Querem-me assassinar. Mataram-me. Acabei.
Justiça, Deus do céu! Oh da ronda! oh da guarda!
Estou perdido e morto. Um chuço! uma espingarda!


Aqui del-rei, ladrões! Ladrões, aqui del-rei!

Roubaram-me o meu sangue, os meus dez mil cruzados.
Quem seria? quem foi? persigam-me os malvados!
Quem mos trouxer co roubo, of’reço-lhe um quartinho...
meia moeda... mais, que eu nunca fui mesquinho.
Para onde fugiu? Onde está ele? aonde?
Corram, vasculhem tudo, a ver onde se esconde.
Ali não!... Aqui não!... Agarra o bandoleiro!
Vê-lo cá vai... Agarra, agarra o meu dinheiro!
.....................
Filei-te, mariolão! Larga o que não é teu!...
Estou perdido e doido; o que apanhei, fui eu.
E eu quem sou? onde estou? que hei-de fazer? que posso?
Ah, meus ricos dobrões, se eu era todo vosso,
como pudestes vós deixar-me só no mundo!!
Que situação! que horror! que inferno tão profundo!
Ninguém tem dó de mim; sou Lázaro; sou Job.
....................
Perdi tudo, e ninguém, ninguém de mim tem dó.
.................
Enforcar tudo a esmo, até que surda alguém
co meu cofre; aliás enforco-me eu também.
...................
De quem me hei-de eu valer! Demónio! Eu te requeiro:
Leva-me um olho... e os dois, mas dá-me o meu dinheiro.

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[cartoon: Maurice de Feraudy como Harpagão]

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