[para o RB- na cubata]

Um simulacro televisivo

[recordado pelo Gioachino]


President "Bobby": Mr. Gardner, do you agree with Ben, or do you think that we can stimulate growth through temporary incentives?
[Long pause]
Chance the Gardener: As long as the roots are not severed, all is well. And all will be well in the garden.
President "Bobby": In the garden.
Chance the Gardener: Yes. In the garden, growth has it seasons. First comes spring and summer, but then we have fall and winter. And then we get spring and summer again.
President "Bobby": Spring and summer.
Chance the Gardener: Yes.
President "Bobby": Then fall and winter.
Chance the Gardener: Yes.
Benjamin Rand: I think what our insightful young friend is saying is that we welcome the inevitable seasons of nature, but we're upset by the seasons of our economy.
Chance the Gardener: Yes! There will be growth in the spring!
Benjamin Rand: Hmm!
Chance the Gardener: Hmm!
President "Bobby": Hm. Well, Mr. Gardner, I must admit that is one of the most refreshing and optimistic statements I've heard in a very, very long time.
[Benjamin Rand applauds]
President "Bobby": I admire your good, solid sense. That's precisely what we lack on Capitol Hill.

  • E aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no quinto dia do mês, que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visöes de Deus.
  • 2 No quinto dia do mês, no quinto ano do cativeiro do rei Jeoiaquim,
  • 3 Veio expressamente a palavra do SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mäo do SENHOR.
  • 4 Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de ámbar, que saía do meio do fogo.
  • 5 E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem.
  • 6 E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
  • 7 E os seus pés eram pés direitos; e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra, e luziam como a cor de cobre polido.
  • 8 E tinham mäos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas.
  • 9 Uniam-se as suas asas uma à outra; näo se viravam quando andavam, e cada qual andava continuamente em frente.
  • 10 E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leäo, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro.
  • 11 Assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas por cima; cada qual tinha duas asas juntas uma a outra, e duas cobriam os corpos deles.
  • 12 E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; näo se viravam quando andavam.
  • 13 E, quanto à semelhança dos seres viventes, o seu aspecto era como ardentes brasas de fogo, com uma aparência de lámpadas; o fogo subia e descia por entre os seres viventes, e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relámpagos;
  • 14 E os seres viventes corriam, e voltavam, à semelhança de um claräo de relámpago.
  • 15 E vi os seres viventes; e eis que havia uma roda sobre a terra junto aos seres viventes, uma para cada um dos quatro rostos.
  • Livro de Ezequiel




Arca tumular de S. Martinho de Dume (possivelmente do século XI).
Representação de altar na iconostase, com o oficiante, de braços erguidos- S. Martinho a oficiar mais dezoito personagens a assistirem ao ofício litúrgico.

Na tampa - Cristo na mandorla, rodeado pela figuração do tetramorfo na forma dos evangelistas com as faces dos respectivos animais simbólicos, erguidos sobre banquetas de cariz oriental.

«Na sua Ascensão manifestou a sua divindade. S. Mateus é-nos representado por um homem, porque se detém principalmente na humanidade de Jesus Cristo; S. marcos pelo leão, porque trata da sua Ressurreição; S. Lucas pelo bezerro, porque se ocupa do sacerdócio; S. João pela água porque escreveu sobre os mistérios divinos» S. Gregório Magno, in Ezek., hom. 4 (S. Tomás de Aquino, Catena Aurea )


S .Martinho de Dume (c. 520 – 580)- monge, bispo, reformador, escritor, poeta- Martius Martinus- como lhe chama Venantius Fortunatus , foi o grande educador clássico e cristão dos povos bárbaros peninsulares.
Entre várias obras que redigiu, salienta-se o De Correctione Rusticorum- inspirado no De Catechizandia Rudibus, de Santo Agostinho- mas dirigido aos rústicos dos campos- de modo mais simples. A preocupação na catequização da corte sueva é testemunhada na escrita, pela Formula Honestas Vitae, dedicado ao rei Miro e seus pares, bem como tratados éticos- De Superbia, De Ira, Pro Repellenda Jactancia e Exhorftatio Humiliatis.

A ele se deve a reforma da liturgia, bem como canónica e administrativa na zona de influência de Bracara Augusta, segundo os mais puros modelos da Igreja de Roma.

