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Um Marcel L' Herbier de 21 com cópia pintalgada e restaurada

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5ª feira, 29/05 às 23h no Cabaré MAXIME

links:
Rita e o seu Ukelele

Cabaret-Maxime

«Com tantas reformas que andam a fazer, ainda é preciso ir lá o Primeiro Ministro com o papel?
Isto é uma vergonha
»

Medina Carreira nos Prós & Contras

Se os dedos e os gestos sempre se inscreveram numa linguagem mágica, os pequenos talismãs, colocados junto ao corpo, ainda lhes acrescentavam poderes superiores, como forma de enfrentar maus-olhados e doenças tão prontamente fatídicas em tempos mais recuados.

O seu uso difundiu-se de tal modo que a preciosidade do material- como o coral ou marfim ou o ouro transformou-os em delicados e artísticos objectos de ourivesaria, cujo uso chegou aos nossos dias, ainda que desactivado do seu sentido inicial.
Velazquez, Príncipe Felipe Prospero,1659
As crianças em particular eram alvo destes acrescentos de protecção quando a saúde débil os ameaçava.
Velazquez deixou-nos o quadro do pequeno e triste príncipe Filipe, em cujas vestes se prende grande variedade destes talimãs que não lhe evitaram a brevidade da vida.

Em virtude da mistura de judeus e mouros com cristãos aqui, na Península Ibérica, este fundo popular tende a ser assimilado sobrepondo-se a função mágica às condenações que a doutrina católica sempre lhes foi fazendo.






Um dos amuletos com maior perenidade, cujas simbologias se sedimentam de forma complexa é a chamada mão de Fátima. Derivada de sentido milenar do poder da mão- a mão aberta, benfazeja é conhecida desde o neolítico e vai transitando com acréscimos religiosos que tendem a unir-se mais pelo espaço geográfico comum que pelas religiões, por vezes em franco antagonismo histórico, partilhadas por esses povos.

A khansa é a mão aberta- à letra, cinco- os cincos dedos com sentido mágico mas também relacionados, cada um deles, com os cinco mandamentos islâmicas. O termo mão de Fátima foi empregue pelos europeus, numa mutação da ligação entre a figa com a Virgem Maria. Fátima era a filha predilecta do profeta- a Al-Zhara- Vénus resplandecente; a Al-Batûl- a que permaneceu pura mesmo depois de conceber.
A mão aberta, que já tinha esse sentido milenar apotropaico, torna-se também o símbolo de protecção feminina, em forma de amuleto tradicionalmente usado pelas mulheres.
Amulette Hamsah,Iran, XIXe siècle, Argent gravé,7,5 cm x 4,9 cm, Musée d'Art et d'Histoire du judaïsme, inv. 91.12.029
Entre os povos da Palestina era a Kef Myriam (a mão de Maria, irmã de Abraão e de Moisés), neste caso no gesto em forma de cornos, feito pelo dedo mínimo e o indicador. O par de cornos que afasta o mau olhado transita para a forma do crescente- a lua feminina.
Os amuletos com a mão de Fátima também tendem a incluir a estrela de cinco pontas- o signo saimão ou signo de Salomão. Este tradicional talismã tem uma longa tradição na ourivesaria portuguesa, juntando a mão aberta, ou mais comummente a figa com o crescente, o pentagrama ou estrela de David e um coração- o sagrado coração de Maria.





Um sinal aparece no céu, Le Miroir de l'humaine Salvation, Chapter XXXVI.Newberry Library, Chicago, Ms. 40, fol. 37 recto, séc XVO intuito benfazejo junta-os com o crescente lunar e é por via deste que o sincretismo se efectua. A Senhora da Lua é a mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés, do relato do Apocalipse a que clamava com as dores do parto e sofria os tormentos para dar à luz" por sinédoque a Virgem da Imaculada Concepção que na tradição popular se associa aos amuletos do signo saimão e da mão de Fátima.

