De repente fez-se luz. A propósito de um texto sobre memórias da militância comunista do nosso passado, brilhantemente contadas em tom pessoal pelo VPV, apareceram logo uma série de
“sábios” a dar
resposta. Não ao conteúdo das ditas, nem à exposição desassombrada desse passado tão familiar e semelhante a tudo o resto, mas às “razões encobertas do escriba.
E as razões foram logo detectadas pela boa análise psicanalítica. Não era preciso mais.
Tudo o que até agora estava por compreender não provinha da alma tuga mas dos traumas de infância do cronista. O gosto por disparar em todas as direcções, o desencantamento, o inveterado pessimismo, a “problemática” catalogação ideológica e outras fintas impertinentes, assim como a nossa História por arrasto, afinal mais não são que velhos ressabiamentos familiares do historiador.
Aqui estava a explicação para a dificuldade que o dito sempre demonstrou em aceitar o sucesso da nossa história recente e, acima de tudo, em entender o sentido de progresso e legado revolucionário da mesma.
É claro que nesta “científica” descoberta não cabe a simples aritmética – como a idade do senhor por alturas do 25 de Abril quando a sua mãe disse o último adeus ao Cunhal. Mas isso são detalhes secundários. Os nossos
frita-
miolos pertencem à corrente pós-moderna que troca factos e pensamento por uma rápida sentença. Substitui experiência de vida por um
bitaite à boca de cena; reduz longos anos de pesquisa bibliotecária a uma tirada que arrume com o adversário.
Agora soltam gargalhadas cínicas mostrando o triunfo à plateia.
Desta vez é que foi. Bastou-lhes a básica ajuda da psicanálise para “agarrarem o diabo pela mão”.
Esquecem-se apenas de um pormenor- com tão fácil técnica qualquer analfabeto que os aclame poderá dar-lhes a mesma sorte.
(P.S. Não se trate de nenhuma indirecta ao meu caro amigo Timshel. As razões do seu dazibao bíblico são outras e nem sequer estão na moda...)