Por este motivo, nos Cânones do segundo Concílio de Braga (573) a que presidiu, foram substituídos os dias da semana do calendário romano, pela nomenclatura do latim eclesiástico, em que feria (feira) significa o dia dedicado a trabalho para o Senhor.

Portugal permanece com esta originalidade de raiz cristã, já que nas restantes línguas o nome dos dias da semana continuou a incluir referências a divindades pagãs e planetas crismados do panteão greco-romano.

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Nota: Para as simbiose entre o paleocristão e a tradição greco-latina, recomenda-se os estudos de Manuel Justino Maciel, em particular -A arte romana tardia e paleocristã em Portugal (1993)

Pedro Lomba despedido do Diário Económico.

A crónica que deu origem e que vale a pena destacar:

Cronologia de um golpe

Acto I. Estamos a 3 de Outubro de 2004 e José Sócrates é eleito líder do PS. A 9 de Outubro, Armando Vara regressa à direcção do partido pela mão de Sócrates. A 20 de Fevereiro de 2005, o PS vence as legislativas com maioria absoluta. A 2 de Agosto de 2005, há mudanças na Caixa Geral de Depósitos: Teixeira dos Santos afasta Vítor Martins e Vara integra o “novo” conselho de administração. A maioria dos membros desse conselho é afecta ao PS.

Avancemos no tempo. Grande plano. No primeiro semestre de 2007, a Caixa financia accionistas hostis ao conselho de administração em funções no BCP. Cresce o peso do banco do Estado no maior banco privado português. Vara e Santos Ferreira são incluídos em lista concorrente nas eleições para o conselho executivo. O jornais falam no financiamento da Caixa ao empresário Manuel Fino que apoia Santos Ferreira.

A 15 de Janeiro de 2008, Armando Vara é eleito vice-presidente do BCP. Segundo documento divulgado pelo próprio banco, ficam a seu cargo as competências executivas mais relevantes. Armando Vara coloca-se precisamente no coração dos movimentos de créditos, dívidas, compras e vendas de acções e activos. No centro do fluxo de todos os interesses e influências.

Chegados aqui, com os actores certos nos papéis certos nas duas maiores instituições de crédito nacionais (CGD e BCP), tudo se torna possível. O primeiro golpe foi concluído. Começou então o segundo.

Acto 2. Com as possibilidades que o controlo do BCP oferece, o recém-chegado grupo Ongoing, que entretanto adquirira o Diário Económico e já tinha uma posição no grupo Impresa (SIC, Expresso, etc.), é financiado para novas acções. Com o grupo Ongoing: José Eduardo Moniz sai da TVI e controla-se a Media Capital, depois de uma tentativa de aquisição pela PT abortada pelo Presidente e pela oposição. Em Fevereiro de 2009 torna-se possível ajudar o empresário Manuel Fino a aliviar os problemas financeiros (em parte criados pelo reforço da posição no BCP) junto da CGD prestando uma dação em pagamento com acções suas valorizadas cerca de 25 por cento acima do preço de cotação e com opção de recompra a seu favor. Torna-se também possível ajudar o “amigo Oliveira” a resolver os problemas financeiros do seu grupo de media (Diário de Notícias, TSF, Jornal de Notícias).

Tudo factos do domínio público que muitos a seu tempo denunciaram. Sócrates respondia com a cassete familiar: “quem tem procurado debilitar os órgãos de supervisão, lançando críticas à sua actuação no BCP, está a fazer “política baixa””.

Política baixa, diz ele. Estamos perto do fim desta operação bem montada. Sócrates ganhou de novo as eleições. Mas este encadeamento todo precisava de confirmação. Incrivelmente, nas escutas a Armando Vara no caso Face Oculta, eis que surge a arma do “crime” libertando fumo: “O primeiro-ministro e o “vice” do BCP falaram sobre as dívidas do empresário Joaquim Oliveira, da Global Notícias, bem como sobre a necessidade de encontrar uma solução para o “amigo Joaquim”. Uma das soluções abordadas foi a eventual entrada da Ongoing, do empresário Nuno Vasconcellos, no capital do grupo. Para as autoridades, estas conversas poderiam configurar o crime de tráfico de influências”. (Correio da Manhã, 7 de Novembro).

