A maternidade que elas partilham não é uma absurda primazia da abstracção biológica.
Entende-se; já dizia a outra que a Natureza também não tem rigorosamente nada que ver com o casamento.

Ninguém se admire, que já faltou mais para a geração dos filhos do aspirador.






funciona mais ou menos da seguinte forma:
Se não bateres mais na avó dou-te uma consola Nintendo

Numa caixinha do In Verbis



Piramidal, funesta, de la tierra
nacida sombra, al Cielo encaminaba
de vanos obeliscos punta altiva,
escalar pretendiendo las Estrellas;
si bien sus luces bellas
--exentas siempre, siempre rutilantes--
la tenebrosa guerra
que con negros vapores le intimaba
la pavorosa sombra fugitiva
burlaban tan distantes (…)

Sor Juana Inés de la Cruz (México- 1651-1895)







The Dreaming life of Leonora de la Cruz





Max Ernst, La Femme 100 têtes, 1929



Selena Kimball, The Dreaming life of Leonora de la Cruz, 2004









A quarta é da ERC e garante que também está inocente.









[macaquinhas vindas daqui ]





Ésa, que alegra y ufana
de carmín fragante esmero,
del tiempo al ardor primero,
se encendió llama de grama;
preludio de la mañana
del rosicler más ufano
es primicia del verano,
Lisi divina, que en fe
de que la debió a tu pie
la sacrifica tu mano

Sor Juana Inés de la Cruz

«No hay otra cosa sino letrados, porque unos lo son por oficio, otros por presunción, otros por estudio, y de éstos son pocos. Otros (y éstos son los más) son letrados porque tratan con otros más ignorantes que ellos (en esta materia hablaré como apasionado). Y todos se gradúan de doctores y bachilleres, licenciados y maestros, más por los mentecatos con quien tratan que por las universidades»

Quevedo, Sueños.





























Chapman Brothers, Caprichos



«Fue condenado un abogado porque tenía todos los derechos con corcovas»

  • Quevedo, Sueños, “Sueño del Juicio”, 1627

    Dinos and Jake Chapman












    Dinos and Jake Chapman

  • Lido numa caixinha de comentários:

    «Os bancos, assim como os escritórios de advogados, fazem o seu papel, que é fazer lobby e tratar dos seus interesses»

    Óh Céus,
    Por amor da Igreja
    Os pobres choram
    E é natural
    Pois aquilo que os pobres perdem
    Com o desaparecimento dos mosteiros
    È bem claro
    Não há língua que o não possa dizer.
    Neles, encontravam
    A cerveja e o pão
    Nos tempos de necessidade,
    E consolação
    Na desolação
    Nas provas e nas inquietações
    Todos os aguentavam
    Os nossos actos e os nossos espíritos
    Nesse tempo, quando éramos privados do nosso próprio sustento,
    Encontrávamos bom acolhimento
    à porta dos monges
    sem rejeição nem diferenciação


    Balada inglesa dos tempos da Reforma, citado por D. Knowles, The Religious Orders in England, vol.III, "The Tudor Age", Cambridge, 1959, cfr. por John Saward, Folly for Christ's Sake in Catholic and Orthodox Spirituality, Oxford University Press, 1980.

    Como refere Sward, a espiritualidade puritana põe fim ao jogulator e à loucura e hilaritas dos santos vagabundos.

    A noção do servo arbítrio, do pecado da carne, não é compatível com a antiga alegria medieval. Os calvinistas entendiam-na como uma forma de degradação do espírito.

    Do mesmo modo que se fecham mosteiros que davam apoio e alimento aos pobres e abandonados, também a santidade dos loucos por Cristo vai ser substituída pelo mundo da ciência, do trabalho, da dignificação pelo dinheiro.

    No entanto, a espiritualidade moderna- protestante e católica, não consegue pôr fim ao riso; depois de guerras e perseguições, nos século XVI e XVII os místicos e loucos vagabundos vão ressurgir de dentro dos próprios grupos sociais oprimidos.





    E com o Matim Avillez, resultará?

