Entretanto, bem longe das luzes da modernidade, corria o ano de 1493, quando foi pescado, nas bandas da Polónia, um peixe gigante com forma de bispo. Trazia mitra na cabeça, cruz entre as barbatanas, e tão pronto estava para oficiar, que até caminhou sozinho, à frente dos pescadores.
Conta a Grand Cronique des Pays-Bas, que o monstruoso beato era peixe calmo. Deixava-se toca, preferindo, no entanto, o contacto com os prelados, aos dos laicos, o que se entende. Não falava, mas crê-se que entendia perfeitamente o que lhe diziam.
O monarca ordenou que fosse encerrado numa torre, mas o desgosto do peixe-bispo foi de tal ordem que os religiosos comovidos juntaram-se para rogar ao rei que o soltasse.
João I Olbracht, tão destemido face a turcos, era um coração mole em matéria de sofrimentos de monstros; sem mais demoras, decidiu devolver o inesperado visitante ao seu habitat natural (o que quer que isso fosse). Apoiado nas espáduas de dois fortes homens, lá foi encaminhado até à beira-mar, onde o aguardava uma multidão para a despedida.
Frente às saudosas águas do mar, possivelmente com mais peixes atentos à sua prédica que devotos em terra, o bom do padre piscícola, virou-se para trás, disse adeus a todos, mergulhou feliz nas águas e nunca mais se soube dele.
Nunca mais, é uma força de expressão... o mesmo peixão mitrado haveria de aparecer a Lutero, como augúrio da corrupção de Roma, já para não falar no remake de presságio ainda pior, quando, duzentos anos depois, voltou a surgir das águas do Vístula.
Neste caso apresentava-se sobrepujado de diadema, escamas eriçadadas em forma de espadas e dardos, tinha um pé de águia e outro de leão e a aparência demoníaca coadunava-se com a missão — vinha anunciar o início das guerras de destruição que a Rússia faria à Polónia.
Só nos dias que correm é que nem se dá conta destes presságios. Integraram-se de tal modo que não há concurso televisivo que os dispense. Não servem de mau-agouro, porque se limitam a relatá-lo.
E já nem se nota a diferença.
................................
Nota: existem diversas versões destes relatos em publicações ulteriores. Entre elas refira-se o Dictionnaire universel do ano de 1759, a relação de Bondelet, Gesner e outras variantes, incluindo ícones populares russos, como também aqui já demos conta. Ver também Ernest Martim, citado no post anterior.
Conta a Grand Cronique des Pays-Bas, que o monstruoso beato era peixe calmo. Deixava-se toca, preferindo, no entanto, o contacto com os prelados, aos dos laicos, o que se entende. Não falava, mas crê-se que entendia perfeitamente o que lhe diziam.
O monarca ordenou que fosse encerrado numa torre, mas o desgosto do peixe-bispo foi de tal ordem que os religiosos comovidos juntaram-se para rogar ao rei que o soltasse.
João I Olbracht, tão destemido face a turcos, era um coração mole em matéria de sofrimentos de monstros; sem mais demoras, decidiu devolver o inesperado visitante ao seu habitat natural (o que quer que isso fosse). Apoiado nas espáduas de dois fortes homens, lá foi encaminhado até à beira-mar, onde o aguardava uma multidão para a despedida.
Frente às saudosas águas do mar, possivelmente com mais peixes atentos à sua prédica que devotos em terra, o bom do padre piscícola, virou-se para trás, disse adeus a todos, mergulhou feliz nas águas e nunca mais se soube dele.
Nunca mais, é uma força de expressão... o mesmo peixão mitrado haveria de aparecer a Lutero, como augúrio da corrupção de Roma, já para não falar no remake de presságio ainda pior, quando, duzentos anos depois, voltou a surgir das águas do Vístula.
Neste caso apresentava-se sobrepujado de diadema, escamas eriçadadas em forma de espadas e dardos, tinha um pé de águia e outro de leão e a aparência demoníaca coadunava-se com a missão — vinha anunciar o início das guerras de destruição que a Rússia faria à Polónia.
Só nos dias que correm é que nem se dá conta destes presságios. Integraram-se de tal modo que não há concurso televisivo que os dispense. Não servem de mau-agouro, porque se limitam a relatá-lo.
E já nem se nota a diferença.
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Nota: existem diversas versões destes relatos em publicações ulteriores. Entre elas refira-se o Dictionnaire universel do ano de 1759, a relação de Bondelet, Gesner e outras variantes, incluindo ícones populares russos, como também aqui já demos conta. Ver também Ernest Martim, citado no post anterior.