Com a consagração de Portugal à Virgem da Conceição, efectuada por D. João IV, em agradecimento à Independência do reino, no ano de 1646, o Brasil vai herdar este voto à Imaculada Aparecida como sua padroeira .
http://www.historiaecultura.pro.br/cienciaepreconceito/iconografia/exvotos.htm


É certo que o clero tentou substituir estes amuletos pagãos por cruzes ou medalhas, incluindo as do Papa. Em 1628 foi publicado, em Barcelona, o “Tratado en el qual e repruevan todas las supersticiones y hechizerias”, de Pedro Ciruelo, com esta intenção.
anunciação, mosteiro da Batalha

Veio tarde e sem grandes efeitos práticos. Antes dele, ainda foi possível incluir estas mãozinhas de Fátima num colar, usado pela própria Virgem, em momento de lhe ser anunciada pelo Anjo a escolha divina.
virgem com colar de mãos de Fátima, mosteiro da Batalha

Assim mesmo, com vestes galantes e largo decote mostrando o pronunciamento dos seios, esta virgem galante, mostra um colar com seis mãos ao pescoço. Esculpida na janela sul da Casa do Capítulo do mosteiro da Batalha, em meados do século XV, durante a intervenção de Huguet, é um exemplar curiosíssimo do qual não se conhecem paralelos.
O tema foi reconhecido como uma Anunciação de tipologia bizantina1, completado pelo cântaro que transporta, a mão que leva ao ventre e pelo jovem anjo que ajoelha e para ela se vira, no capitel mesmo ao lado.
Não se sabe a quem se deve a autoria destas esculturas, ainda que a mistura pagã esteja bem presente nos temas batalhinos, quer numa versão de uma natividade de tradição gnóstica, de um dos capiteis da capela-mor, quer na mistura entre temas cristãos e simbologias precursoras da mitologia clássica. Tanto pode ter sido artífice mouro como judeu, já que saber artístico partilhado por estas minorias.
Certo é que a ideia de uma demarcação cristã, assim como outras incompatibilidades religiosas e sociais saem tendencialmente bastante beliscadas nos testemunhos iconográficos, mesmo no final da Idade Média, quando o final do longo convívio se avizinha.
1Carlos Alberto Ferreira de Almeida, A Anunciação na arte medieval em Portugal , Porto, Faculdade de Letras, Instituto de História de Arte, 1983.
Consultar também:
. Elworthy, The devil eye, London, 1895.
. G.J. de Osma, Catálogo de azabaches Composteleanos, precedido de apotamentos sobre os amuletos contra o mau-olhado Madrid, 1916.
. José Leite de Vasconcelos, « Signum Salomonis », in O Archeólogo Português, XXIII, 1918, pp. 203-313; J.Herber, “La main de Fatima”, Hesperia, Tome VII, Année 1927, pp. 209-219
. José Travaços Santos, “Perguntas e incertezas na decifração duma escultura do Mosteiro” Jornal da Batalha, Jullo, 1993.
. W.L. Hildburg, “Images of human hand as amulets ins Spain”, Journal of the Warburg Institute, n.18, 1955, pp. 67-89

Amadeo de Sousa-Cardozo,Procissão Corpus Christi, 1913
A tradicional luta entre S. Jorge e o Dragão (o Santo patrono de Portugal a vencer o Mal) que integrava os cortejos da procissão do Corpus Christi incluía engenhos articulados de madeira. Em Guimarães, no ano de 1643 a vereação da Câmara impôs a sua construção aos sapateiros da cidade que a deviam engalanar de vestes e coroa. A mesma serpe chegou a ser animada por meio de homens que se introduziam no seu interior, fazendo-a mover e saltar. Teófilo Braga ainda recorda um destes engenhos festivos que saiu à rua no ano de 1687: «A tal coca é um monstro em figura de dragão. É de arcos coberta de lona, e rodas por baixo, sobre as quais marcha e contramarcha. Tem asas, pontas, e uma grande cauda retorcida. A boca é de molas, e, para que se abra e feche, atam-lhe uma corda porque puxam atrás os homens que fazem andar o dragão para meter medo ao cavalo».
Cfr: Almanach de lembranças para 1867, p.276.
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a Coca nas festas minhotas
consultar: Luiz Chaves, "Os
oficiais mecânicos de Coimbra na procissão do Corpo de Deus”, O Instituto, vol. 89, nº 4, pp. 350-371.
Alberto Pimentel, As alegres canções do norte, fac-simile da primeira edição de 1905, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1989.
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Acrescento: não perder os postais do
Paulo acerca das festividades da procissão (lembrámo-nos os dois do Amadeo)

Shirin Neshat/Untitled,1996,Black & white photograph with ink,Photo taken by Larry Barns,9 3/8 x 6 1/2 inches(23.8 x 16.5 cm)


































Shirin Neshat,fotografia a preto e branco, 1996

Se lhe disséssemos que se podiam juntar estas mãozinhas com o signo saimão do velho Salomão judeu, mais a Zhara, filha do profeta e que a Virgem Maria ainda se juntava na barafunda, não acreditava, pois não?

