Dawn

to wake, and hear a cock
Out of the distance crying,
to pull the curtins back
And see the clouds flying-
How strange it is
For the heart to be loveless, and as cold as these.


Philip Larkin







maradona ao Mundial da Alemanha

[espero que o João Miranda concorde]

assinado: musaranho coxo- porteiro de blogue com longo currículo no estaminé da sub-comandanta Paulina Bonaparte
[se a equipa precisar de ajuda também disponibilizo a perninha que me resta]

"I'd like to tell you all about a sad dream. It's the dream of the brokenharted."
David Lynch

Now it's dark...Into the night
I cry out
I cry out your name
Into the night
I search out
I search out your love.
Night so dark
Where are you?
Come back in my heart
So dark
So dark.
Moving near the edge at night
Dust is dancing in the space
A dog and bird are far away
The sun comes up and down each day
Light and shadow change the walls
Halley's comet's come and gone
The things I touch are made of stone
Falling through this night alone
Love
Don't go away
Come back this way
Comeback and stay
Forever and ever


ainda não é desta que temos reizinho...












por exigência de outras tarefas o Cocanha vai entrar em postagem mais espaçada ...







bonecos de Lucy Casson animados pelo musaranho

Honoré Daumier, Les Plaisirs du Carnaval, da série Voyages en Chine,1844


legenda: Pendant trois jours de l'année qu'ils nomment gras, nous ne savons trop pourquoi, les chinois éprouvent un grand charme à se couvrir des plus sales oripeaux qu'ils peuvent trouver, puis dans ce costume ils parcourent les rues de Pékin en criant ohé, ohé, mot chinois très spirituel mais dont nous ignorons complètement le sens.
Quand para hasard ils cessent de crient ohé, c'est pour tenir une foule de propos qui feraient rougir des sauvages des iles Marquises, mais que les dames et demoiselles de Pékin écoutent sans le moindre scrupule, vu leur civilisation beaucoup plus avancée.


[para outros menos correctos ver aqui ]

O Homem Selvagem está associado a uma série de ritos e tradições populares que incluem as festas das Robigalia- (do selvagem Robigus, já referido por Plínio) da purificação dos homens menstruados ou dos ritos primaveris do S. João Verde, representado a festa popular de Maio, a festa da Primavera- ligação aos green man ou homens silvestres.
A iconografia e os relatos festivos alternam a representação do selvagem, de fartos pelos arruivados, com o homem silvestre coberto de folhas numa simbólica entre os rituais de purificação dos campos e doenças das plantas- a ferrugem ou as diferentes “lepras” que necessitam de ser exorcizadas pelo final do Inverno com o homem silvestre dos triunfos do solstício de Verão.
De João a João- o Crisóstomo e o S. João Baptista como os eremitas e outros santos, comemorados entre finais de Janeiro e inícios de Fevereiro como S. Finiano, discípulo de S. Brandão e patrono dos leprosos.





Entre nós existe documentação que refere a cavalgada em dia de S. João em Óbidos, uma festa da natureza, do solstício- o Triunfo do Verão sobre o Inverno.
No Auto da Festa de Gil Vicente, duas ciganas cantam: “San Juã verde passo por aqui;/ quan garridice lo vi venir” e no Triunfo do Inverno são dois rapazes que o referem:” Quem diz que não he este/ San João o Verde”, numa alusão ao Green Man, o folhudo ou “bailador da mourisca”

