- Abriram contra mim suas bocas, como um leão que despedaça e que ruge.
- 14 Como água me derramei, e todos os meus ossos se desconjuntaram; o meu coração é como cera, derreteu-se no meio das minhas entranhas.
- 15 A minha força se secou como um caco, e a língua se me pega ao paladar; e me puseste no pó da morte.
- 16 Pois me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, trespassaram-me as mãos e os pés.
- 17 Poderia contar todos os meus ossos; eles vêem e me contemplam.
- 18 Repartem entre si as minhas vestes, e lançam sortes sobre a minha roupa.
- 19 Mas tu, SENHOR, não te alongues de mim. Força minha, apressa-te em socorrer-me.
- 20 Livra a minha alma da espada, e a minha predileta da força do cão. (Salmo 22)
Pregação aos sarracenos cinocéfalos
Numa versão castelhana do início do século IX, contava-se que negara a divindade de Cristo, acabando por morrer bêbado, devorado por cães e porcos numa pocilga.
John Block Friedman, the monstrous races in Medieval Art and thought, Cambrdife Mess, Harvard University Press, 1981
cercado pelos cães
The Kiev Psalter Saltério datado de 1397,com 300 iluminuras- Biblioteca Pública de Leningrado (fol 28 r.)
Cristo rodeado pelos soldados com cabeças de cão. O texto acrescenta “quatro soldados me rodearam me, o ajuntamento dos malfeitores me cercou. Trespassaram-me as mãos e os pés.
Livra a minha alma da espada, e a minha amada da força do cão”- recordando a belíssima premonição do Salmo de David- "Circundederunt me canes multi; concilium malignatium obsedit me"
O tema é semelhante ao do saltério Chludov (meados séc. IX) onde os romanos também aparecem como cinocéfalos.
Na tradição do Pentecostes era comum aparecerem cinocéfalos- raças fantásticas que se acreditava existirem para os lados da Síria. Nesse caso pretendia-se valorar a os apóstolos que pregaram o Evangelho, até às raças mais distantes.
Nestes exemplos, o sentido negativo prevalece- mostrando hereges e pagãos romanos bestializados.