Entrevista do Engenheiro Ildefonso Caguinchas ao Rato Mickey- (Part.1)

Só um excerto- o resto é para ler no Dragoscópio

«[...]- Além da abstração, a populaça portuguesa não entende a fina ironia, a ironia da boa, aquela que eu e o Pateta, digo o Fy-Fy, fazemos. É uma chatice. Não adianta educá-los. São duma incapacidade atroz para certos alambiques.

- Portanto, a sua incoerência vulgar, na verdade, é uma forma subtil – e superlativa - de ironia – é isso que pretende dizer?

- Repare, é apenas mais uma das facetas delicadas do método Cartes do Mickey Mouse: ao contrário do Descartes, eu não penso. Não, eu show, logo existo. Ou seja, existo, na medida em que shou.

- Esclareça-nos: quando diz “shou”, significa ser à moda de Viseu, ou, simlesmente, dar espectáculo?

- As duas coisas. Eu show e, consequentemente, dou espectáculo. Shou, logo existo, e show, logo exibo-me.

- Um Houdini da evasão lógica e do pensamento automático, portanto. Nunca o convidaram para o circo Chan?

- Não. Mas tenho esperanças. Até me imagino, nos meus cintilantes avatares artísticos... às segundas, quartas e sextas, era Pierrosa Choc, o vidente-contorcionista; nos restantes dias, era Peter Pan-pan, o tarólogo prot do trapézio voodu!...

- Desde quando é que sentiu esse impulso irresistível em se tornar nessa espécie de Professor Karago da blogosfera, com consultório on-line, onde passa a vida a garatujar receitas e a corrigir atestados de óbito e relatórios de autópsia?

- Desde o Carnaval de 2006, pelo menos. Achei que mascarar-me de mulher já não me realizava plenamente. É uma tradição nacional, eu sei, talvez a maior e mais sagrada de todas, longe de mim renegá-la, mas começara a saber-me a pouco. Não era suficientemente histriónica, espalhafatosa, ambígua!

- Foi então por insatisfação (ou tédio) com a máscara de galdéria no Carnaval que decidiu mascarar-se de intelectual católico o resto do ano?

- Bem, de católico apenas às segundas, quartas e sextas; às terças, quintas e sábados, ponho o nariz e óculos à protestante. Ou seja, nos dias pares, detenho a verdade; nos dias ímpares, ministro a justiça. Aos domingos, repouso.

- Mickey Mouse, como poderemos chamar a essa sua fórmula complexa de travestismo religioso?

- Eu próprio hesito na taxonomia. Às vezes sinto-me mais catante que protestólico; outras é o inverso. Umas terceiras é ainda mais confuso: plano num limbo caleidoscópico ora crotestante, ora patólico. Picturo então myself in a boat on a river, with tangerine trees and marmelad skies, e esprol... expol… [...]»




  • «Da mesma forma que os mundanos, os que seguem o mundo, amam e procuram, com grande cuidado, as honrarias, a reputação e o crédito de um grande nome entre os homens, como lhes ensina o mundo, da mesma forma, os que procuram o espírito e seguem verdadeiramente Cristo Nosso Senhor, amam e desejam intensamente o inverso; ou seja, de se revestirem das vestes e da libré do seu Senhor, pelo amor e pelo respeito que lhe são devidos.
  • Para imitar Cristo, escolhi, como ele, abraçar a pobreza, o menosprezo e a troça, a indigência, o desprezo e a reputação da insanidade, mais que a opulência, as honrarias e a reputação da sabedoria».
  • Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais

Uma vez, perseguindo um mouro que julgava ter insultado a Virgem, sentiu escrúpulos de o matar, deixando a decisão mais ajuizada à sua montada. Consta que a mula estacou e o mouro fugiu incólume.










Pedro Arroja prepara-se para se confessar a Sua Eminência - Ezequiel, Bispo de Barcelos.

Consta que este terá exigido ao ilustre académico que se coloque na posição apropriada, juntamente com o teclado.

Depois disso, outro galo nos cantará.