Escutas nulas, disse o Supremo. Os factos, meus amigos, é que não são.

Pedro Lomba, Jurista


Já tínhamos a promessa da república fracturante do casório laico inter-soja, e até laivos de viabilização da família aspirador.



Agora, graças ao Paulo Borges, grande militante do 6º Império carioco-budista, abre-se uma nova esperança para muita bicharada que nem pelo civil podia legalizar os seus amores, quanto mais ter monge a sacraliza-los.



fotografia com ligeira alteração: Cyclists Please Dismount and Other Photographs from Kodak Limited's "Humour '70" Exhibition published in 1971 by Angus and Robertson (Publishers) Pty Limited.

Jean-Leon Gérôme

cássico



- Pollice Verso

imperial


Napoleão III recebe os imperadores siameses no palácio de Fontainebleu

oriental



Julgamento Final

e a plaisanterie exótica



Une Plaisanterie. Título alternativo: Arnaut a lançar fumo para o nariz do seu cão.

Foi na semana passada a leilão da Christie's com lance entre 800.000 e 1.200.000 libras


Não te preocupes que eu encarrego-me de reeducar a Zazie.



Hoje, que está de chuva, vai começar por fazer a maratona à volta da praça do Areeiro, para revitalizar daquela moleza kristotoina e javézica que lhe tolda o espírito- mens sana in corpore sano*.

Eu fico a dar instruções dentro do volkswagner, para aproveitar o efeito da hubris na musaranha ucraniana.

E, espero que logo à noite não te esqueças de levar as ninfetas prá cyber-tasca da Olímpia, que nisto temos de ser uns para os outros.

*Enganei-me, enganei-me, isso é dos romanos- aqueles marranos decadentes que adulteraram tudo. Queria dizer... espartana... esp.... não! Ateniense!!! ΘΛΙΜΠΙΚΑ da ΑΓΟΡΑ, da cultura do Raisxeparta...tásgaländo! ou lá como aquilo se chama (ainda tenho umas dificuldades nesta língua de cavalariça).








«Quando S. João, no início do seu evangelho, recordava que os homens tinham finalmente podido «contemplar a glória do Verbo» (et vidimus gloriam eius, segundo o texto latina da Vulgata), designava assim o acontecimento absolutamente central – ou a invenção absolutamente central – do cristianismo, que é a encarnação do Verbo divino na pessoa «visível» de Jesus Cristo. Acontecimento «incrível»- constituindo por isso mesmo o rochedo absoluto de toda uma crença. Porque celebrava numa espécie de entrada de Deus como tal, e não como aparência, no mundo visível, o acontecimento da Encarnação devia logicamente constituir também a “ aposta absoluta de toda a figuração”. Aposta absoluta, mas também: paradoxo absoluto de toda a figuração, que S. Bernardino de Siena, no século XV, exprimia dizendo que: «o infigurável (aí aparecia) na figura (…), o incircunscrível no lugar, invisível da visão» etc. Paradoxo, com efeito: qual pode ser o aspecto congruente dum verbo, duma pura palavra que se encarna? Por que é um homem (cur homo): o foi, sabemo-lo, o título de numerosos tratados medievais acerca da Encarnação, em particular o de Santo Anselmo)?
Como conciliar a unidade imutável da pessoa divina com a diversidade e o contraste do que seria preciso nomear a dramática das suas transfigurações, depois o belo jovem, capaz de andar sobre as águas, até ao ser desfigurado e sangrento, humilhado, que pende na cruz…e depois esse homem sacrificado, até ao deus deslumbrante que se eleva acima dos discípulos… e depois ainda esse corpo glorioso, até à pura e simples superfície do pão ázimo consagrado, onde o dogma cristão reconhece portador de toda a «presença real» do próprio Verbo?

