Howell Conant (retrato de Caroline de Mónaco, c. 1969)

Recebi um fwd com uma proposta de happening, ecológico e mundial, programado para amanhã, à hora do jantar.


new-age de Silicon Valley
Entre as 19.55 e as 20.00 horas propõem ao mundo inteiro (incluindo papuas canibais) apagarmos as luzes e ficarmos 5 minutos a olhar para uma vela, enquanto o planeta respira.

Eu sempre acreditei no poder da mente. E até já imagino que vá ser possível auscultar-se, não só a respiração resfolegante do planeta como, quem sabe, sentir-se um estremeçãozinho retributivo de contentamento.


Mas, a passagem verdadeiramente mágica deste apelo aparece na explicação e detalhes finais.
http://deminvest.files.wordpress.com/2007/04/magic-box.jpgÉ que o resultado ecológico dos 5 minutos de apagão pode ser medido cientificamente.

Para tal, contribui a boa-vontade de todos internautas que se proponham gastar amperes e energia a magote, em explicações adicionais de alteração de horários locais, já que a mensagem não corre ecologicamente por pombo-correio.

O pensamento mágico tem muita força — nada como uma rapidinha sincronizada para o pagode se extasiar com o poder apotropaico da tecnologia.

Enquanto não saem as ursas, fica aqui a recordação dos tempos em que a justiça podia depender do talento do urso a "espremer" os argumentos da defesa.
Hoje em dia parece que essas feras na jaula foram substituídas pelos “felinos de letras” no escritório, com porta traseira para o Poder e quem fica a fazer figura de urso é o contribuinte.

Seja como for, andam por aí muitos utópicos que não gostam da blogosfera anti-corrupção, mas ainda acreditam na justiça à Roy Bean, sem perceberem que, para retomarmos o exemplo do Texas, também valia a pena colocar a cabeça a prémio dos políticos.

Para resumir e os leitores não ficarem baralhados, era só para aconselhar informação credível nesta matéria, lendo o José da GL.
À Roy Bean, só mesmo para quem goste de mitos de justiça popular fora de prazo, mas sem o bom do urso que era o elemento principal na resolução da questão.
Para fábulas mais intemporais, estão as ursas à espera nos bastidores.

Até já
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Nota: O post foi alterado porque havia uma certa confusão no que diz respeito ao excelente papel dos ursos de Pecos. O caríssimo Laoconte detectou-o bem na caixinha de comentários

Como os revolucionários encapuchados seguem as estatísticas do Vitorino,









a grande incógnita que os atormenta é o tipo de carro em que a Classe Operária vai ao Paraíso




Reiser
Reiser
















































Escandalinhos da Porcalhota

Quero declarar aqui, solenemente, o seguinte:
Que haja por aí blogadores a oficiarem a soldo ou pela trela do actual governo da nacinha é fenómeno decerto plausível, mas que, desculpem lá, não me escandaliza
minimamente. Nem me preocupa, tão pouco. Moço de fretes ou biscateiro, mais que uma tradição, sempre foi uma vocação endémica neste país. Agora chamam-lhes tarefeiros, mas vai dar ao mesmo. De resto, fosse eu de escândalo fácil e mais depressa encontraria motivos para isso na vasta e estrídula horda de blogadores que, visível e sistematicamente, debita por aí a soldo de governos estrangeiros.
Se bem que, por outro lado e vendo bem a coisa, entre uns e outros acaba por nem sobressair diferença de monta. Na medida em que o governo português trabalha a soldo e pela trela de interesses estrangeiros, quer os que blogam para o aparente governo português, quer os que digitam directamente para as potências alienígenas, todos puxam para a mesma banda e cumprem os preceitos de cocheiro comum, peados que troteiam e arreatados que vão na quadriga de serviço à mesma carroça.
Direi até mais: Que o dinheiro dos nossos impostos e contribuições sirva para gratificar estas alimárias de estrebaria também não me apoquenta. Nem um bocadinho. Até porque creio que, em grande parte dos casos, nem seja isso que aconteça. A maior parte dessas bestas resfolega e esfalfa-se toda na esperança de sórdidos favorzecos. Nem é paga em dinheiro, mas em trem de cozinha. Derretem-se por "contactos". Untam-se todos com vaselina, viram puta gratuita de alto a baixo na pura mira de facilidades ou promoções agilizadas.
Outros ainda, mais que as mães, montam bicha e colocam-se em bicos de patas à procura de oportunidade, de vez, de lugarzinho na baia. Aquilo fervilha em cascata: há os lacaios pagos (uma elite pomposa) e, depois, por ali abaixo, os sabujos dos lacaios, os lacaios dos sabujos e, finalmente, na subcave do monturo, os manteigueiros noviços, capachos entusiastas da inteira confraria. Acreditem, com meia dúzia de patacos e dois ou três berlindes coloridos faz-se girar todo um escarrocel destes! Portanto, não há-se ser por aí que perigará todo o vosso belo erário público e púbico. É pois escandalinho da treta, uma queixumice dessas.
Não; escandaloso, escandaloso mesmo, se é escândalo sério que procurais, é o tilim sonante da vossa atávica carneirice servir para pagar principescamente à chusma que nos desgoverna. E mais escandaloso ainda -escândalo de bradar aos céus que até a mim me faz corar! - é o desplante cumulado da impertinência que persiste em chamar governo a uma comissão liquidatária destas!...
Sim, sou sincero: o que escandaliza é haver ainda quem diga que eles blogam para o governo. Governo... Qual governo?!!



