inversão da Tempo e da Ordem nas festas do solstício de Verão, em que o tema da Serração da Velha se inscreve.

Velho " Estas velhas são pecados, Santa Maria vai com a praga! Quanto mais homem as afaga, tanto mais são endiabradas!
Gil Vicente,O Velho da Horta

No Triunfo do Inverno, tragicomédia concebida como uma assoada e festa de Maio*, a velha Brásia Caiada, faz um percurso pela serra, suportando as intempéries invernais, porque deseja casar-
com um mancebo solteiro
filho de priol d’Aveiro
e eu sua namorada
e o moço sapateiro
Porque diz o exemplo antigo
quando te dão o porquinho
vai logo có baracinho.
Ora eu cá assi o digo.
E mais quem inda s’atreve
com’eu que o posso fazer.
Que assi case eu com prazer
que vou cada vez mais leve.
-Vingando-se da morte do Inverno, a velha do charivari, acaba por desaparecer na Natureza.

retábulo Sé Velha CoimbraNo bestiário medieval o porco ou javardo, significa literalmente essa gula ou luxúria depravada. Já Santo Isidoro de Sevilha o recordava nas Etimologias: "os porcos são imundos porque se revolvem e sujam na terra à procura de alimentos". Na obra Hortus Sanitatis (1485), inspirada em Aristóteles, Jehann von Cube desenvolve a ideia da associação do porco à luxúria, referindo a precocidade sexual do animal que aos oito meses já é capaz de copular.

Os exemplários acrescentam os mesmos atributos aos macacos beberrões e a todo o tipo de gula e prazeres carnais. Representam-se com este sentido em cortejos festivos, tocando instrumentos musicais, a par de sátiros, centauros e outras figuras humanas bestializadas e em despique com os homens selvagens.
Nestas gaiteirices, a gaita-de-foles parece ter esse específico significado sexual. Arcipreste de Talavera, na recolha de refrães que incluiu no El Corbacho (1438), a propósito de frades e seculares dados a assediar a mulher do próximo, utiliza a frase: "dignos por us fechos de tañer la cornamusa"

Parece que a música popular e profana não se fazia apenas ouvir nas festarolas e touradas nos adros das igrejas. A confecção simples e pouco dispendiosa deste instrumento musical, levava a que muitas paróquias usassem a gaita no lugar do órgão.

Oviedo

O Louco ou bufão, termo de origem toscana, significava o chocalheiro, o bobo por cuja boca saem os disparates, venenos, malícias e todo o tipo de licenciosidades que servem para entreter os ignorantes e indiscretos, como foram definidos por Sebastián de Covarrubias no século XVII.
O bufo que diz coisas vãs e cujas palavras leva o vento representa também as cabeças aéreas, a razão adormecida. Este personagem domina grande parte da cultura satírica medieval, prolonga-se nos tempos modernos, numa confluência entre o erudito e o popular.
Da Nave dos Loucos de Sebastian Brandt ao Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdão, passando pelas trovas populares e teatro vicentino, o louco é o antecessor do palhaço pobre dos tempos modernos.
O efeito escatológico das suas provocações tanto actua nas festas populares, feiras e vagabundagens de saltimbanco, como o promove a bobo de corte em meados do século XIV.
Nas cidades multiplicavam-se as companhias de loucos com ordenanças e cerimónias burlescas próprias e as Festas de Loucos, dos Inocentes e do Asno servem também como momento de iconoclastia colectiva de que nos restam testemunhos iconográficos.

Na descrição de uma festa de loucos decorrida em Ecija diz-se mesmo que no meio do espectáculo se ouvia tambores e a "gaita dos loucos"
(ver Caro Baroja, El Carnaval (Análisis histórico-cultural), Madrid, 1965, p. 326.)


















Algumas representações do toque da gaita-de-foles aproximam-se de figuras metamorfoseadas (especialmente monges) cujos narizes se prolongam nos tubos da gaita ou nas flautas imprimindo-lhes um nítido carácter fálico. Noutros casos a associação sexual é mais explícita, mostrando claramente cenas de sexo contra natura ao lado dos porcos, macacos e coelhos gaiteiros.











Os tempos passam, os gostos mudam mas porcalhadas e gaiteirices não desapareceram nas brincadeiras pos-modernas. Aqui fica um grande porcalhão mais recente.