Então espere um pouco que já lhe mostramos que não só foi possível, como ninguém se explodiu à conta da heresia.

(só que vai ser mais lá para o final da semana)

Felix Valloton,Cour de ferme, 1912












ateuzinho ignoradoateuzinho desconhecidoateuzinho ignorado da parte de baixoateuzinho desconhecido, a tentar ser reconhecidoateuzinho desconhecido à boleiaateuzinho que faz lembrar alguém




Desde o Bode Esperança fechou estamine que a bodegada órfã anda desesperada. Como os outros gurus não albergam esta praga de pulgas sem cão, vá de andarem para aí, feitos zombie, a largar cacaganitas por tudo quanto é sítio.
Vino Puro- monges ensacados em pele de vinho, misericórdia do cadeiral de Ciudad Rodrigo (autoria de Rodrigo Alemão)E depois, os crentinhos virtuais entraram numa de cenobita e devem estar tão ocupados com as receitas de papos de anjo e barriguinhas de freira, que nem se dão conta do chiqueiro.


O que nos vale é que o Dragão se encarrega da mama cientóina dos que os alimentam- a grande treta pseudo-intelectual, onde bebem todos os ludvígaros, fiolhosos, vitalinhos muchos e restantes bufarinheiros de venda a retalho da velha doutrina jacobina.





e os tritões ajudam à festa, agarrando-as pela barbatana

misericórdia do cadeiral da catedral de Bristol
Estes decidiram instalar-se no cadeiral da catedral de Bristol para tão estranha e lúbrica patuscada.
O homem alado tem tudo de Mothnam avant la lettre e nada do voador de Avicena, já que sentidos não lhe faltam e patas com garras demoníacas ainda menos.
O wyvern que se baba e que até parece estar a ajudar a preparar o repasto, também não deveria ser nenhum dragão heráldico de Oxford a banhos.

Alvitra-se a hipótese do o terrível selvagem de Orford ter-se encontrado com o espírito do dragão wyvern, do rio homónimo, saciando apetites nas longas horas de salmodia de coro, em fantasias paralelas às dos pescadores que ainda hoje por lá passam dias inteiros a tentar apanhar uma boa truta.



 www.acrossindonesia.com/Irian_Photo_Gallery.htm
porque já meteu o IRS























E você?




Quando eles vêm com aquelas listas de mercearia das “visões democráticas e seculares” e mais a “liberdade laica”
e os contratos de cidadania com o “actual paradigma civilizacional, onde as religiões têm de se circunscrever à esfera individual”; tudo isto por causa do armagedão, a gente sabe que não é frete- são fitas








"eu fico triste que me chamem embolomático; eu não sou embolomático; o verdadeiro artista joga limpo, minha querida, chamar-me embolomático é falso e é uma coisa que faz quase arrebolar as pedras da calçada"












dediquemos também esta canção à série humorística das Jaquinadas no telhado





















É sempre muito engraçado assistir ao moralismo hipócrita escarranchado no meio do chão.
domestic spanking- Sherborne Abbey
E nem vou contar o que se passou. Mas tentem perguntar ao bacano do Tim , esse paladino da defesa dos mais fracos, e das alianças com todo o bicho-careta contra os uber-facistas, o que aconteceu para fechar os comentários do blogue.

Eu prefiro gozar o prato com o musaranho.



(e não, nem foi nada com ele, salvo seja...)

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Acrescento (12-5- 19-30h):
Estas bravas declarações aconteceram
aqui Como o grande chefe das brigadas de denúncia a qualquer inofensiva brincadeira com narizes já apagou tudo, fica entregue à vossa imaginação o que lhes tirei dito.
É assim a esquerdalhada inquisidora. Como as crianças não dão voto, lá têm públicas virtudes para a novilíngua e vícios privados para o resto.

