Wann immer wir Kraft geben
geben wir das Beste
all unser Koennen, unser Streben
und denken nicht an Feste
Und die Kraft bekommen alle
wir bekommen nur das Beste
wenn jedermann auch alles gibt
dann wird auch jeder alles kriegen
Leben heisst Leben!
Dedicado ao Lutz
Também posso mandar o bitaite, totalmente gratuito, que não se trata de representação da guerra de Espanha mas da rebelião na Florida.
Até porque aquela viagem tem muito de visão de Túndalo, à semelhança de outras de que já aqui falámos.
Até porque aquela viagem tem muito de visão de Túndalo, à semelhança de outras de que já aqui falámos.
Did I kill that fellow?
— what is fate?
— life
— I understand what I see in him.
— What is it?
— It's the truth about us all
Though I speak with the tongues of men and of angels, and have not charity
They can’t hear you Father!
We’ve always drowned your voice with our shouting
When I was a child, I spoke as a child, I understood as a child, I thought as a child: but when I became a man, I put away childish things
Is it far?
It’s a long way Johnny but I’m coming width you
We are going together
— what is fate?
— life
— I understand what I see in him.
— What is it?
— It's the truth about us all
Though I speak with the tongues of men and of angels, and have not charity
They can’t hear you Father!
We’ve always drowned your voice with our shouting
When I was a child, I spoke as a child, I understood as a child, I thought as a child: but when I became a man, I put away childish things
Is it far?
It’s a long way Johnny but I’m coming width you
We are going together
Então não é que ao Zé Grandão deu-lhe para coleccionar minhocas e, ainda por cima, travesti-las de panda...?
“:O?
«(...) vel insipientes homines, qui ad fontes atque arbores sacrilegium faciunt (...)»
Já Leão Magno mencionava os insipientes homines, vestidos de pele de veado, ameaçando com penitência de quarenta dias os sacerdotes que, mesmo depois de mais do que uma advertência, ainda se relaxassem ao ponto de administrar comunhão, pelas calendas de Janeiro, aos fiéis disfarçados de veados e de ovelhas.
Já Leão Magno mencionava os insipientes homines, vestidos de pele de veado, ameaçando com penitência de quarenta dias os sacerdotes que, mesmo depois de mais do que uma advertência, ainda se relaxassem ao ponto de administrar comunhão, pelas calendas de Janeiro, aos fiéis disfarçados de veados e de ovelhas.
Já o arcebispo Agobardo contava como os senhores laicos se achavam no direito de eleger quem bem eles queriam como sacerdote. Tratavam-nos com tal respeito que estes até davam em sacerdotes multi-usos. Levavam os cães à caça, serviam de pajens às senhoras, eram moços de cozinhas e criados do poder laico e nem direito a comer à mesa do senhor tinham.
.........................
Agobardo, "Ep. Ad Bernardum", in M.G. H., Epistolae merov. Et karolini aevi, I, t. III, ep. 5, pág. 445- citado por Oronzo Giordano, Religiosidad Popular en la Alta Edad Media, Gredos, Madrid, 1983
.........................
Agobardo, "Ep. Ad Bernardum", in M.G. H., Epistolae merov. Et karolini aevi, I, t. III, ep. 5, pág. 445- citado por Oronzo Giordano, Religiosidad Popular en la Alta Edad Media, Gredos, Madrid, 1983
Mas, já em sínodos bem antigos, realizados na Velha Albion, tiveram que proibir os sacerdotes de celebrarem missa com as pernas desnudadas à mostra e de usarem cornos com vinho, no momento da eucaristia.
.......................
Cfr Synodica, 7: Patrologiae Latinae, 136, 560)
.......................
Cfr Synodica, 7: Patrologiae Latinae, 136, 560)
Os democacas sempre me baralharam.
Então não é que agora descobriram que não sei quantos milhares de irlandeses foram instrumentalizados por um milionário desconhecido, para votarem contra os seus próprios interesses?
Palermas- com tanta gente da casa a fazer propaganda séria, haviam logo de cair no conto do vigário de um gajo a soldo do estrangeiro.
Então não é que agora descobriram que não sei quantos milhares de irlandeses foram instrumentalizados por um milionário desconhecido, para votarem contra os seus próprios interesses?
