Ai amor, amore de Pêro Cantone
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam viçoso e tam são,
Quen’o podesse teer atá o Verão!
Mais valia que amor de Chorricão
nem de Martim Gonçálvez dOrzelhone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam delgado e tam frio,
mais nomcreo que dure atá o Estio
ca atal era outr’amor de meu tio,
que se brotou há pouca de sazone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam pontoso, se cuidades,
fazer-vos-á, se o provardes,
amor de Dom Palaio de Gordone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam astroso e tam delgado,
quen’o tevess’um ano doterrado!
Aquel[le] fora en bom ponto nado
que depois houvesse del bõa rençone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

Que amor tam astros’e tam pungente,
quen’o podess’haver em remordente!
Mais valria que amor d’um meu parente
que mora muit’acerca de Leone.
Ai amor, amore de Pero Cantone,
que amor tam saboroso e sem tampone!

[Fernão Soares de Quinhones, cantiga de escárnio e maldizer]

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