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*segundo Maria José Palla, A Palavra e a Imagem. Ensaios sobre Gil Vicente e a Pintura Qinhentista, Editorial Estampa, Lisboa, 1996.

consultar também:
site dedicado a gaitas-de-foles

imagens:
- Les Très Riches Heures du Duc de Bérry, 1413.
-Pieter Brueghel o Velho, Dança de camponeses, 1556
- Pieter Brueghel o Jovem, interior de festa de casamento (detalhe), c. 1620
- Pieter Brueghel o Jovem, velho gaiteiro
- retábulo da Sé Velha de Coimbra, provocação sexual entre homem selvagem e javardo a tocar gaita
- campónio a tocar gaita, gárgula da catedral de Plasencia
-
porcos músicos- cadeiral de Santa Cruz de Coimbra;
-javardos a copularem ao som da gaita, cadeiral de Oviedo
-gravura da Reforma- "Papa doutor em Teologia e Mestre da Fé", Lucas Cranach, meados do século XVI
-Erhard Schoen O demónio a tocar gaita de foles c. 1530
- Sebastian Brandt, A Nave dos Loucos, louco gaiteiro, gravura de Dürer.
-
cena de felatio entre meninos, portal da Sé de Lamego
-menino a masturbar-se ao lado de coelho gaiteiro, capitel da igreja conventual de Vilar de Frades

- Jeff Koons, 1988, porquinhos e S. João Baptista

nota: acrescentada a gravura satírica do Papa de Lucas Cranach, graças ao BibliOdissey




my newest Super Bitch bag



















Ted Noten (anel de ouro; cortador de gelo; pedras cor-de-rosa; cocaína incrustada em acrílico, têxtil) 2005


[para o merdinhas ]

O "avacalhamento" não é exclusivo das que estão em parada lisboeta, tal como a "cabrice" não é dos capríneos. Já S. Boaventura desconfiava da tendência viciosa na espécie dos ursos e não devia estar enganado.

A ursa colmeeira era a figura escolhida, sempre que se queria referir o gosto de quem saboreou luxúria ou dos que ficaram a chupar os dedos.



Ursos e ursas que aparecem em gravuras ou na marginalia decorativa medieval podem estar no lugar desses defeitos e reviravoltas dos prazeres. A Gula fácil e predadora do urso que vai à colmeia e é atacado por tantas abelhas, que não lhe chegam os dedos para o doce, como contava Leonardo da Vinci no Bestiário e que o faz encarnar a vanidade da ira.
Noutros casos é recordado nas trovas satíricas como exemplo do prazer perdido, quando o desejo é muito, mas a mão não lhe chega.




Na versão mais moralista, de que fala Sebastian Brant na Nave dos Loucos, dirige-se a «Quem no tempo alegre do verão descuida o trabalho, acabará no inverno como os ursos a chupar os seus próprios dedos”

Pode também ser má sorte daqueles que não deviam cobiçar o que não lhes foi destinado, como o clérigo enamorado da Farsa dos Físicos de Gil Vicente.

Moço para o clérigo -

«O mestre cousa he sabida,
se vos lembra o entendedor,
Que amar quem vos não quer
he falta d'amor perdido

«Triste ma hora naci
que vio ora elle em mi
O Padre lambe ll'o dedo
Que s'alvoroçou assi?»

Passado um século, ainda Frei António das Chagas recordava "o mel e o cortiço", num misto de vanglória varonil e desconfiança por tanta facilidade que pode ser “sol de pouca dura”

(...)Se para o vosso cortiço
quereis enxame, eu o tenho,
com tão boa abelha mestra
que não sofre zângãos dentro:
E se a crestar essa colmeia
quereis vir, não tenhais medo
deste furão que é mais doce
que o próprio mel desse termo:
Porém, amiga, ide embora,
que eu de tal favor receio
que quem favo hoje me manda
que à fava me mande cedo.


Nem todo o que sabe bem é prazer negado. A colmeeira também podia ser a ursa bem satisfeita que depois de saboreado o cortiço, ainda lambe os dedos com vontade de mais.
Como a Constança das picardias satíricas de Ruy Moniz:

(...)a que o gosta,
não lhe pesa nada
de ser cavalgada
de ilharga ou de costas.
Passara dos doze,
o mais não é cedo,
se amor vos escoze
perde-lhe o medo.

Guardar de esperança
muito prolongada,
e seja lembrada
por nome Constança.
Que lambeu o dedo
depois de gostar,
e foi-se finar,
do que vos hei medo.

Certo é que não há gozo mais apetecido que o proibido. Muitas colmeeiras “entregavam-se” a estas doçuras em pleno coro das igrejas. A nossa ursa ainda hoje anda nesses desvarios lá pelas bandas da sé do Funchal

ver:
Sebastian Brant, Stultifera Navis (Basileia, 1497)
Frei António das CHAGAS, 1631-1682, Portugal , in Poesia Portuguesa Erótica e Satírica
Selecção, prefácio e notas de Natália Correia, Antígona/frenesi, Lisboa, 1999
Rui MONIZ, séc.XV, in Cancioneiro Geral e "Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, ibidem.
Gil VICENTE, "Farsa dos Físicos", Obras completas de Gil Vicente, Lisboa, Sá da Costa, tomo VI, 1955, pp.102-103.
Leonardo da VINCI, Bestiário, fábulas e outros escritos, [H, 6r], Lisboa, Assírio e Alvim, 1995, p. 16.