As mãos também vêem, já dizia Gregório de Nysse , razão pela qual estão ligadas à linguagem.E é por isso que há dedinhos e gestos que despacham muito rapidamente o interlocutor. Estou-me a lembrar de um do meio do Bush que já causou danos na blogosfera.

Mas existem para todos os gostos.

cano da água, mosteiro de Alcobaça
Os útilitários- nem sempre apontar é feio- pode servir para informar que é por ali que passavam as canalizações da água do refeitório dos monges de Alcobaça
S. Gregório de Valadolid ou o apontar a dedo sem se saber a quem, de S. Gregório de Valadolid.
punho fechado, claustro dos Lóios de Évora a mão fechada, dissimulada que guarda segredo. Com esforço ainda pode passar por prática de esoterismo.
morder a mão Lóios de Évora


"Se apontas com um dedo és apontado por outros três".

E, se não sabes ter tino nas mãos, morde o próprio braço.
bascanionOs defensivos contra o mau olhado:

Este bascanion, divindade pagã com a cornucópia da abundância e o gesto de enfiar o dedo na boca para lançar saliva contra quem se aproximasse com mais intenções, sintetiza-os a todos.

Foi parar aos Jardins do Duque de Palmela, depois oferecido a Leite de Vasconcelos e está hoje nos reservados do Museu Nacional de Arqueologia. Deve ter sido peça romana, a que mais tarde se acrescentou a legenda em letra gótica: “ninguém não me olhe, e quem me olhar tomo-o".

Os bascania eram uma espécie de magos, destinados a evitar a entrada do mal do local que protegiam. Entre os romanos fazem parte da variedade de lares familiaris, que também eram destinados aos nichos das entradas das portas.

Quem o demo toma uma vez, sempre lhe fica o jeito1
O jeito afeiçoa-se ao gesto. O excesso de visão, provoca o mau olhado; o bascanion tem o dom do espelho. Toma-o e esconjura-o com o gesto do índex erecto enfiado na boca, expelindo o feitiço de volta a quem o lançou. A saliva neutraliza o olhar venenoso, tal como cura a ferida do atacado. Lançada como desprezo e desfeita, ostenta a admoestação.

É claro que nos dias que correm é mais seguro uma caçadeira em casa que dedinhos de cornadura, gravados nas árvores, ou mesmo estes bascania no jardim. Mas, ainda assim, sempre faziam melhor figura que os leões de casa estilo emigrante projectada pelos engenheiros-arquitectos.

E vou mais longe, se os gestos são linguagem,até ficavam muito bem em S. Bento e em Belém.
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1 Cfr: José Leite de Vasconcelis, Opúsculos, vol V, Etnologia, (parte I) Imprensa Nacional, 1983.

guarda-rios e galeirão

guarda-rios e galeirão
Paulo Pascoal (1998, cibachrome, 640x800mm)




Sem dom nem piedade

«Pai, a sensata razão é uma dádiva dos deuses aos homens e a maior riqueza que estes podem ter.»
- Sófocles,"Antígona"


