Para completar o peditório do postal anterior, nada como citar um comentador da blogosfera com experiência na causa.

«Eu tinha há uns anos um pavilhão industrial arrendado a uma multinacional alemã. Por questões de armazenagem eles necessitavam de mais espaço e da construção de um anexo.
Contactando a câmara municipal de Matosinhos rapidamente compreendi as dificuldades burocráticas para qualquer construção: licenciamentos complexos, projecto para a frente, projecto para trás, PDM, vistorias, alvará, etc. etc. Um sem fim de regulamentações que iriam complicar e adiar a obra, se não mesmo impossibilitar o arranque da mesma.


Um pequeno empreiteiro propôs-se ajudar-me rapidamente. Segundo a sua sugestão ele convidaria o engenheiro da câmara para almoçar e desbloquear o assunto “untando as beiças ao responsável” segundo a sua expressão.
Assim foi. Duas semanas depois eu tinha em cima da minha mesa uma conta de dois almoços mais uma proposta de 1.500 euros para acelerar e legalizar todo o processo. Parte desse dinheiro seria para o engenheiro, repartindo ele o restante por outros funcionários.
Única condição imposta pelo engenheiro (para além de dinheiro vivo): “construam isso durante o fim de semana. Isso terá que ficar pronto numa 2ª feira de manhã” (um detalhe verdadeiramente delicioso...)

Resumindo. A obra foi feita. Paguei ao engenheiro – via empreiteiro. Passadas poucas semanas a obra estava “legalizada”. O engenheiro ficou feliz com o bónus. O empreiteiro fez o anexo e ficou muito receptivo a novos negócios. E, acima de tudo, os alemães estavam felizes da vida...“Portugal é um país eficiente!” diziam eles. “Bastante” disse eu...


(…)É aqui que deverá ser chamado o economista para analisar este caso. E a análise não é muito difícil. Na realidade eu paguei um “extra” para acelerar o projecto ou investimento. Isso simplesmente representa um chamado “custo”.

Em termos económicos o factor “TEMPO” é um elemento crucial. Esse elemento, entre muitos outros, é fundamental assim para compreender o fenómeno da corrupção. Esse factor (tempo) poderá ser, ou não, decisivo para qualquer investimento. Caso não seja não deverá estar sujeito ao fenómeno “corrupção”. Mas, em condições normais, “tempo” é um factor crucial.


Vejamos outra situação idêntica: um cidadão português ao pedir um passaporte com urgência está sujeito a pagar uma sobretaxa. Terá o seu passaporte num tempo recorde mas pagará por isso um extra. É, no fundo, o mesmo.
Assim temos que aquilo a que chamamos de corrupção é apenas, na visão de economista, simplesmente um custo. Podemos mesmo chamar-lhe “custo burocrático”.»

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