O uso de ovos em rituais de renascimento das estações , é conhecido desde os tempos mais antigos. Acerca de alguma dessa simbologia já se falou na Páscoa passada.

Mais curioso foi o modo como o Cristianismo os assimilou a representações da Paixão de Cristo ou da sua antecipação.
Os ovos míticos que aglutinavam esse sentido de morte e regeneração futura eram os ovos de avestruz. Pelo tamanho e forma polida e perfeita da casca, os ovos destas alimárias deram azo a fantasiosos relatos medievais.

No Bestiário Divino,o bispo Guilherme da Normandia explica que a avestruz põe os ovos no mês de Junho, quando aparece no céu a estrela Virgílio, enterrando-os na areia do deserto, onde ficam esquecidos e os filhotes saem dos ovos, apenas graças ao calor do Sol. Na versão do Physiologus, os avestruzes eram incubados graças ao poder do olhar da mãe.

Estes portentos associados aos ovos de avestruzes, servem também de continuação para o seu uso nos ritos religiosos, sendo comum pendurá-los nas igrejas, em particular durante a Semana Santa.

É num sentido paralelo, entre o místico e o alquímico que Piero Della Francesca incluiu omítico ovo, no preciso ponto de fuga da Madona Pala Brera, num duplo sentido do amor celeste da Virgem/nova Vénus e da redenção pré-anunciada de Cristo.

Durante a Idade Média durante o período da Semana Santa, torna-se mesmo costume a venda de ovos de avestruzes, à porta das igrejas, juntamente com cocos e velas, que depois se ofereciam no altar do Redentor.


































Um exemplo que ainda permanece encontra-se na Igreja de San Agustín de Burgos. A popular e realista imagem de Cristo crucificado (coberto de pele e barbas, ao natural, como era do gosto popular) inclui aos pés uma coroa com ovos de avestruz.

Existem variantes da representação onde os ovos se misturam com a caveira, no sentido da redenção e renascimento de um Novo Adão. A simbologia do sangue redentor é aproximada por outra lenda que dizia que a avestruz, para ajudar os filhos a nascerem, provocava a quebra da casca, derramando o seu sangue sobre eles.
Entre estes dois pólos de vida e morte coincidem com os cânticos do Símbolo de Nicea (estabelecido a partir do Concílio, no ano de 325): “reconheço um baptismo para o perdão dos pecados e espero a ressurreição dos mortos”. Mas a história dos ovos da Páscoa não fica por aqui.


Na sua variante pagã dos cultos de Astarte, o mais fabuloso ovo caiu do céu no rio Eugfrates e desde aí não foi batido pelo Guiness; de dentro dele saiu a deusa Vénus- na versão europeia da Isis babilónica. Por todos os motivos, como é bom de calcular, nenhuma avestruz foi responsável por este.

Ver também aqui
John Landseer, Sabean Researches, London, 1823.
J. Charboneau-Lassay, El Bestiario de Cristo. El simbolismo animal en la Antiguidad y Edad Media, Jose J. De Olañera, editor, Barcelona, 1997.

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