Jem Southam, Red River 10, c.1989

Agradeço, ao Carlos Vidal, a lembrança da cadeia de leituras, deixando-lhe a tarefa de a encontrar, por acaso, no limbo das janelinhas de comentários.


E não se esqueça da senha para contornar o bloqueio: "la pénultième est morte".

Como diria Tocqueville , nem todo o animal que parece, é.

Mas, se o National Geographic anda demasiado "disneizado" para quem aprecia a bicharada tal como veio ao mundo, um filósofo também não precisa de se queixar logo à ERC; experimente primeiro uma versão evangélica de Petrópolis, no youtube.

« Os merceeiros, vendedores de especiarias e boticários conduziam, logo atrás dos vidreiros, um descomunal gigante, que contrastava com um pequeno anjo, que parecia dirigi-lo. Aquela espécie de Golias excedia em altura quatro torres de madeira, duas das quais pertenciam aos correeiros, e duas aos cortadores. A imediata representação, ordenada pelos sapateiros, mostrava mais arte e despertava, talvez mais que todas as outras, a atenção dos espectadores. Vinha a ser o dragão infernal, sarapintado de vivas cores, que vigiava dous diabos, os quais procuravam induzir dous frades noviços a voltarem aos deleites do mundo, ao que eles mostravam resistir heroicamente, posto que, como de reserva aos dous infernais pregadores, os tosadores acompanhassem dous diabretes espertos, prontos a socorrer os seus discretos colegas. Se, porém, como autores dramáticos os sapateiros levavam imensa vantagem aos mesteirais dos ofícios imediatos no préstito, nem por isso vinte e quatro alfaiates deixavam de pavonear-se após eles ao redor da serpe tentadora da nossa mãe Eva, a que fazia sombra uma torre, solidíssima na aparência. Mas se, pela excelente pintura da sua charola, os alfaiates tinham justos motivos de orgulho, mais justa era a vaidade com que os carpinteiros da Ribeira e os calafates, em número de trinta e oito, arrastavam uma nau e uma galé, armadas e empavesadas de muitas cores, cujos mastros quase que se elevavam à altura dos edifícios, e cujas vergas quase topavam com os balcões e frestas da Padaria e passavam a custo pela Porta do Ferro. Os pulverulentos pergaminhos conservaram-nos a memória da Representação da Dama em que figuravam também dous diabos, e que estava a cargo dos esparteiros. Em que consistia esta representação ignoramo-lo hoje; mas, se a avaliarmos pelo que sabemos da antiga procissão de Corpus em diversas partes do reino, pudemos conjeturar que não seria demasiado edificativa. De todos os outros mesteres, cujos membros, em maior ou menor número, ajudavam a tecer aquela enfiada de cenas ridículas ou brutescas, distinguiam-se, pela singularidade das invenções que ostentavam, primeiramente os pedreiros e carpinteiros pelo seu engenho ou máquina de guerra, servida por dous feios demônios, e os armeiros pelo seu sagitário, símbolo do soldado peão, e no meio destas duas corporações os tanoeiros por uma torre grandemente historiada e semelhante à dos correeiros e cortadores. Os moedeiros, corretores, tabeliães e mercadores, como mesteres mais nobres, fechavam aquele extenso séquito. Danças d’espadas, danças mouriscas, danças de pélas ou mulheres sustentadas sobre os ombros de outras, bailando e volteando conjuntamente; tudo, enfim, quanto se possa imaginar de caricatura, de burlesco, de doudejante servia de moldura a este quadro singular, em cujo topo figuravam alguns magistrados municipais, e sobre o qual flutua¬vam dezenas de pendões, bandeiras e guiões variegados. Como contraste a estas visualidades heteróclitas, a esta espécie de sonho de pesadelo, seguiam-se as comunidades monásticas, mancha escura no dorso daquela imensa cobra que se estirava pelas ruas de Lisboa: frades negros, frades brancos e pretos, frades crises, frases pardos, frades de todas as cores tristes; agostinhos, bentos, bernardos, domínicos, franciscanos, beguinos. Depois, um sem-número de cavaleiros de Crista, do Hospital, d’Avis, de Santiago, precedidos dos respectivos mestres e comendadores e segui¬das dos freires leigos e serventes d’armas. Depois, os magistrados da corte, os oficiais da coroa e o próprio monarca rodeavam a hóstia triunfante nas mãos do Bispo de Lisboa e sustentavam as varas de riquíssimo pálio. O esplêndido dos trajas cortesãos, as telas custosas das vestes sacerdotais, as renques de tochas acesas que faziam cintilar as lhamas e brocados, os arrases, que, formando as paredes das ruas, serviam de decoração à cena, os tangeres e folias, que se entressachavam com os diversos grupos, o sussurro do povo, semelhante ao rugido longínquo do mar, o perfume de incenso, que se espalhava em rolos de fumo transparente, a fragrância das murtas e rosmaninhos, de que o chão estava juncado, produziam um composto de sensações capazes ainda hoje de excitar o entusiasmo frenético das multidões, quanto mais numa época em que as crenças, tão ardentes como grosseiras e sinceras, santificavam as cenas mais burlescas e, até, mais indecentes, associando-as ao culto e fazendo delas, como diria Sterne, parte instrumental da religião.