O pêlo destes homens selvagens equipara-se à pele dos homens-urso, como nos contos de Grimm- o urso perde a pele na festa de 2 de Fevereiro; o selvagem perde o pêlo ruivo na mesma altura em que se purificam-se os campos e as peles doentes e se humaniza o selvagem.
O Selvagem torna-se também personagem de romance de cavalaria como no caso das várias versões da História do nobre Valentim e de Ourson que se cruzam com outras lendas, incluindo a de Merlin e a Vida de Jehan Paulu.
O tema centra-se no destino inverso de dois heróis que são irmãos gémeos. O cavaleiro de corte e o irmão abandonado no bosque que se torna um gigante selvagem. Há sempre um rei, uma eleita, a sua troca na noite de núpcias ou uma intriga que leva à sua expulsão da corte. Depois dá-se o nascimento dos gémeos na floresta, sendo um deles recolhido e levado para o palácio e o outro amamentado por uma ursa.Mais tarde acaba por se dar o encontro entre os gémeos- o combate e a submissão do selvagem e a sua recuperação na civilidade do palácio onde é alvo de assédio pelas nobres senhoras da corte.
A força bruta, a potência sexual e a lubricidade deste ser ávido de instintos servem à medida para dar voz a todas as fantasias silenciadas. A saga do selvagem tipifica em paralelo sensitivo a demanda espiritual do amor cortês. O selvagem rapta a donzela na floresta e faz despertar as forças lúbricas desse território que não está submetido às regras da civilidade. O cavaleiro persegue-o e, tal como na caçada ao licorne, o selvagem também acaba cativo por influência da ambígua castidade da dama por quem se deixou seduzir.

A loucura mansa do selvagem torna-se também motivo para graças e festarolas em que este representa papel idêntico ao louco da corte. No final acaba por conhecer a razão, salvando a alma pela descoberta da fé. Em diversas versões acaba por se tornar um honrado senhor feudal, como na lenda do Orson, filho de Pepino o Breve, ou na variante do Ferragus-Ferrabrás que também teria governado algures no nosso reino.

Os selvagens fazem também parte das mascaradas das festas populares medievais, prolongando-se em reminiscências das mascaradas silvestres que ainda hoje persistem em diversos locais.
Incluíam-se a par dos loucos e dos gigantes nas festas do mundo às avessas dos Inocentes entronizados ou nos posteriores carnavais, passando pelos festejos régios e procissões, como sucedia na do Corpo de Deus.
Nos cortejos régios abriam passagem ao rei lançando erva pelo chão. Este papel tem paralelo com o gosto iconográfico de os fazer representar como tenentes segurando os escudos familiares sendo-lhes também atribuída uma relação com as forças inferiores, brutais e indomáveis colocadas ao serviço do poder[1].
Animavam também as representações do teatro profano, os chamados entremezes, adquirindo dignidade de corte ao participarem como momos em jogos, danças e mascaradas promovidas pelos monarcas.
Zurara refere os momos na Crónica da Tomada de Ceuta, c1414- festa em Viseu:
[...] mas fez ainda o ifante Dom Hamrique por acrescentar seus desenfadamentos, ca ordenou logo como se fezessem umas nobres festas em Viseu [...] mandou o Ifante a Lixboa e ao Porto per panos de sirgo de lã e broladores e alfaiates pêra fazerem suas livres e momos segundo sua festa realmente pertencia [...]”.

Em 1451, por ocasião do casamento da irmã de Afonso V- D. Leonor, com o Imperador alemão Frederico III representaram-se vários momos- o rei chegou com os membros da corte, todos vestidos como homens selvagens, montados em cavalos enfeitados [2]
O padre Nicolau Landckman de Valckenstein que descreve os preparativos para o casamento: “No dia de S. Colomano, que é no dia 13 de Outubro (...) acabada a ceia, durante toda a noite, fizeram-se danças e jogos variados e esplêndidos (...)Seguidamente vieram africanos e mouros, com um engenho à maneira de dragão, com danças e aparatos segundo seu costume, prestando homenagem à senhora imperatriz”[3].

Em Paris, no ano de 1431 havia homens selvagens no pontão de Saint-Denis na festa citadina reconstruí-se mesmo uma floresta em torna da fonte (como símbolo de um Paraíso invertido em que homens e mulheres selvagens se divertiam numa série de jogos. O mesmo sucedeu em Ruão igualmente em torno da fonte à semelhança de um génesis herético como Bosch representou no Jardim das Delícias

Gil Vicente também fala de entremezes no Auto Pastoril Português e na Floresta dos Enganos. Há quem entenda que as próprias peças dele também têm carácter de entremez, como é o caso de Quem Tem Farelos, Auto da Índia, Juiz da Beira, Farsa das Ciganas, Farsa dos Almocreves e Farsa dos Físicos. A própria peça Triunfo de Maio, relacionada com estes ritos de mudança de estação- a serração da velha- foi escrita aquando do parto de D. Catarina para celebrar o nascimento da princesa Isabel, a 28 de Abril de 1529 numa alusão à cíclica das festividades de Maio.