Palermas- com tanta gente da casa a fazer propaganda séria, haviam logo de cair no conto do vigário de um gajo a soldo do estrangeiro.
A “Europa” manda à revelia do povo. A “Europa”. Ou seja, um certo grupo dirigente da Alemanha e da França e a burocracia de Bruxelas. Foi assim desde o princípio. A “Europa” legifera, dirige, proíbe, regula, comina e o mais que entende, os pequenos países recolhem com reverência a vontade da “Europa” e o cidadão anónimo obedece, sem saber porquê e, pior ainda, sem saber a quem. Tudo para a sua saúde e felicidade, naturalmente. A convenção estabelece que os “grandes” seguem sempre uma ideia angélica, mesmo quando a crassa ralé não a compreende. Mas, como a democracia faz parte da doutrina e do dogma, é de quando em quando necessário “consultar” a figura sinistra do eleitor e o eleitor, por muito que o sarrazinem e apertem, tende ocasionalmente a estragar a obra da verdade e da luz.
Anteontem, a Irlanda votou contra o Tratado de Lisboa por uma confortável maioria (53,4 por cento). Não houve razões que a convencessem. Persistiu, impassível, na sua estúpida obstinação. O caso não é novo. A própria Irlanda já tinha votado contra “Nice”. A Dinamarca já tinha votado contra “Maastricht”. E, em 2005, incompreensivelmente, a França e a Holanda tinham votado contra uma exemplar “Constituição”, que o Tratado de Lisboa veio depois substituir. Este último percalço resolveu, de resto, a “Europa” a pôr o povo definitivamente de lado e a encarregar os políticos de “ratificar” a coisa. No Parlamento, claro, sob vigilância. Só que a Irlanda, por causa de uma lei absurda, não podia escapar ao referendo e o exercício, como se esperava, acabou mal.
O Tratado de Lisboa, que requer para entrar em vigor o consentimento unânime dos signatários, pareceu por uma vez morto e enterrado.
Sócrates por um pouco não chorou e a “Europa”, pela forma, gemeu. Não valia a pena. Durão Barroso disse logo ao mundo e arredores que o cadáver continuava vivo. A Irlanda não conta. Basta inventar uma nova maneira para rodear, calar ou suprimir a opinião da ignorância, que se julga independente ou soberana. Ou se empurra a Irlanda para um estatuto ambíguo, entre o cá e o lá, o dentro e o fora. Ou se resolve imediata e fraudulentamente atribuir ao Conselho Europeu a “ratificação” final. Suceda o que suceder, a “Europa” não “pára” por uns votos. De que, aliás, não gosta.
Vasco Pulido Valente, jornal Público
O veado místico também bodegou e a culpa até foi de um animal fabuloso- o aptalos traguelafos ou travesti de antílope. Estes bovídeos eram tidos por uma espécie bastarda do veado e a sua simbologia torna-se o negativo do veado místico
O animal era denominado tachamury entre os judeus ou jamur para os árabes. De acordo com o Talmude até punham ovos gigantes, cujas propriedades medicinais os tornavam muito disputados.
Santo Epifânio conta a lenda dos aptalos, velozes como o vento mas enamorados das águas do rio Eufrates. Ficavam de tal modo embriagados de felicidades por as beberem que acabavam por emaranhar as hastes nos ramos das árvores. Sem se conseguirem desprender, tornavam-se presas fáceis dos caçadores que deste modo os capturavam.
Guilherme da Normandia, no seu Bestiário Divino faz desta lenda uma alegoria cristã em que o antílope- aptalos-traguelafos se assemelha ao cristão que só pensa nos prazeres da vida e se afasta do estudo da doutrina sagrada.
Por outro lado, o próprio cervo também nem sempre é assim tão casto, já que dele se aproxima a divindade pagã do homem-veado- o Cernunnos celta ou mesmo outros chifrados mais antigos das lendas da suméria.
Estes cultos cruzam-se com os ritos de iniciação que na Grécia tiveram por patrona Artemísia dos sacrifício de Acteon. Em honra da casta deusa que caça veados (elaphêbolos), na variante Brauroniana, cujo culto sangrento, introduzido por Licurgo, de que já falámos a propósito das filhas de Lycaon,era feito com sacrifício de jovens efebos.
