Seguindo o lema de raiz marxista “those are our principles, if you don’t like them we have others”, este blogue tem a participar à comunidade que também está aberto a financiamento político.

Oferecemos trabalho bem feito, seja qual for a cor da encomenda e garantimos o mais escrupuloso sigilo profissional.

As propostas deverão ser dirigidas por mail à camarada Xangai-Lina, do sector import-export da Mouraria.

A l de Maio [na verdade foi a 20] do ano de 1513 [foi em 1515], depois do nascimento de Cristo, trouxeram ao poderoso rei de Portugal, Manuel, em Lisboa, vindo da Índia, este animal vivo.
Chamam-lhe rinoceronte. Aqui encontra-se desenhada toda a sua figura. Tem a cor de uma tartaruga salpicada e é coberto de espessas pregas. É do tamanho de um elefante, mas com patas mais curtas, e é muitíssimo capaz de se defender. Na parte anterior do focinho tem um corno aguçado e forte, que afia logo que encontra uma pedra. Este animal é inimigo mortal do elefante. O elefante tem-lhe um medo tremendo porque quando se encontram o animal investe e mete a cabeça entre as patas dianteiras do elefante, abre-lhe a barriga e sacode-o, do que se não pode defender. O animal está tão bem armado que o elefante nada pode fazer. Dizem que o rinoceronte é lesto, astuto e audaz
"
Albrecht Durer, Rhinocerus, 1515, com base em desenho de autor desconhecido que impressor alemão lhe enviou de Lisboa.


A alimária foi oferecida a Afonso de Albuquerque pelo Rei Modofar de Cambaia em Fevereiro de 1515. O governador enviou-o para o reino, em Dezembro, juntamente com leões, crocodilos, papagaios e elefantes indianos, um dos quais foi enviado ao Papa Leão X na memorável embaixada de Tristão Vaz da Cunha, de que já demos conta aqui .


A rinocerota também foi na comitiva. Dizem que levava uma coleira de veludo verde, toda cravejada de rosas e cravos dourados.


E assim se foi, bela e jovem, quando o navio naufragou no Golfo de Génova. O corpo deu à costa, em Porto Venere e lá o tentaram "compor" para, de novo, ser enviada a Roma. Quando finalmente teve oportunidade de ver o Papa, a exótica e desventurada bicha já ia embalsamada.

















2-Rinoceronte de uma guarita da Torre de Belém, 3-Rinoceronte gárgula do Mosteiro de Alcobaça, 1520; 4- Mchael Speaker, rinoceronte de acordo com a gravura de Durer (aço e bronze); 5- Jean Sole, Animaleries



aqui fica um broche, com carga suficiente para o fim-de-semana.











Vincent Durbák,prata, plástico (2,5x 8 cm) 2002

Quando lhe dá para a finura do humor, o Timshel supera-se.








São uns simpáticos, estes rapazes, mas assim não ganho para os bonés.










A Zazie também agradece e só não vem cá, porque ainda não se dicidiu pela capeline




No meio de tanto suor desbaratado em debates abortistas, apetece recordar que o Cocanha se norteia pela abundância e multiplicação em todos os reinos da natureza- incluindo pedras e notas de banco.
A reposição deste postal da Janela Indiscreta deve ser suficiente para se entender a tese (e o respectivo aumentativo, terminado em “ão”).

As pedras de fogo também tinham sexo. Chamavam-lhes Terrebolem, Terroboli, Terrobuli ou Piroboli, numa alteração do étimo grego pirobolos= "o que lança fogo" e incluíam-se entre os seres da natureza descritos pelos bestiários medievais.
Dizia-se que se podiam encontrar nas montanhas do Oriente. Quando a pedra fêmea se aproximava da pedra macho dava-se uma tremenda combustão, incendiando a montanha e queimando tudo o que existisse em redor.

A simbologia um tanto misógina, traduzia-se num apelo à castidade, em particular nos conventos, recordando ao homem a previdência de não se deixar que as mulheres se aproximassem demasiado. A provocação podia ser tão inevitável quanto o choque do pecado carnal e as consquências idênticas ao que sucedia com os terrobolus ,haveria de acabar a arder no inferno.

No texto, as pedras são apelidadas de adamas (dos adamitas pecadores) tendo por exemplo bíblico Sansão e José, que também foram tentados por mulheres.


