oliveira do castelo de S. Jorge em Lisboa (fotografia do autor)



Mais um belíssimo texto do José Pinto Casquilho, a entrelaçar os sentidos míticos e biológicos das árvores.


As árvores, os seres vivos mais longevos do planeta, eram entes sagrados nas culturas antigas, investidos dos mais altos poderes simbólicos: desde o oráculo de Zeus em Dodona que se manifestava num carvalho, ao freixo sagrado Yggdrasil das culturas nórdicas, à presumida árvore do paraíso em que Cristo foi crucificado, ou ainda a figueira sob a qual Buda alcançou a iluminação. No seu sentido mais geométrico a árvore representa um eixo vertical ramificado nos extremos que liga dois infinitos opostos: o céu e a terra, e serve de referência ou guia do homem na sua caminhada para o conhecimento. A árvore sagrada era vista em diferentes culturas como o eixo do mundo, Axis Mundi, signo da regeneração da comunidade.
(…)
Que podemos dizer das árvores como figuras do tempo profano? São os seres vivos mais longevos do planeta, as deposições de lenhina na parede secundária das células dos tecidos do tronco fazem-na uma viga vascular encastrada no solo e os ramos suportam miríades de cloroplastos nas folhas e caules verdes onde se processa a fotossíntese. Pela parte da fisiologia das árvores nada a opôr à conjunção de dois infinitos ligados por um eixo, pois que na imensidão de raízes finas e pêlos radiculares a que se juntam o mais das vezes simbioses com fungos, micorrizas, de micélio virtualmente invisível, se absorve água e nutrientes, que translocados no xilema até às folhas à conta do fluxo induzido pela tensão da transpiração, alimentam a maquinaria da fotossíntese e do crescimento - os dois infinitos que se ligam através da estrutura mecânica e vascular, entre copa e raíz, entre luz e gravidade.

Infinitos são os raios de Sol que incidem nas folhas, como incontáveis serão as fibrilas que constituem as raízes no seu mergulho no solo.

2 comentários:

luis_v_silva disse...

Es uma tree hugger agora?

Love your work!

Elaites

zazie disse...

Eu gosto muito mas nada de confusões. Este texto não é meu. Tem o link do autor. Ele sim, faz um trabalho único, juntando a ciência com a mitologia.