    O Cocanha está com a MMG



    • Manuela Moura Guedes – “Acha bem dizer em praça pública que os advogados cometem crimes? (…) Está a enxovalhar a Ordem…”
    • Marinho Pinto – “O que está a fazer é manipulação!”
    • MMG – “Escreveu um artigo sobre o Freeport em que ataca a PJ…”
    • MP – “Porque utiliza o termo atacar e não criticar?”
    • MMG – “Foi visto como um frete político ao engenheiro Sócrates…”
    • MP – “Não me interessa. Não lhe devo nada, nem ele a mim. Deixe-me dizer-lhe uma coisa… Não pode dizer que faço fretes políticos. Olhe bem para mim nos olhos: nunca fiz fretes políticos!”
    • MP – “Estamos a criar uma sociedade de bufos…”
    • MMG – “Então o sr. é um bufo, ao vir para a praça pública denunciar advogados que cometem crimes?!”
    • MP – “Nós não varremos lixo para debaixo da mesa como fazem os jornalistas…”
    • MMG – “O sr. também não está a fazer muito pela sua classe…”
    .........................
    Acrescento depois de rever a primeira parte do vídeo:

    e com o Marinho também (já faltou menos para ler aquelas citações até ao fim)

    OS HESICASTAS

    No século VI da nossa era, Justiniano, Imperador de Bizâncio, fundou no Monte Sinai o Mosteiro de Santa Catarina. A abside da igreja principal foi decorada com um mosaico que representa a Transfiguração. Para os primeiros monges do convento, essa visão só concedida a três Apóstolos (Pedro, Tiago e João) e em que Cristo, no Monte Tabor, lhes apareceu ao lado de Elias e de Moisés, era a única manifestação da «luz de Deus», depois da Aparição de Jeová
    a Moisés, no Monte Sinai. Sintomaticamente, em toda a tradição da mística ortodoxa até ao século IV, a «luz dos séculos a vir» (essa luz que tornou as vestes de Cristo mais resplandecentes e brancas do que qualquer greda de terra, na descrição de Marcos, 9:2-8), surgida por antecipação no Sinai, manifestou-se plenamente no Tabor. Para atingir o êxtase dos Apóstolos em tal momento (êxtase tal que Jesus, quando desciam do Monte, lhes proibiu que contassem o que tinham visto fosse a quem fosse «até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos») essa luz foi a imagem mais procurada pelos monges do Oriente Cristão.
    Entre eles, avulta João, chamado Clímaco, Higómeno de Santa Catarina entre 580 e 650. O cognome veio-lhe da sua obra mais célebre: A Escada do Paraíso ( klimax é o nome grego para escada).


    Nesse livro, onde se reflectem influências muito mais antigas, como as de Macário o Egípcio e de Evagro Pôntico, desenvolve-se um complexíssimo sistema de espiritualidade monacal e estabelece-se uma radical diferença entre o hesicasta (de hésiquia=solidão) e o cenobita. «O hesicasta é aquele que aspira a circunscrever o Incorporal no seu corpo carnal. É o que vive sozinho com Deus. O cenobita precisa da ajuda dos irmãos. O hesicasta só pode ser auxiliado pelos anjos.» Por isso, «fechai a porta da vossa cela ao vosso corpo, a porta da vossa boca às vossas palavras, a porta interior aos espíritos.
    Mais vale um pobre obediente do que um hesicasta distraído. A solidão é um culto e um serviço ininterrupto a Deus. Seja a vossa respiração ("sopro") tão una como a memória de Jesus. Percebereis, então, a necessidade da solidão.»


    A oração de Jesus está, pois, no centro de toda a espiritualidade hesicástica. O Nome do Verbo Encarnado confunde-se com as funções essenciais à vida: está presente no «coração», está ligado à «respiração». Mas João, o Clímaco, como todos os grandes doutores da «oração ininterrupta», avisa contra as possíveis confusões entre «a memória de Jesus» e os efeitos que a imaginação pode produzir na alma dos monges. Nunca essa «memória» deve tomar a forma de «meditação» sobre tal ou tal episódio da vida de Cristo, nunca o noviço deve representar uma imagem exterior a si próprio. Só assim, «a visão luminosa» pode deixar de ser entendida como símbolo ou como consequência da imaginação, para ser rigorosamente uma teofania, tão real como a do Monte Tabor, pois que nela se tornará presente o próprio Corpo Deificado de Cristo.