«Entre as imagens de violência que ilustram a instauração do regime republicano em Portugal, sobressaem as que mostram as humilhações infligidas aos padres da Companhia de Jesus. Assaltados nas suas casas religiosas por fortes contingentes armados, presos, agredidos, insultados, expulsos do país, passaram ainda pela enxovalhante operação de medição dos seus crânios no posto antropométrico da Penitenciária de Lisboa, onde se faziam os estudos sobre a constituição física dos criminosos, para confirmação das teses em voga sobre as relações entre a criminalidade e as anomalias anatómicas. Todos os países “modernos” tinham laboratórios antropológicos nas suas prisões, e embora Portugal não tivesse investido muito nesse domínio, o partido republicano, apóstolo dos métodos “avançados” e “científicos”, advogava a mais completa submissão da justiça portuguesa às teses de Lombroso e seus discípulos, que tinham conquistado a admiração de toda a Europa.
Na primeira semana de vigência do regime republicano, o ministro da justiça Afonso Costa, entrevistado por Joaquim Leitão, prometia um novo código penal, que daria “ampla satisfação a todas as theorias da moderna escola criminalista”» (Joaquim Leitão, A Comedia Politica. Lisboa, Bertrand, 1910).

A ler na íntegra, no Centenário da República











Não é por nada, mas pensando melhor na vaca sagrada mais abaixo- algo me diz que o 5º Império de import/export também é dos tais que ainda é capaz de dar bode.




[Para o J-L S dos Desaforos]


(existirmos a que será que se destina)
Ah!, Giulietta Masina
Ah!, vídeo de uma outra luz
Pálpebras de neblina, pele d'alma
Giulietta Masina
Aquela cara é o coração de Jesus




















Ora vejam lá se o 5º Império de inspiração budista, em que tanto se esmifra o Paulo Borges, consegue competir com esta modernidade evangélico-kosher.

Por meia dúzia de patacos, facilidades de parcelamento se acumular com bacharel em Teologia ou Oratória Festiva; sem necessidade de perder tempo em deslocações- basta encomendar CD - e tem-se direito a PHD com aplicação muito mais abrangente que a do passaporte lusófono.

Actualizem-se!

Pós-Doutorado em Teologia com ênfase em Judaísmo Messiânico
«O Seminário que a apóia, é o único do Brasil que contém curso de PÓS-DOUTORADO Ph.D. É o último degrau do saber, apenas quem já tem algum curso de doutor, é que está habilitado a fazer o pós. O curso é bom demais, muito bom mesmo e trata tudo sobre a vida pastoral e na ênfase tudo sobre Israel, a saber: as 70 bases que Israel terá para dominar o mundo, sendo a primeira e maior em NY-EUA, o Risco das armas químicas e biológicas em guetos de Nova Iorque; o mesmo erro que os judeus cometeram de concentrarem em massa na Polônia estão cometendo de concentrarem em NY; conta por estatística quantas pessoas já viveram nos últimos 8 mil anos, quantos judeus já nasceram em todos os tempos; tudo sobre anti-semitismo e holocausto de 12 milhões de judeus em 2.400 anos nos guetos de todos os tempos; 5 bilhões de mortes na terceira guerra que está para começar no Oriente; futura raça, religião, moeda e língua universal; Torá; Talmude; Festas e rituais Judaicos; Nazismo; Judiaria; Pógrons; Política Nazista; Noite dos Cristais; Levante de Varsóvia; Solução Final; Diáspora; Sionismo; Guerras de Israel; Antifada; Circuncisão e Excisão; Código da Bíblia; Meteoros e Asteróides; Desgelamento e efeito Estufa; Buracos Negros; Filtro Solar e Câncer; trindade satânica; 666; Armagedom; Juízo Final e; Novo Céu e Nova Terra».





Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em teresina

Acho sempre muita piada à segurança com que certos economistas prevêem o futuro.
No caso do Arroja, à falta de candeia que lhe alumie o túnel em que se enfiou, anda a dedicar-se às profecias retroactivas.

Acabou de garantir que se Portugal Brasil se tivessem convertido à Reforma não faltavam agora prémios Nobel e cientistas latinos. Em contrapartida, samba, bailarico e muito riso, só quando o rei fizesse anos.

Felizmente que Deus soube compensar estes défices com o melhor de que cá se leva.
E siga a festa do S. João Verde, mais a Bugiada.


Video publicado pelos estimados Bugios e Mourisqueiros





Lembrei-me de rever “A verdade dos factos” [Ploughman's lunch] do Richard Eyre. Realismo inglês; política; jornalismo; cinismo q.b.- argumento de Ian McEwan- é quase o grau zero de “fantasia cinéfila”. Tenho ideia que nem sexo inclui.


Como será que o Doutor Kinoscópio classifica um fetiche destes?
“:OP

No postal anterior, um caro comentador, fez notar que a China pelo menos não precisa de inventar guerras muito humanistas, à conta da exportação democracia, para ir a Angola ao mesmo que vão os americanos mais longe.

