Devo-a ao rei do céu.
Ainda que seja louco,
Segundo o julgamento dos homens,
posso muito bem compor um poema.
Dos três seres
Mais loucos do mundo:
Uma jovem apaixonada,
Um menino e um louco.
Faço parte da terceira categoria,
E dou graças ao Rei.
Deus tirou-me a razão
Sem me pedir autorização
E condenou-me
Ao absurdo.
Chamarem-me louco é injusto:
Deus deu-me o maior bom senso.
Louco amaldiçoo o céu;
Sábio, arrependo-me.
Às vezes a razão volta por um tempo
E sou o homem mais sábio debaixo do Sol.
Julgo eficazmente
todos os homens do mundo.
Outras vezes sou insensato e louco;
Então os homens do mundo
perseguem-me pois
deixo de ser o sendeiro de todos.
Se há alguma verdade
No feliz destino que Jesus acorda ao insensato
Se a loucura é o que Deus amou
A sabedoria vale mais que a insanidade?
Mac-dá-Cherdá
( o louco dos Déisi- séc. VII- Irlanda)
John Saward* acrescenta que nas primeiras sagas irlandesas de loucos cada santo não manifesta apenas uma santa loucura, do mesmo modo que os loucos não são apresentados claramente como santos.
Santos e perturbados mentais são mostrados em estreita associação. O santo, por caridade é amigo de todos, partilhando a alegria inconsciente do louco. E este, que não pretende ser santo, partilha também do esplendor do santo.
- *John Saward, Folly for Christ's Sake in Catholic and Orthodox Spirituality, Oxford University Press, 1980.