Mas é também o dia em que o urso acorda da longa hibernação ditando as mesmas sortes para a natureza.
No entanto, o urso não se limitava a acordar e a dizer o boletim meteorológico. Estava-lhe também confinado o sacrifício exorcizador das forças das trevas. Daí a passagem para as lendas do encontro do diabo verde (selvagem e silvestre) com o cavaleiro e a pele do urso que o vai tornar cativo. O estatuto era tão ambíguo quanto a sorte das irmãs da princesa que dele se apaixona e que Grimm recompilou no conto, ou que, numa versão mais recente, fez do Tom Waits o urso dançarino em versão cinéfila de lenda urbana e a cantar o Singapore.
O viajante que se embrenha na floresta, acaba por se tornar selvagem, cabendo-lhe o destino de guardar a veste do Príncipe do Mundo/Diabo Verde/Pele de Urso. Com o destino cativo das mãos das tesouras, recebe a beleza, riqueza e amor e morte principescos, em troca do pacto com o demo.
Nunca se sabe o que um urso pode anunciar quando acorda- tanto pode vir a alegria da Primavera como o enfado melancólico- e voltar a hibernar para prolongar o Inverno do nosso descontentamento.
Para os espíritos mais sensíves, que não suportam estas “superstições obscurantistas”, resta sempre o calendário alternativo e laico da caixinha dos milagres - Hoje há o “Preço Certo” e passa mais um episódio da novela “Deixa-me Amar”.