Pois bem, é precisamente da exportação do modelo iluminista- em versão neoliberal- que se anda a falar. Estes detalhes africanos são apenas consequência deles e “feijões” comparados com o modelo originário.
Por falar nele, o Gray também recordou um patrono da utopia utilitária- o sobredotado Jeremy Bentham (1748-1832)- segundo a qual a paz social podia ser alcançada a partir de prisões ideais.

Seguindo o lema que “Toda a punição é maldade; toda a punição em si é má”, teorizou a reabilitação social por via pragmática e hedonista.

pan-ótico

O pan-óptico (1789- ano da Revolução Francesa)- famosa prisão onde vigilância e observação permanente sobre os encarcerados, apesar de meter inveja à velha orelha do ditador de Siracusa, deveria servir de observatório, de forma a corrigir os comportamentos desviantes.








Ainda hoje o filósofo britânico pode ser observado na University College de Londres, num estádio um tanto mais mumificado que as suas teorias e que a cabeça tantas vezes roubada.

Nos USA, a utopia do autor do neologismo “Direito Internacional” também não fica fica entre-portas, no que diz respeito a prisões ideais. Ainda assim, convém salientar que, mesmo para consumo caseiro, 1,5 milhões de americanos vivem atrás das grades e 28 milhões em condomínios fechados.
Um em cada sete negros já esteve preso, as consequências na destruição da família são óbvias e não é o tráfico de diamantes que compete com o estímulo das drogas duras.

Quanto à história de pobrezinhos e loucos encarcerados, na sua paternidade protestante e muito british, prometemos voltar a ela com a ajuda do Swift e do Hogarth.
Até já.

Como foi contado mais abaixo , os chineses, em Luanda, estão a ganhar os concursos públicos, à custa de mão-de-obra de presos que trabalham como escravos.

Aqui fica a explicação mais desenvolvida, deixada nas caixinhas pelo caro RB.

«O Estado chinês e o estado angolano fizeram um acordo; a China reconstrói o país ao nível de infra-estruturas e recebe petróleo como pagamento.

Os materiais importados para as obras são exclusivamente chineses.

A china concede linhas de crédito a empresas chinesas (estatais e privadas)para assegurar os negócios em Angola, mas também ao próprio estado angolano.

Os trabalhadores das obras são exclusivamente chineses, e trabalham sábados, domingos, e feriados; o trabalhador chinês não tem dia de descanso. As obras chinesas não param nunca.

Os voos da China e para a China são especiais... vêm aos molhos e quando aterram (eu vi) em vez de terem um autocarro a ir ter com o avião, tem um camião de caixa aberta para onde debitam a carga humana chinesa e todas as malas. Eles não passam no controle de fronteira.

Os chinocas vêem-se apenas á noite e estão todos concentrados nos casinos de Luanda; é um vício e característica; existe 1,5 milhões de chineses em Angola.

É frequente a venda de artigos de 'marca' pelas praias e ruas e muito mais no mercado roque santeiro (o maior mercado paralelo de toda África); telemóveis nokia (pelo menos de aspecto) top model são vendidos a 10% do preço da marca.

Recuso-me a comprar medicamentos em Luanda; os chineses inundaram o mercado de falsificações de marcas conhecidas; tem exactamente o mesmo aspecto;

Os esgotos, e condutas de saneamento das obras são um desastre; nas 1ªs chuvas verificou-se a sua inexistência, apesar de estar lá o buraco. Não são obrigados a fazer etares para tratamento de esgotos.

A baia está super-poluída... já não ponho os pés na água de Luanda.

Angola vai organizar o CAN em Jan de 2010 (UEFA Africana) os estádios estão a ser construídos pelos chineses... eu, não me sento naquelas bancadas :)

Resumindo, a china imperial e capitalista selvagem está a derreter este país; e não o afirmo por racismo, pois sou... digamos.... uma pessoa aberta a todas as culturas... afirmo-o por considerar que o crescimento chinês assenta numa fraude... e que depois da China, virá a Índia, e depois virá o Paquistão, e outros... numa lógica de abutre ou de saque.

E depois serão estas empresas que enriquecem com a miséria humana, que no ocidente estão a investir e a comprar tudo».

By RB, at 23:09

[sublinhado nosso]

Dias com Árvores está de volta.



