Está visto que aqueles galos anteriores eram demasiado suspeitos para se referirem apenas aos espanta-espíritos.
Eram galos de carnaval. Daqueles em que se disputava a coroa do rei do ano. Mal o galo novo vencia o velho, tínhamos galo morto, galo posto- ou, noutra versão mais ortodoxa mas não menos gálica- morreu o rei, viva o rei!.
O sacrifício do galo já era conhecido entre os romanos- pertencendo ao vencedor os louros, a palma e o caduceu que consagrava a Mercúrio.
Na Idade Média estes ritos inscrevem-se nos festejos da Terça-Feira Gorda, em tempo de dias de jovens e santos inocentes. Neste caso a inocência era relativa, pois tanto se podia referir ao rei patrono e General da Infância, como ao rei dos loucos e, com este, o galo era outro...
E é claro que o ritual não servia para afastar os espíritos imundos mas antes soltar outros diabinhos mais temerários.
O galo, o parvo e mais as bolinhas do bastão, na companhia das raparigas loucas e o sopro do fole- o vento do grande peido do mundo às avessas ou, mais tarde, a jactância do Panurgo que também afirmava que seria muito útil para toda a república, honrado para a linhagem e agradável para as ditas donzelas parisiences, se as cobrisse e a todas emprenhasse.
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Claude Gaignebet, Jominique Lajoux, Art Profane au Moyen Âge, PUF, Paris,1985