Alexandre Herculano, o monge de Císter.

  • Imagens: serpe do Infante D. Fernando de Serpa (capitel da igreja de Santa Maria do Castelo de Serpa).
    festas mouriscas - portal da Igreja Matriz do Alvor



"O meine Brüder wenn ihr nach hundert tausend
Gefahren die Grenzen des Occidentes habt erreicht...
Zögert nicht den Weg der Sonne folgend
Die unbewohnten Welten zu ergründen."

O mes frères, qui à travers cent mille dangers
Etes venus aux confins de l'Occident,
Ne vous refusez pas à faire connaissance
En suivant le soleil du monde inhabité."
"Déjà la nuit contemplait les étoiles
Et notre joie se métamorphose en pleurs"

"Furchtlos bleibt, aber, so muss der Mann,
Einsam vor Gott es Schütze die Einfalt ihn,
Und Keiner Waffen braucht's und Keiner
Listen, so lange, bis Gottes Fehlt hilft"

Mais l'homme, quand il le faut, peut demeurer sans peur devant Dieu. Sa candeur le protège et il n'a besoin ni d'armes ni de ruses, jusqu'à l'heure où l'absence de Dieu vient à son aide."

"So lange der Gott nicht da ist"

"Tant que Dieu n'est pas là"

"So lange der Gott nahe ist"

"Tant que Dieu nous demeure proche"

«O governo de PPC é, sem dúvida, o mais liberal dos últimos 37 anos».

Birgolino, no Portugal Contemporâneo.

« (...)Num grupo de futuros magistrados em formação teórico-prática, valorizar o espírito competitivo, empresarial, que nada tem a ver com emulação positiva e tudo com individualismo ultra-liberal e de feição egoísta e propícia a calcar os outros se para tal for necessário, é noção que fica bem à vista, em contraposição ao desvalor do tal “copianço”. Incentivar e valorizar a nota distintiva e que permite a opção pela carreira mais apetecida, à custa dessa competição desenfreada e reveladora dos instintos mais primários das pessoas, com reticências pessoais, mentiras aos outros, dissimulação de informação e comportamentos é mais aberrante do que conceder um 10 em comportamento a quem copiou num teste de cruzes.(...)».

A ler, na íntegra, no Portadaloja .

Os ministros dividem-se em: a) ministras de pelo ruivo e manso, b) pertencentes ao império dos escritórios de advocacia, c) a embalsamar, d) caciques de futebol de salão em campeonato parlamentar, e) bloggers, f) sereias agrícolas para dar ambiente, g) fabulosos a deitar abaixo o que vão ministrar, h) das finanças estrangeiras que nada têm a ver com a economia, i) da economia falida interna que vai acabar de relações cortadas com o das finanças, j) que acabam a partir o jarrão, l) que de longe parecem moscas.

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Nota: foi apenas uma brincadeira. O resto comentei
aqui

Nada como este post do José, para se recordar o que se desbaratou a troco de quê e quem o fez.



Mais um texto delicioso de José Pinto Casquilho, a declinar o amor pela natureza, em variantes semânticas, linguísticas, culturais, artísticas e matemáticas, como só ele sabe fazer.

A ler, na Revista TriploV

«dès qu'on fait descendre du ciel ou de la terre l'idée de salut, si le salut de l'homme est ici-bas, dans la domination chaque jour plus efficiente de toutes les ressources de la planète, la vie contemplative est une fuite ou un refus, tout contemplatif un embusqué»

Georges Bernanos, La France contre les robots.

Como já se tinha referido aqui, não faz sentido o BCE cobrar juros mais elevados a um país europeu, do que cobra o próprio FMI.

A esse propósito Petição Redução do Défice Público: taxas de juro cobradas pelo BCE no programa da troika

E mais este, de caminho: Julgamento do ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos (na Islândia está um julgamento em curso num caso semelhante)



Como em Portugal a democracia é a tal palavra mágica que serve para tudo, ninguém estranha que, ao contrário de outros países, o governo por cá seja uma coisa secreta, com ministros escondidos, escolhidos pelo reizinho eleito depois da ida à urna.

Há-de ser efeito do tal republicanismo igualitário e popular de que tanto se orgulham.

Abrir a caça ao malfamagrifo.


«Olho para frente com a enorme vontade de ser feliz nos próximos anos».

5-Junho-2011, Sócrates.


Aquele que acaba de perder a imunidade política e está livre de realizar essa vontade junto dos amigos sucateiros, atrás das grades.








jmf57

Este anda convencido que ainda vai a teutónico, à custa da bancarrota.





Na volta, o máximo que lhe pode acontecer, é transitar de tolo na oposição, a otário na situação.

Petição, «Diga não à caça ao Melro





Com o patrocínio da Graúna do Henfil