Será Jean-Jacques Lequeu um heterónimo de Marcel Duchamp?

É claro que não, mas pode muito bem ter sido um Duchamp avant la lettre. Em plena revolução francesa, juntamente com o Boullé e o Ledoux, dedicou-se a projectos arquitectónicos visionários que ficaram pelo papel.
Inspirados em exotismos egípcios ou até em coisas mais simples como abat-jours e outras variantes decorativas, estes arquitectos fantasistas construíram um mundo surreal e kitsch onde se misturam ingénuos classicismos com ideias utópicas que fariam as delícias de um Corbusier.

Lequeu foi totalmente ignorado em vida. Sem nunca ter conseguido participar nos Salons, apanhou com a revolução e ainda tentou vender os desenhos nos jornais, mas acabou por se retirar deixando algumas boas frases de desdém pelos contemporâneos.








templo da verdura de Ceres, situado no meio da planície















templo dedicado à Liberdade




















No meio de tantos projectos minuciosamente impossíveis e arrojados, como templos subterrâneos e fechaduras, também se dedicou com idêntico afinco ao estudo de uma porta ou de uma orelha; de um sanitário ou de uma jovem rapariga catalogada como enigma arquitectónico.

O tom lúbrico com que impregnou as pesquisas do sexo feminino tinha tanto de cerebral que por vezes mais parecia obra de histologista.
Mas para si guardou a melhor parte em variações eróticas de representações femininas, retratando-se como esfíngica e provocante senhora ou como desbocada moçoila do povo.

Auto-retrato (1773)
















Auto-retrato (1786)












E a verdade é que ao olharmos para elas até a Rrose Sélavy do Duchamp não passa de uma tia ansiosa pela hora da canasta...

6 comentários:

Combustões disse...

Belíssimo site. Enciclopédico, reflexivo e opinativo sem ser pedante, marca pela diferença e entusiasmo didáctico. Passo aos meus favoritos.

Harry Lime disse...

A zazie está sempre a surpreender os fãs.

Não tenho escrito nem passado por aqui porque o trabalho tem apertado.

:))))

zazie disse...

beijocas Harry!

dan disse...

Embora não tenha ideia de que o Duchamp se tenha dedicado a projectos de arquitectura e a comparação me pareça arrojada, gostei de *conhecer* este Lequeu.

Dedicar-se *minuciosamente ao impossivel* sim, parece heteronomizável.
E os autoretratos!.) da pintura para a fotografia, o mesmo jogo.)

(nice to have you on my favorites.)

zazie disse...

thanks dan. A comparação foi uma brincadeira. Devia ter dito arquitecto no sentido humanista do termo: projectista- aquele que teoriza sobre uma obra. E o Duchamp tal como o Lequeu deixou uma série de "máquinas" projectadas que nunca foram construídas mas eram minucisamente viáveis.

dan disse...

MIMP - máquinas impossiveis minuciosamente projectadas .)))