    A distinção entre a visão desse Corpo Deificado (que só três Apóstolos tiveram no Monte Tabor) e a representação do corpo humano (visto por todos os que conheceram Cristo e imaginável em qualquer representação de Cristo) é capital na patrística ortodoxa como o fora na patrística grega. Tinha a vencer dois escolhos consideráveis, de sinal oposto: ou uma tal abstracção da Pessoa de Cristo que o mistério da Encarnação acabava por ficar elidido (concepção neoplatónica da divindade natural do intelecto, que ainda é dominante em Evagro Pôntico) ou uma representação tão presente do Seu Corpo Humano que «a luz dos séculos a vir» se podia reduzir à imagem mental. E João, o Clímaco, retoma a distinção na própria visão do Cristo sobre Si Próprio. O que os Apóstolos viram na Transfiguração jamais Ele o viu. «O Seu próprio Corpo era um limite à Sua Glória. Era um Corpo que podia ser tocado por outros corpos, ao contrário do Corpo Ressuscitado ou Transfigurado (Noli mi tangere )». Se alguns predecessores do autor da Escada do Paraíso (por exemplo, os Messalianos, para os quais Deus e Satanás coexistiam no homem como forças iguais) tinham tendido (como o maometanismo que, em parte, deles descende) para a interdição de qualquer representação da imagem divina, os hesicastas de Santa Catarina insistiam nessa representação (precisamente para a separar da visão) e incluem, igualmente, como acima disse, as primeiras pinturas conhecidas tendo como tema a Transfiguração. Mais tarde, Gregório de Nissa falará das «trevas de Deus» ou da «treva luminosa» e Simeão acentuará o realismo intenso de uma mística cristocêntrica, distinguindo a Essência Divina (que a teologia apofática ou negativa pos tulara como radicalmente inacessível) e a presença de Cristo nos homens e como homem, acto (energela) livre de Deus.


    A esta altura desta árida crónica (uma vez não é costume e só poucos saberão como estou a banalizar-me) quem ainda não desistiu perguntará a que propósito vem tudo isto e o que é que tudo isto tem que ver com os meus filmes da vida. Apetecia-me responder-lhes com um flashback sobre a velha Faculdade de Letras (a do Convento de Jesus) e sobre o meu professor de História da Filosofia Medieval, o dr. Luís Ribeiro Soares, que, em mim e noutros, incutiu para sempre o gosto por estas questões. Não é culpa dele se tendi sempre a vê-las mais sob espécie estética do que teológica.


    Mas, se não fosse o que com ele aprendi, também teria ficado com uma visão meramente estética do filme de Scorsese, The Last Temptation of Christ.
    Porque uma das reflexões mais apaixonantes que se podem fazer em torno deste filme é precisamente a do conflito nele figurado entre o texto de Kazantzakis que Scorsese adaptou (profundamente imbuído desta tradição da mística ortodoxa) e a formação católica do realizador, inscrita numa tradição que, há muitos séculos, subalternizou ou esqueceu estas questões. O filme de Scorsese surge, assim, por um lado, como uma metáfora católica do mistério da dupla natureza de Cristo e, por outro lado, como uma aproximação da visão dos hesicastas, retratando Cristo dentro dessa antiquíssima tradição.


    Duas sequências do filme colocam o problema de modo inédito no imaginário ocidental.
    A primeira é a sequência da ressurreição de Lázaro. Se nela subsiste o conhecido paralelismo com a ressurreição de Cristo (como Cristo, Lázaro, foi ressuscitado ao fim do terceiro dia) a representação, nessa sequência, dos corpos de Cristo e de Lázaro, ecoa a distinção capital entre visão e imagem. Face às trevas do túmulo, e à abertura da gruta onde jaz Lázaro, Cristo é quase reduzido a silhueta, como se se despisse da corporalidade e fosse pura luz. Pelo contrário, Lázaro, quando ressuscita, é a imagem do Cristo das Dores da tradição ocidental. Mas quando caminha para Cristo, uma luz diversa o nimba, como se ele também fosse prefiguração da «luz dos séculos a vir».