O que o cristianismo procurava aprofundar, nesta aposta e neste paradoxo da figuração, era ultrapassar a oposição secular dos deuses demasiado visíveis do paganismo greco-latino e do deus demasiado invisível da religião hebraica.
O cristianismo tinha nascido - e fatalmente haveria de permanecer qualquer coisa nele – na dupla cultura que pretendia ultrapassar: na Antiguidade clássica, com o que isso pressupunha de abandono ao prazer das belas figurações, e ao que se poderia nomear uma religião dos corpos; na religião do Livro, com o que ela supunha de aversão no que reporta ao prazer ou à magia das imagens. Esta situação, mais uma vez paradoxal, condiciona em grande parte as contradições aparentes que marcam a emergência e o desenvolvimento do cristianismo: por exemplo o florescimento das grandes teologias da imagem, numa época em que a religião cristã ainda fazia sua a interdição mosaica das imagens; ou o nascimento de uma arte propriamente cristã numa época em que os teólogos (Tertuliano em particular) exprimiam violentamente a sua aversão ao mundo visível…

A solução destas contradições históricas só pode ser prevista se dermos conta do trabalho intenso de relevo, d’Aufhebung, de ultrapassagem dialéctica, aplicadas pela doutrina cristã às categorias usuais da figura e da visibilidade. A nossa primeira hipótese será então que o mistério cristão da Encarnação exigiu e produziu um trabalho de relevo do visível, tendo em vista exigir e produzir o seu trabalho extremo de figuração. Que «o invisível seja visto na visão» impunha logicamente que a contradição visível /invisível fosse superada, e isso só era possível pela própria modificação o conteúdo próprio de cada noção.

Mas como é que isso foi levado a cabo? Primeiro exigindo do mundo visível qualquer coisa como uma perda , um dano sacrificial. Um rito de passagem, um baptismo, uma circuncisão do olhar. Qualquer coisa como um contrato feito com o mundo das imagens, mundo a que o teólogo cristão se dirigiria nestes termos: «ou bem que tu não és visível, e então eu abandonar-te-ei como aparência e como ídolo. Ou bem que tu me alcanças o fundo, tu o encarnas, tu próprio à imagem e à semelhança da palavra divina e da sua encarnação que deves glorificar, e então eu reconhecer-te-ei como uma figura da verdade…»

Este relevo do visível, que reconciliaria a um certo nível o abade de Suger em êxtase diante das nuvens coloridas de um cálice de sardónica ou a profusão dourada das figuras cinzeladas no altar de Saint-Denis, e S. Bernardo que apenas desejava o clarão branco das suas paredes para poder contemplar o Verbo- este relevo do visível pode ser nomeado o visual, por consideração particularmente à pregnância extraordinária do próprio vocabulário da visão (próprio e sobretudo quando é chamado interior) em todo o pensamento e imaginário do cristianismo. Dizemos o visual para precisar o que entendemos de mais alto através da fórmula arriscada do inconsciente do visível». Dizemos o visual e opomo-lo ao visível, para exprimir esta hipótese que teve em conta que o mistério da encarnação visava ou tinha por efeito perturbar a ordem do mundo visível e a ordem clássica da imitação. Ela devia perturba-la como um sintoma perturba o corpo, ou como um milagre (diria Agostinho) perturba a ordem normal das coisas. (…)»

Georges Didi-Hubermam, «Puissances de la figure. Exégèse et visualité dans l’art chrétien»,Encyclopaedia Universalis- Symposium, Paris, EU., 1990, pp596-609.

Imagens : Verbum Domini, inicial iluminada do Livro de Osías, bíblia medieval. Bibliotca Guarneriana, ms. 3 folio 12. San Daniele del Friuli.
Cálice da abadia de Saint-Denis





Áh grande Dragão, que as musas da cyber-tasca do Olimpo te inspirem.






Mas não te esqueças de arranjar cargo à altura para o Caguinchas que, enquanto tu usas a pena e o raio, ele encarrega-se do know-how com as ninfas.




  • Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge.
  • 14 Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
  • 15 A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte.
  • 16 Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, trespassaram-me as mãos e os pés.
  • 17 Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam.
  • 18 Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.
  • 19 Mas tu, SENHOR, não te alongues de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me.
  • 20 Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão. (Salmo 22)


Pregação aos sarracenos cinocéfalos

Nas biografias medievas ocidentais, Maomé era descrito como um cristão herético; um cardeal romano ressabiado por não ter sido eleito Papa.


Numa versão castelhana do início do século IX, contava-se que negara a divindade de Cristo, acabando por morrer bêbado, devorado por cães e porcos numa pocilga.

