— Está à beira da água— disse o rato-; está à espera, e no momento exacto anda e pára no meio da prancha. Fica a ver uma coisa qualquer.
—Não pode ver grande coisa – disse o gato.- Só se for um nenúfar.
—Sim – disse o rato.- E espera que ele suba para o matar.
—É idiota – disse o gato. – É uma coisa sem interesse.
— Depois de esse momento passar – continuou o
— Sendo assim — disse o gato —, quero prestar-te o serviço; mas não sei por que digo «sendo assim», uma vez que não compreendo nada.
—És formidável — disse o rato.
—Mete a cabeça na minha boca e espera —disse o gato.
— Vai demorar muito tempo? — Perguntou o rato.
— O tempo de alguém me pisar o rabo — disse o gato.—
Tenho de ter reflexos rápidos. Mas vou deixá-lo bem estendido, não tenhas medo.
O rato afastou as mandíbulas do gato e meteu a cabeça entre os seus dentes afiados. Logo a seguir retirou-a.
—Diz-me cá —perguntou —, hoje de manhã comeste tubarão?
—Ouve —disse o gato—, se não te agrada podes pôr-te a mexer. Esses truques não me impressionam. Desenrasca-te sozinho.
Parecia aborrecido.
—Não te zangues —disse o rato.
Fechou os pequenos olhos pretos e pôs a cabeça em posição. Cauteloso, o gato encostou os caninos acerados ao seu pescoço cinzento e delicado. Os bigodes pretos do rato misturaram-se com os seus. Desenrolou a cauda felpuda e deixou-a estender-se no passeio.
Aproximavam-se, a cantar, onze rapariguinhas cegas do Orfanato Júlio o Apostólico.