No final do Império Romano, as tradições oriundas da Babilónia tendem a misturar-se, actualizando-se muitos ritos em torno da divindade do veado-branco- o mesmo que aparece nas lendas do Graal- encontrá-lo era presságio de algum estranho acontecimento.
A tradição pagã das mascaradas dos ritos dos solstícios é uma derivação destes ritos que devem ter-se misturado com práticas heréticas. Na procissão da missa negra, como Bosch mostra nas Tentações de Santo Antão, um mitrado dirige-se em parelha com um personagem com cabeça de veado para a entrada do cu do demo.
Com o nosso D. Fuas Roupinho, a ideia do diabo era a mesma, e foi tão lesto quanto estes aptalos lendários, mas bem que acabou por partir os cornos lá em baixo.
Entretanto, as caçadas a homossexuais e adúlteros que eram habituais no dia do veado, como reminiscências destes charivaris campestres, também já se inverteram.
Consta que agora eles é que aproveitam os santos populares para se caçarem com patrocínios camarários.
E quem nos diz que a própria besta do Apocalipse não se mascara com penas de avestruz, para desfilar na parada.
..................................
ver também: L. Charbonneau-Lassay, El bestiario de Cristo. El simbolismo animal en la Antuguedad y la Edad Media, José J. de Olañeta, Editor, Palma de Mallorca, 1997, vol.2.
O animal era denominado tachamury entre os judeus ou jamur para os árabes. De acordo com o Talmude até punham ovos gigantes, cujas propriedades medicinais os tornavam muito disputados.
Santo Epifânio conta a lenda dos aptalos, velozes como o vento mas enamorados das águas do rio Eufrates. Ficavam de tal modo embriagados de felicidades por as beberem que acabavam por emaranhar as hastes nos ramos das árvores. Sem se conseguirem desprender, tornavam-se presas fáceis dos caçadores que deste modo os capturavam.
Guilherme da Normandia, no seu Bestiário Divino faz desta lenda uma alegoria cristã em que o antílope- aptalos-traguelafos se assemelha ao cristão que só pensa nos prazeres da vida e se afasta do estudo da doutrina sagrada.
Por outro lado, o próprio cervo também nem sempre é assim tão casto, já que dele se aproxima a divindade pagã do homem-veado- o Cernunnos celta ou mesmo outros chifrados mais antigos das lendas da suméria.
Estes cultos cruzam-se com os ritos de iniciação que na Grécia tiveram por patrona Artemísia dos sacrifício de Acteon. Em honra da casta deusa que caça veados (elaphêbolos), na variante Brauroniana, cujo culto sangrento, introduzido por Licurgo, de que já falámos a propósito das filhas de Lycaon,era feito com sacrifício de jovens efebos.
No final do Império Romano, as tradições oriundas da Babilónia tendem a misturar-se, actualizando-se muitos ritos em torno da divindade do veado-branco- o mesmo que aparece nas lendas do Graal- encontrá-lo era presságio de algum estranho acontecimento.
A tradição pagã das mascaradas dos ritos dos solstícios é uma derivação destes ritos que devem ter-se misturado com práticas heréticas. Na procissão da missa negra, como Bosch mostra nas Tentações de Santo Antão, um mitrado dirige-se em parelha com um personagem com cabeça de veado para a entrada do cu do demo.
Com o nosso D. Fuas Roupinho, a ideia do diabo era a mesma, e foi tão lesto quanto estes aptalos lendários, mas bem que acabou por partir os cornos lá em baixo.
Entretanto, as caçadas a homossexuais e adúlteros que eram habituais no dia do veado, como reminiscências destes charivaris campestres, também já se inverteram.
Consta que agora eles é que aproveitam os santos populares para se caçarem com patrocínios camarários.
E quem nos diz que a própria besta do Apocalipse não se mascara com penas de avestruz, para desfilar na parada.
..................................
ver também: L. Charbonneau-Lassay, El bestiario de Cristo. El simbolismo animal en la Antuguedad y la Edad Media, José J. de Olañeta, Editor, Palma de Mallorca, 1997, vol.2.