{Publicidade a pedido}


A "aguasfurtadas", revista de literatura, música e artes visuais promove, a partir do dia 1 de Março (com inauguração nesse dia, pelas 16h00), uma venda de obras de arte, na Galeria do JUP (Rua Miguel Bombarda, 187, R/C, no Porto).

Fotografias, pinturas, ilustrações, pautas originais e múltiplos manuscritos dos mais diversos autores, portugueses e estrangeiros, estarão à venda por apenas €20 por peça.

O resultado desta venda será exclusivamente aplicado na edição da "aguasfurtadas" 11, cuja produção encontra-se suspensa por falta de verba.

A direcção da revista "aguasfurtadas" agradece a sua colaboração na divulgação desta venda.

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Blogue da revista
"aguasfurtadas"







[a sociobiologia também é muito estimulante para os genes humorísticos]








O Joaquim
anda numa roda viva de postes a batalhar pela substituição dos testes de QI, pelos psicotécnicos da amostra de genes recolhida em jejum.








Mas também há católicos tão conservadores, tão conservadores, que conseguem arrumar um protestante sem precisarem de falar inglês técnico.

Ora veja-se como o CC, um moço casadoiro e muito teórico, deixou KO o Tiago, e ainda lhe acrescentou mais citações na língua de Cícero, caso ele estivesse com dificuldade em entender o primeiro parágrafo da doutrina que inspirou Lutero e o sentido da Vida dos Monty Python

coisas simples e pequenas


(...)«Mas a vida tem mais cores. Muitos casais católicos (a maioria, admite-se) não cumprem os conselhos normativos (quase técnicos) da Igreja quanto aos métodos de contracepção mas não o fazem porque, de acordo com a sua consciência, iluminada pelo Espírito Santo, e muitas vezes depois de aconselhamento espiritual, decidem não o fazer. Contrariam as disposições técnicas do Catecismo (versão compêndio)? Talvez. Mas, ainda assim, não nos precipitemos: leia-se com cuidado o que diz o mesmo:
«2368 Peculiaris huius responsabilitatis ratio ad procreationem regulandam refertur. Coniuges, iustis de causis, possunt suorum filiorum procreationes intervallis separare velle. Ad eos pertinet comprobare eorum optatum ex caeco sui amore (ex «egoismo») non promanare, sed illud iustae generositati paternitatis responsabilis esse conformem. Praeterea suum agendi modum secundum criteria moralitatis regulabunt obiectiva: “Moralis [...] indoles rationis agendi, ubi de componendo amore coniugali cum responsabili vitae transmissione agitur, non a sola sincera intentione et aestimatione motivorum pendet, sed obiectivis criteriis, ex personae eiusdemque actuum natura desumptis, determinari debet, quae integrum sensum mutuae donationis ac humanae procreationis in contextu veri amoris observant; quod fieri nequit nisi virtus castitatis coniugalis sincero animo colatur”.»

Vês, Tiago?»

