"E se insistirem numa moral para tão vil fábula, sempre ouso adiantar a seguinte, em jeito de enigma:
As ferramentas, depois de se tornarem senhoras, ameaçam tornar-se tiranas. A caminho de escravos, nós já pouco mais somos que meros utensílios - armas ao serviço de mãos invisíveis. E, consequentemente, somos todos alvos.
Ninguém anda a massacrar civis, acreditem. Nem hoje, nem nunca. O que não se cansam de massacrar, desde os princípios dos tempos, é qualquer hipótese de verdadeira civilização. Sendo que o pior massacre de quantos existem decorre dentro da nossa própria alma e todos oficiamos nele.
Não duvido que o inferno esteja atulhado de boas intenções. Sobretudo quando, numa vida inteira, vou descobrindo que neste mundo reinam as piores. Por imperativo lógico, vejo-me assim forçado a dar razão a todos os filhos da puta desta terra: vivemos certamente no Paraíso. E quanto piores forem, as intenções, melhor ele fica.”