    A outra sequência é a da entrega por Cristo do seu Coração, imagem fortíssimamente carnal, mas que reconduz a quanto atrás se disse sobre a fusão do Verbo Encarnado com as funções essenciais à vida. Em muitas outras sequências, nomeadamente na prodigiosa sequência da tentação no deserto, o que Scorsese encena é, rigorosamente, a distinção entre visão e representação, memória de deus e imagem do mundo. Por isso, é tão singularmente coerente que a última tentação seja uma representação representação conduzida por um anjo, único companheiro do Cristo Hesicástico), representação apenas interrompida quando a visão se sobrepõe a ela, ou seja, quando Cristo se redescobre, sozinho, na Cruz. Por isso, Kazantzakis fala do «tudo está consumado» como de um «grito triunfal».
    «Porque era como se dissesse: tudo começa.» Conseguir essa visão através de uma imagem — último plano do filme — é proclamar a realidade da energia e a radical inacessibilidade da essência.
    Nada se entende de nada, se não se entender isto.


    Mais ninguém escrevia crónicas de cinema assim.

    Descansa em paz, Bénard da Costa.

    «Um porco é um porco, mesmo que me digam que é uma girafa ou um ministro. Se cheira a porco, se parece um porco, se grunhe como um porco, então é um porco. Ainda que os Costas Andrades deste mundo brandam um punhado de leis e lancem fatwas sobre quem diz estar perante um porco»

    Ccz na caixinha de comentários.

    Aplique-se estas sábias palavras ao que é para aplicar. Incluindo diversa espécie suína e toupeiras casuísticas várias.























    Nas lendas das raças fantásticas misturam-se nomes e significados diferentes que, a dada altura, ainda tornam mais fabulosos os testemunhos e contos.



    O caso dos blémios – povos acéfalos- com olhos, boca e ouvidos no peito, é paradigmático nas migrações que vai tendo ao longo dos séculos.
    De relatos lendários do Oriente, passaram depois para o Ocidente, através de textos Ctésias de Cnido (séc. IV aC)- autor do De Indica, médico na corte do Rei da Pérsia Artexerxes II e vão continuar a ser vistos muito mais tarde.

    manuscrito arménio- BNFEstes seres viviam sempre nas margens do mundo civilizado, saltitando para locais desconhecidos, à medida que esse mundo é trilhado pelos viajantes.
    Migram para o Brasil- onde aparecem ao lado dos índios; associam-se à busca do El Dorado e ainda em finais do século XVI,

    Sir Walter Raleight, assegurava tê-los visto- aos Ewaipanoma - na Guiana .














    Quanto à sua natureza, bem como às das restantes raças fantásticas e seres monstruosos, S.to Agostinho formulou as principais questões teóricas que ainda são pertinentes - só podendo ser animais ou descendentes de Adão, a monstruosidade que nos impressiona derivava de não captarmos o sentido do Todo da Criação divina. Pelo que, no nosso parcelar entendimento, esta fealdade servia para nos retribuir a garantia na coesão da nossa própria humanidade.


    Pelo meio, os acéfalos-blémios ainda foram associados ao homem selvagem. Os exemplares do fresco de uma igreja da Dinamarca, exemplificam, de forma praticamente exemplar esses relatos de gigantes marrecos, olhos esbugalhados; narizes achatados e dentes de javali que se armavam de maças e vinham ao encontro dos que se aventuravam na floresta.
    santo Agostinho refutando os heréticos

    Mas, o mesmo nome- acéfalos, também resulta de outra questão menos selvagem- a querela que levou à divisão dos cristãos bizantinos e se multiplicou em seitas rivais- por via da problemática da relação entre a natureza divina e humana na figura de Cristo.

