«os prisioneiros, longe de se renderem diante do que se lhes faz, conservam um ar alegre nos dois ou três meses que estão em poder do inimigo; incitam seus donos a apressar-lhes a morte; desafiam-nos, injuriam-nos, lançam-lhes em rosto a sua covardia e o número de batalhas por eles perdidas contra os seus. Conservo uma canção feita por um desses prisioneiros, onde se encontra este lance: “Que venham todos quanto antes, e se reúnam a comer minha carne, porque comerão ao mesmo tempo a de seus pais e avós, que outrora alimentaram e nutriram meu corpo. Estes músculos, diz ele, esta carne e estas veias são as vossas, pobres loucos; não reconheceis que a substância dos membros dos vossos antepassados ainda está em mim’? Saboreai-os bem, que achareis o gosto da vossa própria carne.»

Montaigne, Dos canibais


«Aqueles que escandalizam as crianças merecem que lhes coloquem uma pedra de moinho no pescoço e os lancem no mar». Papa, citando evangelho de Mateus.

Por alguma razão apenas os selvagens e a Igreja são capazes de assumir erros colectivos e pedir perdão por eles.
Os outros, negam; ou dizem que a culpa é do sistema.

Enfermeira vai a tribunal por se recusar a tirar fio com crucifixo

  • "Everyone I have ever worked with has clearly known I am a Christian: it is what motivates me to care for others."

Dizem que é por causa da liberdade de pensamento e consciência




É contra a indole destruidora dos homens de hoje que a razão e a consciencia nos forçam a erguer a voz e a chamar, como o antigo eremita, todos os animos capazes de nobre esforço para nova cruzada. Ergueremos um brado a favor dos monumentos da historia, da arte, da gloria nacional, que todos os dias vemos desabar em ruinas. Esses que julgam progresso apagar ou transfigurar os vestigios venerandos da antiguidade que sorriam das nossas crenças supersticiosas; nós sorriremos tambem, mas de lastima, e as gerações mais illustradas que hão de vir decidirão qual destes sorrisos significava a ignorancia e a barbaridade, e se não existe uma superstição do presente como ha a superstição do passado.

A mais recente quadra de destruição para os monumentos, tanto artisticos como historicos, de Portugal, póde dividir-se em duas epochas bem distinctas. Acabou uma: a outra é aquella em que vivemos.
(…)
A decadencia, porém, na epocha em que vivêmos é outra, e mais profunda. Já não ha a corrupção do gosto, o inapplicavel das theorias, o erro do entendimento. Agora é o instincto barbaro, a malevolencia selvagem, a philosophia da brutalidade. Dura ha poucos annos; mas esses poucos annos darão maior numero de paginas negras á historia da arte do que lhe deu seculo e meio. O picão e o camartello só ha bem pouco tempo que podem dizer-triumphámos. Até então escaliçavam-se paredes, roçavam-se esculpturas, faziam-se embréchados; mas agora derribam-se curuchéus, partem-se columnas, derrocam-se muralhas, quebram-se lousas de sepulturas, e vão-se apagando todas as provas da historia. Faz-se o palimpsesto do passado. Corre despeiado o vandalismo de um a outro extremo do reino, desbaratando e assolando tudo. Comico perfeito, desempenha todos os papeis, veste todos os trajos. Aqui é vereador, alli administrador de concelho: ora é ministro, logo deputado: hoje é escriptor, ámanhan funccionario. Corre na carruagem do fidalgo, faz assentos de debito e credito no escriptorio do mercador, dá syllabadas em latim de missaes, préga nos botequins sermões d'economia politica e do direito publico, capitaneia soldados, vende bens nacionaes, ensina sciencias; em summa, é tudo e mora por toda a parte. Attento ao menor murmurio dos tempos que foram, indignado pela mais fugitiva lembrança das gerações extinctas, irrita-se com tudo que possa significar uma recordação. Assim excitado, argumenta, ora, esbraveja, esfalfa-se. O eretismo dos nervos só póde affrouxar-lho, como as harmonias melancholicas de harpa eolia, o ruido de algum monumento que desabe.

Alexandre Herculano, Monumentos Pátrios, 1838

Petição Pela Preservação da Vila Ana e da Vila Ventura

CYDONIAN spring with her attendant train,
Maelids and water-girls,
Stepping beneaht a boisterous wind from Thrace,
Troughout this sylvan place
Spreads the bright tips,
And every vine-stock is
Clad in new brilliancies
And wild desire
Falls like black lightning.
O bewildered heart,
Though every branch have back what last year
Lost,
She, who moved here amid the cyclamen,
Moves only now a clinging tenuous ghost.

Ezra Pound, Lustra





Há falta de melhor, lá vamos fabricando os mártires e heróis, à escala da nacinha*.