Ateu é uma palavra intrínseca e originariamente grega, constituída pelo prefixo de negação A e pela raiz Theos (deuses ou Deus).
Actualmente, no português, "ateu" significa "aquele que nega a existência de Deus", "incrédulo", "ímpio". Mas na origem, a-theos tinha um outro significado mais eloquente: "abandonado de deuses ". Tanto quanto o ímpio, o ateu era o abandonado pelo divino.
A mitologia hebraica diz-nos que Ihavé criou Adão, o primeiro homem, à sua imagem e semelhança. O Génesis conta-nos como o Divino enformou o humano - a partir do barro. Em contrapartida, os gregos são, por um lado, bastante menos narcisistas e, por outro, bastante mais prudentes. Entendem que o antropos, formado no cosmos, foi transformado pelos deuses. De que forma? Recebendo destes a razão prudente ou sensata. Na citação em epígrafe, o conceder da dádiva traduz o outorgar duma "segunda natureza" (fusiwsis). A relação do humano ao divino reflecte, pois, ao tempo de Sófocles, uma benfeitoria, mais que uma criação. O vínculo que daí resulta não é do criado ao criador, mas do agraciado ao benfeitor. Daqui derivará, séculos adiante, qualquer coisa como a "graça de Deus", mas não nos dispersemos.
Em qualquer dos casos - quer o Divino opere a partir da matéria inerte (insuflando-lhe forma e vida), quer metamorfoseie a partir do animal existente (concedendo-lhe inteligência)-, há um vínculo de gratidão, um dever (ficar em dívida) que se instaura. Uma noção de hierarquia, de pertença a uma ordem, de fidelidade a um princípio sagrado, fundamento de vida, contentamento e razão.
Ora bem, o ateu é aquele que se desvincula desta hierarquia ancestral. À proveniência contrapõe a conveniência: não é mais o que provém, mas o que lhe convém. Ele e o mundo. Não se perspectiva, pois, a partir dum passado, duma linhagem, que se projecta, através dum presente num futuro: pelo contrário, submete todo o passado e toda a possibilidade futura à sua visão obsessiva do presente. Essa, basicamente, é a sua impiedade - a impietas latina -, que se traduzia, como se traduz, pela "falta de cumprimento dos deveres para com os pais, a pátria ou os deuses". Ninguém pense que a mania caíu do céu aos trambolhões ou brotou de geração espontânea.
De facto, o ateu entende que nada deve aos pais, à pátria ou ao divino, porque tudo adquire e engendra através da ciência e da razão. Acredita cegamente que, através dessa formidável panóplia, pode agora corrigir o passado, normalizar o presente e determinar o futuro. O resultado mais eloquente dessa psicoculinária pudémos constatá-lo com o stalinismo. A mesma dinâmica mental preside à fermentação desossada e fétida da sequela actual.
A certa altura, no fim da Antígona, Creonte clama, em desespero: "Ah, razão que desrazoa!... (Iw frenwn dysfrónon)"
Ora, o ateísmo contemporâneo é precisamente um arrazoado - uma razão feita mero frenesim. Ou seja, mero exercício desligado e autofágico da "frhen" - a "frhen" que significava no grego original, o pensamento, aalma, a vontade; e donde a "fronesis" - prudência, sensatez, juízo, inteligência de uma coisa, etc. Esta "frhenon" é, na citação em epígrafe, a tal concessão divina e suprema riqueza do homem. E esta "frhenon" que "disfronon", esta "razão que desrazoa"(esta imprudência insensata que arrasta ao desastre) é aquilo de que Creonte se lamenta. Exactamente a mesma a que eu agora chamo de "razão frenética". Em rigor, uma espécie de parafrenia infecto-contagiosa.
Por outro lado, acresce um detalhe que cava toda uma diferença imensamente relevante: é que a antiguidade situava esta "prudente razão" no coração, enquanto a ciência moderna a confina ao cérebro. Quer dizer, aquilo que o divino plantou no coração do homem, o cientistóide apaga, clona e fecha na mioleira do tecnopiteco avançado.
Esta "razão frenética", podemos então dizê-lo, é uma "razão fora do sítio - uma razão sem coração; um simples frenesim cerebral. Não admira a sua frieza réptil e, ainda menos, o alcance impiedoso dos seus maníacos.


O problema é que estes energúmenos que descrevo não se restringem apenas às várias e mais ou menos estrídulas seitas de convulsionários ateístas da paróquia. Não, o abismal é que as próprias e diversas religiões estão cada vez mais infestadas... de ateus.

