Pois é, o Céline também não gostava da vida fingida dos “movies”. Mas eu gosto de “movies” desde que me conheço e dificilmente me imaginaria a viver sem eles.
É uma espécie de chamamento “primordial”. De vez em quando vem o apelo do mar, o de me perder pelos campos em busca de uma igrejinha medieval e de uma gárgula desconhecida ou o dos comboios e das velhas bibliotecas. O resto é mais trivial e o teatro, por exemplo, sempre foi facilmente substituível por escrito.
Como tudo o que é bom, e se deve saborear com calma, não vou muito ao cinema. Já fui quando ainda tinha muita coisa para conhecer. Mas, gostar de cinema não é só ver “grandes obras”. É chegar de viagem, depois de muitos dias fora da “civilização” e ir a correr com mala de viagem (e até com família e amigos atrás) para dentro de um filme.
Gostar de cinema é também ter um qualquer prazer por “géneros menores”- daquele mundo que só existe no celulóide. Perco-me por policiais de série B, por qualquer treta de terror de série Z e por filmes de cowboys.
Começando por estes, porque também podem entrar entre os eleitos de sempre- corroboro o Imperdoável escolhido pelo Dragão. Podia escolher um Ford, podia eleger o Pekimpah e até outro do Clint, mas vai mesmo o Unforgiven, que me lembro de ter visto num dia em que me deu um amok e tive vontade de fazer umas baixas no local de trabalho. Safou-me o Clint e valeu pela troca.
Antes do Unforgiven ou The Searchers (a Desaparecida), ou de todo o Hitchkock, está o Bresson e aposto que vai ser por aqui que a Cris também vai começar. Pelo Bresson ou pelo Ozu. Difícil é escolher um Bresson- Podia ser Au Hasard Balthazar que, nem sei bem porquê, é o filme da minha vida, mas vai o “Fugiu um Condenado à Morte”. Memória de cárcere numa meticulosa obra de “alfaiate” a trabalhar a par da sorte.
O terceiro faz parte das fantasias de aventura que enchem a alma e dão belas lições para a vida- Moonflet (O Tesouro do Barba Ruiva) do Fritz Lang
E fico mesmo por aqui. Filmes não faltam no Cocanha.