Este que se manifestou numa caixa de comentários merece, no mínimo, uma estátua equestre no Martim Moniz.

Arriscando o couro e o emprego vitalício, teve o sangue frio e a coragem de enfrentar uma sala de donas-de-casa, para atacar logo três actas, à vez.

Lido numa caixinha de comentários a propósito da novela mexicana do prof. que se atirou da ponte.

Helena,
Agradeço, em meu nome pessoal e em nome de todos aqueles que têm a coragem de dizer e escrever em actas e relatórios a verdade dos factos, mesmo que isso venha a resultar na perda do seu trabalho e do seu salário a curto prazo.
No meu caso já aconteceu por 3 vezes.
Criou dificuldades na minha vida? Criou. Tive medo pelo futuro? Tive. Foi difícil? Foi.

Nota: só não leva link porque os grandes heróis da História são sempre anónimos humildes.

* neologismo da autoria do Dragão

Andamos sem tempo para cocanhices mas, ainda sim, fica o aviso que um dia destes aparecem por aí espinários que se tornam meninos onanistas e uns maluquinhos do Swift e do Hogarth.



Até lá resta este príncipe com alergia a antecipar a Primavera.
Também perdemos o tino de onde foi encontrado mas, em sendo reencontrado, fornece-se a informação.


Até já e boas espirradelas que o riso paschalis também está à porta.
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Acrescento (18-04): Já demos com o site. Veio do fabuloso The Visual Telling of Stories



Um clássico é sempre um clássico. Mesmo num tratado do século XIX, dedicado ao estudo anatómico do género humano, não há negro nem orangotango que chegue aos pés de um Apolo do Belvedere ou de uma Vénus de Praxíteles.







J.B.Racine, Duhamel, grav. ; J.J. Virey, autor do texte, Illustrations de Histoire naturelle du genre humain, 1801 (ilustrador:Julien Joseph Duhamel, bnf.fr


Para intervalar.











{reposição com ligeira actualização à "conjuntura" presente}

Para que não se pense que a primeira-dama americana a coser as meias do presidente foi ultrapassada pela Sarah Palin, matadora de ursos aleutas; ou que a "gramática socialista" inventou agora as "governadoras por quota", aqui fica uma passagem do texto que a acompanha.

Foi publicado na Ilustração de Maio de 1926, pela pena de uma feminista da época- Helena de Aragão.

Depois de enunciar as diferenças significativas entre as mulheres da época e as do tempo das avozinhas de outrora, enaltecendo os mais variados ramos em que as mulheres se destacavam, justifica também o papel de fada-do-lar tão bem ilustrado pela cara-metade do trigésimo presidente americano:


“Mas ao seguirmos de perto o triunfo alcançado pelas mulheres de hoje, empenhadas em demonstrar que quando o ensejo ou a vocação surgem, dispõem realmente de largos recursos para vencer, assalta-nos o vago terror de a vermos desertar das suas funções naturais desdenhando a sua missão puramente feminina, abandonando por fim as ocupações do lar.
O perigo, porém, é na realidade menos grave do que se afigura ao primeiro exame. O sentimento da sua feminilidade por muito que ela se encontre em conflito com o meio onde as circunstâncias a conduzem, subsiste sempre no espírito e na consciência da mulher. Pode aturdir-se um instante entre o fragor das forjas, o bater dos ferros, o arfar dos motores, o sibilar dos ventos; mas lá surge o momento em que se lembra das rendas, do conforto do lar, do sorriso do homem amado, quiçá do carinho dos filhos. E ei-la nostálgica da vida simples, descuidosa, serena, da sua casa onde ela é e será sempre a soberana. Então, sem mesmo se aperceber de que obedece mais a uma necessidade instintiva, do que às exigências do equilíbrio doméstico, ela trocará alegremente a chave de tubos ou a chave de porcas pela agulha, e em vez de poisar as mãos delicadas no aro polido do volante, escondê-las-á com muito maior graça e propriedade, nas peúgas do marido, carecidas dos pontos que só ela sabe tecer, a exemplo do que faz a esposa do primeiro magistrado da América do Norte (...)”



- E tinha toda a razão. Realmente, com esta febre do sucesso e do estrelato, anda para aí muita dama que já nem mãozinhas tem para as porcas, quanto mais para as peúgas do marido.

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foto:"com a mão na porca"- M.elle Andrée Peyre afinando o motor do seu aero, companheiro dilecto de aventuras e perigos
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A melhor comemoração do dia pertence ao João Miranda .



A ciganada, de tenda montada na blogolândia, já põe a render os talentos de coscuvilhice.

Por muito cretinos que sejam esses bloggers denunciados e devassados nos jornais, e jumento este que assim assina, a devassa do ornitorinco tresmalhado é acto de bufaria travestida de porteira.

A ler, no portadaloja