O veado é inimigo das cobras como Cristo do Demo. Quando um veado dá com um buraco onde se esconde uma cobra, atira-lhe com água, lança-lhe o bafo mortífero para dentro, obrigando o réptil a sair do covil e depois mata-o.
Quando o veado macho está velho, engole a serpente venenosa. De seguida procura um riacho, onde bebe a água que o vai revivificar, fazendo-o rejuvenescer, largando a velha armação das hastes.
Ilustração The Queen Mary Psalter, de acordo com Bestiário Divino de Guilherme de Clerc
O veado é inimigo das cobras como Cristo do Demo. Quando um veado dá com um buraco onde se esconde uma cobra, atira-lhe com água, lança-lhe o bafo mortífero para dentro, obrigando o réptil a sair do covil e depois mata-o.
Quando o veado macho está velho, engole a serpente venenosa. De seguida procura um riacho, onde bebe a água que o vai revivificar, fazendo-o rejuvenescer, largando a velha armação dos cornos.
A lenda prende-se com os cultos dos ciclos de renovação da natureza e da floresta- próxima do Cernunnos celta e na versão cristianizada o poder do veado é associado a Cristo e à fonte da vida. Os que bebem dela, tal como o veado, limpam-se dos pecados.
«Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus!»
Sl 42.1-2.
A alegoria moral dos veados que se entreajudam a atravessar o rio é comparada à ajuda que os cristãos prestam ao indicarem os triunfos terrenos em direcção à bem-aventurança celeste.
Na sala dos Brasões, do Palácio de Sintra, D. Manuel mandou pintar a alegoria. Em torno do escudo régio- do qual ele era o centro, rodam setenta e dois brasões de armas das casas dos mais importantes pares que se esforçavam na vassalagem. O número é alegórico- corresponde aos setenta e dois servidores de Cristo.
«Depois disto, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois, à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir (...)Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos».
Lc 10,1–20
Cada caixilho é acompanhado por um veado que, curiosamente, é envolvido por filactérias no que poderia ser uma aproximação à versão da lenda transmitida por Plínio. Segundo esta, Alexandre o Grande, querendo comprovar a longevidade dos veados, promoveu uma caçada para que os animais fossem cobertos por laços de ouro. Passado um século os laços dourados foram encontrados, cobertos com a gordura dos animais.
Se D. Manuel queria evocar o memorial dos a longevidade dos feitos dos seus servidores, a sua equiparação a Alexandre resultaria à medida. A verdade é que nas paredes da sala dos brasões a legenda que mandou escrever completa-lhe a equiparação dos préstimos à causa do reino- “POIS COM ESFORÇOS, LEAIS SERVIÇOS, FORAM GANHADAS, COM ESTAS E OUTRAS TAIS DEVEM SER CONSERVADAS.” As batalhas travadas pelo domínio terreno também são aproximações dos triunfos ao serviço da missão cristã.
.....................
Nota:
Este texto é especulação, mas é minha e do arquitecto Pedro Cid. Portanto, quem o quiser usar, é favor de citar a Zazie do Cocanha e a ele em nota de rodapé.
(o musaranho garante que nunca se lembrou de tal coisa).
Se for em artigo de opinião do Público, podem sempre usar a fórmula do Rui Tavares: "como disse o blogger Ivan Nunes..."substituindo o Ivan Nunes pela Zazie no metro e mais o arquitecto Pedro Cid. Sem esquecer de explicitar que este último não tem currículo académico na qualidade de blogger.
«il existerait en somme chez vous des individus pareils à un infirme endormi sans bras ni jambes rêvant qu'il gesticule et qu'il court
— Vous donnez-là une une excellente définition du poète».
Qu'entendez-vous par "poète"?
Écrire sans être écrivant
Mon pauvre amour, il n’habite nulle part! Les uns croient qu’il pense à nous. D’autres qu’ils nous pensent.
D’autres qu’il dort et que nous sommes sont rêve, son mauvais rêve…
— Vous donnez-là une une excellente définition du poète».
Qu'entendez-vous par "poète"?
Écrire sans être écrivant
Mon pauvre amour, il n’habite nulle part! Les uns croient qu’il pense à nous. D’autres qu’ils nous pensent.