Pentecostes, Paris. Bibliothèque Nationale MS Syr. 344. fol. 7, 1497 (manuscrito arménio)



John Block Friedman, the monstrous races in Medieval Art and thought, Cambrdife Mess, Harvard University Press, 1981


cercado pelos cães
Kievskaya_psaltir_kinocefal 1397

The Kiev Psalter Saltério datado de 1397,com 300 iluminuras- Biblioteca Pública de Leningrado (fol 28 r.)


Cristo rodeado pelos soldados com cabeças de cão. O texto acrescenta “quatro soldados me rodearam me, o ajuntamento dos malfeitores me cercou. Trespassaram-me as mãos e os pés.
Livra a minha alma da espada, e a minha amada da força do cão”- recordando a belíssima premonição do Salmo de David- "Circundederunt me canes multi; concilium malignatium obsedit me"
saltério Chludov-cinocefalos

O tema é semelhante ao do saltério Chludov (meados séc. IX) onde os romanos também aparecem como cinocéfalos.

Na tradição do Pentecostes era comum aparecerem cinocéfalos- raças fantásticas que se acreditava existirem para os lados da Síria. Nesse caso pretendia-se valorar a os apóstolos que pregaram o Evangelho, até às raças mais distantes.

Nestes exemplos, o sentido negativo prevalece- mostrando hereges e pagãos romanos bestializados.




Cruzei-me com ele e não acreditei.
Que estupidez, devia ter confiado no meu incrível dom para fisionomias e pedido um autógrafo, mesmo que não fosse.





(E nem sabia que ele estava cá)
“:O?

Em Gaia, a escola Almeida Garrett há muito que é pioneira na prevenção da consciência laica e republicana.


Viu-se livre dos crucifixos e aderiu à arte multiculturalista que faz bem à vista.
Para manter a tradição, preferem cultivar galinhas no pátio.

Fotografias tiradas do forum escolar














Felizmente que não é a única. Por todo o lado os edifícios do Estado seguem-lhe o exemplo.
Como se pode observar nos exemplos da Ermida de Santo Amaro e Sé do Porto, calcula-se que já devem estar na forja campanhas de sensibilização urbana, para se evitar desmandos de algum membro do clero mais reaccionário.

[Ermida de Santo Amaro] [Sé do Porto ]

Restante riscalhada, via Lisboa SOS e bigblogiswatchingyou.









Pela nossa parte, preferimos o incentivo do kit neutralizador de fúrias de endemoninhdos.







{para o Tim }


Les très riches heures du duc de Bérry


A omnipotência divina dispõe as formas corpóreas
semelhantes às minhas a sofrer os tormentos,
os calores e os frios, como se fossem corpos sensíveis.
Estulto é quem espera que a nossa
razão possa percorrer toda a infinita via,
que tem uma substância com três pessoas.

«Contentai-vos de conhecer as obras de Deus; porque
se os homens tivessem podido conhecer todas as
coisas, fora inútil o parto de Maria.
Vede, no mundo homens insignes desejarem, sem
resultado. Conhecer a causa das coisas; e o
não conseguir, eternamente, constitui a pena:
eu digo de Aristóteles e de Platão
e de muitos outros» .E aqui inclinou a fronte
e não disse mais e ficou turbado (…)

Dante Alighieri, A Divina Comédia- O Purgatório.







Jesu, dulcis memoria,
dans vera cordis gaudia,
sed super mel et omnia,
eius dulcis praesentia.











S. Bernardo e uma monja aos pés da crucificação- anónimo, 1ªmetade do séc. XIV- Museum Scnütgen, Colónia



Recordando Bénard da Costa

«(...) Se, em nome da lei da liberdade religiosa, se começa a banir cruzes de escolas, terão pensado os libertários onde se iria parar, se quisessem ser inteiramente coerentes?