Pelo Dragão



(...)De resto, a acção dos aptos coligados desenvolve-se em duas vertentes simultâneas e conjuradas: reforçar a sua coligação, de modo a transformar a sua aptidão em super-aptidão; e promover a dispersão, a desagregação - a limite, o confinamento em células individuais - da restante humanidade. Assim, à medida que se consolida e sofistica, a coligação dos aptos vai adaptando o mundo à sua conveniência - um mundo que lhe convém amorfo, mero plasma manobrável e manipulável, estrita matéria. Isto é, desligado de todo e qualquer antes -cultural, sobretudo-, tanto quanto de qualquer depois, mas apenas refém perpétuo dum presente cercado e sitiado pelas obscuridades do passado e pelos horrores e terrores do futuro. Para esse efeito, arfa, zumbe, silva e resfolega toda um propaganda constante, opressiva e miriafónica.
Omnipresente. Compete-lhe desligar as pessoas. Reduzi-las a células presidiárias, meros compostos de células mecânicas. Este Des-ligar das pessoas consiste numa guerra permanente, envenenadora e insidiosa sobre tudo o que possa congregá-las ou re-ligá-las. Daí, entre outras, a campanha devidamente orquestrada e premeditada contra a "re-ligião". Porque estorva e dificulta a "des-ligião".
É neste enquadramento que se situam todos os quistos efervescentes de propaganda artificialmente empolada e superiormente dirigida, como são, por exemplo, as organizações LGTB ou as Ligas de Frenéticos e Convulsionários Ateístas. São tropinhas de choque do mercado e da indústria, autómatos-biscateiros programados e segregados pela coligação "super-apta". O seu público alvo está bem definido: as gentes naquela faixa etária mais vulnerável, crédula e dúctil - a adolescência (que agora, ainda para mais, se pretende que vá dos 4 aos 40). Os seus postos de emissão são bem visíveis: mass-media, escolas, universidades, meios "artísticos". Sabem o básico: se cantarem a contento, sobem a rigor. Reproduzem-se por coopção, mimese e osmose. Obedecem à regra do enxame.
Lembro-me de ouvir dizê-lo, ao vivo, ao Agostinho da Silva: "Idade das Trevas? Vocês vão ver o que é a Idade das Trevas."
Voltando, entretanto, à pergunta inicial - mais aptos em quê? Ora, está bem à vista: na predação. Intra-específica.
»


Vá até lá e leia-o na íntegra.

Três aninhos derivados de um engano técnico, apenas por teimosia de querermos criar um template. Depois da parvoeira feita, arrastando, sem se saber, a pista pelas janelas de comentários, lá tivemos de carregar o blogue às costas.

Assim sendo, e como já vinham mais uns tantos de trás, aqui fica uma reposição repescada do limbo do velho Janela Indiscreta.

Divirtam-se, que o lema da casa é rabelaisiano.
O musaranho e eu, só temos a agradecer as visitas conhecidas e às desconhecidas. O número será sempre um mistério, já que nunca tivemos medidor dessas coisas. Preferimos aquele rodapé taxionómico e ligeiramente inútil, como apraz no reino da Narragónia.

JAVARDINHAS A FIAR

Muito recato e mãos ocupadas sempre foi receita aconselhada a mulher solteira ou casada. Evitava desocupações que só serviam para estimular manhas femininas com os consequentes sarilhos que daí advinham para o sexo oposto. E deles nem filósofos como Aristóteles e Virgílio, escaparam, como já o contámos.

Na Idade Média a mulher casta era representada pela imagem de uma jovem sentada a fiar com a roca e o fuso, seguindo o ditado popular- "a fiar e a tecer ganha a mulher de comer" 1.

Era uma casta fiação, mas também “uma seca” como bem se queixava a coquete Isabel, da Farsa "Quem tem Farelos" do Gil Vicente:

"Faz a moça mui mal feita,
corcovada, contrafeita,
de feição de meio anel;
e faz muito mal carão,
e mal costume dolhar."


E a Inês Pereira que antes quer "asno que a carregue que cavalo que a derrube" também estava disposta a tudo para se ver livre dessas canseiras inúteis, renegando

deste lavrar
E do primeiro que o usou;
Ó diabo que o eu dou,
Que tão mau é d'aturar.


Como tudo tinha o seu oposto, nas constantes psicomaquias medievas, a dedicação das fiadeiras podia ser virada às avessas. Quando se queria apontar a cobardia ou mariquice de um homem, colocava-se-lhe um roca e um fuso na mão, e lá ficava o desgraçado com mais fama que proveito. Pior sucedia quando a fiação se tornava sinónimo de javardice de rameira.

Um ditado da época lembrava este mundo às avessas: "quando a rameira fia, o letrado reza, e o escrivão pergunta quantos são do mês, mal vai a todos três"
javardinha de Plasencia
A casta alterna com a porca e, para acentuar a troça, usava-se o bestiário satírico, mostrando-se uma javali atarefada na fiação doméstica como sinónimo de prostituição.
A "javali-fiadeira" aparece na marginália medieva sendo comum a sua representação em cadeirais de coro.
javali fiadeira, cadeiral da sé do Funchal
Por cá existe uma, esculpida numa das misericórdias do cadeiral do Funchal, idêntica a outras como as de Kempen na Alemanha; Ciudad Rodrigo; Toledo ou da igreja de S. Nicolau em Amsterdão, bem como em gárgulas e gravuras da época.