Na base da lenda deveriam estar as pirites de ferro- "o ouro dos loucos", como lhes chamavam, em virtude do logro que a semelhança de cor veio o provocar na “febre dos garimpeiros”- o El Dourado da Cocanha dos tempos modernos.

imgens:
1- Alne, N. Yorks, um casal de terrobolem rodeados por chamas.
2- Whitersfield. Essex, um par de terroblem agitando-se com o ardor.
3-
Bestiário de Abarden (c.1200). Adão e Eva aproximando-se com as pedras do fogo na mão.
4- Bola de pirite- talismã da boa sorte na reprodução monetária. Estas continuam com bastante procura, incluindo pela
net

A propósito da fobia jacobina aos símbolos religiosos, recorde-se as palavras do insuspeito Alexandre Herculano, inconformado com as destruições patrimoniais - “o demónio das devastações dos vândalos do camartelo”- como lhes chamava, a que esse “laicismo” deu grande alento, na época:

“(...) o sangue referve nas veias contra essa ideia fatal, que entrou na máxima parte dos entendimentos, de que tudo quanto é antigo é mau, ou de pouco momento, quando a pior coisa que há é essa ideia dominante da nossa época; a mais ridícula o século que a admitiu; a mais detestável a mão que a traduz em obras, estampando sobre a terra da sua infância a inscrição que o ateu manda pôr sobre a sua campa: — aqui é o «sepulcro do Nada!»”

(Monumentos Pátrios, 1838-39)





Se não houver engano na trajectória, o musaranho parte em busca de lagartos das penhas e eu sigo na demanda das alimárias do Paraíso. Contamos ter relatório pronto a tempos da consoada.




Thomas Hill, peixe dourado com cabeça de leão; crocodilos; plantas e passarada. Há mais aqui



Obrigadinho, pá... melhor blogue individual feminino...tá-se, mesmo a ver...

Eu a aguentar a máquina nos bastidores e a Zazie é que é nomeada pelo o Cocanha...

Queria ver o que era deste blogue sem mim. A madama é muito fina; repimpa-se na chaise longue; escreve umas macacadas, mas aqui o musaranho multi-usos é que tem de fazer de porteiro, canalizador de crapaudines e restante quinquilharia, já para não falar do árduo trabalho de apalpa-bossas de maluquinhos em tempo de guerra.
Este mundo é muito injusto!

[gostaram do meu novo boné John Galliano...hummmm....?]

Ai amor, amore de Pêro Cantone
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam viçoso e tam são,
Quen’o podesse teer atá o Verão!
Mais valia que amor de Chorricão
nem de Martim Gonçálvez dOrzelhone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam delgado e tam frio,
mais nomcreo que dure atá o Estio
ca atal era outr’amor de meu tio,
que se brotou há pouca de sazone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam pontoso, se cuidades,
fazer-vos-á, se o provardes,
amor de Dom Palaio de Gordone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam astroso e tam delgado,
quen’o tevess’um ano doterrado!
Aquel[le] fora en bom ponto nado
que depois houvesse del bõa rençone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam astros’e tam pungente,
quen’o podess’haver em remordente!
Mais valria que amor d’um meu parente
que mora muit’acerca de Leone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

[Fernão Soares de Quinhones, cantiga de escárnio e maldizer]




Uma mulher sentada, com ar virginal, tem preso pela trela um passaroco gigante,enquanto a seu lado se anicham dois animais- talvez leõezinhos.





A cena podia ser interpretada como uma alusão a S.ta Marta a domar a tarasca, mas há alguns detalhes que levantam outras suspeitas.






O bicharoco tem uma face humana com uma penca demasiado suspeita. A mesma com que se costumava representar o mocho-judeu, símbolo das trevas, dos que não acreditaram na luz que o Messias trouxe ao mundo.
















Na tradição lendária, as crias leoninas nasciam mortas e eram ressuscitadas pelo bafo materno, simbolizando a redenção cristã.


Mais ao lado, um uroboros envolve no seu ciclo eterno outra figura velada e a simbologia completa-se: o espírito mariano- da Nova Lei redentora do Mundo- ganha fala nesta insólita iconografia de um capitel medievo, da igreja de Santa Maria do Castelo de Serpa.