A elevação do selvagem da festa popular à festa de corte torna-se de tal modo exótica que os próprios nobres e monarcas passam a usar esta mascára em alegres folias e bailaricos.
A nobilitação do tema é também acompanhada pelo seu uso na decoração das baixelas e ricas salvas de pratas que serviam aos banquetes.
Na sua iconografia cruzam-se referências ao mundo às avessas dos carnavais e ditados populares, com os combates entre cavaleiros e selvagens decalcados dos já referidos romances de cavalaria.
Nas salvas manuelinas do Palácio da Ajuda [4] cuja autoria parece dever-se ao próprio Gil Vicente, podemos testemunhar este complexo mundo de combates festivos e danças com homens mascarados de selvagens. O sentido dominante apresenta características das sátiras do mundo às avessas, com missas invertidas e bispos-selvagens a oficiarem com a ajuda de sátiros, assim como toda uma série de alusões à explosão do mundo carnavalesco.



Mais do que combater ou criticar esse mundo dos instintos, o que se dá conta é da sua festiva galhardia em ruidosas danças de chocalhos nos tornozelos, batidas de pratos e cegarregas, simulando combates com guerreiros bestializados. Pelo meio proliferam as gavinhas decorativas e os cachos de uvas dionisíacos, por onde circulam algumas aves e cães. Estes canídeos também são comuns em iconografias do género, prendendo-se com a alusão ao cão que acompanhava o herói na caça ao selvagem.
No entanto, numa das salvas e noutra idêntica de colecção privada, um dos cães enfia a cabeça no que parece uma espécie de panela ou escumadeira furada.
Pode tratar-se de uma mera variação decorativa sem indicar mais nada, mas a verdade é que recorda iconografia identicamente simplificada do dito popular do "caldo entornado", muito comum nas misericórdias dos cadeirais medievais.
Tratava-se de uma sátira à inversão dos sexos, com a mulher a bater no marido por chegar tarde para jantar e o cão a aproveitar a contenda para se enfiar na panela e devorar o manjar.
O facto de nas salvas aparecer um objecto que se assemelha a uma escumadeira ou panela furada também tem paralelo com a inversão das núpcias, quando o cavaleiro de triste sorte acaba por casar com uma horrível e desmazelada megera.Brueghel recordou-o numa das suas satíricas gravuras do casamento da noiva desmazelada.

A infiltração desta tradição popular nas festividades de elites também teve alguns momentos trágicos. Ficou tristemente célebre uma mascarada decorrida na corte de Carlos VI. Um tal Hangrigen de Gersan, que era senhor de fino espírito, tornara-se conhecido pelas inventivas fantasias que concebia para as festas de casamentos da cidade. Foi à custa dessa fama que o monarca aceitou que organizasse uma idêntica nos salões do Paço.
Para o efeito, o artista lembrou-se de um entremez com fantasias de selvagens. Os fatos foram confeccionados em seda coberta de pelos de linho que escorriam da cabeça aos pés dos diversos nobres que se ofereceram para os usar. O preparo parece ter sido tão realista que a desgraça aconteceu. O duque de Orleães que se encontrava na sala e não estava a par do acontecimento, ao ver o monarca entrar, arrastando atrás de si aqueles desgraçados selvagens amarrados uns aos outros, não fez mais nada- pegou numa tocha e aproximou-se deles para tirar a limpo o mistério. Por infelicidade o fogo ateou-se-lhes aos fatos com tal rapidez que à excepção do senhor de Nanteuil que ainda teve tempo para se atirar para dentro de uma bacia, conta-se que poucos “selvagens” se salvaram. Ficou conhecida como a Momerie des Ardans, realizada no Hotel Royal de Saint-Paul de Paris no mês de Janeiro de 1393.