    Os monofisitas defendiam a exclusividade de uma só pessoa e uma só ligação entre Cristo Homem e Deus- a natureza de Cristo era real e humana e evoluiu para o divino, nele se unindo. Em oposição, os nestorianos - com Nestor, Patriarca de Alexandria a teorizá-la, defendiam a existência de duas naturezas na mesma pessoa. Cristo era Deus-Jesus unidos pelo logos em Cristo. Daqui saiu a corrente cristológica que não separa Deus da sua manifestação terrena e que teve pontos de ligação com os próprios luteranos da Reforma.


    A luta entre os cristãos rivais foi de tal modo cruel que Ammianus Marcellinus, historiador romano (325-390), afirmou que ultrapassavam a fúria dos animais selvagens para com os homens.

    A problemática foi debatida no primeiro Concílio de Niceia (325)e repetida mais de um século depois, no Concílio de Calcedónia (451). Estes heréticos (que se foram dividindo em várias seitas), a partir dos ultra-eutychianos, passam a ser denominados acéfalos - por não terem cabeça de bispo.

    O mais curioso é que estes acéfalos do deserto da heresia se assemelham muito aos povos das margens do mundo civilizado. E a confusão dos nomes revestia-se também destes dois aspectos. O antigo Patriarca de Antióquia- Nestor- anos depois de repelido para o deserto pela ortodoxia, acabou por ser raptado por uma tribo nómada de blémios.

    Não se tratou de rapto entre variantes de raças fantástica- o acéfalo herético foi levado por antigos praticantes de cultos pagãos do Egipto, que ainda se mantinham activos - os blémios adoradores de Isis.

    E foi assim, entre lutas e heresias que, ao contrário do que poderia parecer, mais se foi desenvolvendo e propagando o cristianismo.

    Quanto à saga do tribalismo dos acéfalos também dá ideia que não acabou.
    Seguindo alguns exemplos de excursões circenses entre ateus militantes pós-modernos e pastores evangélicos, a heresia não só permanece como são os próprios cientóinos monofisitas que também a replicam, com a ajuda dos pastores-ultra, mais mediáticos.

    Este vídeo , que o Tim se lembrou de postar, ao pretender caricaturar as eternas lutas das religiões, acaba por o exemplificar às avessas, incluindo nos mil e tantos comentários reactivos.

    Os Dawkins e Hitchens, empenhados em afirmar a natureza única da matéria- julgam-se capazes de cortar a cabeça teísta mas acabam a receber com dezenas delas em troca.
    Todas elas feitas divinizações “nestorianas", que tanto espelham princípio criador em Cristo, como em budas ou profetas corânicos, já que só viajando no tempo e doutrinando o tal “elo perdido” é que o ateísmo poderia evitar a complicação da humanidade ter tantas crenças quantas civilizações milenares.

    • Consultar:
    • Claude Lecouteaux, Les monsters dans la pensée médiévale eurpéenne, P.U.P.S., Paris, 1993.
    • DUCHESNE, Histoire Ancienne de l'eglise, III, Paris, 1910.
    • MICHAEL SYRUS , On the Persian Nestorians: the Monophysite historians, SYRUS, ed. CHABOT, Paris, 1899.
    • Apologética de Philoxenus- aqui e também aqui





    Quiz da semana

    Adivinhe-se quem terá dito isto, para exemplificar uma “ética divina” que se deve seguir à letra:

    «Porque é que o Senhor de Israel odeia os genocidas gentios, mas ordenou ao seu povo que genocidassem todos os que ocupassem a nação que ele designou geograficamente para eles? »

    Deu 20:13 e logo que o Senhor teu Deus a entregar nas tuas mãos, passarás ao fio da espada todos os homens que nela houver;
    Deu 20:14 porém as mulheres, os pequeninos, os animais e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás por presa; e comerás o despojo dos teus inimigos, que o Senhor teu Deus te deu.
    Deu 20:15 Assim farás a todas as cidades que estiverem mais longe de ti, que não são das cidades destas nações.
    Deu 20:16 Mas, das cidades destes povos, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nada que tem fôlego deixarás com vida.

    §

    1Sa 15:18 E bem assim te enviou o Senhor a este caminho, e disse: Vai, e massacra totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que sejam aniquilados.

