venham todos ver! O homem não seja Cristo, o Messias prometido que adivinhou todo o meu tempo passado!
Auto da muito dolorosa payxaõ de Nosso Senhor Jesus Christo, conforme a escrevem os quatro evangelistas
EGRADMENT li antichi cavaler romanj
davano fed a quisti annutii
And he put us under the chiefs,
and the chiefs went back to their squadrons:
Bernardo Reggio, Nic Benzo, Giovan Nestorno,
Paulo Viterbo, Buardino of Brescia,
Cetho Brandolino,
And Simone Malespina, Petracco Saint Archangelo,
Rioberto da Canossa,
And for the tenth Agniolo da Roma
And that gay bird Piero della Bella,
And to the eleventh Roberto,
And the papishes were three thousand on horses,
dilly cavalli tre milia,
And a thousand on foot,
And the Lord Sigismundo had but mille tre cento cavalli
And hardly 5oo fanti (and one spingard),
And we beat the papishes and fought
them back through the tents
And he came up to the dyke again
And fought through the dyke-gate
And it went on from dawn to sunset
And we broke them and took their baggage
and mille cinquecento cavalli
E li homini di Messire Sigismundo
non furono che mille trecento
Ezra Pound, The Cantos, “canto XI”
«(...)É claro que, na altura, estes exageros não passavam por extravagâncias, reflectiam a opinião do tempo. Não havia nada gratuito ou inocente nisso, pelo contrário… A seguir à promulgação das leis sobre a escolaridade obrigatória, os livros escolares endoutrinavam as crianças desde tenra idade.
Sem hesitações e sem medo do ridículo, os manuais de história acusavam a igreja medieval de ter feito tudo para manter os homens num estado tal de ignorância; todos eles diziam que, para o clero, a «difusão dos livros era o triunfo do diabo», ou que «a ignorância era premiada, na Idade Média». Ao lê-los, impunha-se a ideia de que a Igreja «reservara ciosamente para os seus monges, no mistério dos claustros, partículas de ciência que tinha o cuidado de não comunicar ao grande público».
Esses responsáveis pelo ensino, empenhados em moldar espíritos, seguiam de muito perto os seus mestres, sobretudo Michelet, que intitulava os capítulos da sua Histoire de France consagrados à Igreja: «Da criação de um povo de alienados», ou ainda «A proscrição da natureza.
E ainda hoje continuamos, em larga medida, a aderir a este descrédito. Alguns até diriam certamente que, até Jules Ferry, nada se fizera pela instrução do povo! Em todo o caso, truísmo e constantemente recordado, nos tempos «medievais» (porque não
«medievalescos»?, nenhuma escola nem nas aldeias nem nos bairros das cidades, a não ser para uns poucos de privilegiados… imediatamente destinados às carreiras eclesiásticas. Ora eis-nos no erro mais total, pois todo o tipo de documentos(arquivos contabilísticos dos municípios e arquivos judiciários, registos fiscais) atestam amplamente a existência, em diferentes países, de mestres-escola de profissão, devidamente encartados e remunerados, para além do prior e dos seus assessores. Em Paris, em 1380, Guillaume de Salvadille, professor de teologia do colégio dos Dezoito, chefe de «pequenas escolas» da cidade, reúne os directores dessas escolas, em que se ensinava às crianças a leitura, a escrita, o cálculo e o catecismo; apresentavam-se vinte e duas «mestras» e quarenta e um «mestres», todos não clérigos, entre os quais dois bacharéis em direito e sete mestres das artes»
Citado por J. Guiraud, Histoire partielle, Histoire vraie, t. I, Paris, 1912, p. 58
—quanto a MICHELET, Histoire de France VII, 27 e 36.
Jaques Heers, A Idade Média, uma impostura, Porto, Edições Asa, 1994
ai Gioacchino, Gioacchino...
Lido, algures, na blogopolis*
*O termo Blogopolis- por semelhança com a famosa Patópolis, é invenção do Dragão .«Portugal viveu mais de 700 anos em Ditadura»
«The days were often so scorching and the nights so cold that at last he was allowed to have a pup tent for shelter inside the cage»
Humphrey Carpenter, A Serious Character: The Life of Ezra Pound.