E, ainda por cima, trazem "recuerdos" de







Outro mito que os toinos globais gostam muito de apregoar é o famoso benefício de ficarmos com desemprego dentro de casa para dar a comer aos selvagens lá longe.
Com aquela típica fuçanga da “optimização e eficácia capitalista- a outra face do velho marxismo, costumam sacar das “verdades cientificamente comprovadas” que estes males, na verdade, nem são males, são apenas mais riqueza para todos.
Pois bem- a este propósito, o Gray diz o seguinte:


  • «Na teoria clássica do comércio livre, o capital é imóvel. A doutrina de Ricardo da vantagem comparativa — a qual é ainda regularmente invocada na defesa do comércio livre global liberalizado — diz que, quando empresas ou indústrias comparativamente ineficientes diminuem num país, outras crescerão, absorvendo o capital e a mão-de-obra libertados das actividades em declínio. Dentro de cada país, o capital deslocar-se-á para as actividades económicas nas quais é mais produtivo. A vantagem comparativa ricardiana aplica-se internamente nas nações, não externamente entre elas .

    A vantagem comparativa sugere que, num regime irrestrito de comércio livre, a produtividade da afectação de recursos será maximizada dentro de cada país, o que, consequentemente e por inferência, abrange todo o mundo. A medida que o mundo se toma um mercado único, a eficiência e a produtividade será maximizada em todos os países.Ricardo compreendeu que isto somente pode ser verdade enquanto o capital não gozar de mobilidade internacional significativa:
    [...] a insegurança do capital, real ou imaginada, quando não está sobre o controlo imediato do seu detentor, conjuntamente com a aversão natural que qualquer pessoa tem em deixar o país onde nasceu e onde tem os seus contactos e em confiar os seus hábitos adquiridos a um governo estranho e — novas leis, dificultam a emigração do capital. Estes sentimentos, que eu teria pena de ver enfraquecidos, induzem a maioria das pessoas com capital a satisfazerem-se com uma baixa taxa de rendimento no seu próprio país em vez de procurarem um emprego mais vantajoso para a sua riqueza em países estrangeiros.

    O contraste entre este requisito teórico do comércio livre global irrestrito e as realidades do mundo do final do século xx, não precisa de grandes comentários. Quando o capital é móvel, procurará obter uma vantagem absoluta migrando para países onde os custos ambientais e sociais das empresas são mais baixos e os lucros mais elevados Tanto na teoria como na prática, o efeito da mobilidade global do capital é o de anular a doutrina ricardiana da vantagem comparativa. Contudo é nessa débil fundação que o edifício do mercado livre global irrestrito ainda assenta.

    O argumento contra a liberdade global irrestrita do comércio e dos movimentos de capital não começa por ser económico. É, em vez disso o de que a economia deve servir as necessidades da sociedade e não a sociedade os imperativos do mercado.

    Em termos estrita e estreitamente económicos é verdade que o mercado livre global é incrivelmente produtivo.
    De igual modo, na contenda entre as economias de mercado livre e os sistemas sociais de mercado, os mercados livres são invariavelmente superiores em termos de produtividade. Não existem grandes dúvidas de que o mercado livre é o tipo de capitalismo mais eficiente economicamente. Para muitos economistas, este facto coloca um ponto final sobre o assunto. Contudo, o que as economias de mercado social fazem não é de modo algum irracional. A prática japonesa de dar emprego a trabalhadores que não são economicamente produtivos, numa variedade de ocupações que não requerem um elevado nível de especialização, não é nem irracional nem ineficiente, desde que um dos critérios de eficiência pelos quais tal política é medida seja o da manutenção da coesão social à custa de evitar o desemprego em massa.

    Como alguns economistas sempre reconheceram, a busca da eficiência económica sem atender aos custos sociais é ela própria irracional e de facto, coloca os requisitos da economia acima das necessidades da sociedade. Isto e, precisamente, o que alimenta a competição num mercado livre global. A negligência dos custos sociais, que é uma deformação profissional dos economistas, tomou-se um imperativo de todo o sistema».

Mais Falso Amanhecer aqui e aqui .

Uma qualquer pega entre jovem economista e jovem financeiro, teve esta resposta numa caixa de comentários:

«vou dizer-lhe apenas uma coisa: não venha para aqui aborrecer-me. É que se o fizer, da próxima vez que estiver consigo pessoalmente, vai levar uma chapada nessa cara, que é aquilo que você merece

Não faço a menor ideia quem tem razão, nem quero saber- estarei sempre do lado de quem ainda se imagina capaz de mandar uma lambada na cara a um adversário de ideias.
Grave e sem remédio, é quando passam a resolver os diferendos mais mediáticos com “cumprimentos”.








