Os famosos comedores de peixe, mais conhecidos por Icthyophagus que já vinham da antiguidade e que oscilavam ente o fantástico e uma alimentação saudável, tornam-se faunus. Seguindo a Carta de Alexandre a Aristóteles deparamos com sucessivas traduções aglutinadoras:
Ictifauos- istifanos- ictiifaunos- ictifaos- ictigangos- fagos- faunos
A meio caminho entre o erro e o acrescentar um pouco de fantasia está a Arina- animal devorador que passa a fazer parte dos habitantes marinhos.
A Arina que odeia o tirano (qui hait le tirant) provém de um erro de tradução do grego odontotyrannus (o rei do dente) que era o nome do rinoceronte. Na Historia de Preliis confundiu-se odous/odontos- dente, com o verbo odere (odiar).
Um dos mais extraordinários aparece num ilustração do Hortus Sanitatis, imprimido em Mayence no ano de 1491. Toda uma bicharada aquática completamente absurda aparece numa passagem do tratado de ervas medicinais. São os tubarões e os golfinhos (canis marynus) tomados à letra e transformados em peixes-cão; os moluscos (lepus marinus) e os crustáceos (mus marinus) que com Plínio se transforma e, lebres e ratos marinhos. O mais delicioso é o que se passa com as focas. Da etimologia latina de (vitelus marinus) pela semelhança com os vitelinhos, transforma-se nuns disparatados monges aquáticos.
Thomas de Cantimpré no Liber de natura rerum explicava que estes animais “têm a parte inferior semelhante a um peixe, a parte superior de um homem e a cabeça é tonsurada como a de um monge”. Foi quanto bastou para o ilustrador criar o monge-do-mar.
Imagens:1- Icthyophago, Oxford, Bodleian Lybrary, MS. 614, fº 38v /sec XII-XIII); 2- Hortus Sanititais, Mayence, 1491 (de piscibus)
Bibliografia. Claude Lecouteux, Les Monstres dans la Pensée Médievale Européenne,[1993] PUF, Paris, 1995