D’autres qu’il dort et que nous sommes sont rêve, son mauvais rêve…
{Reposição da Janela Indiscreta, com acrescentos}
Dizia Hildegarda de Bingen, no tratado de Física que redigiu por volta de 1150, que o macaco «como é muito semelhante ao homem está sempre a observá-lo para depois o imitar. Também partilha os hábitos de outros animais mas, ambos estes aspectos da sua natureza são deficientes, pelo que o seu comportamento não é nem totalmente humano nem totalmente animal».
Esta ideia vai perdurar por muitos séculos, sendo os símios são associados à falta de razão humana, ao pecado da carne e prisão dos instintos.
Os bestiários medievais divulgam uma série de lendas e fábulas, incluindo-os como pretexto para as mais variadas sátiras da marginalia medieva.
No cadeiral da Sé do Funchal existem vários. Alguns fazem alusão ao pecado da gula— são os macacos beberrões, a emborcar sofregamente o vinho por copos e púcaros, enquanto ao lado de um deles um porco pede esmola, mostrando o rolo do atestado de pobreza.
Outro primata toca gaita-de-foles, numa alusão à provocação sexual em que os porcos costumavam levar a palma como se pode ver no portal da Sé de Lamego, a par de cenas de felatio entre meninos.
Numa mísula da Torre de Belém, o macaco é mais erudito— executa com primor alguma cantata no violino, mostrando um ar sorridente e inspirado—.
Era também comum associá-los a cenas de assédio com morcegos fêmeas, com as maminhas à mostra ou, mais explicitamente, a fazerem de médicos, colocando uns edemas no traseiro de outros bichos ou mesmo de humanos, numa alusão aos gays da época.
Noutros casos, podiam aparecer a fazer grandes cozinhados ou como ladrõezecos em fuga, como o que está no cadeiral da igreja de Montemart
As extravagantes droleries medievas tendem a tornar-se cada vez mais mordazes no período gótico. Num manuscrito iluminado do Romance de Lancelote figurou-se uma freira a amamentar um macacão, numa troça ousada às imagens tradicionais da Virgem com o Menino.
Miguel Ângelo, fortemente influenciado pelas teorias neoplatónicas da época, não os esqueceu e, numa alusão ao triunfo da morte pela Vida Contemplativa que se liberta do cárcere terreno, fez acompanhar de símios dois dos escravos inacabados do túmulo de Júlio II.
Numa variante das catalogações das raças do mundo, misturados com as lendas, os macacos são também associados aos sátiros e homens silvestres. Esta crença estava de tal modo inculcada que o próprio Rousseau continua a acreditar na possibilidade dos chimpazés e gorilas, trazidos pelos exploradores, serem espécies de homens primitivos.
Os cientistas baralham-se e continuam a usar a terminologia mítica que, por sua vez, correspondia também, à ideia de homens da selva que os povos autóctones tinham deles. O termo urang-outang, que em malaio tinha esse significado, passa a ser utilizado para descrever chimpazés entretanto apanhados como seres exóticos, no seguimento das navegações.
Ainda que os gorilas só tenham sido descritos em 1840, muito antes, o famoso Nicolaes Tulp (1593-1674), que Rembrandt imortalizou na “Lição de Anatomia”, estudou um destes primatas levado para Amesterdão.
E, macacos me mordam, se o que ele desenhou e publicou no tratado científico- Medicarum Libri Tres, não era mesmo um orangotango e dos verdadeiros...
O que quer que o bicho fosse (e o naturalismo da representação é bem maior que os que se vão seguir)Tulp teve dúvidas quanto à natureza do animal. Acompanhou-o da legenda Homo Sylvestris-Orangutangus e no capítulo dedicado aos Sátiros Índicos, desenvolve o assunto, chegando à conclusão que, no que respeita à tradição fantástica, únicos sátiros que poderiam existir eram aqueles.
Em Inglaterra, o físico Edward Tyson (1650–1708) (que por acaso é antepassado de Darwin), membro da Royal Society, já andava a procurar estabelecer paralelos entre as espécies, como no caso dos golfinhos, catalogando-os como um elo entre os peixes e os quadrúpedes, de forma a redigir uma história natural das espécies.