Timshel num momento de sobriedade:
(...)"De facto, em 90% dos casos os casamentos católicos pela igreja nada significavam em termos de fé da parte dos protagonistas. Eram simplesmente folclore e estatuto. Este tipo de práticas religiosas sem qualquer conteúdo é, normalmente, o melhor aliado do ateísmo".
Charivari: S. José a dar a papa ao menino Jesus- Niccolò Frangipani (c.1555)
Aqui está um exemplo que cada vez mais me convence do contrário. Um bom catolicismo badalhoco, com ordálias, ritos em latim, festas e procissões à mistura também faz muita falta.

Até porque penso que existe melhor alternativa para certos católicos de estufa- converterem-se a qualquer seita evangélica. Afinal de contas, bastaria recuarem no tempo para entenderem que teria sido esse o remédio mais certo para matar a Igreja à nascença, caso ela não tivesse integrado o bom do folclore badalhoco, muito antes dos puristas fabricarem os ateus.

Mas, a verdade é que os tempos que correm também não ajudam. Com tanta tentação à solta, é mais fácil um radical proselitar pelo purismo dos outros que ir para monge.

No dazibao etilizado

reconhecimento


«Há uns tempos escrevi: "espero pelas próximas estatísticas sobre as desigualdades económico-sociais em Portugal para ver se elas se aprofundaram (o que demonstraria o carácter direitista das políticas do governo) ou se elas se reduziram (o que revelaria que este governo PS é, de facto, contra todas as aparências, um governo de esquerda)".
Sendo verdade que o estilo e certos traços de personalidade do actual primeiro-ministro são-me particularmente desagradáveis, tenho que reconhecer que, aparentemente, a sociedade portuguesa está a ficar mais igualitária.
E, sendo esse, para mim, o elemento fundamental que permite distinguir entre diferentes opções políticas claramente assumidas (grosso modo, esquerda/direita) só me resta aplaudir tal resultado e esperar que as políticas igualitárias se reforcem ainda mais
»

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Esclarecimento: 19.22h
O seu a seu dono- a "etiqueta/palavras chave" do post não é assim tão hermética quanto alguns leitores julgaram. O copyright da chalaça pertence ao
José




«[Journalist:] »You are an Atheist yourself, and at the same time known for having a hard line on religions. Is your cartoon a showdown with religion in general?

[Arthist:]I have nothing whatsoever against religions, but I think one should be skeptical towards the fundamentalist versions. A waxing religiousness means more intolerance and restrictions. It becomes troublesome when the whole existence is defined in a religious way. Both for those who become seized by it, and even more for all the others who don't. We are living in a time, where the religious obscurantism is spreading, apparently religion matters more and more. This then means that I, as an old Atheist, has become stronger in my faith.»


Kurt Westergaard, Jyllands-Posten, 27- 2- 2006

Nos próximos dias não me meto com frankenstoinos. Então não é que esta noite sonhei que tinha ido ao dentista, mas afinal ele era um frankenstoino, perito em sócio-frenologia e empenhado em convencer-me que do do que eu estava a precisar era de uma operação ao cérebro.

Paula Rego, macaco a hipnotizar galinha, 1982Pior; eu fui na cantiga. O melro mandou-me sentar na cadeira de cirurgia, sacou dos instrumentos operatórios e pediu-me colaboração a segurar na mioleira, quando abrisse a tampa, porque a enfermeira tinha faltado.
A páginas tantas, atrapalho-me e deixo cair toda aquela fonte de res cogitans no chão.
O frankenstoino emitiu um tssss..tsssss...remoendo baixinho: pronto, lá vou ter de gastar mais um...
Foi ao balcão, sacou um cérebro de dentro de um frasco, ajeitou-o no meu precioso receptáculo, fechou a tampa e deu por finda a operação.
Nessa altura, ainda antes do pagamento, perguntei-lhe de quem era o cérebro que eu levava para casa. E ele, com a maior descontracção, respondeu - é um cérebro de galinha.
Perante a minha estupefacção e bombardear de perguntas acerca das consequências da troca, responde-me enfadado_ ó minha senhora, sei lá quais vão ser os efeitos da troca, para além de até estar à medida; nem eu nem a Ciência lhe podem explicar nada; mas diga-me lá, com essas perguntas acaso está a notar a diferença?

Celebrou-se ontem o dia da liberdade de insulto jornaleiro- um marco na história do progresso civilizacional e da pedagogia educativa do multiculturalismo pós-pós-moderno e pré-armagedónico.

