Para destilar o ouro com as salamandras


Tome duas libras de bronze limado, um pote de leite de cabra, nove salamandras, coloque tudo num pote largo em baixo e estreito em cima, cubra-o com a tampa bem fechada, a qual deve ter um buraco em cima, enterre o pote em terra húmida tão profunda que a só apareça parte superior onde estão os buracos, de modo que as salamandras possam ter ar e não morram. Deixe-as assim até ao sétimo dia da parte da tarde. Tire então o pote para fora, verá que as salamandras apertadas pela fome terão comido o bronze, e a grande força do veneno contraiu-lhes o couro transformando-o em ouro. Escave depois um buraco da profundidade de dois dedos, no qual vai enterrar o pote com as salamandras, de seguida acenda um fogo lá dentro, de carvão que arde alto e baixo, menos no entanto por baixo que por cima, depois coloque o pote na terra, de modo a que o couro não se funda. Quando lhe parecer que as salamandras estão feitas em cinzas, retire o pote do fogo e deixe-o arrefecer bem. Feito isto, despeje o couro e o pó numa vasilha de lavar e deite-lhe água em cima, limpando o couro do dito pó, depois pendure-o ao fumeiro, e deixe-o secar bem, e terá do bom ouro, mande-o polir a um ourives.
Alfred Jarry
Almanach du Père Ubu illustré, Paris, 1899
Litografias de Pierre Bonnard


Tome duas libras de bronze limado, um pote de leite de cabra, nove salamandras, coloque tudo num pote largo em baixo e estreito em cima, cubra-o com a tampa bem fechada, a qual deve ter um buraco em cima, enterre o pote em terra húmida tão profunda que a só apareça parte superior onde estão os buracos, de modo que as salamandras possam ter ar e não morram. Deixe-as assim até ao sétimo dia da parte da tarde. Tire então o pote para fora, verá que as salamandras apertadas pela fome terão comido o bronze, e a grande força do veneno contraiu-lhes o couro transformando-o em ouro. Escave depois um buraco da profundidade de dois dedos, no qual vai enterrar o pote com as salamandras, de seguida acenda um fogo lá dentro, de carvão que arde alto e baixo, menos no entanto por baixo que por cima, depois coloque o pote na terra, de modo a que o couro não se funda. Quando lhe parecer que as salamandras estão feitas em cinzas, retire o pote do fogo e deixe-o arrefecer bem. Feito isto, despeje o couro e o pó numa vasilha de lavar e deite-lhe água em cima, limpando o couro do dito pó, depois pendure-o ao fumeiro, e deixe-o secar bem, e terá do bom ouro, mande-o polir a um ourives.
Alfred Jarry
Almanach du Père Ubu illustré, Paris, 1899
Litografias de Pierre Bonnard