Nos exemplos anteriores, ainda os governantes tinham suficiente sentido de humor para participarem nestas mascaradas mas outros houve cuja “selvajaria” imperial se levava mais a sério. Quando em 1810 Napoleão I visitou os Países Baixos, acompanhado de Maria Luísa, foi surpreendido na estrada em direcção a Gand, por um grupo de pândegos mascarados de gigantes em momices ao som de ruidosa musicata. Eram os gigantes de Wetteren que acompanhados das autoridades locais decidiram fazer-lhe esta simpática surpresa. Tão acolhedora não foi a reacção do Imperador. Passada a primeira surpresa gritou-lhes para se afastarem pois não queria monstros diante da Imperatriz e mandou avançar a tropa contra os desgraçados que desataram a fugir espavoridos, acabando os menos ágeis logo ali esventrados e esfolados pela 22ª brigada de cavalaria ligeira.
James Ensor, a vingança de Hop-Frog, 1897Mas, a que deixou memórias e réplicas mais interessantes foi mesmo a do baile dos Ardentes. Edgar Allan Poe deu continuação ao relato, no conto de
Hop-Frog, onde um bobo da corte se vinga, numa mascarada em que os nobres ardem vestidos de orangotangos e até o Lou Reed se lembrou de a imortalizar no album dedicado aos contos fantásticos do escritor.

Hop Frog:

Tomorrow is the seasonal ball
I propose costumes for you
and the honourable ministers to wear
King:

Yes?
Hop Frog:

All dress as orangutans
All your guests will run and scream
with their mouths agape
And try to hide
And you, Sire, will have last laugh
For such imperial cunning
Hop Frog:

I will redress the wrong
I will torture you
I will burn you
Dead
Tripitena:

My prince
My prince
You light the fire of eternal fame
Burn, monkeys
Burn

Exposição Homem Selvagem- Galeria Cozinha, FBAUP(7-31 Maio, 2007)

http://cozinha.fba.up.pt/homemselvagem/ALICE GEIRINHAS,Portugalcyborg fauveJOSÉ CARDOSO,Portugal-S/Título

[1]Maria José GOULÃO, “Do mito do homem selvagem à descoberta do “Homem Novo”: A representação do negro e do índio na escultura manuelina”, Portugal e Espanha entre a Europa e Além-Mar, Actas do IV Simpósio Luso_espanhol de História da Arte, subsídios para a História da Arte Portuguesa XXXIV, Coimbra, 1992, pp. 321- 345
[2] Garcia de Resende, Crónica de D. João II, ed. 1902, Biblioteca Clássicos Portugueses
Cap CXXVII.
[3]in Leonor de Portugal Imperatriz da Alemanha, diário da viagem do Embaixador Nicolau Landckman de Valckenstein. Ed e tradução do texto latino de Aires A. De nascimento, et all, ed. Cosmos, Colecção Medievalia, 1992, p35.
[4] Maria do Carmo Rebelo de ANDRAFE, Iconografia Narrativa na Ourivesaria Manuelina: as Salvas Historiadas, tese mestrado, História da Arte, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1997.
Consultar também:

Ana Maria ALVES, Entradas Régias Portuguesas, Livros Horizonte, Lisboa, s.d., p22
Miguel, António DIAS, “Entremezes e representações na Procissão do Corpo de Deus no Reinado de D. Manuel (1509- 1514)” in Colóquio, Revista de Artes e letras, nº 43, Fund. C. Gulb., Lisboa, Abril, 1967, pp. 65- 67.
Claude GAIGNEBET, Jean Dominique LAJOUX, Art Profane et religion populaire au Moyen Âge, PUF, 1985.
Timothy HUSBAND, The Wild Man- Medieval Myth and Symbolism, New York, The Metropolian Museum of Art, 1980.
Louis Maeterlink, Le Genre Satirique,Fantastique et Licencieux dans la Sculptures Flamande et Wallone. Les Miséricordes de Stalles (Art et Folklore), Paris, Jean Schemit, Libraire, 1940.
Mário MARTINS, “representações teatrais em Lisboa no ano de 1451, Brotéria, 1960, vol. LXXI, , pp. 420-430.
Gomes Eanes de ZURARA, Crónica da Toma de Ceuta, Edição da biblioteca Nacional da Ajuda, s.d., cap. XXIII, pp. 72-73
imagens:
1- queima do homem selvagem, Romance de Alexandre, manuscrito séc. XV, Paris.
2- casal de selvagens, Charola do Convento de Cristo em Tomar
3- detalhe de página iluminada, selvagem a raptar donzela, c.1340
4- jogo do combate de Valentin e Ourson, Peter Brueghel
5- selvagem a segurar cortinado, túmulo de Fernão Teles de Menezes, S. Marcos de Tentúgal (c.1447)
6- gravuras de máscaras realizadas para os festejos de casamento d Johann Friedrich Herzog von Württemberg com Barbara Sophie von Brandenburg, em Novembro de 1609, da autoria de Balthasar Küchler, compiladas por Georg Donauer, no livroRepræsentatio Der Fürstlichen Auffzug und Ritterspil,Stuttgart, 1611
7-10- salva manuelina idêntica à da Colecção do Palácio da Ajuda [colecção particular]
11- "caldo entornado"- misericórdia do cadeiral manuelino do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
12- A noiva desmazelada, gravura de Pieter Brueghel
13- Mommerie des Ardans, Claude Malingre, Annales Génerales de la Ville de Paris, Poncelet in-fº, 795p, 1640
14- Momerie des Ardents, iluminura séc. XV.
15- James Ensor, a vingança de Hop-Frog, 1897.

[o artista e o modelo]









Giuseppe Maria Mitelli, 1686 Fine Arts Museum, S. Francisco, USA

I brush my hair with a metal brush held in my right hand and simultaneously comb my hair with a metal comb held in my left hand. While so doing, I continuously repeat 'Art must be beautiful', 'Artist must be beautiful', until I have destroyed my hair and face.
















Marina Abramovic




Gary Simmons, 1993 Walker Art Center, Minneapolis, USA

A "aguasfurtadas", revista de literatura, música e artes visuais, promove no dia 23 de Fevereiro, uma sessão de apresentação do seu mais recente número: o número 8. Esta sessão terá lugar na livraria "Sem Mais Nem Menos" (Rua Mártires da Liberdade, 130), no Porto, a partir das 22h00, e contará com a presença e participação de Ana Luísa Amaral, Rui Lage, José Carlos Tinoco, António Pedro Ribeiro entre outros. Para além de um pequeno concerto com o clarinetista João Pedro Santos que interpretará, entre outras, a peça de Rui Miguel Dias incluída no CD desta "aguasfurtadas" nº 8.

Para qualquer esclarecimento adicional, não hesite em contactar
através deste email (ou ainda para jup@jup.pt)
u para os telefones 223 742 131 / 220 310 650 / 916 070 182.



gente fina é outra coisa!











William Hogarth, (1697-1764) Tate in Hight Life, 1764, 20.5x26.3, Victoria and Albert Museum





[calcografia de Giuseppe Maria Mitelli, segundo desenho de Anibale Carraci,Il ciarlatano e Venditore di antidoti,1660]

there was nothing else he could do. I had transgressed the unwritten law













Cada donzel cortês quando comer ou quando servir não deve assoar o nariz com os dedos; o que é cortês é servir-se dos panos dos pés.

De le zinquanta cortexie de tavola, de Bonvesin de la Riva, séc. XIII

É indecoroso usar o guardanapo para limpar a cara; é-o ainda mais para esfregar com ele os dentes e seria uma das faltas mais crassas contra a civilidade usá-lo para assoar o nariz

De la Salle, Les Règles de la Bienséance et de la Civilité Chrétienne, Rouen, 1729

Pergunto a mim mesmo se no intervalo dos pratos servidos à mesa do meu Senhor (sobretudo no caso de esses pratos não serem de primeira qualidade) em vez do aparecimento de acrobatas e anões, a exibição de algumas dançarinas licenciosas não seria um melhor digestivo

Notas de cozinha de Leonardo da Vinci

Antes de te sentares à mesa, verifica primeiro se não fizeram alguma imundice no teu assento