    §

    Jos 11:20 Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o Senhor tinha ordenado a Moisés.


    Tens noção que tudo o que fiz foi citar a Escritura? E nem fui aos versículos piores.

    Perdoa-me a ousadia. Apenas quero estremunhar-te para que transformes o teu escândalo em sede de compreensão destes mandamentos por Deus



    • hipótese 1: um candidato rival da AlQaeda










    • hipótese 2: um sionista em momento de justificação de shock and awe de retaliação contra goyims








    • hipótese 3: Um bom ocidentalizado e civilizado pastor evangélico de garagem.






    Para a semana, a ver se arranjo tempo para falar de um fenómeno contemporâneo muito engraçado- o retorno dos acéfalos monofisitas, nos grandes debates entre cristãos pós-modernos e neo-ateus à Dawkins.



    Até lá, good afternoon.
    • [-Fresko; Dalbyneder kirke vestre hvælvfag skibet blemmyae imagem roubada a um espantoso coleccionador destes patuscos- o petrus agrícola ]

    • «Não penso que haja em nós tanta desgraça como vaidade, nem tanta malícia como loucura»
    Montaigne, Ensaios.

    e um Primeiro Ministro numa montra de Beverley Hills, digam-me lá como convencer o musaranho coxo que Hollywood não chama por ele.




    {a decoração de interiores e o fundo musical foram roubados ao DJ do Portadaloja }

    A minha loucura
    Devo-a ao rei do céu.
    Ainda que seja louco,
    Segundo o julgamento dos homens,
    posso muito bem compor um poema.

    Dos três seres
    Mais loucos do mundo:
    Uma jovem apaixonada,
    Um menino e um louco.

    Faço parte da terceira categoria,
    E dou graças ao Rei.
    Deus tirou-me a razão
    Sem me pedir autorização
    E condenou-me
    Ao absurdo.

    Chamarem-me louco é injusto:
    Deus deu-me o maior bom senso.
    Louco amaldiçoo o céu;
    Sábio, arrependo-me.

    Às vezes a razão volta por um tempo
    E sou o homem mais sábio debaixo do Sol.
    Julgo eficazmente
    todos os homens do mundo.

    Outras vezes sou insensato e louco;
    Então os homens do mundo
    perseguem-me pois
    deixo de ser o sendeiro de todos.

    Se há alguma verdade
    No feliz destino que Jesus acorda ao insensato
    Se a loucura é o que Deus amou
    A sabedoria vale mais que a insanidade?


    Mac-dá-Cherdá
    ( o louco dos Déisi- séc. VII- Irlanda)

    John Saward* acrescenta que nas primeiras sagas irlandesas de loucos cada santo não manifesta apenas uma santa loucura, do mesmo modo que os loucos não são apresentados claramente como santos.
    Santos e perturbados mentais são mostrados em estreita associação. O santo, por caridade é amigo de todos, partilhando a alegria inconsciente do louco. E este, que não pretende ser santo, partilha também do esplendor do santo.

    • *John Saward, Folly for Christ's Sake in Catholic and Orthodox Spirituality, Oxford University Press, 1980.

    O Simeão, santo Louco de Emessa, não é o Simão Estilista, mais conhecido na versão de Buñuel ou na dos Monty Python.


    É só para não haver engano; que o Louco viveu um bom século depois.

    E, segunda conta Juan Mosco (El Prado), estilistas até existiram vários. Dois deles tinham coluna a distância de cerca de dez kms; um em Cilícia; o herético na aldeia de Casidora.
    O que seguia uma seita de Severo (e estava há mais tempo nem cima da coluna), tentava converter o ortodoxo, mas este simulou que ia na conversa e acabou por fazer tal milagre com uma hóstia que o rival perdeu clientela.

    Também consta que houve estilista rebelde, em Hierápolis. Este seguia a heresia de Severo e dos acéfalos (as raças fantásticas, continuavam activas por aquelas bandas).

    O rebelde deixou de o ser, depois de um fervoroso católico ter prometido que o trazia ao bom caminho.