A brincadeira escatológica tem vários paralelos na literatura da época. É representada na imortal tragicomédia, referida no post anterior: La Celestina, escrita por Fernando Rojas, um judeu converso, editada pela primeira vez em 1499 em Burgos. A Celestina é a velha alcoviteira que trata de tecer as tramas dos amores dos jovens, num mundo cínico e cruel onde todos acabam vítimas das suas paixões. No acto III diz a velha alcahueta: "pocas vírgenes, a Dios gracias, has tú visto en esta ciudad que hayan abierto tienda a vender de quien yo no haya sido corredora de su primer hilado ".
Mais adiante, insiste-se na associação entre o fuso e o falo masculino: "con mal está el huso cuando la barba no anda de suso"2.

As aparências iludem – a velha rameira Celestina ou a Ama do Auto da Índia, quando se lembram da roca e do fuso não é em trabalho casto que estão a pensar – "quero fiar e cantar/ segura de o nunca ver" suspirava a abandonada mulher do mercador embarcado desejando que ele não tornasse vivo a Lisboa.

Goya, Album B, fiadeiras no reformatório







Goya conhecia estas histórias todas não se vai esquecer das fiadeiras nas suas gravuras satíricas. No Álbum B, que antecede os Caprichos, assim representa as raparigas de má vida, tonsuradas e encarceradas no reformatório, acrescentando a legenda irónica: San Fernando como hilan!






Goya, depenados
Mais tarde vai representá-las a depenar os "frangos" que se deixam apanhar nas suas teias.

Goya, Maja e Celestina, 1824-25















Picasso, Celestina

Paula Rego, a casa da Celestina, 2000-2001

Quanto às Celestinas, continuaram a ser imortalizadas. Picasso deixou-nos uma tremenda Celestina vesga e, recentemente, até a Paula Rego as retomou.


campónio gaiteiro de Plasencia
Já as javardinhas medievais nunca deixaram de ser vistas com agrado num mundo goliardesco, onde a virtude convivia descontraidamente com o pecado. Ao lado da javali gárgula de Plasencia vê-se um alegre campónio muito entusiasmado a tocar a gaita de foles.
Tocar gaita também era outra música e quem melhor a soprava ao desafio eram os porcos músicos, mas essa é outra história, que a apagada e vil tristeza, de que falava Camões, fez esquecer.
.....................................................

1- Francisco Roland (F.R.L.I.L.E.L.), Adágios e provérbios, rifãos e anexins da língua portuguesa... compilação de 1841)

2-Isabel MATEO GÓMEZ,
Temas profanos en la escultura gótica espagñola. Las sillerias de coro, Madrid, Instituto Diego Velazquez, 1979)

zazie e musaranho coxo

Aquela menina nua do cadeiral da sé do Funchal parece condenada a gerar equívocos. O caríssimo Ralf lincou o post e fala em actos de sodomia e quem sou eu para duvidar disso.
Mísula de sala de recepção da Câmara de Damme. Séc. XV- cena de banho misto, observada por um louco Na verdade, como contei, é a mesma ideia que provoca aos sacristães madeirenses. Só que, para sermos mais exigentes, o subtexto que a suporta não era directamente esse.
Com efeito, a representação medieval de actos de higiene é que estava associada ao pecado da voluptuosidade e da soberba. Várias são as fontes que o sustentam, desde os banhos de Betsabé- mesmo debaixo do nariz de David, até aos cabelos soltos das filhas de Sião, fustigadas como luxuriosas por Isaías- apenas no que se refere a fontes religiosas.
gravura do século XVII-
Nas profanas, o tema é glosado com variantes que vão da simbologias das águas das regras das sereias e da Melusine, às lâmias bascas, senhoras das águas, na tradição da Catalunha ou os ritos das lavadeiras, de que já falámos a propósito das rosas das ursas.

