Corria o ano de 1916, andava Afonso Costa em entusiastas mediações para envolver Portugal na Guerra, encontra-se a 24 de Julho, no Hotel Meurice, com João Chagas que anotou no seu diário:

«Três horas numa sala do Hotel Meurice a ouvir falar o Afonso Costa dos resultados da sua missão a Londres, d’onde chegou esta noite. (...) Affonso Costa abriu uma serviette de coiro, rebentando a papelada, escolheu os documentos, mostrou-mos, leu-mos, pois tudo veio já de Londres escripto e assinado e eu não pude deixar de dizer: É perfeito! Mas não disse mais nada, porque por fadiga, por desilusão, por desconfiança, perdi o habito de ser exhuberante. A exhuberancia de resto diminue a nossa força social. (...) O Affonso Costa, perante a minha reserva, desenvolveu os seus resultados: as despesas de guerra serão pagas dois annos depois da paz, mediante um empréstimo, que a Inglaterra se encarregará de collocar, disse ele. Pareceu-me bem. O que comprometeria o effeito moral do nosso concurso militar seria que a Inglaterra o pagasse do seu bolso. Os navios cedidos à Inglaterra navegarão sob a bandeira portuguêza e terão tripulações portuguêzas. Também me pareceu bem. Em summa, tudo me pareceu excellente e se não sellei a minha impressão de alegria patriótica com um aperto de mão a Affonso Costa é que este homem é um animal junto de quem é sempre preciso fazer reservas»

Diário de João Chagas
, Lisboa, 1929.
Imagem Fabrica das Devesas de António Almeida &Costa Pintado à Mão Pelo Mestre Pintor José Brito Sobrinho

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