«Por uma articulação enigmática, o interior do corpo era o refúgio-fundamento da nossa moral judaico-cristã da “consciência moral” e das “intenções insondáveis” que davam valor moral à acção. A insondabilidade e o segredo garantiam a unicidade e, portanto, o valor do sujeito moral. O corpo da acção moral tinha limites e um espaço próprio limitado por outros corpos. O sujeito moral agia através deste corpo que lhe garantia a unidade e a unicidade do seu acto, e, assim, da sua consciência. Perdidos os limites deste corpo, perdidos estão também o sujeito e a sua consciência moral.
O devassar deste refúgio corporal da consciência moral pela ciência, transforma completamente a noção de responsabilidade individual.»
Arteriografia dos órgãos genitais femininos (Anatomia Humana, de Rohen e Yokochi)
José Gil, Metamorfoses do corpo, Lisboa, Relógio de Água, 1997.