Há palavras que sempre conseguiram subsistir por si próprias, sem que fosse preciso dispender grande esforço na sua manutenção. Não são propriamente as que servem para encher sacos porque não há saco que as contenha.
Têm uma longa história e já serviram para legitimar grandes acções e triunfos em muitas batalhas. Fazem parte da mais velha função do poder- a propaganda. Por isso, durante muito tempo, houve cuidado em controlar pitonisas e oráculos.
Os tempos mudaram e todos passaram a trocar de papéis. Hoje em dia não há vendedor que não seja filósofo nem filósofo que não deseje ser político, como não há político que se esqueça da mais velha profissão do mundo.
Para legalizar esta desbocada troca de papéis e dar-lhe um ar de dignidade social, foi preciso transformar todos em médicos. Um vendedor não impinge um produto, resolve-nos um problema, um político garante sempre que a intenção é idêntica e só o que se julga dono da filosofia é que ainda não se deu conta que lhe expropriaram e adulteraram o métier.
É claro que tamanha mistificação só poderia ser levada a cabo oferecendo as mesmas possibilidades à plateia.
Bastou aparecer o ecrã para se resolver esse último entrave.
Como era de esperar, este último também já entrou em auto-gestão e tratou de baralhar e redistribuir supostas autorias ou intenções das mensagens.
magnetismo animal, caricatura popularizada por Mesmer, sec. XIX
Jean Nouvel, Galerias Lafayette, Berlim. Modelo com video na fachada