Dou três exemplos, mas podia dar trinta.

a) Em primeiro lugar, era preciso mudar de bandeira. Efectivamente, mesmo a actual Bandeira Nacional, aprovada pela Assembleia Constituinte de 1911, certamente insuspeita de qualquer laivo clerical, mostra a esfera armilar e o escudo com "o campo branco das quinas", que nela figuram desde D. João I e resistiram às mudanças de D. Manuel, D. João VI ou D. Pedro IV. As cinco quinas figuram o quê? Como toda a gente sabe, ou devia saber, figuram as cinco chagas de Cristo, que Este terá mostrado a D. Afonso Henriques quando lhe apareceu em Ourique. A aparição não tem fundamente histórico e foi patranha inventada, vários séculos depois, para justificar a suposta origem divina da independência e do país. Mas o caso pouco interessa a não ser a interesseiros historiadores, com particular relevo para os de Alcobaça em tempos de ocupação espanhola. Com os tempos - e tantos tempos são - tornou-se um símbolo cultural. Abel Botelho, Columbano, João Chagas, José Afonso Pala e António Ladislau Pereira, os autores da Bandeira verde e encarnada, ainda levaram algumas "bicadas". Mas foram muitos mais as dos que queriam conservar o azul e branco (Junqueiro, Braancamp Freire ou António Arroio) do que as dos recordadores de Ourique e das feridas do Senhor. A Bandeira ainda hoje é vulgarmente conhecida por "bandeira das quinas" (o que Pessoa achou providencial) e não recordo, nem mesmo do mais fanático anticlerical (aquele que, na minha infância, me aterrorizava aos gritos de "Viva a República! Abaixo a Padralhada"), qualquer ataque a essa simbologia primacial. Mas, em nome de tal "liberdade religiosa", não faltaria alguma razão aos inflamados de agora, se levassem a lógica às de cabo, em se insurgir contra tal marca no símbolo da Pátria, que, se não erro, ainda vale aos que a desrespeitem uma pena de três meses a um ano de cadeia.

b) A recente revisão da Concordata manteve como feriados nacionais sete datas de conotação obviamente religiosa e obviamente católica. Dois deles (8 de Dezembro e 15 de Agosto) celebram a Imaculada Conceição de Maria e a Assunção da Virgem aos céus, em corpo e alma. São dogmas relativamente recentes (1854 e 1950, respectivamente) e que, mesmo entre ortodoxíssimos católicos, levantaram, à época em que foram proclamados, rijas polémicas. Alguém estremece quando descansa nessas datas, considerando-as absurda intromissão da Igreja na sua vida privada?

E já nem sequer falo do Natal, celebração de acontecimento por demais conhecida, e feriado em quase todo o mundo ocidental. É verdade que o fundamentalismo americano, desde há alguns anos, começou a fazer campanha contra o "Merry Christmas", substituindo-o por "Season's Greetings". Ouvi dizer que, no ano passado, o presidente Bush, na sua mensagem de Natal, omitiu, pela primeira vez, a palavra "Christmas" para ser mais "politicamente correcto". Não me digam que o Bush=Hitler foi mero lapso, fonte de liberdade e que nele se inspiram os que agora clamam. Já tenho visto contradições maiores.

c) O Presidente da República tem residência oficial em Belém. Não seria de mudar o nome ao sítio que recorda presépios e Meninos virginalmente nascidos? Não será demais que a Belém se some S. Bento, como sede da Assembleia da República e residência oficial do primeiro-ministro? Do Calvário, em Lisboa, à rua da Gólgota, da Agustina, no Porto quantos nomes canónicos ou santificados por essas cidades, vilas, aldeias, ruas ou largos de Portugal? Não é tempo de mudar esses nomes todos que tresandam a sacristia?

Ou será que Cristo e a Cruz só são de banir quando se trata de criancinhas? Fica a pergunta, mas é de bom tamanho.