A ideia não era nova, muito menos a própria teoria das Idades do Mundo, onde teriam existido animais que se cruzaram com homens primitivos, extra criação divina do Edem. No De Rerum Natura, Lucrécio já havia desenvolvido essa história do mundo, sendo suficientemente divulgada e até pintada por Piero di Cosimo, em quadros que misturavam as lendas dos deuses greco-latinos com estes seres.
Tysson rendeu-se à inteligência e anatomia destes primatas e não teve dúvidas em classifá-lo como um ser a meio caminho entre um animal e o homem.
«one would be apt to think, that since there is so great a disparity between the Soul of a Man, and a Brute, the Organ likewise in which ’tis placed should be very different too.».
via Bibliodyssey
Sem saber que tinha dissecado um chimpanzé, atribuiu-lhe características mais humanas como a postura vertical. Não é certa a razão pela qual o bicho foi desenhado apoiado a uma bengala; uma das hipóteses prende-se com a necessidade de apoio em virtude das feridas que recebeu a bordo e das quais viria a morrer.
Certo é que a verticalidade não só foi acentuada, como ainda mais exagerada pelos estudiosos que se seguiram. A dada altura passou a ser comum desenhar-se um “orangotango” sempre acompanhado de bastão.
Só não foi de chapéu de coco, porque esse era mais propício ao paralelo gosto por macaquinhos vestidos e amestrados. Mas o nosso famoso cientista não se coibiu de garantir que até eles (os chimpas)preferiam as louras.
A obra vai ter enorme influência, inclusive nas Viagens de Gulliver de Jonathan Swift. Entre a fealdade dos cavalares Houyhnhnms, mas gentis e racionais e os yahoos, bestiais de face humana, não é difícil de escolher e o Swift sabia que já na altura Londres estava cheia dos segundos.
Estas confusões quanto à natureza humana da macacada vão perdurando e Foucher d’Obsonville (1734-1802) de tão entusiasmado com a hipótese, no tratado de “animais estrangeiros” chega a sugerir que se fizesse o mesmo que os indianos garantiam ser possível- cruzar um orangotango (ele também lhe chamava silvanus) com uma rapariga, a ver o que saía dali.
Entretanto, os pigmeus-gente, lá continuavam catalogados como espécie semi-humana, ainda que se constatasse que até tinham uma religião monoteísta. Apesar de Camper, que nunca acreditou na “evolução” simiesca, ter finalmente estabelecido que os orangotangos eram animais distintos do ser humano, ainda John Locke continuou convencido que o papaio do príncipe Nassau sustentava longas conversas e até era capaz de responder com pertinência racional a perguntas que se lhe colocavam.
Quanto à macacada e aos povos primitivos, ou seres fantásticos, as confusões semânticas prolongam-se e até em pleno século XX, o matulão do lúbrico bonobo foi descrito como um pan paniscus (um pequeno pã).
Está visto que o caminho inverso- do homem ao macaco- foi o passo seguinte e as teorias racistas e eugenistas chamaram-lhes um figo (ou uma banana).
Não foi preciso muito para que sobrasse característica simiesca para os negros e ainda menos para os regionalismos.
Um dos racistas-mor, particularmente inspirador do nazismo- Madison Grant- não se esqueceu dos escoceses e irlandeses, como testemunhos vivos do atraso na evolução das espécies:
«Some of its [do homem do Neerdental] blood has trickled down to the present time, and occasionally one sees a skull of the Neanderthal type. The best skull of this type ever seen by the writer belonged to an old and very intellectual professor in London, who was quite innocent of his value as a museum specimen. In the old black breed of Scotland the overhanging brow and deep-set eyes are suggestive of this race».
E, mais à frente:
«Along with other ancient and primitive racial remnants, ferocious gorilla like living specimens of the Neanderthal man are found not infrequently on the west coast of Ireland, and are easily recognized by the great upper lip, bridgeless nose, beetling brow and low growing hair, and wild and savage aspect»
Não admira que o Hitler dissesse que este livro era a sua bíblia.
The passing of the great racee New York, 1916.
via Dragão
Dizia Hildegarda de Bingen, no tratado de Física que redigiu por volta de 1150, que o macaco «como é muito semelhante ao homem está sempre a observá-lo para depois o imitar. Também partilha os hábitos de outros animais mas, ambos estes aspectos da sua natureza são deficientes, pelo que o seu comportamento não é nem totalmente humano nem totalmente animal».