(séc. XV)

Carta de Madame du Deffand a Mme. De Choiseul, de 9 de Maio de 1768



Gostaria, querida avó, de dizer-vos, assim como ao grand-abbé, da minha surpresa quando ontem de manhã me trazem à cama um grande saco da vossa parte. Apresso-me a abri-lo e encontro ervilhas (...) e depois um vaso (...) tiro-o muito depressa: é um vaso de noite. Mas de uma beleza, de uma magnificência tal, que o meu pessoal diz em uníssono que devia usar-se como molheira. O vaso de noite esteve ontem toda a noite em exposição e foi a admiração de toda a gente. As ervilhas comeram-se, sem que tivesse sobrado uma única.

Nobert Elias, O Processo Civilizacional

Não é possível desligá-los por uns dias?











Do iluminador holandês Joris Hoefnagel (1542-1601) que viveu na corte de Rudolfo II.
Estes catálogos de insectos e plantas, acompanhados de motos latinos, também glosavam a melancolia das Vanitas


Aeternum Florida Virtus, Archetypa, 1592

A rosa mal nasce já está ameaçada pela morte. A lagarta enrola-se à volta como uma serpente, outras alternam com borboletas. O ciclo da vida mostra a fragilidade da beleza.
"Mirabae celerem fugitina aetate rapinam et dum nascuntur consenuisse Rosas"




algures numa caixinha de comentários a derrotada constatação do jaquinzinho liberal : “O problema é que ele (o muçulmano) ofende-se quando lhe dizem bom-dia, quando não lhe dizem bom-dia, quando lhe dão atenção e quando o ignoram”

Para mais exemplos de idênticos sofrimentos é favor consultar o levantamento do poeta hortelão

Para ter uma dimensão do perigo planetário desta falta de sentido de humor, das culpas da Igreja Católica e do Papa, é seguir a estrada e de caminho esforçar-se por travá-lo com a petição on-line

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Emenda: o jcd veio cá esclarecer que quando se referiu ao muçulmano era só o do 2º B, quer dizer, o pain in the ass. É claro que com chatos já se sabe que não se pode contar nem para import-export de democracia, quanto mais para partida de futebol

- Oh, a very good morning to you too, Doctor
- Ah, I understand you had an accident?
- Yes, my pump got...
- ...caught in your sock.
- Absolutely. Yes. My fruit cake was damaged on one side.
- Well...
- It's got grit all over it.
- Well now, are you in pain?
- Oh, heavens no.
- Ah well, where were you hurt?
- Oh, fortunately, I escaped without injury.


sem precisar de assinatura






















Le lys et le minotaure

a propósito da manif de crítica ao pedido de desculpas dos jornalistas dinamarqueses ou o contrário que tanto faz. É só uma breve interrupção da normalidade...

seguir aqui


[isto qualquer dia é link permanente mas não tenho culpa... ]

Aqui no Cocanha ninguém defende normalizações de pensamento ou de sensibilidades. Por esse motivo não apoiamos manifestações a jornalistas cuja falta de sensibilidade parece notória.
Não é a religião que tem de ser levada de forma indiferente, são os media.


zazie e musaranho-coxo

Regras de jogo com Cegos e Deficientes Visuais: No xadrez competitivo entre jogadores videntes e jogadores deficientes visuais (oficialmente cegos) um dos jogadores pode exigir o uso de dois tabuleiros, os jogadores videntes usando um tabuleiro normal e o jogador deficiente visual usando um tabuleiro especialmente construído. O tabuleiro especialmente construído deve preencher os seguintes requisitos:
a. dimensões mínimas 20 x 20 cm;
b. as casas pretas levemente em relevo;
c. um pequeno orifício em cada casa;
d. cada peça deve ter um pequeno pino que se encaixe perfeitamente no orifício das casas ;
e. peças modelo "Staunton", estando as peças pretas especialmente marcadas



Rainha da Dinamarca,
marfim, séc. XIV, Museu Nacional de Copenhaga


cavaleiro europeu em estilo mourisco, encontrado algures na Europa, marfim, séc. VIII-IX, Museu do Louvre