3. Nos casos evocados, como no caso das cruzes nas escolas, a dimensão do símbolo ultrapassa, de longe, a questão religiosa para ser sobretudo uma questão cultural. Entendam-me bem: para um católico (no caso da Cruz para qualquer cristão, seja ele protestante ou ortodoxo) a Cruz é o símbolo supremo da morte redentora de Jesus, a quem chamavam de Cristo, e, como tal ou enquanto tal, nenhuma outra simbologia se sobrepõe a essa. Mas, para os outros portugueses, mesmo os que mais professem o ateísmo, o símbolo é o símbolo de uma cultura que, goste-se ou não, queira-se ou não, desde a fundação da nacionalidade foi e é critério. Mesmo aqueles para quem Jesus foi só um dos milhares de homens que sofreu uma das mais horríveis formas de morte que homens infligiram a outros homens, mesmo até para aqueles que põem em causa a sua existência histórica, a Cruz é um elemento sociologicamente identificador, que assinala a nossa pertença a uma determinada civilização e a uma determinada cultura. A História que culminou nela e que foi narrada pelos quatro evangelistas (eventualmente por muitos outros que a Igreja Católica não aceita como testemunhos fidedignos e a que continua a chamar "textos apócrifos") é a História sem a qual nada compreenderíamos da História de Portugal e da esmagadora maioria da poesia e literatura portuguesas ou da arte portuguesa. Suponha-se uma leitura de Os Lusíadas, do Crime do Padre Amaro ou da Relíquia, da Mensagem ou do pagão Caeiro, sem referência a essa cultura informadora e formadora. Haveria maneira de compreender algo? E dispenso-me de chegar até José Saramago, obcecado por essa cultura, para não dizer por essa religião. Suponha-se uma visita a qualquer dos nossos museus, sem qualquer familiaridade com a religião católica. O "maravilhoso cristão", para quem o não queira interpretar de outro modo, é a chave de acesso, como chaves de acesso são as mitologias greco-romanas, não conhecendo eu ninguém que creia em Zeus ou em Vénus, em Ares ou em Mercúrio. Suponha-se que era de tradição uma reprodução da Vénus de Milo nas escolas. Assistir-se-ia a um clamor nacional, invocando a liberdade religiosa para varrer a Vénus de peitos desnudos da vista das criancinhas? Só se fosse pelos ditos peitos, em nome de moral assaz reaccionária. Por causa da deusa, não seria certamente.



4. No seu infeliz artigo, Joana Amaral Dias recorda que, de acordo com a Constituição de 76 e suas várias revisões, "o ensino público não será confessional". A presença da Cruz nas escolas determina a confessionalidade? Se assim fosse, a presença do retrato do Presidente da República, em inúmeros edifícios públicos, ofenderia também os monárquicos, que têm tanto direito a sê-lo como qualquer outro português de ser politicamente o que lhe apeteça. Como a presença da coroa (por exemplo no Teatro Nacional de São Carlos) ofenderia os republicanos, diariamente agredidos por armas reais e brasões ou outras insígnias semelhantes, patentes na maior parte dos palácios nos chamados monumentos nacionais.

"Mas a República é laica", observou a jovem mandatária, reconhecendo embora (muito favor dela) que "cada um pode ter as convicções que quiser".

Chegamos a uma palavra que tem sido uma das maiores fontes de equívocos e de interpretações dúbias. Laico (do latim laicu) significa apenas que se não é eclesiástico religioso. Há um clero regular (o clero das ordens religiosas) e há um clero laico (o clero que não pertence a nenhuma dessas ordens e que também se costuma chamar clero diocesano). Depois há os leigos (e laico e leigo são termos equivalentes) que são todos aqueles que não foram ordenados padres, ou seja a esmagadora maioria da população. Os leigos (todos quantos não receberam o sacramento da Ordem) tanto podem ser crentes como não-crentes. Quando a Igreja se dirige aos leigos, dirige-se a todos eles, embora só os que a reconheçam enquanto tal estejam obrigados a obedecer-lhe ou sequer a ouvi-la. Eu sou tão laico como Jerónimo de Sousa ou Francisco Louçã, no sentido em que a palavra nada mais diz senão que nem eu nem eles professámos ou recebemos Ordem.

É certo que, por um galicismo de costas muito largas, laicismo é também a doutrina política que proclama a laicidade absoluta do Estado, entendendo-se por ela, comummente, a neutralidade perante todas as crenças religiosas e perante crentes e não-crentes. Mas, mesmo nessa latíssima acepção (gramaticalmente abusiva), o Estado não está obrigado a fazer tábua rasa dos valores de que é por igual herdeiro. Não está obrigado, e muito menos o deve fazer, sob pena de atentar gravemente contra direitos culturais igualmente reconhecidos e que o impedem de apagar porção relevante do nosso passado e da nossa história. É verdade que a Revolução Francesa o tentou fazer, mudando tudo, desde os nomes dos meses e a numeração dos anos, até à figura do rei no baralho de cartas. Sabe-se no que isso deu, como se viu, nos últimos meses, o que deu a absurda proibição do véu islâmico nas escolas oficiais francesas.

