Corria o ano de 1491; por todas as terras onde assentava o cortejo da corteja da princesa D. Leonor, prometida em casamento ao malogrado filho de D. João II, havia festa de monta, com justas, danças mouriscas, e prandio a condizer.
mouro a fazer um slamaleque, cadeiral de S.ta Cruz de Coimbra, c. 1513-18

Estes mouros caseiros há muito que conviviam com as outras minorias, sem motivo para alarmes entre portas. O monarca até os tinha convocado para o festejo da cidade de Évora, todos os tocadores e bailadeiras mouriscas para animar a recepção, ordenando que fossem alimentados pela cidade.
No entanto, a peleja no Norte de África recordava combates bem mais difíceis de vencer que as aventuras marítimas à descoberta.

Terá sido com esta imagem bem presente na fantasia, que o monarca se lembrou de combinar com uns fidalgos uma partida a pregar à rainha e restantes pares que o acompanhavam.
Aproveitando a saída do rei a banhos, nas mesmas águas que, em breve, lhe levariam o filho, decidiram simular uma espera, disfarçados de infiéis.

Apesar da improbabilidade de se tratar de qualquer ataque verídico, Garcia de Resende conta o susto que a chalaça da arremetida escaramuça provocou aos batedores do monarca:

«(...)el Rey com todos se foy ao campo, e indo por elle lhe sahio o Duque dom Manoel, irmão da Raynha, de hua cillada com doze fidalgos de sua casa, todos vestidos de hua maneyra de brocados, e ricas sedas, muy galantes a mourisca, com fuas lanças nas mãos, com bandeyras, e as adargas embraçadas com grande grita como mouros. E, os corredores del Rey que diante eram como hiam descubrir terra, vieram todos fugindo, e bradando alto, Mouros, Mouros».

Isto aconteceu nos tempos em que os bravos se confrontavam corpo a corpo, quando eram os próprios chefes quem avançava à frente das tropas.

Serve o exemplo apenas para se imaginar o que aconteceria no presente se, em vez de batedores de monarca, tivéssemos apoiantes de cartoonistas bêbados, cuja máxima bravura que conseguem desencantar são uns insultos aos imigrantes.
Tenho a certeza que, por cá, com tão ladino “avençado” na luta contra o infiel, eram ludibriados na mesma.
Com a diferença que bastaria que lhes aparecesse ao caminho um anão de toalha amarrada à cabeça e barbas postiças, para desarmagedarem aos gritinhos para dentro do Tejo.
..........
Garcia de Resende, Crónica de D. João II, Cap. CXXXI(ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1973, p. 192)

6 comentários:

Elypse disse...

Só ontem reparei, já tarde, na contenda lá pelo Aspirina.

Enfim...

zazie disse...

contenda é uma doçura de eufemismo...

foram trucidados

":O)))

bisou

Paulo Porto disse...

Duas notas sobre o post.
1.Os mouros a fingir de D.João segundo não têm nada a ver com os islamitas a sério dos enclaves islâmicos da Europa de hoje, embora se possa tentar fingir que sim.
2.Aquelas letras compridas parecidas com 'f'.s que aparecem em manuscritos medievais e renanscentistas não são 'f's, embora pareçam; são mesmo 's's.
Portanto, não é 'fahio' é mesmo 'sahio', não é 'fua' é mesmo 'sua'.

zazie disse...

É isso mesmo. O scanner alterou as letras, obrigada.

Claro que não há comparação. Estes imigras da Dinamarca, ao que consta, limitaram-se a ser muçulmanos a quem queriam catequizar os filhos com livrinhos de BD a achincalhar o Corão.

Com os outros não havia ateus preocupados em doutrinar criancinhas alheias.

A única questão nesta historieta é que ainda há quem queira vender outra treta.

Dizem que foi mero exercício especulativo de "liberdade de expressão", para ajudar a integrar imigras.
E depois, eles é que foram ingratos e deixaram a liberdade de expressão amordaçada na Dinamarca, ainda que não se saiba por quem, já que a porcaria foi livremente publicada.

A comparação mais próxima que encontro, é mesmo com a revolução cultural do Mao ou com as nossas brigadas do MFA.

Mas pronto, o ameaçado diz que serviu para lhe fortalecer a crença ateia e contra fezadas dessas é que não há nada a fazer.

zazie disse...

Ah, e também se justificou a bondade do tal meco do BE lá do sítio, o que queria impingir aquele livro de troça primária e doutrinária, em todas as escolas oficiais, porque as crianças devem ter liberdade de não seguir uma religião que a família lhes impõe.

Neste caso só se preocuparam com o totalitarismo estatal para Islão ver; por cá andam a planear muito mais com aulas de formatação sexual e "família alternativa" dadas com o mesmo espírito jacobino.

Nada de novo debaixo do Sol, lá isso é verdade.

Carmo da Rosa disse...

Zazie,

Eu já não comento mais, para não ser trucidado, por si e pela minha mulher...

Que prefere que eu veja a bola...