  • «Se, num país, os custos ambientais são «interiorizados» por um regime fiscal que obriga a contabilizá-los como custos das empresas e se estas são obrigadas a competir, num mercado global, com empresas de outros países que não obrigam a esses custos ambientais, os países que exigem a responsabilização ambiental das empresas estarão sistematicamente em desvantagem.
  • Ao longo do tempo, ou as empresas que operam sob um regime de responsabilização ambiental entrarão em falência, ou o enquadramento legal desses regimes tenderá a aproximar-se de um denominador comum no qual a sua desvantagem competitiva seja reduzida. Estas compensações são uma parte integrante do mercado livre global.
  • O mercado livre global opera para «extemalizar» custos que regimes melhores «interiorizaram». Nas economias sensíveis ao ambiente, as políticas fiscais e legais são desenhadas de forma a terem as empresas de pagar os custos que as suas actividades impõem à sociedade e à natureza. Este é o caso, desde há muito tempo, dos países da Europa continental. Os mercados livres globais colocam essas políticas sobre forte pressão. Os bens produzidos por empresas que são responsabilizadas pelos custos ambientais custam mais do que os mesmos bens produzidos por empresas com liberdade para poluir».
  • John Gray, Falso Amanhecer.

.............
Nada de novo, por cá até já temos propostas na Assembleia para baixarem as multas às cagadelas industriais sem filtro.


























  • «Os mercados de capitais globais têm mais consequências. Tomam a social-democracia inviável. Por social-democracia entendo a combinação do pleno emprego financiado pelo défice, de um estado-previdência abrangente e de políticas fiscais igualitárias, que existiam na Grã-Bretanha até ao final dos anos 70 e que sobreviveram na Suécia até ao início dos anos 90.


    Esse regime social-democrata pressupunha uma economia fechada. Os movimentos de capitais eram limitados por taxas de câmbio fixas ou semi-fixas. Muitas das políticas centrais da social-democracia não podem ser sustentadas em economias abertas. Isto aplica-se ao pleno emprego financiado pelo défice e aos estados-previdência do período pós-guerra. Aplica-se igualmente aos planos sociais-democratas de igualdade. Todas as teorias sociais-democratas de justiça (tais como a teoria igualitária de John Rawls) pressupõe uma economia fechada.


    […]
    De um ponto de vista mais prático, é somente dentro de uma economia fechada que os princípios de igualdade podem ser aplicados. Nas economias abertas, estes princípios tomam-se impraticáveis pela liberdade de migração do capital — incluindo o «capital humano».


    Os regimes sociais-democratas pressupõem que os níveis elevados de provisões públicas podem ser financiados sem problemas pela tributação geral. Este pressuposto já não é sustentável. Já nem sequer é verdadeiro no contexto do que a teoria económica entende por bens públicos reais.


    […]
    A solução clássica para os problemas do financiamento dos bens públicos é a da coerção mutuamente aceite. Toda a gente admite que beneficiará se se produzirem bens públicos. Assim, resolve-se o problema da armadilha dos bens públicos—os oportunistas que procuram gozar deles sem contribuírem para a sua produção — requerendo que toda a gente contribua através da tributação.


    Esta solução clássica perde eficácia quando deixa de ser possível tributar o capital e as empresas móveis. Se as fontes de rendimento—capital, empresas e pessoas—são livres de migrarem para regimes de baixo nível de fiscalidade, a coerção mutuamente aceite não funciona como meio de pagamento de bens públicos. Os tipos e níveis de tributação colectada para o pagamento de bens públicos em qualquer estado não podem exceder significativamente os praticados em estados que, de outra forma, são comparáveis.


    A mobilidade global do capital e da produção, num mundo de economias abertas, tomou as políticas centrais das sociais-democracias europeias impraticáveis e, consequentemente, dificultou a resolução do problema actual do desemprego maciço.


    As teorias monetaristas que presentemente dominam os bancos centrais mundiais e as instituições financeiras transnacionais impedem qualquer possível equilíbrio entre a estabilidade de preços e o pleno emprego.


    As credenciais intelectuais de tais doutrinas não são particularmente dignas de registo. Elas parecem pressupor uma visão da vida económica tendentepara equilíbrios do tipo que Keynes criticou com persuasão. No nosso tempo, a visão do equilíbrio da vida económica foi anacronicamente ressuscitada pelas teorias das «expectativas racionais» emanadas da Universidade de Chicago. São teorizações controversas que não geram consenso geral mesmo entre os economistas mais convencionais.