Canto XXX
COMPLEYNT, compleynt I hearde upon a day,
Artemis singing, Artemis, Artemis
Agaynst Pity lifted her wail:
Pity causeth the forests to fail,
Pity slayeth my nymphs,
Pity spareth so many an evil thing.
Pity befouleth April,
Pity is the root and the spring.
Now if no fayre creature followeth me
It is on account of Pity,
It is on account that Pity forbideth them slaye.
All things are made foul in this season,
This is the reason, none may seek purity
Having for foulnesse pity
And things growne awry;
No more do my shaftes fly
To slay. Nothing is now clean slayne
But rotteth away.
In Paphos, on a day
I also heard:
... goeth not with young Mars to playe
But she hath pity on a doddering fool,
She tendeth his fyre,
She keepeth his embers warm.
Time is the evil. Evil.
A day, and a day
Walked the young Pedro baffled,
a day and a day
Ma io m’accorsi che dal collo a ciascu pendea una tasca Ch’avea certo colore e certo segno e quindi par che’l loro occhio si pasca. | Mas apercebi-me de que todos levavam, pendurada ao pescoço, uma bolsa duma cor determinada e marcada com um sinal diferente da qual parecia que o seu olhar se alimentava |
Dante, A Divina Comédia, "Inferno", canto XI,v.109-111.
O mar e a tundra
O mundo de um Homem
Em torno do fogo
O mundo de uma Mulher
Kunstkamera- Peter The Great Museum, St.Petersburg
{Reeducando a populaça }
clicar na imagem
- «Os comunistas não devem desdenhar ou menosprezar as pessoas politicamente atrasadas, mas sim aproximarem-se delas, unirem-se a elas, convencê-las e encorajá-las a progredir.»
Mao Tse Tung, O papel do Partido Comunista Chinês na guerra nacional (Outubro de 1938, Obras Escolhidas, tomo II)*
*Gentileza dos arquivos do blogue morto do camarada Proletário Vermelho
ai Gioacchino, Gioacchino...
Pelo menos assim foi inicialmente, inclusive nos planos náuticos do Infante D. Henrique que também estava convencido da existência do tricentenário monarca, cuja fonte em terras do Nilo devia manter a eterna juventude, se não no corpo, pelo menos na lenda.
Em 1427 seguem navegadores com essa missão, procurando ao longo da costa africana todas as informações possíveis e impossíveis para darem conta desse magnífico reino cristão.
Quando Antão Gonçalves chegou à terra dos azegnegues, um escudeiro ofereceu-se para lá ficar durante seis meses a fim de se inteirar dos segredos, mas o sacrifício “etnográfico” de nada serviu.
Em 1445 é a vez de Diniz Dias aportar no Senegal, ficando de tal modo pasmado com o tamanho do rio que regressou ao reino com a boa-nova- era o Nilo- tinham chegado ao rio Nilo e, logo a seguir, a começar no mar Vermelho, virando mais à frente, havia de estar a Etiópia.
De tal modo foi este entusiasmo com as terras do prestes João em África, que em quarenta e oito um fidalgo dinamarquês, de nome Valarte, parte para o local com uma carta e boas recomendações do Infante navegador, a fim de o cativar para o serviço conjunto em prol da fé cristã.
O que se passou a seguir ao desembarque deve ter sido cena digna dos Monty Python da época. Valarte e o séquito português encontram-se em plena praia com os negros locais e o seu chefe, sacam da carta e põe-se ali a lê-la a plenos pulmões, enquanto a população se acotovelava para assistir ao feitiço.
Apesar de ninguém ter percebido nada do que se passava, ambas as partes esmeraram-se na etiqueta. Os negros, carregando cabras, cabritos, leite, mel, farinha, dentes de elefante e outros mimos e os nossos bravos, retribuindo-lhes com panos de cor e outras bugigangas idênticas, já que pelos dialectos, nem com mímica se entenderam.
Entretanto Boor, o chefe tribal, tomado pelo Prestes das Índias, desapareceu no nevoeiro. O bravo viking não se ficou e decidiu aventurar-se sozinho em sua busca. Mas, desta vez, os negros que o rodearam não pareciam estar novamente interessado em leituras mágicas e o valente do Valarte lá foi tomado, possivelmente para compensar a falta de vitelos ao jantar.
As buscas do soberano etíope continuaram e à custa delas veio o monopólio do sabão enriquino seguido das especiarias indianas que faltava, mais as negaças do prestes.
