É claro que não, mas pode muito bem ter sido um Duchamp avant la lettre. Em plena revolução francesa, juntamente com o Boullé e o Ledoux, dedicou-se a projectos arquitectónicos visionários que ficaram pelo papel.
Inspirados em exotismos egípcios ou até em coisas mais simples como abat-jours e outras variantes decorativas, estes arquitectos fantasistas construíram um mundo surreal e kitsch onde se misturam ingénuos classicismos com ideias utópicas que fariam as delícias de um Corbusier.
Lequeu foi totalmente ignorado em vida. Sem nunca ter conseguido participar nos Salons, apanhou com a revolução e ainda tentou vender os desenhos nos jornais, mas acabou por se retirar deixando algumas boas frases de desdém pelos contemporâneos.
templo da verdura de Ceres, situado no meio da planície
templo dedicado à Liberdade
No meio de tantos projectos minuciosamente impossíveis e arrojados, como templos subterrâneos e fechaduras, também se dedicou com idêntico afinco ao estudo de uma porta ou de uma orelha; de um sanitário ou de uma jovem rapariga catalogada como enigma arquitectónico.
O tom lúbrico com que impregnou as pesquisas do sexo feminino tinha tanto de cerebral que por vezes mais parecia obra de histologista.
Mas para si guardou a melhor parte em variações eróticas de representações femininas, retratando-se como esfíngica e provocante senhora ou como desbocada moçoila do povo.
Auto-retrato (1773)
Auto-retrato (1786)
E a verdade é que ao olharmos para elas até a Rrose Sélavy do Duchamp não passa de uma tia ansiosa pela hora da canasta...