[mocho-judeu, manuscrito iluminado- British Library, Harley MS 4751, Folio 47r]

Os desenhos do meu “compadre”
Aqui fica o Calisto a ir ao prato




















L'indiscipline aveugle et de tous les instants fait la force principale des hommes libres

Afred Jarry



The scent grows richer, he knows he must be near,
He finds a long passageway lit by chandelier.
Each step he takes, the perfumes change
>From familiar fragrance to flavours strange.
A magnificent chamber meets his eye.

Inside, a long rose-water pool is shrouded by fine mist.
Stepping in the moist silence, with a warm breeze he's gently kissed.

Thinking he is quite alone,
He enters the room, as if it were his own,
But ripples on the sweet pink water
Reveal some company unthought of-

Rael stands astonished doubting his sight,
Struck by beauty, gripped in fright;
Three vermilion snakes of female face,
The smallest motion, filled with grace.
Muted melodies fill the echoing hall,
But there is no sign of warning in the siren's call:
"Rael welcome, we are the Lamia of the pool.
We have been waiting for our waters to bring you cool."

Putting fear beside him, he trusts in beauty blind,
He slips into the nectar, leaving his shredded clothes behind.
"With their tongues, they test, taste and judge all that is mine.
They move in a series of caresses
That glide up and down my spine.

As they nibble the fruit of my flesh, I feel no pain,
Only a magic that a name would stain.
With the first drop of my blood in their veins
Their faces are convulsed in mortal pains.
The fairest cries, 'We all have loved you Rael'."

Each empty snakelike body floats,
Silent sorrow in empty boats.
A sickly sourness fills the room,
The bitter harvest of a dying bloom.
Looking for motion I know I will not find,
I stroke the curls now turning pale, in which I'd lain entwined
"O Lamia, your flesh that remains I will take as my food"
It is the scent of garlic that lingers on my choclate fingers.

Looking behind me, the water turns icy blue,
The lights are dimmed and once again the stage is set for you.

[gárgula do mosteiro de Alcobaça]




























Jean-Jacques Lequeu, 1792

Je voudrai faire une comédie musicale avec Cyd Charisse et le Kelly et avec chorographie de Bob Fosse
COMÉDIE
FRANÇAISE
COUTARD
MUSICAL
LEGRAND
THÉÂTRAL
EVEIN
SENTIMENTAL
GUILLEMOT
OPÉRA
14 JUILLET
CINÉMA
EVA
Je te méprise
J'en ai assez faut bien qu'j'te l'dise tu m'exaspèr's, tu m'tyrannises
UNE FOIS














- tu es infâme
- Non, je ne suis pas un femme. Je suis une femme



Invulnerável às águas do horror e da abominação




































Philip Galle (1534-1612)







Bill Viola, A room for Saint John of Cross,193, video/instalação

If I were called in
To construct a religion
I should make use of water.

Going to church
Would entail a fording
To dry, different clothes;

My liturgy would employ
Images of sousing,
A furious devout drench,

And I should raise in the east
A glass of water
Where any-angled light
Would congregate endlessly.


Philip Larkin






Bill Viola, The Raft, 2004, Video/Instalação sonora, duração 10’ 30’’








— Donde vindes senhora beata?
—Venho de S. Francisco, de me confessar.
— Que lhe deu o padre de penitência?
—Tudo isto que hei-de rezar.
—Faz-me um favor?
— Nada, nada, que me ralha o meu confessor.
— Ora dance um bocadinho.
— Nada, nada.
— Ora, há-de dançar um bocadinho
— Já que tanto aperta
Lá vai em louvor de S. Pedro e S. Paulo
E S. João Baptista
Que nos valha e nos assista
Nesta conquista.
Venham aqui todos os serafins
Com seus chapins,
Chi-chri.chri-chi.
Ai que me há-de dizer meu confessor?
Pesa-me, Senhor, pesa-me, Senhor.

[jogo popular]
Jacques Callot, capricho, 1617

Que nesta arca de Noé só faltava o blogue do Heavy Metal do Senhor.


Uma trip de ecumenismo, como lhe chamou o “nosso” Timshel, que já até foi obrigado a recorrer às classificações de Lombroso para contrabalançar a desvantagem católica....















É só clicar…