D. João II continuou a cismar nesta busca e pelo meio da missão de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva que redundou na morte Afonso de Paiva e na riqueza e boa vida de Pero da Covilhã na Etiópia, de onde nunca mais saiu, apesar da desfeita na lenda, ainda ocorreu outro episódio digno de nota.
João de Barros refere-o nas Décadas- quando João Afonso de Aveiro explorava o reino do Benim, persuadiu-se que os negros lhe tinham indicado o reino do Prestes João, de ali a vinte luas a andar a pé e lá partiram todos para o interior. Mais convencidos ficaram que tinham chegado ao mítico reino, quando um príncipe local lhes oferece um casco de latão e uma cruz reluzente.
O nosso embaixador em terras africanas encasquetou de tal modo que este príncipe Ogané era o mítico católico João, que não arredou pé. O mesmo não se pode dizer do africano autóctone, pois, ainda que nunca se deixasse ver, enquanto ia despachando serviço de Estado, atrás das cortinas, de vez em quando lá mostrava um pé, em sinal de que estava ali dentro e aceitava todas as ofertas que lhe depositavam à porta da cubata.
E ainda bem que o negro pezinho de escol se deu a ver. Porque o nosso Príncipe Perfeito, quando soube do caso, não hesitou – este e outros sinais, indicavam que o caminho para a índia se faria por via marítima pelo Sul da costa africana.
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Para o Prestes João, consultar Manuel João Ramos, Ensaios de Mitologia Cristã, Lisboa, Assírio e Alvim, 1997
La morte atomica... morremo de morte atómica protestando contra la societá
Si lo penso tanto tempo, morrermo de morte atómica
noi saremo le prime vittime dopo Hiroshima
........
Grazie
Espadachins, ciganas e marquesas de Pompadour são sempre mais frescos no original
Quand ils sont tout neufs,
qu'ils sortent de l'oeuf,
du cocon.
Tous les jeunes blancs becs
prennent les mecs
pour des cons.
Quand ils sont venus,
les têtes chenues,
les grisons.
Tous les vieux fourneaux
prennent les jeunots
pour des cons.
Moi qui balance entre deux âges
Je leur adresse à tous un message.
Le temps ne fait rien à l'affaire.
Quand on est con, on est con!
Qu'on ait 20 ans, qu'on soit grand père
Qu'on est con, on est con!
Entre vous plus de controverses,
Con caduques ou cons débutants.
Petits cons de la dernière averse
Vieux cons des neiges d'antan
Petits cons de la dernière averse
Vieux cons des neiges d'antan
Heinrich Cornelius Agrippa (1486-1535) De occulta philosophia
O Wedding-guest! this soul hath been
Alone on a wide wide sea:
So lonely “twas, that God himself
Scarce seemed there to be.
Coleridge
Tudo é deliberadamente falso, mas armadilhado de complicados rituais tecnológicos para parecer moderno e respeitável, apesar de inútil.
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Acrescento-15/11:
Fica aqui a crónica de Vasco Pulido Valente que saiu hoje no Público. Recomenda-se e enquadra bem o diagnóstico neste cenário.
Os professores
O que é um bom professor? Antes de responder, dois pontos, Primeiro, não há, ou só há por milagre, bons professores numa escola má.
Segundo, não há bons professores, sem alunos bons: mais precisamente sem alunos com o interesse e a determinação de estudar. Uma boa escola implica uma cultura específica, um espírito colectivo, fins de uma cristalina clareza e o respeito geral da comunidade. Um amontoado de professores (por muito qualificados que sejam) e um amontoado de alunos, que se limitam a cumprir contrariadamente uma formalidade obrigatória, perante a indiferença da comunidade, não passam de um ersatz da verdadeira coisa. O sistema de ensino em Portugal é em grande parte um ersatz, em que a “avaliação” de professores não faz qualquer espécie de sentido e vai inevitavelmente resvalar para a injustiça e o abuso.
Dito isto, um bom professor, como sabe qualquer pessoa educada (hoje uma raridade zoológica), é o professor capaz de transmitir a paixão de aprender. Não é o professor “popular” ou o que “explica bem”. E não é, com certeza, o professor “dinâmico” que “melhora as notas” e diminui as “taxas de abandono”, com que a sra. ministra sonha. A elevadíssima ambição de apresentar à “Europa” e ao governo “estatísticas” menos miseráveis nunca serviu de critério pedagógico. Mas basta olhar o modelo oficial das “provas” de “avaliação” para se perceber que serve agora de único critério pedagógico.