A iniciativa das comemorações tem por finalidade relembrar à barbárie que os símbolos laicos das bandeirinhas pátrias e embaixadas estão ao abrigo da Lei. É que os jornalistas dinamarqueses não andaram a enxovalhar pedagogicamente aquele fanatismo religioso-bombista-terceiro-mundista que recebem em casa, para depois ainda serem ingratos.

Pela nossa parte pedimos desculpa às alminhas mais sensíveis pelo atraso na comemoração do 13 de Fevereiro, mas prometemos que para o ano até antecedemos a festa.

Unhas compridas são tão danosas que até entre as bruxas se proíbem

Goya, Caprichos, 1799



































"Um advogado com uma mala é capaz de roubar mais que cem homens armados"

(Mario Puzo adpatado)

O Paulo Morais explicou como.

As cortes tiveram os bobos que serviam de cáustico espelho onde o poder era despido e relativizado num mundo às avessas.






Hoje em dia os blogues têm os grandes patapoufs da retórica - imaginárias figuras pardas a tecerem loas à corte, quando montam tenda para a educação do povo.
A vaidade a todos cega- os bufarinheiros não se dão conta que é a pista de circo que lhe garante o engano da veste que julgam usar, sem saberem que as orelhas de burro já lhes nasceram agarradas à pele.
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Nota: a propósito, ler o perspicaz texto do josé na
GL: O poder das nódoas

«existem palavras ou silêncios que nos fazem pensar na estranha invisível, ou seja, no futuro que se esqueceu junto a nós »

Walter Benjamin (Infância Berlinense)






O sonho de Marta (Ingmar Bergman, Kvinnors väntan)





O caríssimo Paulo, com aquela humildade própria dos verdadeiros eruditos, e outra tanto de boa dose de ingenuidade, teve fatal ideia de delegar um prémio e uma série de elogios aqui no Cocanha.

piloto-automático e aeromoça
Ora isto é uma temeridade tão descabelada que bastava a qualquer navegador seguir a nuvenzinha das tags do Technorati, para se dar conta da terra de loucos onde ia aportar.




Aqui fica o exemplo
(e por actualizar)























Um pouco de Dolly Sisters para arrebitar o mambo-jambo do Arroja



(em estrangeiro, claro)










{clicar nas manas que elas dançam}

«Les grands animaux se mouvaient sans bruit, comme s'ils glissaient.
Le clair de lune douteux ne permettait pas de voir leurs pieds de nez
»


Anda a pular ali ao lado, na barra lateral, um rinogrado da família dos nasins.
A descoberta do bicharoco deve-se a um genial Jarry da Ciência que, para além de iconoclasta e surrealista, também era poeta.




Aqui ficam uns links para quem não conheça a história, tão pertinente nestes tempos de divinização de cientismo do clube dos ventríloquos diplomados.




Dr Harald Stümpke, Anatomie et biologie des rhinogrades. Un nouvel ordre de mammifères














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Este post é dedicado a todos os frankenstoinos- azuis, amarelos, às bolinhas cor-de-rosa, reais, virtuais, e a uma única dimensão- achatada


Ora agora que entrámos na Quaresma, vamos a um pequenino interrogatório penitencial da autoria de Burcardo de Worms
Brueghel:Combate entre o carnaval e a quaresma(1559)det.Pergunta aos caros leitores:
*Tendes acreditado que há mulheres selvagens chamadas “silvestres”, as quais, sempre que o desejam, aparecem aos seus amantes e gozam com eles e depois, ainda que sejam de carne e osso, ocultam-se e desaparecem no ar?

E para as caríssimas leitoras:

Tendes dado fé, como muitas mulheres que se entregam a Satanás e depois acreditam e juram que é verdade, que no silêncio da noite, enquanto estais na cama, nos braços do marido, podeis sair de casa atravessando com o seu corpo as portas fechadas e percorrer grandes regiões da terra, junto com outras mulheres enganadas pelo mesmo erro e, sem armas visíveis, sois capazes de matar homens baptizados e redimidos pelo sangue de Cristo e, cozendo as suas carnes, os comeis; e logo havendo posto no lugar do coração ervas secas ou um troço de madeira ou algo semelhante, os fazeis voltar à vida e lhes dais o próprio coração a comer?