Na tragicomédia La Celestina, Fernando Rojas leva ao extremo este sentido lúbrico, quando caracteriza a alcoviteira: « Ella ténia seus ofícios, conviene saber: lavadera, perfumera, maestra de hacer afeites y de hacer virgos, alcahueta y un poquito hechícera. Era el primer oficio cobertura de los otros, so color del cual muchas mozas destas servientas entraban en su casa a lavar-se »

Brueghel,7 pecados mortais, soberba, 1556 (det.)Sem rodeios, Brueghel representou este acto de lavagem de cabelos femininos a par do homem a fazer a barba, numa das suas satíricas alegorias aos pecados mortais- neste caso, ilustrando a soberba.

Mas, para que não se pense que se preferiam tristezas a folias, naqueles tempos tão contrastados, voltaremos ao assunto.


Até já

.....................
Ver: Isabel MATEO GÓMEZ, Temas profanos en la escultura gótica espagñola. Las sillerias de coro, Madrid, Instituto Diego Velazquez, 1979)

No meio de umas reflexões acerca da mística e das distracções do arraiasolado fenomenológico da criação, o caro Despastor invoca as nossas caçadas por terrenos escorregadios do catolicismo badalhoco.
Impregnado de temores estéticos e sensuais à S. Bernardo, reconhece o caso extremo que lhe deitaria por terra as convicções religiosas, tão bem protegidas pela quentinha manta espiritual em que se aconchega- e confessa:
Mas, se, por exemplo, a Zazie descobrir um baixo-relevo com umas freiras a serem sodomizadas por um papa-formigas albino nalguma abadia normanda, aí sim, todo o corpo doutrinal em que assenta a minha fé correrá o risco de desabar como um castelo de cartas, dois de copas incluído, e poderei ter de me dedicar a tempo inteiro a ganhar dinheiro com posições curtas em futuros com fundos de sub-prime
Ora estas provocações pagam-se caras. O que eu não daria por caçar um papa-formigas albino mesmo que fosse no Alentejo, quanto mais na Normandia e, ainda por cima, em badalhoquices com uma freira.
ornitorrinca do cadeiral da sé de ViseuPois fique o caríssimo Despastor sabendo que nem sempre o bicho se ajeita com alimária da sua espécie.
Por exemplo- o bom do nosso cardeal D. Miguel da Silva , a quem Baldassare Castiglione dedicou o Livro do Cortesão, teve uma ornitorrinca em Viseu, mas não consta que o animal tenha feito poucas-vergonhas com as freiras. Na verdade, quem mais o fodeu (ao bispo) até foi o D. João III, que o acusou de pederastia e lhe tramou a brilhante carreira em Roma. E, mesmo neste caso, o assédio nem terá vindo do marsupial, quanto mais de monja.
Boschcolegiada de Beverley, Yorkshire



















Por outro lado, várias foram as freirinhas imortalizadas na tela e na pedra que substituíam o bichano por um eficaz godemiche, ou que preferiam carícias mais pecaminosas entre elas, conciliando o rosário e a cruz com a protecção velada do grande bode.

Reconhecerá também, quem está habituado a desfazer rebanhos, que o pior lobo é o que acorre à imaginação da casta ovelha.
menina nua, cadeiral da sé do FunchalDou-lhe mais um exemplo- não há cura nem sacristão que não tenha ideias tristes com esta menina nua do cadeiral da sé do Funchal.
Vá-se lá saber porquê, insistem que foi destruído o par que a “completava” por trás, quando, o que o artista se esqueceu foi de acrescentar a bacia (como no caso de Zamora), pois as piquenas apenas se punham nestas posições para poderem lavar os cabelos.


hedghogging-The fox knows many things, but the hedgehog knows one big thingE mais; não se retire, com tanta confiança, para as investidas na bolsa. É que, quando o estímulo passa ao vil metal, saltam mais as meninges que o resto. E, como também deve saber quem conhece a vida do campo, não há subprime que resista à estultice de um hedge fund, nem ouriça-cacheira que por baixo não se queixe.
blind hedgehog










Esses glutões eriçados fodem o mercado e ainda gostam muito de citar Isahia Berlin para justificarem a perícia no açambarcamento dos frutos, mas depois, quando chega a hora da dança, embaralham-se todos.