Manifestamente a sra. ministra decidiu pôr os professores a trabalhar para os números. Para os números dela.
Não vale a pena examinar a “avaliação” que se prepara. Da desordem disciplinar ao vexame de um “polícia” na aula; da vigilância dos “faltosos” (completamente inútil) a actividades extracurriculares (que ninguém pediu e de que ninguém gosta); da “meta” dos “resultados” (que nada significa e é falsificável) à obrigação grotesca de estabelecer, para cada “objectivo” burocrático, um “objectivo estratégico”, um “objectivo táctico” e um “objectivo operacional” — a insensatez não pára, E provavelmente não irá parar. A sra. ministra não é deste mundo. E ouve vozes.
Perante a balbúrdia e os protestos, que provocou, continua convencida da sua razão. Quanto ao governo e ao PS já descobriram o culpado — como de costume, o PC— e também querem “estatísticas” que não envergonhem a Pátria. O ensino não conta.
Pedro Arroja no PC
Marinus Boezem, Catedral Verde
9 September 1996,Cultureel supplement.
Os frescos de uma pequena capela dedicada a Santa Maria dos Campos, à saída de Londiona, em Novara, na região do Piemonte, incluem uma misteriosa imagem feminina que tem gerado diversas interpretações. Entre uma representação de S. Bernardino de Assis e de Santo Antão, a jovem mulher, de cabelos repuxados em forma de meia lua, túnica caída e seios à mostra, amamenta uma criança.
Foi colocada na net, num curioso álbum de fotografias e têm-lhe sido alvitradas pertinentes interpretações. Desde uma variação da Virgem como Via Lactea, numa apropriação do mito do Juno e Hércules, até outras hipóteses mais pagãs, associadas aos cultos da fertilidade ou mesmo como uma variação das tentações do deserto a que Santo Antão foi sujeito.
Pois bem, o facto da intrigante lactante se encontrar ao lado de santo patrono dos eremitas - ele próprio nascido no Egipto e sujeito às tentações do demo no deserto, e o mesmo tipo de túnica bizantina que a figura feminina usa, tudo indica que se trata de uma santa dos cultos ortodoxos- neste caso Teodora de Alexandria, que viveu no século V da era de Cristo, festejada na Igreja Ortodoxa no dia 11 de Setembro.
Na Lenda Dourada de Jacques de Voragine, conta-se a vida desta dama de alta estirpe que acaba por ter uma vida de provações e tentações carnais. Primeiro foi o demónio que a levou ao adultério. Para penar esta traição esponsal, corta o cabelo, veste as calças do marido e foge entra num ermo convento masculino como um belo Theodorus. Até ao dia em que uma moça se apaixona por ela e assedia no campo, a tal ponto que a bela Teordora teve de a repudiar.
A desdenhosa moça não perdoou a rejeição e vingou-se, seduzindo fisicamente outro viajante. Este, por acaso, era bem homem e o resultado foi nascer bebé deste ressabiamento.
Teodoro foi acusada de ser o pai e expulsa do convento. Levou com ela a criança a quem alimentou com os seus seios. E deve ser esta a passagem que se descreve na iconografia, no meio dos santos eremitas.
Durante sete anos Teodora penou no ermo com o filho, atazanada por mil tentações demoníacas, até que voltar a ser admitida no convento, juntamente com o filho. À hora da morte deu-se o milagre- o abade teve uma visão acerca da injustiça para com o falso monge Teodoro, descobrindo-se depois de morto que afinal era uma mulher. Avisado o marido de Teodora acaba por morrer junto com ela. O filho destas falsas traições e castidades punitiva acabou por se tornar abado do convento, a partir do qual o culto de Santa Teodora se difundiu.
A particularidade de aparecer nos belos frescos da modesta capela do Piemonte, pode também ligar-se à Virgem dos Campos- da virgem lactante- a cujo culto foi erigida a própria capela italiana - Santa Maria dos Campos- numa assimilação da freira Teodora das instigações da carne, que dos ermos lugares do Oriente fez frutificar o corpo em prol do espírito.
......................