Claro que são perguntas retóricas, escusam de enviar mails de confissão. Em troca, deixo aqui para todos um calendariozinho muito útil. Pelo menos serviu de disfarce colectivo, nestes velhos tempos primordiais, quando a UE se estava verdadeiramente a formar e ainda não havia ASAE para a fiscalização.
















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*Burcardo de Worms, Decretorum libri XX: PL 140, 960-976
ver: Oronzo Giordano (op.cit)


Os inocentes de serviço, os inocentes úteis, não querem ouvir falar de corrupção. Desqualificam os que denunciam a corrupção. Não é de bom tom falar na corrupção. Falar em geral da corrupção é colocar a moral no campo da política,dizem. Quando alguém fala em geral da corrupção, os inocentes de serviço pedem sangue privado. Quando alguém fala em particular os inocentes arrepiam-se: desceu ao estatuto do denunciante, dizem. É um justicialista, um louco paranóide, dizem com o lábio esticado.
Os inocentes úteis de serviço aos corruptos descredibilizam os que falam de corrupção: quem fala de corrupção quer atingir algum objectivo, deve ele próprio ser investigado, está ao serviço dos inimigos políticos do denunciado, etc.
Os inocentes úteis banalizam a corrupção: são todos corruptos, a corrupção é própria das sociedades humanas, corromper e ser corrompido humanum est.
Os inocentes úteis acham que se deve legislar contra a corrupção. Legislar é uma coisa limpa. Aplicar a legislação uma coisa suja, própria da gente de baixo, da que ganha à peça.
Os inocentes úteis acham que a culpa da corrupção não é dos corruptos. É do Estado. Menos Estado menos corrupção.
Os inocentes úteis apontam para os que falam da corrupção.
Enquanto os inocentes úteis desqualificam os que falam da corrupção, os corruptos perseguem-nos, eliminam-nos. Enquanto os inocentes úteis prospera a corrupção.


Luis, no Natureza do Mal

Os filtros de amor eram conhecidos desde os tempos mais antigos e vão continuar durante a Idade Média. Por muito que fossem condenados lá se iam fazendo e nem o Santo Agostinho escapou à acusação de também ter colaborado num pãozinho das eulogias com recheio afrodisíaco, com consentimento do marido da comungante*.
espírito do trigo:apoia-mãos de cadeiral da catedral de Saint-Pierre, Saint Claude, séc. XVO culto às ervas e espigas mantinha-se por força da tradição pagã, pelo que todo o sortilégio que entrasse na sua confecção era “farinha do mesmo saco”.
Não é por isso de estranhar, que uma das formas usadas pelas mulheres para atraírem o amor do marido negligente, consistisse em colocarem-se de gatas, no chão, descobrindo as nádegas e pedindo a uma amiga para amassar o pão em cima do traseiro.
O que se torna verdadeiramente um desperdício é que o dito marido não assistia à cena. Limitava-se a comer o papo-seco à hora da refeição, oferecido pela casta esposa, já recomposta e vestida dos pés à cabeça.
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*Agustinho, Contra Literas Petiliani, III, 16, 19: C.S.E.L (CSEL=Corpus scriptorum ecclesiasticorum latinorurn,vol.52 (ed.M. Petschenig, 1909)

Consultar: Oronzo Giordano, Religiosidad Popular en la Alta Edad Media, Gredos, Madrid, 1983.

Alexandre: Há alguma coisa que eu possa fazer port ti?

Diógenes: Sim, podes afastar-te para o lado, para não me tapares o sol.

Os romanos festejavam as luzes com o aspergilium das velas que anunciavam a Primavera. O mundo católico recorda a dádiva em nome da purificação da Senhora das Candeias (Se a Senhora das Candeias rir, está o inverno para vir. Se a Senhora das Candeias chora, está o inverno fora), bem presente em muitas festas e procissões do nosso país, a que o jacobinismo travestido de suposto laicismo ainda não conseguiu deitar mão.
cadeiral da catedral de Colónia, séc. XIV, urso/diabo/mascarada de carnaval?
Mas é também o dia em que o urso acorda da longa hibernação ditando as mesmas sortes para a natureza.
No entanto, o urso não se limitava a acordar e a dizer o boletim meteorológico. Estava-lhe também confinado o sacrifício exorcizador das forças das trevas. Daí a passagem para as lendas do encontro do diabo verde (selvagem e silvestre) com o cavaleiro e a pele do urso que o vai tornar cativo. O estatuto era tão ambíguo quanto a sorte das irmãs da princesa que dele se apaixona e que Grimm recompilou no conto, ou que, numa versão mais recente, fez do Tom Waits o urso dançarino em versão cinéfila de lenda urbana e a cantar o Singapore.

