Chamam-lhe rinoceronte. Aqui encontra-se desenhada toda a sua figura. Tem a cor de uma tartaruga salpicada e é coberto de espessas pregas. É do tamanho de um elefante, mas com patas mais curtas, e é muitíssimo capaz de se defender. Na parte anterior do focinho tem um corno aguçado e forte, que afia logo que encontra uma pedra. Este animal é inimigo mortal do elefante. O elefante tem-lhe um medo tremendo porque quando se encontram o animal investe e mete a cabeça entre as patas dianteiras do elefante, abre-lhe a barriga e sacode-o, do que se não pode defender. O animal está tão bem armado que o elefante nada pode fazer. Dizem que o rinoceronte é lesto, astuto e audaz"
Albrecht Durer, Rhinocerus, 1515, com base em desenho de autor desconhecido que impressor alemão lhe enviou de Lisboa.
A alimária foi oferecida a Afonso de Albuquerque pelo Rei Modofar de Cambaia em Fevereiro de 1515. O governador enviou-o para o reino, em Dezembro, juntamente com leões, crocodilos, papagaios e elefantes indianos, um dos quais foi enviado ao Papa Leão X na memorável embaixada de Tristão Vaz da Cunha, de que já demos conta aqui .
A rinocerota também foi na comitiva. Dizem que levava uma coleira de veludo verde, toda cravejada de rosas e cravos dourados.
E assim se foi, bela e jovem, quando o navio naufragou no Golfo de Génova. O corpo deu à costa, em Porto Venere e lá o tentaram "compor" para, de novo, ser enviada a Roma. Quando finalmente teve oportunidade de ver o Papa, a exótica e desventurada bicha já ia embalsamada.
2-Rinoceronte de uma guarita da Torre de Belém, 3-Rinoceronte gárgula do Mosteiro de Alcobaça, 1520; 4- Mchael Speaker, rinoceronte de acordo com a gravura de Durer (aço e bronze); 5- Jean Sole, Animaleries