Acrescento:
Esta hipótese de se tratar de Teodora de Alexandria é isso mesmo, apenas uma hipótese, tendo em conta a informação que o santo que está a seu lado será Santo Antão. Mas pode tratar-se de S. Roque (tudo depende do tipo de bastão que tem na mão), faltando-nos as imagens para o confirmar.
I believe the way out of this is a close co-operation between these two groups of professionals: life scientists and philosophical ethicists. When I need to know something about biology I ask a biologist or read their books. When a biologist needs to know something about ethics he or she should ask a philosopher or read our books.
Desidério Murcho
Plutarco citava a fábula da raposa e da cegonha como exemplo da necessidade das ideias serem facilmente entendidas, sob pena de deixarem de ser factos com importância para a vida em sociedade. O filósofo chamava-lhe disputas entediantes, entre bebedores e recitadores de canções frívolas
A raposa ofereceu à cegonha a sopa derramada num prato, de tal modo que o bico desta nada conseguia deglutir. Em resposta, esta provou-lhe a sua perícia, oferecendo-lho o repasto em vasilha por onde apenas entrava o seu bico.
Na Idade Média recuperou-se o tema como alegoria da vaidade dos que embrulham o pensamento em querelas pela Verdade que a Deus pertence, já que a prática do Bem a todos é facultada de modo simples.
Para estes, em vez de chamarem os atiradores furtivos, ainda lhes enfiam na carteira o nosso e oferecem bónus milionários na véspera
A propósito da problemática testamentária do Deuteronómio fracturado da Câncio, dei com este comentário que lhe faz a síntese perfeita:
- Nov 2nd, 2008 at 23:48 imbecil dixit:
«Eu não sei é porque não hei-de interpetrar a Biblia , ou seja o que fôr , como me der na real gana. E passo a explicar : não foi a Biblia feita por homenzinhos iguaizinhos a mim? ainda por cima nascidos antes da era industrial…
Quando terríveis acontecimentos assolavam as cidades, os presságios devoravam os sudários dos mortos e lançavam gritos agudos como os porcos quando comem*.
*Christian Friedrich Germann (1640-1708), De Miraculis Mortuorum, Leipzig, Kirchner, 1670.
- Rirei para que se riam de mim
«(...)Je pourrais m'écrier alors avec le Prophète : « Après avoir été exalté, j'ai été humilié et rempli de confusion (Psalm. LXXXVII, 16); » ou bien: « Je danserai afin de paraître plus vil encore (II Reg., VI, 22). » Oui, pour faire rire de moi, je me laisserai aller à une sorte d'extravagance, mais à de bonnes extravagances qui charment les regards de Dieu si elles blessent ceux de Michel; qui peuvent me rendre ridicule aux yeux des hommes, mais qui sont pour les anges le plus charmant spectacle. Oui, je le répète, ce sont d'excellentes folies que celles qui nous exposent à la risée des riches et au mépris des superbes; mais ce sont de véritables extravagances pour les gens du monde qui nous voient dédaigner ce qu'ils recherchent avec ardeur, et désirer au contraire de toutes nos forces ce qu'ils évitent avec le plus grand soin; nous leur faisons l'effet de ces baladins et de ces bateleurs qui attirent sur eut les regards de la foule quand on les voit, contre les lois de la nature humaine, se tenir debout et marcher la tète en' bas et les pieds en l'air; seulement nos extravagances à nous n'ont rien de puéril, rien qui rappelle ce qu'on voit sur le théâtre, où des gestes efféminés et corrompus réveillent les passions et représentent des choses honteuses; elles sont charmantes, honnêtes, graves, belles et capables de flatter les regards mêmes des esprits célestes qui les contemplent. C'étaient là les pures et saintes extravagances de celui qui disait: « Nous sommes en spectacle aux anges et aux hommes (I Cor., IV, 9).» Puissent-elles être les nôtres, afin que nous soyons exposés dans le monde à la risée, aux moqueries et aux humiliations de tous, jusqu'à ce que celui qui brise les grands et exalte les humbles vienne pour nous inonder de joie et de gloire et pour nous exalter à jamais.»
São Bernardo (LETTRE LXXXVII. AU CHANOINE RÉGULIER OGER)
O restante folclore pedagógico que ela também é obrigada a cumprir, vai ser avaliado por um colega de Geografia, porque de Filosofia não havia nenhum com tarimba disponível.