Esta ideia vai perdurar por muitos séculos, sendo os símios são associados à falta de razão humana, ao pecado da carne e prisão dos instintos.
Os bestiários medievais divulgam uma série de lendas e fábulas, incluindo-os como pretexto para as mais variadas sátiras da marginalia medieva.
No cadeiral da Sé do Funchal existem vários. Alguns fazem alusão ao pecado da gula— são os macacos beberrões, a emborcar sofregamente o vinho por copos e púcaros, enquanto ao lado de um deles um porco pede esmola, mostrando o rolo do atestado de pobreza.
Outro primata toca gaita-de-foles, numa alusão à provocação sexual em que os porcos costumavam levar a palma como se pode ver no portal da Sé de Lamego, a par de cenas de felatio entre meninos.
Numa mísula da Torre de Belém, o macaco é mais erudito— executa com primor alguma cantata no violino, mostrando um ar sorridente e inspirado—.
Era também comum associá-los a cenas de assédio com morcegos fêmeas, com as maminhas à mostra ou, mais explicitamente, a fazerem de médicos, colocando uns edemas no traseiro de outros bichos ou mesmo de humanos, numa alusão aos gays da época.
Noutros casos, podiam aparecer a fazer grandes cozinhados ou como ladrõezecos em fuga, como o que está no cadeiral da igreja de Montemart
As extravagantes droleries medievas tendem a tornar-se cada vez mais mordazes no período gótico. Num manuscrito iluminado do Romance de Lancelote figurou-se uma freira a amamentar um macacão, numa troça ousada às imagens tradicionais da Virgem com o Menino.
Miguel Ângelo, fortemente influenciado pelas teorias neoplatónicas da época, não os esqueceu e, numa alusão ao triunfo da morte pela Vida Contemplativa que se liberta do cárcere terreno, fez acompanhar de símios dois dos escravos inacabados do túmulo de Júlio II.
Numa variante das catalogações das raças do mundo, misturados com as lendas, os macacos são também associados aos sátiros e homens silvestres. Esta crença estava de tal modo inculcada que o próprio Rousseau continua a acreditar na possibilidade dos chimpazés e gorilas, trazidos pelos exploradores, serem espécies de homens primitivos.
Os cientistas baralham-se e continuam a usar a terminologia mítica que, por sua vez, correspondia também, à ideia de homens da selva que os povos autóctones tinham deles. O termo urang-outang, que em malaio tinha esse significado, passa a ser utilizado para descrever chimpazés entretanto apanhados como seres exóticos, no seguimento das navegações.
Ainda que os gorilas só tenham sido descritos em 1840, muito antes, o famoso Nicolaes Tulp (1593-1674), que Rembrandt imortalizou na “Lição de Anatomia”, estudou um destes primatas levado para Amesterdão.
E, macacos me mordam, se o que ele desenhou e publicou no tratado científico- Medicarum Libri Tres, não era mesmo um orangotango e dos verdadeiros...
O que quer que o bicho fosse (e o naturalismo da representação é bem maior que os que se vão seguir)Tulp teve dúvidas quanto à natureza do animal. Acompanhou-o da legenda Homo Sylvestris-Orangutangus e no capítulo dedicado aos Sátiros Índicos, desenvolve o assunto, chegando à conclusão que, no que respeita à tradição fantástica, únicos sátiros que poderiam existir eram aqueles.
Em Inglaterra, o físico Edward Tyson (1650–1708) (que por acaso é antepassado de Darwin), membro da Royal Society, já andava a procurar estabelecer paralelos entre as espécies, como no caso dos golfinhos, catalogando-os como um elo entre os peixes e os quadrúpedes, de forma a redigir uma história natural das espécies.
A ideia não era nova, muito menos a própria teoria das Idades do Mundo, onde teriam existido animais que se cruzaram com homens primitivos, extra criação divina do Edem. No De Rerum Natura, Lucrécio já havia desenvolvido essa história do mundo, sendo suficientemente divulgada e até pintada por Piero di Cosimo, em quadros que misturavam as lendas dos deuses greco-latinos com estes seres.