    Contudo, estas teorias dúbias inspiraram os programas de ajustamento estrutural do Banco Mundial, que, em países tão remotos como o México e a Nigéria, impuseram depressões profundas e duradouras da actividade económica real na prossecução da legalidade fiscal. Os mercados globais de obrigações simulam estes programas de ajustamento estrutural. Impõem aos países do Primeiro Mundo as disciplinas deflacionárias do ajustamento estrutural, que falharam manifestamente como medidas de emergência nos países em vias de desenvolvimento.»


    John Gray, Falso Amanhecer.










































  • «O funcionamento dos mercados globais de obrigações reduz ou retira dos mercados sociais mundiais muita da liberdade que os seus governos tinham no passado para executar políticas em contraciclo Eles forçam esses governos a voltar a uma situação pré-keynesiana, na qual dispunham de poucas medidas eficientes de gestão macroeconómica para controlar a economia. Esses governos estão condenados a aguardar pelo fim das depressões cíclicas da actividade económica — sejam quais forem os seus custos sociais e económicos.

  • Ao penalizarem os governos que tentam estimular a actividade económica pelo endividamento ou pela realização de obras públicas, os mercados forçam-nos a voltar a um mundo pré-keynesiano, no qual os governos respondiam às recessões pelo expediente deflacionário desastroso de cortes orçamentais. Assim, os mercados mundiais de obrigações imitam o funcionamento do padrão-ouro. Mas fazem-no sem replicar o seu carácter semiautomático, que conferia um certo grau de estabilidade às economias que governava. Os mercados mundiais de obrigações operam num contexto de incertezas que tomam as variações abruptas provocadas pela especulação (tais como o colapso do mercado global de obrigações no início de 1994) inevitáveis. Os mecanismos do padrão-ouro foram substituídos pelas regras de um casino
  • John Gray, Falso Amanhecer


















  • «De acordo com a teoria económica corrente, podemos compreender a economia como compreendemos um maquinismo; mas as sociedades humanas estão em permanente flutuação e mudanças. As instituições sociais são formadas de convicções humanas; um rectângulo de papel serve de dinheiro apenas enquanto acreditamos que é dinheiro; de outro modo, é apenas uma curiosidade. As teorias que procuram mecanizar os mercados deixam de lado o facto mais importante: eles são ficções construídas pela imaginação e pelas expectativas humanas.

    Em particular nos mercados financeiros, as nossas expectativas sobre o futuro entrechocam-se. Os mercados financeiros não tendem para o equilíbrio. O excesso é o seu estado normal. Esta volatilidade no âmago das instituições financeiras liberalizadas dá origem a uma economia mundial organizada como um sistema de mercados livres essencialmente instáveis.

    Os que crêem que os mercados livres nos permitem formular expectativas racionais sobre o futuro vêem a longa expansão económica americana desde o início dos anos 80 até ao presente como prova de que os ciclos económicos são uma das bárbaras relíquias da história. Estão confiantes em que as economias que se submetem às exigências do consenso de Washington não precisam recear as súbitas contracções e longas depressões que as sacudiram no passado.

    Allan Greenspan, presidente do Banco Central Americano (Federal Reserve Bank), credibilizou o conceito de que os ciclos económicos estão obsoletos. Até 1989 Greenspan acreditou que os mercados livres se enraizavam na natureza humana e que apenas a tirania poderia evitar que o resto da humanidade os abraçasse. É louvável que Greenspan, numa conferência no Centro Woodrow Wilson em Junho de 1997, tenha confessado que após 1989 descobriu que «muito do que tomávamos por verdadeiro no nosso sistema de mercado livre não se devia à natureza, mas à cultura. O desmantelamento da função de planificação central não estabelece automaticamente, como alguns supunham, o capitalismo de mercado»

    Greenspan reconheceu a importância das normas culturais na sustentação dos mercados livres. Mas que cataclismo no mercado será preciso para convencer Greespan de que uma «nova era» de crescimento estável é apenas mais um mito?

    O laissez-faire global pode sucumbir no meio de uma crise ingerivel dos mercados bolsistas e das instituições financeiras. A enorme e praticamente obscura economia virtual dos derivados financeiros aumenta os riscos de uma ruptura sistémica.

    Como reagiria a sociedade americana desunida a um colapso bolsista como o que ocorreu no Japão no início dos anos 90? Hoje, uma ruptura dessa dimensão desencadearia convulsões económicas e sociais de grande escala nos Estados Unidos.
  • Independentemente de outros presságios de um tal evento, podemos ter a certeza de que mais ninguém falaria da utopia do governo minimalista. O regime internacional dos mercados livres não poderia sobreviver a uma convulsão económica no seu epicentro.