«Era um não querer ser o que era mas que tinha de o ser contra-vontade»
À falta das novelas da Câncio no DN- com aqueles testemunhos das católicas suas amigas que até podiam ser boas pessoas, caso não usassem óculos escuros quando ajudam as criadas a abortar, temos o CAA no Correio da Manhã.
Trata-se de mais um caso da longa série das memórias de juventude, próximo de outras intervenções desastradas em que acaba sempre por ser mal-agredecido.
Recordo-me daquele em que também benemeritamente contribuiu na vaquinha da interrupção da namorada do amigo, mas que acabou por dar em desmancho de casório, em vez do efeito medicinal pretendido.
Desta vez, O CAA aproveita o caso da morte do Haider, para se redimir publicamente, por outro pecado rocambolesco em que se viu envolvido.
Tal como a namorada católica do caso da vaquinha, este também se passou com um amigo de juventude que, por sinal, era igualmente católico e gay renitente sem querer.
Mas, como tudo o que tem de ser tem muita força, um dia não resistiu.
Deixando o público suspenso, à espera do detalhes mais escabrosos, garante-nos já, neste primeiro capítulo, que apesar do sofrimento interior que dele transbordava o ter impressionado, o atormentado amigo católico acabou por baixar e rezar.
Rainhas, princesas, santas e pecadoras até uma papisa, barbadinhas mas muito meninas houve-as para todos os gostos... Uma das mais célebres foi rainha e falsa barbada. Chamava-se Hatsepsut, era bonita e carismática, viveu no Antigo Egipto, 15 séculos antes da nossa era. Sucedeu no trono como filha predilecta em detrimento de dois irmãos varões e um meio-irmão.
Num clima conflituoso, para se impor perante os súbditos, decidiu vestir-se como um homem, acrescentando umas barbas postiças para tornar mais credível a postura a chefia de estado. E assim reinou, barbada e suserana por 20 anos, ao longo dos quais evitou revoltas por meio de inteligente propaganda, dirigiu uma expedição ao Ponto em busca de ouro, especiarias, marfim, caça a animais e árvores aromáticas.
Desconhece-se o motivo, mas o certo é que ficaram gravadas em hieróglifos relatos desta empresa, acompanhados de desenhos satíricos à rainha rival, apresentada como uma megera marreca e nariguda. Um perfeito KO de feminilidade em que as barbas saem inquestionavelmente em triunfo.
Considerava-se de origem divina, deixou um dos mais magníficos templos no Vale dos Reis e ainda aguentou em vida um feroz braço de ferro com a sua madrasta.
Diz-se que pior o pior inimigo de uma mulher é outra mulher e neste caso nem as barbas evitaram a inveja feminina. Parece que as intrigas da madrasta tiveram efeito no enteado que se preparava para reinar. Morreu envenenada pelo sucessor que tudo fez para apagar a sua memória: a sepultura foi profanada; a múmia da barbadinha egípcia desapareceu para sempre, mas a lenda ficou e nem a Bíblia a esqueceu.
Wilgeforte
Outra barbadinha por decisão própria. Neste caso as barbas cresceram-se por milagre. Wilgeforte, também conhecida por Santa Librada no país vizinho ou Liberata em França, numa das versões mais correntes da lenda, teria sido uma princesinha portuguesa, muito casta e de grande personalidade.
Contra os intentos do pai, que a queria ver casada com um príncipe pagão, a menina, que era uma devota cristã, rogou a Deus que lhe fizesse crescer umas grandes barbas em troca dos prazeres esponsais.
Deus acudiu à casta prece e fez-lhe crescer tamanhas barbichas que demoveram todo e qualquer intuito por mais viril e pagão que fosse.
O pai, enraivecido com tamanha desobediência, manda crucificar a filha que assim se torna mais uma mártir lendária.
A lenda tem raízes noutros mitos andróginos um dos quais derivado de uma interpretação errónea do “Volto Santo” de Lucca. Nesse crucifixo que existia na basílica de Lucca, Cristo aparecia coroado na cruz e vestido com uma túnica, tornando-se uma imagem muito adorada pelos romeiros. Com o curso do tempo houve uma série de fusões lendárias, acabando por se transformar numa imagem de mulher mártir, padroeira dos peregrinos.
