Para que não se pense que a primeira-dama americana a coser as meias do presidente foi peta, aqui fica uma passagem do texto que a acompanha. Foi publicado na Ilustração de Maio de 1926, pela pena de uma feminista da época- Helena de Aragão.

Depois de enunciar as diferenças significativas entre as mulheres da época e as do tempo das avozinhas de outrora, enaltecendo os mais variados ramos em que as mulheres se destacavam, justifica também o papel de fada-do-lar tão bem ilustrado pela cara-metade do terceiro* trigésimo presidente americano:


“Mas ao seguirmos de perto o triunfo alcançado pelas mulheres de hoje, empenhadas em demonstrar que quando o ensejo ou a vocação surgem, dispõem realmente de largos recursos para vencer, assalta-nos o vago terror de a vermos desertar das suas funções naturais desdenhando a sua missão puramente feminina, abandonando por fim as ocupações do lar.
O perigo, porém, é na realidade menos grave do que se afigura ao primeiro exame. O sentimento da sua feminilidade por muito que ela se encontre em conflito com o meio onde as circunstâncias a conduzem, subsiste sempre no espírito e na consciência da mulher. Pode aturdir-se um instante entre o fragor das forjas, o bater dos ferros, o arfar dos motores, o sibilar dos ventos; mas lá surge o momento em que se lembra das rendas, do conforto do lar, do sorriso do homem amado, quiçá do carinho dos filhos. E ei-la nostálgica da vida simples, descuidosa, serena, da sua casa onde ela é e será sempre a soberana. Então, sem mesmo se aperceber de que obedece mais a uma necessidade instintiva, do que às exigências do equilíbrio doméstico, ela trocará alegremente a chave de tubos ou a chave de porcas pela agulha, e em vez de poisar as mãos delicadas no aro polido do volante, escondê-las-á com muito maior graça e propriedade, nas peúgas do marido, carecidas dos pontos que só ela sabe tecer, a exemplo do que faz a esposa do primeiro magistrado da América do Norte (...)”


-E tinha toda a razão. Realmente, com esta febre do sucesso e do estrelato, anda para aí muita dama que já nem mãozinhas tem para as porcas, quanto mais para as peúgas do marido..

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foto:"com a mão na porca"- M.elle Andrée Peyre afinando o motor do seu aero, companheiro dilecto de aventuras e perigos

* bacorada da responsabilidade da casa

10 comentários:

João Villalobos disse...

Bem sei que sou homem e não percebo nada destas coisas, mas que raio é uma chave de tubos?

Anónimo disse...

para que saibas, zazie: as minhas mãozinhas comandam, na perfeição, quer um Black & Decker, em trabalhos caseiros, quer um aguçado e discretíssimo alfinete de chapéu, em trabalhos de rua.
abraço e até um dia destes, com mais tempo. tenho a vida em obras.
morggie

zazie disse...

ahahaha morggie, tem cuidado que se o cavaco ou o jerónimo te ouvem ainda se arrependem e mandam-te pagar imposto ":O)))

João- eu também me fartei de rir com essa da chave de tubos e não faço ideia no que a jornalista estava a pensar ":O))))

Anónimo disse...

ó joão, uma chave de tubos serve para apertar ou desapertar peças que não estão muito acessíveis. (exemplo:para porcas acessíveis, dá jeito a chave de porcas; para porcas aparentemente inacessíveis, usa-se a chave de tubos). e chama-se assim porque tem a forma de tubo. qualquer mulher que se preze sabe disso.
morggie

Anónimo disse...

zazie, desiludiste-me. então tu não fazes ideia do que é uma chave de tubos? não acredito. queres é que o joão não fique com complexos de inferioridade.
morrgie

zazie disse...

nota-se, realmente nota-se que a tua vida ahda em obras, morggie...

eu não sabia essa dos tubos ":O.

João Villalobos disse...

Obrigado Morggie. É por estas e por outras que dá sempre jeito ter uma mulher em casa :)

Anónimo disse...

de nada, joão, e ainda bem que assim pensa. olhe que há muitos a quem dá imenso jeito ter uma mulher na rua. e há outros a quem dá imenso jeito ter a mulher na rua. e outros, que andam sempre na rua, a quem dá imenso jeito ter a mulher em casa. chama-se a isto diversidade. ?;-))

João Villalobos disse...

Pois. Acredito que sim. Mas, a mim, o que nunca me deu jeito foi não "ter" mulher. Desde que ela exista, pode estar onde quiser :)

Anónimo disse...

??:-)

morggie despede-se, com sorriso ultra-ondulado