    Na realidade, a ideia que um mercado livre é um sistema auto-estabilizado é arcaica — uma curiosa relíquia do racionalismo iluminista. Será descartada logo que o mercado relembre aos investidores actuais que os que se sentem absolvidos pela história estão condenados a repeti-la.

    Contudo, o cenário mais provável para o fim da era actual de laissez-faire não é um cataclismo do mercado. É mais provável que se desenrole à medida que a hegemonia americana na economia mundial seja desafiada pelas novas potências emergentes.

    Como acontecia com a ordem económica liberal internacional pré-1914, um mercado livre global só funciona enquanto as suas instituições forem garantidas por uma efectiva potência global. Hoje falta aos Estados Unidos a vontade, e talvez a capacidade, de assumir as responsabilidades de uma potência imperial comparável à Inglaterra da belle époque».


    John Gray, Falso Amanhecer, 1998.

Lido numa caixinha de comentários

«Aqui em Luanda, os Chineses têm muita força e têm ganho quase todas as obras - o melhor preço. Pois bem, a mão-de-obra é trazida da china, 90% dela são presidiários, que cá estão de borla a cumprir pena; moram em navios ao largo da baía de luanda. Por isso os chinocas ganham os concursos públicos que querem. Há quem diga que existe uma pressão grande na China de prender pessoas para o efeito... enfim não sei»

RB
Ricciardi | 06.17.09 - 1:09 pm | #

Turning and turning in the widening gyre
The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all conviction, while the worst
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: a waste of desert sand;
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Wind shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?


William Butler Yeats (1919)





«Todo aquele que fica virgichtiget [com a mente paralisada de cansaço, devido ao excesso de produção de fluidos], e por esse motivo se torna um tanto maluco e com a mente dividida por pensamentos esquisitos, deve tomar um banho de sauna. Aconselha-se a deitar flocos de aveia na água quente. Se o fizer frequentemente, a sua gicht passará e volta-lhe o saudável temperamento doce».


Receita de Hildegarda de Bingen [Physica], com acompanhamento musical e duas meninas da Bíblia de Wenceslas, em exclusivo para o Pedro .





{Post dedicado a um leitor do Cocanha que gosta muito de vir cá à cata de pombinhas}

Agochila, em árabe, ou caprimulgas latinas, vivem no Oriente e botam dois ou três ovos de cada vez. São conhecidos por terem o vício de mamar nas cabras, secando-lhes o leite e deixando-as ceguinhas.


Como se entende, estes chupa-cabras estão na origem dos efeitos de alguns pecados mais comuns noutros passarões.




[O Johannes de Cuba garante que foi o Aristóteles que as desencantou]



no Hortus Sanitatis (1485) da autoria de Johannes de Cuba (edição de 1500)

esponjasestrelascães
1 e 2- Umas esponjas e estrelas marinhas muito catitas descritas por Plínio.

3- Cães-marinhos – segundo Isidoro de Sevilha, tinham patas pequenas mas parece que eram terríveis- os gregos viram-se gregos com eles.
vacaporco-espinholebres
4- Dois equónilus, que eram cavalos do rio e uma vaca piscícola.

5-Porcos-espinhos aquáticos.

6- Lebres marinhas- (foi no que deu trocar-se os moluscos por lepus)- espécie leporina que Plínio também descreveu. Consta que tinham o estranho poder de fazer com que as mulheres grávidas abortassem, só de cheirarem o seu sémen fedorento.
porco-ostraporcohomem-baleia
7- Porcos que cresciam dentro de ostras. Segundo Alberto Magno, no segundo livro da Natureza dos Animais, no têm dois pés e asas que lhes permitiam umas escapadelas em certas alturas.

8- Um porco peixe- conhecidos por até dentro de água continuarem muito libidinosos.

9-Uma baleia-homem- descrito por Plínio no livro nono da História Natural.

delfinsguerreiromonge
10- Um casal de Delfins- faltava-lhes paladar e olfacto na cara mas compensavam-no no peito e soluçavam como os humanos.

11- Um ziriron- militar marinho

12- Uma espécie raríssima- um frade marinho, acompanhado de unicórnio. Consta que tinham barba. Neste caso a discrição da santa alimária deve-se a Séneca e o trocadilho a erros de tradução- fazendo de uma foca- vitelus marinus- um monge.

serra e cila
13- Para chatear o religioso aquático, também havia hereges marinhos, da família das Nereides e da mesma natureza das baleias. Dotados de grande malícia, ficavam parados e inertes à espera de vítimas para devorarem.

