Entrevista do Engenheiro Ildefonso Caguinchas ao Rato Mickey- (Part.1)
Só um excerto- o resto é para ler no Dragoscópio
Só um excerto- o resto é para ler no Dragoscópio
«[...]- Além da abstração, a populaça portuguesa não entende a fina ironia, a ironia da boa, aquela que eu e o Pateta, digo o Fy-Fy, fazemos. É uma chatice. Não adianta educá-los. São duma incapacidade atroz para certos alambiques.
- Portanto, a sua incoerência vulgar, na verdade, é uma forma subtil – e superlativa - de ironia – é isso que pretende dizer?
- Repare, é apenas mais uma das facetas delicadas do método Cartes do Mickey Mouse: ao contrário do Descartes, eu não penso. Não, eu show, logo existo. Ou seja, existo, na medida em que shou.
- Esclareça-nos: quando diz “shou”, significa ser à moda de Viseu, ou, simlesmente, dar espectáculo?
- As duas coisas. Eu show e, consequentemente, dou espectáculo. Shou, logo existo, e show, logo exibo-me.
- Um Houdini da evasão lógica e do pensamento automático, portanto. Nunca o convidaram para o circo Chan?
- Não. Mas tenho esperanças. Até me imagino, nos meus cintilantes avatares artísticos... às segundas, quartas e sextas, era Pierrosa Choc, o vidente-contorcionista; nos restantes dias, era Peter Pan-pan, o tarólogo prot do trapézio voodu!...
- Desde quando é que sentiu esse impulso irresistível em se tornar nessa espécie de Professor Karago da blogosfera, com consultório on-line, onde passa a vida a garatujar receitas e a corrigir atestados de óbito e relatórios de autópsia?
- Desde o Carnaval de 2006, pelo menos. Achei que mascarar-me de mulher já não me realizava plenamente. É uma tradição nacional, eu sei, talvez a maior e mais sagrada de todas, longe de mim renegá-la, mas começara a saber-me a pouco. Não era suficientemente histriónica, espalhafatosa, ambígua!
- Foi então por insatisfação (ou tédio) com a máscara de galdéria no Carnaval que decidiu mascarar-se de intelectual católico o resto do ano?
- Bem, de católico apenas às segundas, quartas e sextas; às terças, quintas e sábados, ponho o nariz e óculos à protestante. Ou seja, nos dias pares, detenho a verdade; nos dias ímpares, ministro a justiça. Aos domingos, repouso.
- Mickey Mouse, como poderemos chamar a essa sua fórmula complexa de travestismo religioso?
- Eu próprio hesito na taxonomia. Às vezes sinto-me mais catante que protestólico; outras é o inverso. Umas terceiras é ainda mais confuso: plano num limbo caleidoscópico ora crotestante, ora patólico. Picturo então myself in a boat on a river, with tangerine trees and marmelad skies, e esprol... expol… [...]»