Imagens: -“Bíblia do Urso”, ANTT (assim denominada em virtude da marca de Impressor da Matias Apianus) ed. Basileia, 1569.
-"Imprevidência"- Nave dos Loucos- gravura atribuída a Albrecht Dürer
-cadeiral da igreja da Natividade de Maria, kempen, séc. XV
-cadeiral da Sé do Funchal, c.1517.

por falar nelas, que será feito das sobras desta?












[é para clicar]



.... urso pirateado daqui












e agora vamos aos outros no canal 1




Em resposta ao cbs quando depois de tecer palavras simpáticas a meu respeito, desabafou: “só não percebo como consegues gostar do VPV...”

Pois aí está uma pergunta que também nunca entendo a que se refere. Não creio que se reporte ao VPV historiador porque esse (peço desculpa pela generalização) ninguém lê.
Imagino que a coisa também não tenha a ver com ideologias, pelo que resta outro sentido qualquer que para mim se resume a uma simples fatalidade- gosto por ser portuguesa. Num país de lustrosos saltitantes, sempre prontos para os salamaleques ao Poder e por arrecadar à custa dele, quem é que não sente necessidade de um bom bobo-da-corte?

Aqui fica um exemplo do que tudo isso significa. O José sintetizou-o em poucas palavras: “Como de costume, VPV parte a loiça das redomas ministeriais e escaqueira estilos de pomposidade culturística”.

Quantos mais temos, capazes de rejeitar estes convites bacocos e partir a loiça com tanta graça?





Personne n'a vécu dans le passé, personne ne vivra dans le futur. Le présent est la forme de toute vie. C'est une possession qu'aucun mal ne peut lui arracher. Le temps est un cercle qui tournerait sans fin



Le temps est la substance dont je suis fait. Le temps est un fleuve qui m'entraîne, mais je suis le temps ; c'est un tigre qui me déchire, mais je suis ce tigre


Il suffit d'avancer pour vivre
D'aller droit devant soi
Vers tout ce que l'on aime

-Savez vous ce qui transforme la nuit en lumière?
- La poésie


Amoureux! Qu'est ce que c'est?
- Ça.
-Non, ça je sais ce que c'est, c'est la volupté


Alors l'amour c'est quoi ? ... Ta voix, tes yeux ... tes mains, tes lèvres ... nos silences, nos paroles ... la lumière qui s'en va, la lumière qui revient, un seul sourire pour nous deux


Par besoin de savoir, j'ai vu la nuit créer le jour, sans que nous changions d'apparence. Ô bien aimé de tous et bien aimé d'un seul. En silence, ta bouche a promis d'être heureuse. De loin en loin, dit la haine. De proche en proche, dit l'amour. Par la caresse nous sortons de notre enfance.



Je vois de mieux en mieux la forme humaine comme un dialogue d'amour. Le cœur n'est qu'une seule bouche. Toutes les choses au hasard, tous les mots dits sans y penser, les sentiments à la dérive, les hommes tournent dans la ville, le regard, la parole, et le fait que je t'aime.


Tout est en mouvement. Il suffit d'avancer pour vivre. D'aller droit devant soi, vers tous ceux que l'on aime. J'allais vers toi. J'allais sans fin vers la lumière. Si tu souris c'est pour mieux m'envahir. Les rayons de tes bras entrouvraient le brouillard

-J'ai dormi longtemps ?
-Non, l'espace d'un instant















... Je ... vous ... aime













Je vous aime




Il était vint quatre heures dix-sept, heure océanique, quand je suis arrivé dans les faubourgs d'Alphaville.





" - Qu'avez-vous éprouvé en traversant les espaces galaxiques?
- Le silence de ces espaces infinis m'a... m'a effrayé. "


"Nous vivons dans l'oubli de nos métamorphoses..."

"[Oui, mais, vous savez dans la vie, il n'y a que le présent] personne n'a vécu dans le passé et personne ne vivra dans le futur"


"Il suffit d'avancer pour vivre









[à suivre…]
clique



da carta






































Zadok- "o que está correcto"


"o levita que aguarda David"








"o pilar do templo de Salomão"




Zadok Ben-David-








o paleontólogo escultor que de tempos a tempos reencarna sombras da natureza primordial. Esquivas como nas fábulas; desencorpadas como nas taxionomias das espécies






Tenho para mim que a demonstração de fairplay também é sintoma de alma magnânima. Neste caso a série duracell teve a vantagem de fazer justiça a outro “tom” que glorifica o prazer de desbaratar- o do nonsense dos postes recicláveis do nosso maradona com minúscula.

E por falar em coelhos, aqui fica um cadeau de outro muito cá do Cocanha-