14- O peixe serra e o peixe cila- A primeira, veio de troca de letras com as sereias e acabou num bicho que serrava as embarcações com a dentuça. O cila-doutor habitava no mar que separava a Itália da Cilícia

15- Trebius Niger, companheiro de Lupullus, cônsul da Hispania Baetica, descreveu estes peixes que faziam ninho em cima das árvores.



16- Um thynnus que era um desatino. Este monstro marinho, com cauda de macaco, patas de cabra e corpo de porco-espinho, tinha uma estranha curiosidade pelo mover das velas dos barcos. Na verdade, não passava de um atum.


Consultar obra digitalizada pela MZD- Centro de Digitalização de Munique









Mãe e o coco está ali
queres vós estar quedo co’ele?
Demo: Passa passa tu per i.
Menino: E vós quereis dar em mi
Ó demo que o trouxe ele.





Gil Vicente, Auto da Barca, 1518

Raul Haussmann [1886-1971]- Der Geist Unserer Zeit - Mechanischer Kopf (Mechanical Head [The Spirit of Our Age]), c. 1920





































Raul Haussmann [1886-1971]- Der Geist Unserer Zeit - Mechanischer Kopf (Mechanical Head [The Spirit of Our Age]), c. 1920.

«It's possible that schools need to develop new metrics and methodologies to bring more right-brain learning into the classroom, Pink suggested. Even traditionally left-brain focused careers can benefit from expanding right-brain capabilities. Jefferson School of Medicine in Philadelphia, for example, has developed an index that measures physicians' ability to empathize with their patients, Pink noted. The index showed that the more empathetic the doctor, the better the patient outcome was likely to be.
[…]
We want to prepare kids for science-oriented careers, so we cut out the arts. Meanwhile, people who are preparing for science-oriented careers are bringing in the arts.»

Artigo-cortesia CCz



It’s fun to charter an accountant
And sail the wide accountancy
To find, explore, the funds offshore
And skirt the shoals of bankruptcy
I can be manly in insurance
We’ll up your premium semi-annually
It’s all tax-deductible
we’re fairly incorruptible
We’re sailing on the wide accountancy
Up, up, up your premium
Up, up, up your premium
Up, up, up your premium







blogue



vinhos loucos


Cadeiral da catedral de Burgos, séc. XVI

Qui fait abus de ses pouvoirs
Et suit la pente qui le sert
Pousse la truie dans son chaudron






















Sebastian Brandt, Stultifera Navis, 1497

Mind What You Wear+ Takashi Murakami+ Louis Vuiton






















Poucas visões do futuro foram tão enganadoras e estiveram tão na moda como as de herbert Marcuse e Michel Foucault, que descreviam um controlo capitalista perfeito da sociedade. O capitalismo do período moderno mais recente pode encarcerar as pessoas em prisões de alta tecnologia e controlá-las por câmaras de vigilância nos seus locais de trabalho e na rua; mas não as consegue enjaular na burocracia nem prendê-las para sempre num minúsculo nicho da divisão do trabalho. Abandona-as a uma vida de fragmentos e a uma proliferação de escolhas sem sentido.

A distopia que se nos depara não é um pesadelo de controlo totalitário.
Entrelaçando o efémero da moda com um reflexo congénito de niilismo, o American Psycho é uma aproximação mais verdadeira da condição moderna do que O Castelo de Kafka.
Os mercados livres são os solventes activos mais potentes da tradição no mundo actual. Valorizam o que é novidade e põem a desconto o passado. Fazem do futuro uma reedição infinita do presente. A sociedade que engendram é antinomiana e proletária.
Os mercados livres são muitas vezes atacados por abordarem o investimento na indústria no curto prazo. Mas o mercado livre é ainda mais inclinado para o curto prazo na destruição das virtudes sobre as quais se fundou. Estas virtudes – poupança, orgulho cívico, respeitabilidade, «valores familiares» – são agora peças de museu sem qualquer valor. São objectos de bricabraque, desempoeirados de tempos a tempos para exibição pública pelos media da direita, mas com pouca utilidade numa economia do efémero.
O ícone mais duradouro do mercado livre no final do século XX não será Margaret Thatcher, poderá muito bem vir a ser Madonna.

John Gray, Falso Amanhecer