Desculpem-me a expressão, mas, "por amor de Deus", parem com esta loucura ou com este fundamentalismo reverso. A não ser que se queiram imortalizar, como se imortalizou o Gouvarinho de Eça quando acusou os defensores da educação física de quererem substituir a Cruz pelo trapézio. Como se costuma dizer, o ridículo mata. E, só para não invocar o Santo Nome em vão, não termino esta crónica dizendo: "Haja Deus", expressão corrente na boca de tantos ateus.»


Bandos de cretinos; leprosos; heréticos e canibais; gafos e ladrões psóricos; mija-nos-finados, epítetos vários com que ficaram conhecidos os cagots medievais, que ainda duraram até aos sans culottes da Revolução Francesa.

Pois foi preciso chegar-se ao século XXI para o pacote socretino nos oferecer a versão fracturante desta cagotaria jacobina.

Como variante posmoderna, apresentam características curiosas- entram em auto-exorcismo e levitam sem ser preciso atirar-lhes com alhos.

Por outro lado, ao contrário dos antigos, nem necessitam de viver na marginalidade- têm o Poder do mundo às avessas por conta e já ameaçam levar crucifixos a tribunal dos Direitos do Homem.

Só é pena os ingenheiros de tráfego alternativo não porem a render os dons naturais destes esquentamentos espirituosos. À falta de melhor uso, sempre podíamos chamar uma cagota em vez de um táxi.

[42] XLII TO THE SEASONS [HORAI]

The Fumigation from Aromatics.

Daughters of Jove [Zeus] and Themis, seasons bright,
Justice [Dike], and blessed Peace [Eirene], and lawful Right [Eunomia],
Vernal and grassy, vivid, holy pow'rs, whose balmy breath exhales in lovely flow'rs
All-colour'd seasons, rich increase your care, circling, for ever flourishing and fair:
Invested with a veil of shining dew, a flow'ry veil delightful to the view:
Attending Proserpine [Persephone], when back from night,
the Fates [Moirai] and Graces [Kharites] lead her up to light;
When in a band-harmonious they advance, and joyful round her, form the solemn dance:
With Ceres [Meter] triumphing, and Jove [Zeus] divine; propitious come, and on our incense shine;
Give earth a blameless store of fruits to bear, and make a novel mystic's life your care.
Orphic Hymns, trad. Thomas Taylor

Orphée
La femelle de l'alcyon,
L'Amour, les volantes Sirènes,
Savent de mortelles chansons
Dangereuses et inhumaines.
N'oyez pas ces oiseaux maudits,
Mais les Anges du paradis.

La tort
Du Thrace magique, ô délire!
Mes doigts sûrs font sonner la lyre.
Les animaux passent aux sons
De ma tortue, de mes chansons



(Guillaume Apollinaire, Le Bestiaire ou Cortège d' Orphée, illustrado por Raoul Dufy)


E a nova Vida, numa onda a resplender,
Aflora à superfície ideal do novo ser.
Um novo Apolo vai tocar a nova Lira...
E na água que se bebe e no ar que se respira,
Nas nuvens onde dorme a clara luz dos céus,
Palpita um novo amor, murmura um novo Deus...

Teixeira de Pascoaes

«Outro é o cantor que vos proponho: ele não tarda, depressa virá, a quebrar a escravatura amarga imposta pela tirania dos demónios e, colocando-nos sob o doce e humano jugo da piedade, lembrando aos Céus aqueles que tinham sido precipitados sobre a Terra.
Só ele, na verdade, amansou os animais mais difíceis, os homens: aves como os frívolos, serpentes como os mentirosos, leões como os violentos, porcos como os voluptuosos, lobos como os rapaces»
Clemente de Alexandria, Protréptico, II, 17, 2; 18, 2. (150-215 dC.)



Mosaico do Arnal, Maceira, Leiria (Imagem A. Balil)- descoberto em 1848 pelo reverendo Patrick Russel e rapidamente roubado e levado para Inglaterra, possivelmente por um cônsul.






Foi descrito no Ilustrated London News de 5 de Setembro de 1857.

























Cristo Bom Pastor, Catacumba Domicília, c séc III.