Tysson rendeu-se à inteligência e anatomia destes primatas e não teve dúvidas em classifá-lo como um ser a meio caminho entre um animal e o homem.
«one would be apt to think, that since there is so great a disparity between the Soul of a Man, and a Brute, the Organ likewise in which ’tis placed should be very different too.».
via Bibliodyssey
Sem saber que tinha dissecado um chimpanzé, atribuiu-lhe características mais humanas como a postura vertical. Não é certa a razão pela qual o bicho foi desenhado apoiado a uma bengala; uma das hipóteses prende-se com a necessidade de apoio em virtude das feridas que recebeu a bordo e das quais viria a morrer.
Certo é que a verticalidade não só foi acentuada, como ainda mais exagerada pelos estudiosos que se seguiram. A dada altura passou a ser comum desenhar-se um “orangotango” sempre acompanhado de bastão.
Só não foi de chapéu de coco, porque esse era mais propício ao paralelo gosto por macaquinhos vestidos e amestrados. Mas o nosso famoso cientista não se coibiu de garantir que até eles (os chimpas)preferiam as louras.
A obra vai ter enorme influência, inclusive nas Viagens de Gulliver de Jonathan Swift. Entre a fealdade dos cavalares Houyhnhnms, mas gentis e racionais e os yahoos, bestiais de face humana, não é difícil de escolher e o Swift sabia que já na altura Londres estava cheia dos segundos.
Estas confusões quanto à natureza humana da macacada vão perdurando e Foucher d’Obsonville (1734-1802) de tão entusiasmado com a hipótese, no tratado de “animais estrangeiros” chega a sugerir que se fizesse o mesmo que os indianos garantiam ser possível- cruzar um orangotango (ele também lhe chamava silvanus) com uma rapariga, a ver o que saía dali.
Entretanto, os pigmeus-gente, lá continuavam catalogados como espécie semi-humana, ainda que se constatasse que até tinham uma religião monoteísta. Apesar de Camper, que nunca acreditou na “evolução” simiesca, ter finalmente estabelecido que os orangotangos eram animais distintos do ser humano, ainda John Locke continuou convencido que o papaio do príncipe Nassau sustentava longas conversas e até era capaz de responder com pertinência racional a perguntas que se lhe colocavam.
Quanto à macacada e aos povos primitivos, ou seres fantásticos, as confusões semânticas prolongam-se e até em pleno século XX, o matulão do lúbrico bonobo foi descrito como um pan paniscus (um pequeno pã).
Está visto que o caminho inverso- do homem ao macaco- foi o passo seguinte e as teorias racistas e eugenistas chamaram-lhes um figo (ou uma banana).
Não foi preciso muito para que sobrasse característica simiesca para os negros e ainda menos para os regionalismos.
Um dos racistas-mor, particularmente inspirador do nazismo- Madison Grant- não se esqueceu dos escoceses e irlandeses, como testemunhos vivos do atraso na evolução das espécies:
«Some of its [do homem do Neerdental] blood has trickled down to the present time, and occasionally one sees a skull of the Neanderthal type. The best skull of this type ever seen by the writer belonged to an old and very intellectual professor in London, who was quite innocent of his value as a museum specimen. In the old black breed of Scotland the overhanging brow and deep-set eyes are suggestive of this race».
E, mais à frente:
«Along with other ancient and primitive racial remnants, ferocious gorilla like living specimens of the Neanderthal man are found not infrequently on the west coast of Ireland, and are easily recognized by the great upper lip, bridgeless nose, beetling brow and low growing hair, and wild and savage aspect»
Não admira que o Hitler dissesse que este livro era a sua bíblia.
The passing of the great racee New York, 1916.
via Dragão
Daqui à antropogenia de Haechel foi um passo e os netinhos de Darwin estão aí, a tentar ressuscitar a farsa, agora em nome da santidade da ciência.
.....................
ver também:
Ptolemy Tompkins,O macaco na arte,Quetzal, Lisboa,1994.
Raymond Corbey, The Metaphysics of Apes: Negotiating the Animal-human Boundary, Tilbury University and Leiden University, Cambridge University Press, 2005 online
Subscrever:
Mensagens (Atom)