Em virtude do carácter de auto-privação dos prazeres, o mito da Wilgeforte é clinicamente associado à anorexia.
Imaginamos que tendo em conta a suspeita ira paterna, talvez não fosse de todo descabido se viesse a tornar-se um ícone semelhante a uma Laura Palmer barbada.
De qualquer forma, João César Monteiro também a imortalizou no Vai e Vem - como mais uma das candidatas a mulher a dias de Vuvu - a apetitosa Urraca, de barbichas tamanhas que como ele dizia, talvez dessem para fazer uma trança...
“se a menina fosse sáfica fazia-se um trança bem enteiriçada, dava-se meia volta e juntava-se na passarinha...”
Papisa Joana
A lenda foi posta a correr no século XIII, mas a dita papisa teria ocupado usurpado o trono pontifício no século IX, sucedendo a Leão IV com o nome de João VIII. Segundo uma crónica dominicana, era uma jovem e bela rapariga, nascida em Mogúncia, na Alemanha, também esta de nariz muito empinado, que um belo dia decidiu disfarçar-se de homem para viver mais livremente com o seu amante.
Tomou o nome de João de Inglaterra (Johannes Anglius) e seguiu um autêntico percurso de intelectual libertária. Vai para Atenas onde desenvolve os estudos, segue depois para Roma onde leccionou o trivium numa escola frequentada por mestres de renome.
Adquiriu tal reputação intelectual que acabou por ser eleita como Papa, ocupando o mais alto cargo da Igreja durante dois anos. Se o dever pontifício foi bem cumprido, parece que enquanto mulher também não se esqueceu outras actividades mais profanas— ao fim de dois anos de coroa papal, deu à luz uma criança.
A partir daqui as lendas dividem-se. Segunda uns, morreu de parto quando ia a cavalo numa procissão em direcção à Basílica de S. Pedro de Latrão.
Noutras versões, o parto traiu-a e acabou amarrada à cauda de um cavalo e apedrejada publicamente até à morte. Nas imagens alusivas este triste final não é adoptado, preferindo mostrar-se um bizarro parto papal perante a Cúria Romana em peso.
Dizem as más-línguas que a Santa Sé é que pôs as barbas de molho e até se inventou uma bizarra cadeira com o acento furado— o estercorário— para, daí para a frente, se verificar o sexo do santo pontífice, não fosse o diabo, ou outra barbadinhas tecê-las.
Magdalena Ventura
Filhas do povo, personagens anónimas, alguma delas convertidas em monstros de feira, por muitas outras barbadas não reza a história. Uma há que foi imortalizada por dois famosos pintores.
A estranha napolitana Magdalena Ventura, casada e mãe de uma criança, apresentada como um caso milagroso de parada de horrores.
Em 1631 José de Ribera pintou-a em família, acentuando o carácter bizarro e triste e funesto destes personagens.
Goya que conheceu o quadro e sempre tivera dom para mostrar que monstros são os outros, desenhou-a cândida e alegre com o filho ao colo, deliciado com a possibilidade de brincar com as barbinhas da mãe. Só faltava que esta entoasse a velha cantilena:
“ palminhas e mais palminhas,
que a mamã dará maminhas,
e o papá quando vier
dará sopinhas de mel.”
Para última, uma barbadinha progressista do início do século:
Madame Delait
Nascida em Thaon, era uma mulher moderna e emancipada que não hesitou em aderir ao clube das ciclistas da região- antecipando uma versão mais pilosa da cançoneta: eu cá para mim não há, ai não, maior prazer que o selim e a mulher...
Pode dizer-se que também nunca lhe faltou barba para o negócio, aumentando as vendas da cafetaria que possuía, à custa de postais ilustrados da sua própria deformidade. À custa dos excessos peludos ainda atingiu a fama internacional, ganhando mesmo o prémio da Francesinha Barbada, disputado no hipódromo de Vichy.
É claro que actualmente estas barbadinhas não precisam de ser mulheres nem terem barbas, e vice versa- eles também podem ser elas, barbas e sexo à parte.
É que essa é uma historieta doutrinária em que a pedagogia antecipa o aparecimento de qualquer pilosidade nos meninos e meninas. E nunca se lhe poderia chamar um fenómeno monstruoso ou marginal- afinal de contas até a agenda missionária europeia recomenda o treino nas escolas, em nome da Igualdade de Oportunidades para todos.