Quem pensa que os saltos altos sempre serviram para aquela quebra no bamboleio está muito enganado. E quem julga que os chapéus nunca tiveram malícia, ainda mais...

Noutros tempos as madames dos nuestros hermanos disputavam o status pela altura dos chapins e só saíam à rua amparadas por comitiva a rigor. O bom do esposo comandava o desfile caseiro e, como é bom de se imaginar, quanto mais rico fosse, maior o tombo domingueiro.

Assim glosavam os versos satíricos da Comedia Tesorina
Y detrás.../ un moçuelo/tamaño como un tiruelo/que guarde el rabo de todos/ya aunque rastre por el suelo/un otro de treynta codos/…Los cabellos/ no suyos aunque son bellos/van colgando dos manojos/ya aun quiçás que algunos de ellos/ hormigueon de peojos;/y los pechos/porque estén tieses y drechos/ atiéstanselos de trapos;/ los brazos van todos echos/aqua papos y allá papos/Pues el manto/con que haga viento tanto/ si ella presto no lo aplaca/inchase de canto en canto/ que parece una carraca./Y el chapin/ mas alto que un gran bacín/que a quitarse estos escombros/hos juros por San Martín/que parecisseis cogombros.






Já no que respeita aos biscainhos, poder-se-ia pensar que seriam mais dados a fetiches chapeleiros. Mas, se assim aconteceu, o pecado foi do rei e mais do bispo que tiveram a ideia. Pois tão disparatada moda parece que se deve a castigo simbólico, infligido em tempos medievos às mouriscas renitentes na conversão cristã e ao modo “viril” como trataram os maridos e filhos varões que a aceitaram com facilidade.
As solteiras passaram a andar tonsuradas e as casadas usavam estes chapéus de tecidos coloridos, enrolados de forma fálica.






















Apesar de muitas queixas das bascas pelo dispêndio em tanto pano, o certo é que só em 1623 foi proibido o uso desta burlesca tradição por se considerar que a troça não valia o gasto.







A umas por gosto e a outras por desgosto, o que faltou a estas “espanholitas” foi o bom de um Galliano para provar que quem se ria não percebia nada da poda.


Nestas coisas de trapos tal como sem eles, a receita sempre esteve na imaginação e numa boa dose de loucura.

Imagens retiradas do relato de viagens de Christoph Weiditz:
"Trachtenbuch de Christoph Weiditz von seinen teisen nach Spanien (1529)und den Niederlandeden (1531/32)"
—castelhana a caminho da igreja com chapins altos (1529)(1529)
—Um hermano renascentista passeando a esposa em Valladolid (1529)
—Jovem biscainha (1529)(1529)
—Mulheres de Navarra (1529)(1529)
—mulheres de Baiona (1529)
—modelos de John Galliano
—Links e bibliografia:aqui

2 comentários:

Conceição Paulino disse...

muito interessante. Aprender até morrer e morre-se sem nada saber. Bom f.sBjs e ;)

zazie disse...

obrigada. Para ti também