[...] Outrora, nos dias de trovoada, as criadas da minha casa gritavam por São Jerónimo, ao fuzilar de cada relâmpago.

Aqueles gritos desenhavam-me a figura do Santo, num instantâneo clarão vermelho, em negro fundo de ribombo cavernoso. Essa figura lívida ficou-me, na memória, com uma nuvem que pairou, sinistra e cor de bronze, nos fraguedos do Marão; a serra das trovoadas de São Jerónimo e de outros santos e santas da tempestade. Já decorreram mais de cinquenta anos; um número que, acrescentado de dois zeros, atiraria comigo para lá dos reis da Babilónia e dos Faraós do Egipto. Viajo através do tempo... [...]

Teixeira de Pascoaes, São Jerónimo
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