Porque Satrapi diz coisas prementes sobre o nosso tempo. Quando é questionada sobre o terrorismo, afirma: «As pessoas, no Ocidente, estão convencidas que todo o muçulmano sonha com atulhar-se de bombas e matar-se provocando centenas de mortos. É absurdo! Qem é que, neste mundo, não quer uma vida boa, rodeado da família, dos filhos... ir comer gelados à beira-mar? Quem? Mas as pessoas querem também ser respeitadas na sua dignidade. Se os americanos tivessem tido isso em consideração, não estavam agora na situação em que estão. A verdade é que o mundo vive num desequilíbrio total, entre países ditos desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Há ainda uma percepção colonialista do mundo em que se exploram os países mais pobres, para nos tornarmos mais ricos. Mas esses países sabem que estão a ser explorados e vingam-se». Satrapi rompe com essa cínica duplicidade civilizacional de chamarmos terrorismo às guerras dos fracos e guerras - limpas, cirúrgicas, televisionadas - ao terrorismo dos fortes. Vítima do fundamentalismo totalitário, impedida de regressar ao seu país, Satrapi não abdica da uma leitura crítica e incómoda sobre o fenómeno do terrorismo, sobre a democracia, sobre a liberdade, sobre a guerra. Só por isso, já seria uma voz incontornável. Mas há mais. Bastante mais. Ou não quisesse ela «ao mesmo tempo a justiça, o amor e a cólera de deus".
[Agosto de 2004]
Por xxxx às 00:50
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imagem: Paula Rego, O macaco vermelho a oferecer ao urso uma pomba envenenada, 1981
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Quem
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acrescento:
Como apareceu aqui um anónimo achando-me muito loura [sou bem morena] pelo facto do texto ser uma citação e estar identificado, ainda que se notasse que foi “postado”, aqui fica outro totalmente original com a mesma proveniência (veio junto no mesmo presentinho e a data é idêntica em mês e ano).
"A terceira edição internacional do consagrado dicionário Merriam-Webster equipara o anti-semitismo a qualquer manifestação de apoio à causa palestiniana. Na entrada de «anti-semitism», aprendemos que ele corresponde a «sympathy for the opponents of Israel». Note-se que não está em causa o direito à existência de Israel enquanto Estado. O que o dicionário nos diz é que há uma coisa abstracta - que engloba Israel, a sua política externa, os seus dirigentes políticos, o seu unilateralismo, a sua violação das disposições da ONU - que não pode merecer oposição. São anti-semitas todos aqueles que condenem a construção de um novo muro da vergonha, a selvajaria do exército israelita nos territórios ocupados, a sua política de agressão às populações civis palestinianas, os raides criminosos sobre os campos de refugiados. Entramos numa dimensão em que a reinvenção da linguagem se propõe legitimar a política como profecia. O negacionismo do passado transforma-se na antecipação do futuro enquanto dogma. A partir desse momento, o pensamento crítico pertence à verdade, uma peculiar forma de oposição ao decurso presente dos acontecimentos e à arbitrariedade dos vencedores temporários da história".
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nota: para tranquilizar outras flores que se manifestaram nos comentários- devo dizer que, não só desconhecia totalmente estes postes, como nunca me daria ao trabalho de fazer buscas por tão fraco artista, cujo nome me "sopraram ao ouvido". Foi mesmo presente deixado nas caixinhas. Gosto de agradar às visitas.
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novos desenvolvimentos:
Esclarecimento aos leitores-
Não orquestrei absolutamente nada com ninguém. Orquestra prefiro a do Barenboim
Se esses textos foram forjados, se alguém criou uma falsa página e depois a veio aqui oferecer, dando a entender a identidade do autor, é da total responsabilidade de quem o fez.
Nem me parece nada mais que entertainment- o bom lema do Cocanha. Pois se veneno havia nessa “maquinação” então, é caso para dizer, que há quem tenha mesmo problemas nas bossas e perca tempo a inventar bacoquices deste teor.
Por mim, é igual. Foi presentinho, sou sempre uma ingénua, não tenho que me envergonhar por isso e não faço desfeitas aos leitores.
E também não tenciono fazer investigações policiais para descobrir quem quis tramar quem, ou outros disparates no género policial que estão em moda na blogosfera. Deixo isso para os adeptos das "persiguições napoleónicas".
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actualização e conclusão [29/7]
A fraude continuou. Ontem, em poucos minutos, conseguiram fabricar mais uma falsa página, na tentativa de difamarem o mesmo pensador.
Neste caso nem vale a pena mais nada. Basta ler-se este disparate acerca do Arafat para qualquer pessoa normal ver logo que era impossível alguém dar uma reviravolta deste calibre:
"O obituário de Yasser Arafat não se cobre da vertigem do inesperado. A sua morte é uma morte anunciada. Pelo agravamento da doença nos últimos dias, metáfora do cerco asfixiante nos últimos anos. E pelo atavismo dos actores políticos internacionais perante uma liderança israelita que encontrou no enfraquecimento da Autoridade Palestiniana o canal directo para a destruição de um povo e de uma esperança. Essa polarização, de resto, serve para argumentar com a escalada terrorista nos extremos de parte a parte. Os fundamentalismos alimentam-se mutuamente. E alimentam-se também do caos, da barbárie, do desespero, do enfraquecimento das lideranças. Mas agora Arafat está morto. Persistirá sobretudo como o símbolo de um povo em luta pela sua dignidade, pela recusa da humilhação, pela paz. Sharon transformou essa possibilidade numa obscenidade. Israel demorou seis dias a ocupar a Palestina e por lá permanece há quase quatro décadas, conduzindo o seu próprio suicídio. Porque o dramatismo do dia-a-dia dos palestinianos também se sente bem lá no centro de Telavive, quando o som de uma explosão anuncia o terror da morte sem pré-aviso. Mourid Barghouti é um poeta palestiniano que vive no exílio há 38 anos, proibido de regressar. Falando sobre o desenraizamento palestiniano, disse recentemente com um humor trágico que «Israel não autoriza o regresso dos palestinianos nem depois da morte. Há caixões de palestinianos que viajam em aviões, pousando de aeroporto em aeroporto sem nunca serem autorizados a desembarcar. Chamamos a isto a maneira palestiniana de viajar pelo mundo». Agora Arafat está morto e viaja pelo mundo. Está algures entre Paris e o Cairo. No seu país eternamente adiado, haverá todo um povo que o chora".
[xxx 12/11/2004]
-Acabou-se o recreio. Vou a banhos e se isto não acalmar, à falta de polícia de costumes, lá terei de chamar o técnico das bossas para ficar à porta a filtrar a loucura.