Com efeito, apenas se lembrou de catalogar, desenhar e pintar tudo o que era conhecido e desconhecido na Natureza, pelo que não será excessivo se pelo caminho se convenceu que esbarrou com alguns.
Quanto a explicações para estes desregramentos que tanto o entusiasmavam, o notável bolonhês preferiu seguir a tradição bíblica e clássica e atribuir a culpa às mulheres. Ou porque estavam menstruadas na altura do coito, ou porque eram dadas a excessos imaginativos igualmente impuros, os desvarios internos acabavam por imprimir uma série de disformidades no feto.
No entanto, os seus monstros são sempre rebuscadíssimos e, fora o facto de serem desnaturados, em matéria de elegância não ficam atrás de muitos entes que se mantiveram na boa órbita da Natureza.
No caso desta casta peludinha, fica-se mesmo com vontade de experimentar uma receita de outro expert polivalente que foi o Giambattista della Porta (de quem trataremos um destes dias).No tratado Magiae Naturalis, entre mil outros assuntos, também incluiu um detalhado manancial de receitas de beleza e cuidados femininos.
Na introdução à cosmética, o mago cientista teve o cuidado de explicar que não era sua intenção promover a luxúria. Mas, já que Deus criara a mulher para agradar ao homem e com esta atracção evitar que e espécie se finasse, nada como uma pequena ajuda quando surgiam alguns entraves inestéticos.
Possivelmente até o problema do excesso de pêlos como o da moça de Aldrovandi poderia ser resolvido sem grandes gritarias extemporâneas.
Seria caso para experimentar uma boa mistura de unguento de rã ou sapo branco, ou óleo de vomitado de salamandra indisposta. E era para usar à confiança pois, como o cientista assegurava, a receita já vinha de Varrão.
Se o caso fosse mais grave, o melhor seria remover definitivamente a insistente pelagem para não haver surpresas no dia seguinte... Para tal bastaria esfregar a superfície anteriormente depilada com uma mistura de unhas moídas de mulher e gotas de vitríoloco, massajando isto (e tudo o resto) muito bem massajado.
Pois bem, Não há nada como tentar a sorte. É aproveitar a época de caça e, em vez de ir aos patos, tentar a sorte com uns sapos brancos. Pode ser que pelo caminho ainda haja encontro com uma peludinha destas atrás de uma árvore...