    Para tal, aceitou o desafio do rebelde que lhe propôs fazerem os dois uma fogueira e saltarem lá para dentro. Aquele que saísse ileso era o que professava a verdadeira fé.
    O patriarca, não só aceitou o desafio, como mandou tratou de acender a fogueira aos pés da coluna, gritando para o herético descer e vir enfiar-se nas brasas.

    Aí o estilista, por muito treino de alturas que tivesse, assustou-se com a segurança térrea do patriarca. Este, não fez mais nada. Atirou com o pálio para dentro da fogueira, orou e conseguiu que retirá-lo sem uma chamuscadela.

    O estilista rebelde converteu-se imediatamente à Igreja Apostólica.
    Não sabemos é se continuou lá por cima.


    {post dedicado ao CC}

    • Imagem: Cenas da vida de Simão o estilita, [fol. 2.v do código do mosteiro de Esfigmenu, monte Atos (séc. XI?), in, Historias bizantinas de locura y santidad (op. cit).

    ..............
    Acrescento: a pedido de várias famílias, cortei um "s" à coluna do Simeão, deixando o "estilista-alfaiate" para próximo post.

    Simeão , o santo louco de Emessa - Síria-(c.522-590), faz parte desses saloi que levam aos limites a condição humana- oscilando entre as bestas e os anjos, num exemplo do absurdo em que a loucura abre as portas ao transcendente e o riso galhofeiro consegue desarmar o dissimulado do maligno.



    Simeão abandonou o cenóbio, juntamente com um companheiro, para vaguear como os esqueletos do deserto, numa vida selvagem afastada do contacto humano, fortalecendo o corpo e o espírito à custa das maiores privações.

    Aí passou vinte e nove anos, até que considerou que esta vida solitária não trazia benefício a mais ninguém e decidiu procurar o exílio no colectivo - na cidade, onde salvaria a próximo com o mesmo apagamento com que a areia lhe apagara os traços.
    Parto no poder de Cristo, troçarei do mundo”, foi como se justificou ao amigo, fazendo intento de salvar o próximo, burlando o reconhecimento mundano

    Depois de passar pela Cidade Santa, dirgiu-se a Emessa, onde viveu até morrer, apenas reconhecido por um religioso da cidade. Aí vai levar a irrisão dos costumes até ao paroxismo de os resgatar.
    O seu aparecimento na cidade ficou memorável.

    Arrastando um cão morto que encontrou numa lixeira, por uma corda atada à cinta, entrou neste preparo em Emessa, provocando a troça das crianças que corriam atrás dele, batendo-lhe e chamando-lhe louco.

    Como autêntico histrião provocador, no dia seguinte, compra umas nozes, entra na igreja e interrompe os ofícios com o barulho irritante que fazia a parti-las. Perante e a admoestação geral, insiste nos disparates, apagando as velas com os dedos. Quando se viu perseguido pelos fiéis que correram atrás dele para o expulsar, sobe ao púlpito e desata a atirar o resto das nozes à cabeça das mulheres.

    Só a muito custo o arrancaram do lugar santo. Cá fora, não se deu por vencido- dirigiu-se a umas bancas de pasteleiros e deitou com a doçaria toda para o chão.
    À custa de tamanho pandemónio, levou tamanha pancada dos populares que ferido de morte, ainda teve espírito para se auto-ironizar- “Pobre Simão, assim nas mãos destes, não duras nem uma semana”.

    Mas durou e montou um autêntico teatro de nonsense na cidade. Às suas excentricidades ninguém ficava indiferente- tanto fazendo com que se rissem e o aplaudissem, como se revoltassem pelas ignomínias que simulava - naquela terra deixou de haver lugar para a anomia.

    Falava como um ímpio; dizia palavrões; simulava heresias; quando não andava nu, destapava o rabo aos transeuntes e passava-lhes rasteiras; cagava à vista de toda a gente- comportava-se como um autêntico louco, alternado nesta conduta os disparates mais insólitos com os milagres de que pudicamente não aceitava reconhecimento.
    O relato das fantasiosas provocações, deixado por Leôncio de Nápoles é delicioso. Saliente-se estas.