O viajante que se embrenha na floresta, acaba por se tornar selvagem, cabendo-lhe o destino de guardar a veste do Príncipe do Mundo/Diabo Verde/Pele de Urso. Com o destino cativo das mãos das tesouras, recebe a beleza, riqueza e amor e morte principescos, em troca do pacto com o demo.
Nunca se sabe o que um urso pode anunciar quando acorda- tanto pode vir a alegria da Primavera como o enfado melancólico- e voltar a hibernar para prolongar o Inverno do nosso descontentamento.

Para os espíritos mais sensíves, que não suportam estas “superstições obscurantistas”, resta sempre o calendário alternativo e laico da caixinha dos milagres - Hoje há o “Preço Certo” e passa mais um episódio da novela “Deixa-me Amar”.

Está visto que aqueles galos anteriores eram demasiado suspeitos para se referirem apenas aos espanta-espíritos.
mosaico romano. Museu de Nápoles
luta de galos.Pompeia.Museu de Nápoles










Eram galos de carnaval. Daqueles em que se disputava a coroa do rei do ano. Mal o galo novo vencia o velho, tínhamos galo morto, galo posto- ou, noutra versão mais ortodoxa mas não menos gálica- morreu o rei, viva o rei!.

O sacrifício do galo já era conhecido entre os romanos- pertencendo ao vencedor os louros, a palma e o caduceu que consagrava a Mercúrio.
Liége, palácio episcopal
rebus de Picardie,manuscrito séc. XVI,BNF

Na Idade Média estes ritos inscrevem-se nos festejos da Terça-Feira Gorda, em tempo de dias de jovens e santos inocentes. Neste caso a inocência era relativa, pois tanto se podia referir ao rei patrono e General da Infância, como ao rei dos loucos e, com este, o galo era outro...
E é claro que o ritual não servia para afastar os espíritos imundos mas antes soltar outros diabinhos mais temerários.
Quentin Massys, Alegoria da Loucura,c.1510















O galo, o parvo e mais as bolinhas do bastão, na companhia das raparigas loucas e o sopro do fole- o vento do grande peido do mundo às avessas ou, mais tarde, a jactância do Panurgo que também afirmava que seria muito útil para toda a república, honrado para a linhagem e agradável para as ditas donzelas parisiences, se as cobrisse e a todas emprenhasse.

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Claude Gaignebet, Jominique Lajoux, Art Profane au Moyen Âge, PUF, Paris,1985

menina Cláudia?


Não me venha cá com o pré-histórico elefantíaco que esse, se não acabar numa barraquinha de feira, tem os frankenstoinos laboratoriais à espera.












E fiquem atentos ao boletim metereológico de amanhã, que tudo depende para que lado acordar virado.












O José desmonta-lhe muito bem a tenda


A milícia dos espíritos imundos e a concupiscentia carnis sempre atacaram nas trevas. Só o cantar do galo tinha o dom de os afugentar, razão pela qual na Alta Idade Média se temiam as deslocações antes que as virtudes mágicas do galináceo os protegessem.
Autun, capitel catedral Saint-Lazare, sec.xii o rei do galo lança a coroa a jogo no carnaval. O galo branco da primavera vence o galo vermelho invernal. O vencedor levanta os braços como orante, o rei perdedor deita as mãos à cabeça





















Os penitenciais bem proibiam estas crendices pagãs, mas não deixavam os próprios monges de incluir nas laudes ad galli cantum, o hino matutino que também rogava a Deus Aufer tenebras mentium fuga catervas daemonium.

Surgamus ergo strenue
Gallus iacentes excitat,

et somnolentos increpat,
Gallus negantes arguit

Gallo canente, spes redit,
aegris salus refunditur

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Hino de Santo Ambrósio, Patrologia Latina, 16-1409 (Oronzo Giordano, Religiosidad Popular en la Alta Edad Media, Gredos, Madrid, 1983 (1979)