Cavaleiro e peão árabes, sec VI, VIII, Museu de Samarcanda





Bom jogo!

no Dragão -"Contra Ventos e Maraus"



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música consonante com a saison ali ao lado

Hitler costumava arranjar "incidentes" para "justificar" a política de armamento e agressão. Ou era um adido assassinado em Paris por um judeu (que serviu para "explicar" a "Noite de Cristal do Reich") ou as sevícias que a Checoslováquia ou a Polónia alegadamente infligiam a meia dúzia de "arianos", coitadinhos, longe dele e da Pátria (que "justificaram" a guerra). Mas não se aprendeu nada com este velho truque e poucos até agora perguntaram o óbvio: por que raio este alarido, tipicamente goebbeliano, em nome de umas caricaturas, publicadas num obscuro jornal da Dinamarca (na Dinamarca?), há quase quatro meses? Que mal, na prática, essas caricaturas fizeram ao Islão? Como é que, por todo o Islão, "a rua" se indigna com uma blasfémia que não conhece? "Quem manda e comanda essa "espontaneidade"? Quando a "Europa" e a América deixarem de coçar a sua interessante consciência (mea culpa), talvez se perceba o fim do exercício.

vpv, O Espectro


De tanto lidarem com o passado os antropólogos acabam por se convencer que trilham a estrada do futuro. Excluindo o facto da meta não se afigurar paradisíaca, se calhar não estão de todo enganados











Grandeville, Un autre monde, 1844

entre o “revisionismo” bíblico e o artístico prefiro o segundo.
Qual belo ideal, qual carapuça, para alguma coisa já o Leonardo andara a fazer caricaturas.Lessing mostrou que o problema era memorial e poético e o Beuys voltou à carga e confrontou-nos com a gigantomaquia do passado- tudo se metamorfoseia; o que importa é guardar no que se cria os traços primordiais da Criação.










paródia do Laocoonte, c. 1555, gravura segundo Ticiano

















Joseph Beuys, the secret block for secret person in Ireland (22-07-1999 até 16-09-1999)




Era tão liberal, tão liberal que mesmo depois de morto ainda queria cá voltar para mandar

que macaco bem penteado nunca foi tarefa fácil

















macacos no barbeiro, David Teniers O Jovem (1582-1649)

um ponto de vista esperançoso repescado de uma janelinha de comentários:

vou hoje ao cartório com a minha companheira e vamos levar o nosso piaçaba e a nossa mangueira do chuveiro como testemunhas do casamento e vão ter que aceitar...temos tempo...nem que seja daqui a 10 anos...a lei vai ter que mudar...

O nosso caro Misantropo adiantou-se e já postou a festividade do dia da marmota. Mas muito antes da marmota já o urso tinha direito a festa a 2 de Fevereiro.
Pois é, estamos no dia do acordar da hibernação do urso. Quero dizer, pelo atraso do post se calhar já voltou a deitar-se mas a verdade é que nos tempos medievais o dia 2 de Fevereiro correspondia a uma série de festas populares associadas à renovação das culturas e ao fim da hibernação dos ursos.
Costumava-se dizer que à meia-noite o urso saía da toca, olhava para as estrelas do céu e se estas brilhassem dizia: "o Inverno não acabou, ainda vamos ter quarenta dias de mau tempo”. Se o céu estavivesse cheio de nuvens e nevasse ou chovesse, voltava a deitar-se. E fazia muito bem.

Depois vinha a festa popular em torno dos ritos do homem selvagem- da purga das impurezas do campo e das doenças das plantas. Os selvagens ruivos e peludos. Mais tarde, pelo S. João verde- vinha o homem silvestre, do Triunfo do Inverno. Por paralelo simbólico a alternância de João a João. O Crisóstomo e Baptista e mais a serração da velha, o Merlin, o S. Brás e S.to Eustáquio....
Mas isso é outra história e os selvagens não tardam aí.
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imagem: capitel da igreja de S. Francisco de Santarém
ver: Claude Gaignebet, op. cit.