    Ao segundo dia, sangrando ainda da fúria popular, foi achado por uns vendedores que, desconhecendo a sua loucura, decidem empregar o monge na venda de frutos secos de tenda para a rua.
    Simeão, mal se viu com a banca por conta, pôs-se a comer tudo e a oferecer os figos secos e tudo o resto a quem passava. De tal modo, que passados uns dias não restava nada para os comerciantes venderem.

    Mais uma vez foi espancado e até lhe arrancaram os pelos das barbas.
    Depois, parece que ganhou o gosto de alternar os disparates com milagres, mas cuidando sempre que passassem despercebidos.

    ***

    A um taberneiro, a quem havia dado uma lição de inutilidade da ganância, depois deste lhe agradecer, decidiu contrapor o mérito com excesso de zelo pela sua esposa, fingindo que a havia violado.

    Consta que estes monges, à conta do estado de ataraxia adquirido no deserto, deixavam de possuir desejo sexual. No entanto, Simeão simulava-o de forma desconcertante, chegando ao ponto de passar temporadas no prostíbulo e de ser acusado de ter engravidado uma empregadita doméstica.
    A ataraxia sexual conseguida nos longos anos de deserto, era usada de forma tão escandalosa quanto o intento oposto que visava.

    ***

    Uma vez, o bispo seu amigo, decidiu animá-lo após o estado lastimoso em que ficara no jejum pascal. Convidou-o para se ir banhar com ele aos banhos públicos. Muito contente com a ideia, Simeão, tratou logo de tirar as vestes e as atar à cabeça, como se fora um turbante.

    Perante o olhar atónito do religioso que o mandava cobrir-se, ele retorquiu que não via onde estava o mal por apenas fazer uma coisa antes da outra.
    Quando passaram pelos banhos das mulheres, Simeão nem esperou mais- foi logo para ali que se dirigiu. O religioso bem lhe gritava que o recinto para os homens era mais além, mas Simeão apenas lhe retorquiu: “Vai-te imbecil! Ali há água quente e água fria; aqui, água quente e água fria. Não há nada de mais nem ali, nem aqui”.
    E atirou-se de mergulho para junto das mulheres.

    No fim satisfez a curiosidade licenciosa do amigo, que queria saber como é que ele se tinha sentido em tal companhia feminina em pelota.
    E o santo louco lá lhe explicou em que consistia o erotismo às avessas- para ele era igual a estarem mulheres ou uns madeiros dentro de água- há muito que se desincorporara.

    ***

    Também admoestava os habitantes com técnicas de deliciosa ironia e até os milagres que fazia se misturavam as atitudes menos cristãs que lhe passava pela cabeça imitar.

    Ainda que fizesse os seus jejuns às escondidas (e com grande severidade em período pascal) gostava de fingir o contrário para escandalizar toda a gente.

    Aos domingos, comprava salsichas em grande quantidade, enrolava-as à volta do pescoço- como se fosse uma estola e começava a comê-las pela manhã, molhando-as em mostarda que segurava na outra mão.

    Estava um dia neste banquete, acompanhado da garotada, quando se lhe juntou um homem que sofria de glaucoma e que aproveitou para petiscar das salsichas do monge.
    Este, não faz mais nada, vira-se para ele e unta-lhe os olhos com um pedaço da mostarda que tinha na mão. Perante os gritos do desgraçado, retorquiu: vai lavar os olhos com alho e vinagre- imbecil (tratava toda a gente por imbecil).

    Depois de muito sofrer e de tudo ter tentado para retomar a visão, o desesperado camponês acabou por seguir a indicação médica do louco. O que arde cura- e não é que ficou a ver de forma cristalina, como nunca sonhara.

    Simeão ao ver que o campónio agradecia a Deus o milagre, foi ao seu encontro e, com a mesma displicência com que lhe havia atirado com o molho das salsichas, disse-lhe- «olha, curaste-te imbecil? Então agora deixa de roubar cabras».

    Consultar com o texto do relato da vida de Simeão, contado com invejável vivacidade loquaz por Leôncio de Neápolis (Chipre)- in Historias bizantinas de loucura y santidad, Ediciones Siruela, 1999