O veado é inimigo das cobras como Cristo do Demo. Quando um veado dá com um buraco onde se esconde uma cobra, atira-lhe com água, lança-lhe o bafo mortífero para dentro, obrigando o réptil a sair do covil e depois mata-o.
Quando o veado macho está velho, engole a serpente venenosa. De seguida procura um riacho, onde bebe a água que o vai revivificar, fazendo-o rejuvenescer, largando a velha armação das hastes.
Ilustração The Queen Mary Psalter, de acordo com Bestiário Divino de Guilherme de Clerc
O veado é inimigo das cobras como Cristo do Demo. Quando um veado dá com um buraco onde se esconde uma cobra, atira-lhe com água, lança-lhe o bafo mortífero para dentro, obrigando o réptil a sair do covil e depois mata-o.
Quando o veado macho está velho, engole a serpente venenosa. De seguida procura um riacho, onde bebe a água que o vai revivificar, fazendo-o rejuvenescer, largando a velha armação dos cornos.
A lenda prende-se com os cultos dos ciclos de renovação da natureza e da floresta- próxima do Cernunnos celta e na versão cristianizada o poder do veado é associado a Cristo e à fonte da vida. Os que bebem dela, tal como o veado, limpam-se dos pecados.
«Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!»
Sl 42.1-2.
A alegoria moral dos veados que se entreajudam a atravessar o rio é comparada à ajuda que os cristãos prestam ao indicarem os triunfos terrenos em direcção à bem-aventurança celeste.
Na sala dos Brasões, do Palácio de Sintra, D. Manuel mandou pintar a alegoria. Em torno do escudo régio- do qual ele era o centro, rodam setenta e dois brasões de armas das casas dos mais importantes pares que se esforçavam na vassalagem. O número é alegórico- corresponde aos setenta e dois servidores de Cristo.
«Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir (...)Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos».
Lc 10,1–20
Cada caixilho é acompanhado por um veado que, curiosamente, é envolvido por filactérias no que poderia ser uma aproximação à versão da lenda transmitida por Plínio. Segundo esta, Alexandre o Grande, querendo comprovar a longevidade dos veados, promoveu uma caçada para que os animais fossem cobertos por laços de ouro. Passado um século os laços dourados foram encontrados, cobertos com a gordura dos animais.
Se D. Manuel queria evocar o memorial dos a longevidade dos feitos dos seus servidores, a sua equiparação a Alexandre resultaria à medida. A verdade é que nas paredes da sala dos brasões a legenda que mandou escrever completa-lhe a equiparação dos préstimos à causa do reino- “POIS COM ESFORÇOS, LEAIS SERVIÇOS, FORAM GANHADAS, COM ESTAS E OUTRAS TAIS DEVEM SER CONSERVADAS.” As batalhas travadas pelo domínio terreno também são aproximações dos triunfos ao serviço da missão cristã.
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Nota:
Este texto é especulação, mas é minha e do arquitecto Pedro Cid. Portanto, quem o quiser usar, é favor de citar a Zazie do Cocanha e a ele em nota de rodapé.
(o musaranho garante que nunca se lembrou de tal coisa).
Se for em artigo de opinião do Público, podem sempre usar a fórmula do Rui Tavares: "como disse o blogger Ivan Nunes..."substituindo o Ivan Nunes pela Zazie no metro e mais o arquitecto Pedro Cid. Sem esquecer de explicitar que este último não tem currículo académico na qualidade de blogger.