wak-wakNos tempos em que as coisas ainda se faziam com poesia, morrer belo e jovem não era apenas ideal destinado a poetas e meninas adolescentes. Também podia ser mal de vivre que atacava exóticos frutos, lá pelos lados do Oriente, quando ainda era por essas bandas que se imaginava o Paraíso Terrestre.

Desde o Romance de Alexandre, passando por variadíssima literatura fantástica de viagens, que esses mirabilia são conhecidos no Ocidente.
Acerca das “macrobióticas” árvores dos gansos” e seus castos efeitos, já falei por aqui mas muitas outras existiram. A variante palradora era a mais prolífera, conhecendo-se mesmo alguns diálogos travados entre as herbáceas e o grande Conquistador.
Fiquemo-nos hoje pelas frágeis e desamparadas virgens suicidas arbóreas.

No relato de uma viagem de três monges ao Paraíso Terrestre, referida nos textos de Odorico, contam os peregrinos que viram naqueles sítios umas árvores que no lugar de frutos faziam frutificar lindíssimas meninas que se agarravam aos ramos pelos pés. Enquanto o vento soprava, as virgens mantinham-se mudas mas frescas; quando cessava a aragem, secavam, caíam ao chão, proferiam as únicas que se lhes conheciam: wak-wak! e de seguida morriam.

A lenda conhece variações em diversos contos árabes desde meados do século VIII. Numa delas o fenómeno localizava-se numa ilha maravilhosa onde as árvores possuíam ramos com as cabeças dos filhos de Adão e cantavam hinos ao Criador. Noutras histórias, as virgens eram tidas como mau presságio. Nas primitivas versões chinesas como o T’ong- tien e na variante árabe de Kitab al-haiyawan de al Djahiz(859) as meninas penduradas pelos cabelos, eram também muito coloridas e estavam sempre a gritar wak-wak.
Segundo a geográfia de Kaith-al (relato anónimo de Aemeria do século XII), a ilha situava-se nos mares da China e estas plantas miraculosas possuíam folhas idênticas às da figueira. Os frutos começavam a desenvolver-se no início do mês de Março, formando-se por essa altura os pezinhos das meninas. Por Abril já tinham os corpinhos bem feitos mas a cabeça só chegava lá para Maio. Em Junho, quando estavam magníficas e admiráveis, começavam a cair e no fim do mês já não restava nenhuma para se lhe ouvir o grasnido fatal.

O mais curioso nesta história é que muito tempo depois, ainda existem ecos da maravilha oriental nos relatos de Pigafetta. O escritor e marinheiro que participou na famosa viagem de circum-navegação juntamente com Fernão de Magalhães, diz ter encontrado um destes fenómenos em plena Insulíndia e descreve-o com grande "realismo". Neste caso, as folhas é que possuíam pezinhos de gente e eram tão gordas que com o peso acabavam por tombar. Mal se lhes tentava deitar a mão, desatavam a fugir e chegavam mesmo a derramar sangue.
O ilustre navegador afirma que ainda conseguiu conservar uma viva durante oito dias, acabando por concluir que deviam alimentar-se do ar.

imagem:Kitab al-Bulhan,Codex árabe, sécs XIV-XV
ver: Claude Kappler, monstres, démons et merveilles à la fin do Moyen Âge, Paris. Payot, 1980.
Goodrich, T.D., The Ottoman Turks and the New World : a study of Tarih-i Hind-i garbi and sixteenth-century. Ottoman Americana. Wiesbaden 1990.

3 comentários:

Harry Lime disse...

:)))))))))))))))

As tuas postas são fascinantes!

zazie disse...

ehehe as histórias é que são!

depois de férias vou postar mais umas

bjs

SK disse...

O que aqui aprendo deixa-me sinceramente ainda mais consciente da minha já evidente ignorância.
Obrigado Zazie.
Aprender algo todos os dias. É para isso que cá andamos.
Boas férias!